Bendita imaginação
Pedro
J. Bondaczuk
A televisão tem enorme
potencial para ser ferramenta por excelência de divulgação das melhores obras
de ficção da Literatura brasileira. A Rede Globo, por exemplo, já apresentou
várias minisséries baseadas, sobretudo, em contos de alguns dos nossos melhores
ficcionistas, com a reconhecida competência técnica que tem e, principalmente,
com o talento de magníficos atores e atrizes que beiram a perfeição na arte de
representar (a despeito de não serem reconhecidos internacionalmente) e que
podem ser considerados entre os melhores do mundo. Nossa dramaturgia alcançou
tal nível, que não fica devendo nada a ninguém, nem a norte-americanos, nem a
franceses, nem italianos, suecos, russos etc.
É certo que essas
produções são, ainda, bastante escassas, a despeito de eu me lembrar de pelo
menos vinte delas, e não têm a desejável continuidade. Há muitos, muitíssimos
contos, de excepcional lavra, que poderiam (e entendo que deveriam) ser
adaptados para a TV, tirando do ostracismo escritores notáveis, que começam a
ser esquecidos, o que se constitui não apenas em prejuízo para suas memórias,
mas, sobretudo, perdas irreparáveis para a Literatura e a cultura nacionais. Há
tanto programinha mambembe, que não serve para absolutamente nada, gastando
tempo que poderia (e deveria) ser melhor aproveitado na apresentação de obras
marcantes de nossos ficcionistas. Mas...
Enquanto existiu, a
Rede Manchete rivalizou com a Globo na apresentação de minisséries nacionais,
entre as quais destaco (entre tantas outras que produziu e exibiu) “A Marquesa
de Santos”, baseada na obra do escritor paulista (da cidade de Tatuí), Paulo
Setúbal. Ela fez grande sucesso, em 1984, trazendo ao conhecimento do público
essa instigante personagem do início do século XIX, que virou a cabeça (que nem
era tão difícil assim de virar) do “pai” da nossa independência e uma das
figuras mais controvertidas da nossa História, o imperador Dom Pedro I (mais
tarde rei de Portugal, posto que por curtíssimo período, com o título de Dom
Pedro IV).
Confesso, de público,
que um dos meus maiores sonhos, com escassíssimas (quase nulas) probabilidades
de se concretizar, é o de ver um dos meus tantos contos adaptado e transformado
em minissérie da Globo. Claro que o ideal seria a adaptação de vários deles,
mesmo que não todos, mas isso raia ao absurdo, de tão improvável que é.
Pretensão da minha parte? Sem dúvida! E das mais, digamos, megalomaníacas.
Mas... por que não?! As histórias estão escritas, são interessantes (e, quem
duvidar, basta me solicitar que lhe envio uma cópia, para que confira por si
só) e têm conteúdo dramático, que se presta, perfeitamente, não somente à
televisão, mas também ao cinema.
Reitero que tenho plena
noção dessa improbabilidade que raia, quase, à impossibilidade. Só não é
impossível, contudo, porque os contos existem, já estão escritos, embora só uma
meia dúzia deles tenha sido publicada nos dois livros do gênero que tive a
“ousadia” de lançar: “Quadros de Natal” e “Lance Fatal”. As melhores histórias
que escrevi permanecem inéditas, o que mostra certa falta de critério minha em
selecionar o que poderia (e deveria) publicar, para não dizer rigorosa e
calamitosa incompetência nesse aspecto, o que de fato foi. Mas... A bobagem já
foi perpetrada. Não que os contos publicados não sejam bons, não é isso. Mas
não são meus melhores. Os mais expressivos continuam inéditos (espero, porém,
que não por muito tempo).
Eu poderia manter esse
sonho, de ver algum conto meu ser transformado em minissérie da Globo,
rigorosamente “secreto”, sem revelá-lo, sequer, para minha mulher e não correr,
assim, o risco de cair em ridículo publicamente e de ser considerado, até,
insano. Todavia... sou adepto do que classifico, até em tom de galhofa, de
“tática da galinha”. Essa ave caracteriza-se por fazer alarde do produto que
produz, claro, o ovo. Todos sabem quando botou algum, pela algazarra que faz.
Entendo que quem produz
alguma obra (não importa de que natureza) deva agir da mesma forma, se entender
que ela é boa e que mereça ser conhecida. Não nego que corremos o risco de
equívoco nesse autojulgamento e que o produto do nosso intelecto (ou das nossas
mãos, não importa) não ser exatamente o que pensamos.
Temos, neste caso, de
estar preparados para administrar frustrações advindas desse erro de avaliação.
Aliás, o escritor tem que estar familiarizado a toda a sorte de decepções, pois
raramente escapará de alguma delas, se não de dezenas, centenas, milhares e vai
por aí afora. Elas são inerentes a quem dependa de terceiros para ser bem
sucedido ou fracassar no que quer que faça. É o caso da coruja, que certamente
acha seus filhotes lindos, opinião, convenhamos, que não é compartilhada por
praticamente ninguém. Nós também consideramos nossos “filhos espirituais”
maravilhosos, perfeitos, a salvo de reparos. Todavia...
Mesmo ciente de todos
os riscos possíveis e imagináveis, provavelmente motivado por exacerbada
vaidade – esse “suave veneno” que circula nas veias (creio) de todas as
pessoas, mas que é mais observável nos artistas (sobretudo, nos escritores) –
não abro mão desse recorrente sonho, dessa megalomaníaca pretensão (como
queiram) e farei tudo o que estiver ao meu alcance para tornar real essa
inofensiva fantasia. Bendita (ou seria maldita? Deixa pra lá!) imaginação!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuik
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