Camponeses
são as vítimas
Pedro J. Bondaczuk
A situação da longa guerra civil que se trava na
Nicarágua, que começou a partir do momento em que os Estados Unidos
arrebanharam alguns ex-somozistas e empresários dóceis aos seus propósitos e
formaram uma insólita guerrilha, à qual o presidente Ronald Reagan passou a
denominar, desde então, de “combatentes da liberdade”, está ainda extremamente
confusa.
Ambas as partes jogam uma autêntica partida de
xadrez, do ponto de vista político, enquanto milhares de civis são mortos nos
combates que se sucedem. O pior de tudo é que as vítimas, em quase sua
totalidade, são pessoas alheias à luta, lançadas nela compulsoriamente.
Os dois lados do conflito arregimentam seus homens
invadindo pequenas aldeias, perdidas nas selvas ou nas montanhas, à força. É
esse o pessoal que morre, fica ferido, tem prejuízos materiais e deixa seus
familiares sem arrimo. No plano político, os sandinistas estão mostrando maior
maleabilidade do que seus adversários. Aliás, de todos os signatários do
histórico acordo Esquipulas-II, firmado na Guatemala, em 7 de agosto de 1987, a
Nicarágua é o único país (a despeito das negativas do presidente
norte-americano Ronald Reagan) que está cumprindo a sua parte.
O processo pacificador em El Salvador está
praticamente parado. E, agora, com a vitória da extrema-direita nas eleições de
domingo, assim deverá continuar. A Guatemala esboçou negociações com a
guerrilha, que esbarraram na intransigência dos militares. E tudo voltou à
estaca zero.
Enquanto isso, Daniel Ortega já mandou negociadores
para três reuniões com os “contras”, em Santo Domingos, na República
Dominicana; em San José, na Costa Rica e agora em Sapoa, em pleno território
nicaragüense.
Em todas essas ocasiões os rebeldes mostraram uma
enorme intransigência, a de quem está tranqüilo por contar com o respaldo do
país mais rico, forte e poderoso do mundo. É aí que reside o grande complicador
da questão centro-americana.
Os Estados Unidos pretendem manter o status quo
reinante na região desde que Cristóvão Colombo a descobriu. Ou seja, uma
situação social marcada por uma espécie de escravidão disfarçada, que chegou ao
cúmulo, tempos atrás, de dividir todas as propriedades de El Salvador entre
apenas 21 famílias.
É evidente que esse cenário, que sempre foi caldo de
cultura para agitações, aventureirismos e muita violência, continuará mantendo
essas características. Quem estiver na América Central sabe do que estamos
falando. É isso o que Tio Sam entende por estabilidade. Afirma, além de tudo,
que pretende criar clima para a paz. Só se for aquela que os romanos impunham
aos povos recalcitrantes que venciam. Ou seja, a definitiva “paz dos
cemitérios”!
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 23 de março de
1988)
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