Poema das importâncias
Pedro J. Bondaczuk
Bolsa de
valores da vida,
tenso pregão
do acaso,
escassa escala
de virtudes,
amplo leilão
de emoções.
No
quadro-negro do espaço,
painel
luminoso de estrelas,
o tempo colhe
e sedimenta
os valores e
as importâncias.
São bem
cotados o efêmero,
o trivial e o
comezinho,
e a rotina do
cotidiano,
e o fortuito e
o casual.
São valiosas
as sirenas
de abelhas,
convocando
o labor
proletário
de agitadas
colméias.
Monarquia de
insetos,
rígida
hierarquia,
definição de
funções
do nascimento
à morte:
predomínio de
instintos,
importância do
efêmero.
São
assustadores:
o labor
noturno dos mochos
e seus
lamentos de angústia;
a histeria das
hienas,
a determinação
dos lobos
a solidão das
panteras
a covardia dos
chacais
a algaravia dos
cães
e o terror
pânico das corças
dos coelhos e
dos ratos.
Guerra da
sobrevivência,
implacável
ação do predador,
lei natural do
mais forte:
importância da
angústia.
Dolorosos os
cris-cris
ultrassônicos
dos grilos,
invisíveis,
escondidos
nos labirintos
da mente,
nas lapas do
cerebelo,
nas espirais
do ouvido.
Os por quês
não respondidos,
a
insignificância individual
na imensidão
do conjunto,
o silêncio e a
solidão
nas clausuras
da alma:
falência dos
valores!
Grilos que não
se calam,
a sucessão das
questões,
o caminhar
desorientado,
o passo
trôpego e incerto,
o gesto dúbio
e medroso,
as idéias sem
nenhum nexo,
olhos vidrados
de pavor,
imposição dos
sentidos:
importância
das neuroses.
No quadro
negro da mente,
painel
luminoso de idéias,
o tempo
escreve e sedimenta
as legítimas
importâncias!
(Poema
composto em Campinas, em 5 de maio de 1975).
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