Thursday, May 16, 2013


Camponeses são as vítimas


Pedro J. Bondaczuk

A situação da longa guerra civil que se trava na Nicarágua, que começou a partir do momento em que os Estados Unidos arrebanharam alguns ex-somozistas e empresários dóceis aos seus propósitos e formaram uma insólita guerrilha, à qual o presidente Ronald Reagan passou a denominar, desde então, de “combatentes da liberdade”, está ainda extremamente confusa.

Ambas as partes jogam uma autêntica partida de xadrez, do ponto de vista político, enquanto milhares de civis são mortos nos combates que se sucedem. O pior de tudo é que as vítimas, em quase sua totalidade, são pessoas alheias à luta, lançadas nela compulsoriamente.

Os dois lados do conflito arregimentam seus homens invadindo pequenas aldeias, perdidas nas selvas ou nas montanhas, à força. É esse o pessoal que morre, fica ferido, tem prejuízos materiais e deixa seus familiares sem arrimo. No plano político, os sandinistas estão mostrando maior maleabilidade do que seus adversários. Aliás, de todos os signatários do histórico acordo Esquipulas-II, firmado na Guatemala, em 7 de agosto de 1987, a Nicarágua é o único país (a despeito das negativas do presidente norte-americano Ronald Reagan) que está cumprindo a sua parte.

O processo pacificador em El Salvador está praticamente parado. E, agora, com a vitória da extrema-direita nas eleições de domingo, assim deverá continuar. A Guatemala esboçou negociações com a guerrilha, que esbarraram na intransigência dos militares. E tudo voltou à estaca zero.

Enquanto isso, Daniel Ortega já mandou negociadores para três reuniões com os “contras”, em Santo Domingos, na República Dominicana; em San José, na Costa Rica e agora em Sapoa, em pleno território nicaragüense.

Em todas essas ocasiões os rebeldes mostraram uma enorme intransigência, a de quem está tranqüilo por contar com o respaldo do país mais rico, forte e poderoso do mundo. É aí que reside o grande complicador da questão centro-americana.

Os Estados Unidos pretendem manter o status quo reinante na região desde que Cristóvão Colombo a descobriu. Ou seja, uma situação social marcada por uma espécie de escravidão disfarçada, que chegou ao cúmulo, tempos atrás, de dividir todas as propriedades de El Salvador entre apenas 21 famílias.

É evidente que esse cenário, que sempre foi caldo de cultura para agitações, aventureirismos e muita violência, continuará mantendo essas características. Quem estiver na América Central sabe do que estamos falando. É isso o que Tio Sam entende por estabilidade. Afirma, além de tudo, que pretende criar clima para a paz. Só se for aquela que os romanos impunham aos povos recalcitrantes que venciam. Ou seja, a definitiva “paz dos cemitérios”! 

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 23 de março de 1988)

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