Um
raro condutor de povos
Pedro J. Bondaczuk
Líderes não faltam no mundo. Não existem, porém, em
profusão, condutores de povos, pessoas sensatas e equilibradas, todavia
determinada que cristalizem, em suas figuras, mediante conduta retilínea a
corajosa, ideais de liberdade e de fraternidade.
A data de ontem marcou o desaparecimento de um
desses homens raros, que aglutinou, em torno de si, em momentos de grande
tensão, toda uma enorme comunidade, fazendo do seu país uma nação. Referimo-nos
ao velho partisan, falecido aos 86 anos (no dia 4 de maio de 1980), o iugoslavo
Josip Broz Tito.
Com seu carisma, esse homem enérgico, de hábitos
espartanos e inquestionável carisma, conseguiu manter acesa a chama da
nacionalidade na Iugoslávia, mesmo em situações em que qualquer outro povo
teria capitulado. Como, por exemplo, durante a invasão nazista desse país, em
1941, na Segunda Guerra Mundial, quando o território iugoslavo chegou a ser
partilhado (como numa ação entre amigos) entre a Alemanha, a Itália e a Hungria.
Tito, porém, não admitia, sob qualquer hipótese,
sequer a mais remota possibilidade do desaparecimento da sua pátria, mesmo
tendo tudo contra si. Refugiou-se nas montanhas, com um restritíssimo grupo de
patriotas, homens determinados e audazes, dispostos a resistir ao poderoso
invasor até a morte.
Aos poucos, seu bando guerrilheiro foi crescendo,
com novas e crescentes adesões, foi colecionando feitos heróicos, vencendo
batalhas tidas por impossíveis de vencer, e empurrando os exércitos nazistas
para fora do seu território, até que as tropas inimigas acabassem expulsas do
solo sagrado da pátria.
No pós-guerra, não foi menor a luta de Tito para
conservar a independência da Iugoslávia, tendo que resistir ao assédio
soviético, que queria reduzir o país a mero satélite de Moscou. Com
determinação, porém com extrema prudência, o marechal conseguiu manter seu povo
a salvo de destino semelhante ao dos húngaros, romenos ou checos.
Por tudo isso, e muito mais, como, por exemplo, a
maneira sábia com que preparou a população iugoslava para se auto-governar,
após a sua morte, criando um sistema de governo colegiado que, bem ou mal, vem
funcionando, sem traumas ou divisões (o que é surpreendente se forem levadas em
conta as diferenças étnicas das seis Repúblicas que compõem a federação), o
velho partisan merece ser reverenciado. E não apenas por seu povo – no coração
do qual permanecerá vivo para sempre – mas de todos os idealistas, que pautam
suas vidas por um profundo sentimento de nacionalidade.
(Artigo
publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 5 de maio de
1984)
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