Saturday, May 04, 2013


Um raro condutor de povos

Pedro J. Bondaczuk

Líderes não faltam no mundo. Não existem, porém, em profusão, condutores de povos, pessoas sensatas e equilibradas, todavia determinada que cristalizem, em suas figuras, mediante conduta retilínea a corajosa, ideais de liberdade e de fraternidade.

A data de ontem marcou o desaparecimento de um desses homens raros, que aglutinou, em torno de si, em momentos de grande tensão, toda uma enorme comunidade, fazendo do seu país uma nação. Referimo-nos ao velho partisan, falecido aos 86 anos (no dia 4 de maio de 1980), o iugoslavo Josip Broz Tito.

Com seu carisma, esse homem enérgico, de hábitos espartanos e inquestionável carisma, conseguiu manter acesa a chama da nacionalidade na Iugoslávia, mesmo em situações em que qualquer outro povo teria capitulado. Como, por exemplo, durante a invasão nazista desse país, em 1941, na Segunda Guerra Mundial, quando o território iugoslavo chegou a ser partilhado (como numa ação entre amigos) entre a Alemanha, a Itália e a Hungria.

Tito, porém, não admitia, sob qualquer hipótese, sequer a mais remota possibilidade do desaparecimento da sua pátria, mesmo tendo tudo contra si. Refugiou-se nas montanhas, com um restritíssimo grupo de patriotas, homens determinados e audazes, dispostos a resistir ao poderoso invasor até a morte.

Aos poucos, seu bando guerrilheiro foi crescendo, com novas e crescentes adesões, foi colecionando feitos heróicos, vencendo batalhas tidas por impossíveis de vencer, e empurrando os exércitos nazistas para fora do seu território, até que as tropas inimigas acabassem expulsas do solo sagrado da pátria.

No pós-guerra, não foi menor a luta de Tito para conservar a independência da Iugoslávia, tendo que resistir ao assédio soviético, que queria reduzir o país a mero satélite de Moscou. Com determinação, porém com extrema prudência, o marechal conseguiu manter seu povo a salvo de destino semelhante ao dos húngaros, romenos ou checos.

Por tudo isso, e muito mais, como, por exemplo, a maneira sábia com que preparou a população iugoslava para se auto-governar, após a sua morte, criando um sistema de governo colegiado que, bem ou mal, vem funcionando, sem traumas ou divisões (o que é surpreendente se forem levadas em conta as diferenças étnicas das seis Repúblicas que compõem a federação), o velho partisan merece ser reverenciado. E não apenas por seu povo – no coração do qual permanecerá vivo para sempre – mas de todos os idealistas, que pautam suas vidas por um profundo sentimento de nacionalidade.     

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 5 de maio de 1984)

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: