Pausa para refletir
Pedro J. Bondaczuk
O
papa João Paulo II inicia, hoje, a sua segunda visita à América Latina e a 31ª
de seu pontificado de oito anos, levando, como a todo o lugar que foi, uma
mensagem de paz e de conciliação aos colombianos que, dada a violência que
impera nesse país, quase que continuamente, desde 1948, bem que precisa de
alguém, com a estatura moral do Pontífice, para abrir os olhos do seu povo
quanto aos caminhos equivocados que essa sociedade vem trilhando.
A
despeito de se tratar de uma viagem de caráter pastoral (como todas as
anteriores), certamente determinadas questões que angustiam o homem moderno
deverão vir novamente à tona. Ganharão espaço nas manchetes, análises dos
comentaristas e ampla divulgação. E isto é bastante saudável, num momento
aparentemente tranqüilo, mas na verdade sumamente tenso, pelo qual passam os
povos.
Certamente
questões como o aborto, a nobreza e dignidade do trabalho, o papel do cristão
no mundo moderno, a corrida armamentista, a exploração de multidões de
desassistidos, "usados" sem pudor em sua humilde alienação pelos
poderosos e sobretudo a violência, centralizarão a maior parte de suas
homilias.
Mas
é necessário que suas palavras não sejam meramente ouvidas e lidas para logo a
seguir serem esquecidas. É indispensável que as pessoas parem para um momento
de grave reflexão sobre seu conteúdo, enquanto a marcha dos acontecimentos
ainda permite mudanças de rumo. E que procurem, sobretudo, atuar decisivamente
na realidade. Tentar transformar tanta coisa que está errada e que assim
permanece em virtude da alienação, do "laissez-faire" da maioria.
João
Paulo II, a despeito de exigir uma delimitação rigorosa entre a atividade
sacerdotal e a prática política dos membros da sua igreja, "dando a César
o que é de César", foi, certamente, o Pontífice que maior número de
pronunciamentos fez a propósito da nada agradável realidade do nosso tempo.
Esteve nos países mais problemáticos que se possa imaginar, muitos dos quais
vivendo terríveis ditaduras à época em que os visitou (como no caso das
Filipinas, da Argentina e outros), e nem por isso procurou agradar os poderosos
do dia. Sempre soube "colocar o dedo" nas mais dolorosas feridas, não
no sentido de as arruinar, mas para que o seu possuidor procurasse curar tais
chagas.
Não
há como negar que nestes contínuos e prolongados giros, que já o levaram a
praticamente todos os continentes, enfrentou enormes riscos. Presenciou
manifestações de desagrado de diversas comunidades, inclusive católicas (como
ocorreu na Holanda, no ano passado) sem que isso chegasse a abalar as suas
convicções. E nem que o desestimulassem a prosseguir alertando os povos a
propósito de tudo o que incomoda a tanta gente, que no entanto nada faz para
alterar (ou pelo menos empreender alguma tentativa) tais situações distorcidas.
É
por essa razão que o papa João Paulo II pode ser encarado, sem favor algum,
como a autêntica consciência do mundo moderno, aquela que quando nos acusa por
nossas falhas, tentamos, às vezes, calar, principalmente por sabermos que ela
está sempre certa em suas reprimendas. E que, quando a seguimos, nos conduz à
paz gerada pela certeza do dever cumprido.
(Artigo publicado na página 11,
Internacional, do Correio Popular, em 1º de julho de 1986)
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