Sunday, June 30, 2013

A música, hoje, é tida, nos mais avançados centros médicos dos Estados Unidos, da Europa e do Brasil, como um santo remédio. A medicina incorporou-a ao seu arsenal terapêutico e até lhe destinou uma nova disciplina: a musicoterapia. Já em culturas antigas, numa época em que não existiam as sofisticadas drogas de hoje para relaxar o organismo e possibilitar que a natureza cumprisse seu papel, fazendo com que o corpo liberasse endorfina e acelerasse a regeneração orgânica, essa arte era utilizada para abreviar a recuperação de doentes. Depois da Segunda Guerra Mundial, alguns médicos constataram que a música tem a capacidade de derrubar as barreiras psicológicas que os enfermos desenvolvem e de fazer com que sua condição mental se estabilize. Até pacientes com câncer vêm sendo submetidos a essa agradabilíssima terapia, com resultados surpreendentes e, não raro, “milagrosos”.


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Carisma de Alfonsin

Pedro J. Bondaczuk

O partido de governo na Argentina, a União Cívica Radical, já está se movimentando intensamente, de olho na sucessão do presidente Raul Alfonsin. Esse movimento é muito prematuro, poderia afirmar o leitor, sabendo que o dirigente mal atingiu a metade do seu mandato.

Ocorre que aquilo que a UCR deseja é a permanência do seu líder no governo. E, para isso, já está traçando uma bem-orquestrada estratégia, cujo ponto inicial é tentar alterar a Constituição, para permitir que seja inserido um dispositivo que garanta a reeleição de Alfonsin.

Como em outras ocasiões, em que a tentativa foi ensaiada, desta, também, ela vem encontrando sérias resistências. Por melhor que seja o atual presidente – raciocinam os argentinos – um novo mandato pode fazer com que a possibilidade lhe suba à cabeça. Afinal, a prática já demonstrou, o poder tende a corromper até as lideranças melhor-intencionadas.

Mas os radicais, prevendo o insucesso dessa alteração constitucional, ensaiam uma outra, muito mais viável e que teria efeitos idênticos. Propõem-se a mudar o próprio regime argentino, instituindo o parlamentarismo.

Essa tese, ao contrário da anterior, encontra mais respaldo na sociedade local. E, caso vingue, nada impede que o atual presidente, que conseguiu um grande feito quando derrotou o peronismo nas eleições de 1983, surpreendendo muita gente, dentro e fora da Argentina, venha a ocupar a chefia de gabinete. Afinal, seu partido mostrou toda a sua força na votação de novembro do ano passado. E Alfonsin provou ter carisma, pois não é qualquer presidente que, poucos dias depois de decretar estado de sítio num país, consegue levar sua agremiação a uma consagradora vitória nas urnas, sem se valer do recurso da coação, que uma medida dessa natureza lhe possibilitaria.

Agora, o governo argentino já fala numa Nova República. Ou seja, pretende chegar a objetivos idênticos aos nossos, no Brasil, por caminhos diferentes. Enquanto aqui, as indispensáveis mudanças requeridas por nossa sociedade foram a própria bandeira da campanha que nos conduziu a um retorno pacífico à democracia, no nosso vizinho, essa não foi a principal motivação. E nem o tema principal da campanha presidencial de 1983 teve por foco alterações tão radicais.

A população argentina queria, acima de tudo, que se esclarecesse a questão dos “desaparecidos”, ou seja, os milhares de cidadãos colhidos nas redes da chamada guerra suja do antigo regime militar contra a guerrilha urbana. Desejava restabelecer-se do trauma deixado pela aventura das Malvinas, que neste mês completou o quarto aniversário do seu início. E exigia, acima de tudo, que a economia nacional fosse reorganizada, após um razoável período de orgia de gastos improdutivos, feitos com dinheiro alheio, que até hoje o país não sabe como pagar.

Tudo o que Alfonsin se propôs a fazer, cumpriu, nessa primeira fase do seu mandato. Agora, com a Argentina razoavelmente pacificada, com sua economia pelo menos livre da voracidade da hiperinflação (embora restando ainda muitos retoques a serem feitos no Plano Austral, que corrijam injustiças sociais) e com os responsáveis pelo maior genocídio ocorrido na América Latina devidamente julgados, e punidos, pela Justiça, o presidente já sonha com um passo além.

Arquiteta a adoção de medidas que protejam o Estado argentino de novos aventureiros e de novas aventuras. Planeja tornar as instituições sólidas, a salvo de riscos iminentes (se bem que é impossível assegurar a segurança absoluta, nesse aspecto, em qualquer país do mundo) e que coloque essa sociedade nacional, nesse mister, ao lado daquelas mais desenvolvidas, em que a democracia seja indestrutível tradição.

De qualquer maneira, mesmo que seus próximos dois anos e meio de mandato forem desastrosos e que seu partido não seja reconduzido ao poder em 1989, apenas por aquilo que fez, Raul Alfonsin já merece figurar na história latino-americana como um dos arquitetos de uma nova América. Ou seja, como artífice de uma sociedade supranacional, com mentalidade bem diversa do que a que predominou nos últimos anos: prudente, sem ser tímida; ousada, sem ser temerária e em que o sentido de comunidade prevaleça sobre interesses menores.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 23 de abril de 1986).


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A importância do outro

Pedro J. Bondaczuk

O homem é um animal gregário. Depende, em tudo e para tudo, dos semelhantes, do que se convencionou chamar de “os outros”, sem os quais não seria nada e aos quais, em contrapartida, serve (de alguma maneira), de acordo com sua capacidade, conhecimentos e vontade. Dizer, portanto, de alguém que se tratou de pessoa que “se fez sozinha” não passa de mera metáfora. Ninguém, rigorosamente ninguém, “se faz” por si só. Para ser bem sucedido (e muitas vezes mal sucedido) todos contamos com a ajuda (no caso do sucesso) ou com a oposição (no de fracasso) de terceiros. É assim que as coisas funcionam e sempre funcionaram. E com o “Pai da Psicanálise” não foi diferente. Está aí excelente tema para reflexão.

A esse propósito, Sigmund Freud declarou, em certa ocasião: "O ‘outro’ desempenha sempre na vida de um indivíduo o papel de um modelo, de um objeto, de um associado ou de um adversário". E não é o que acontece? Lembro, reitero e enfatizo que, para redigir esta série de comentários à margem, tive que recorrer a inúmeras fontes de informação, ou seja, aos “outros”. Entre estes, destaco a enciclopédia eletrônica Wikipédia, que me foi utilíssima para esclarecer inúmeros pontos para mim obscuros referentes à vida e à obra de Sigmund Freud. Consultei, óbvio, várias outras  publicações, tantas que se torna impossível lembrar todas e citá-las nominalmente. Os comentários que faço, todavia, refletem, exclusivamente, minha opinião pessoal. São passivos, portanto, quer de concordância por parte dos leitores, quer de discordância como, aliás, todas opiniões são.

A primeira grande influência na vida e na obra de Freud foi, como seria de se esperar, de seus pais, Jacob Freud e Amalie Nathanson (a terceira esposa do seu pai). Aliás, suas conclusões a propósito do polêmico “Complexo de Édipo” originaram-se da auto-análise, da sua realidade pessoal, do que lhe aconteceu na infância. Ele concluiu que seus problemas psicológicos pessoais (como quase todos, ele também os tinha) se deviam a uma atração que sentia pela mãe e a conseqüente hostilidade pelo pai. Posteriormente, comprovou a existência de fato desse desvio em outras tantas pessoas, o que se tornou, por sinal, o cerne da sua teoria acerca da origem das neuroses em seus pacientes.

Outra influência, também familiar, que Freud recebeu foi dos nove irmãos. Dois deles – Emmanuel e Philipe – eram apenas por parte de pai e, portanto, mais velhos do que ele. Os outros sete – Julius, Ana, Debora, Marie, Adolfine, Pauline e Alexander – eram frutos, como ele, do terceiro casamento de Jacob e eram, pois, todos mais novos. Encontrei escassas referências desse período da sua vida. Martha Bernays, por quem se apaixonou e com quem se casou em 14 de setembro de 1886, depois de já formado e em pleno exercício da Medicina, obviamente teve papel importantíssimo em sua vida. Nem poderia ser diferente. Como, também, tiveram os seis filhos que o casal gerou – pela ordem, Matilde, Jean-Martin, Olivier, Ernst, Sophie e Anna, sendo, esta última, sua seguidora, tornando-se psicanalista de grande reputação – todos bem sucedidos nas respectivas atividades que escolheram exercer.

Ainda bastante jovem, quando estudante de Medicina (ingressou na faculdade aos 17 anos) foi influenciado pelas idéias de vários de seus professores. Um deles foi o filósofo Franz Brentano, sobrinho do poeta Clemens Brentano, que lecionava Filosofia na Universidade de Viena e que incutiu muitas de suas idéias na cabeça de Freud. Aliás, esse personagem celebrizou-se pela rebeldia. Explico. Em 1864, foi ordenado padre. Todavia, envolveu-se em controvérsia pública ao contestar o dogma católico da “infalibilidade do papa”. Por causa disso, teve que deixar a Igreja nove anos após haver se tornado sacerdote.

Outro professor com que Freud se encantou foi Ernst Brucke, que lecionava Fisiologia. Esse mestre influenciou sua vida em vários aspectos e não somente no acadêmico. Foi no seu laboratório, por exemplo, que o jovem encontrou o primeiro emprego, depois de formado. Foi, também, quem o aconselhou a trabalhar no maior hospital de Viena para ganhar salário melhor e assim poder se casar com Martha. Foi, em suma, o homem que elegeu como seu “modelo em ciência”.

Um terceiro professor, que exerceu enorme influência sobre Freud, foi o titular da cátedra de Zoologia na faculdade de Medicina em que ele estudava, o zoólogo Carl Friedrich Claus. Foi na estação zoológica que esse docente mantinha em Trieste, especializada em zoologia marinha, que o então estudante passou quatro semanas e onde fez a tal dissecação do sistema reprodutor masculino das enguias, que mencionei em texto anterior.

No capítulo das influências que o futuro “Pai da Psicanálise” sofreu, no período de sua formação, um nome não pode ser esquecido: o do psiquiatra francês Jean-Martin Charcot. Freud, quando trabalhava no Hospital Geral de Viena, fez uma série de experiências envolvendo o que entendia ser o poder terapêutico da cocaína. Tinha convicção, por exemplo, que ela era a única substância eficaz na cura do vício de uma outra droga, a morfina. Posteriormente comprovou-se que ele estava equivocado, mas essa comprovação ocorreu muito tempo depois. Todavia, Freud exagerou no uso da cocaína ao tratar de um amigo dos tempos em que trabalhava no laboratório de Brucker. E... este morreu de overdose da droga. Talvez para abafar o escândalo (mas esta é uma suposição minha, sem nenhuma comprovação, embora seja a hipótese mais provável), ele decidiu pedir licença temporária do Hospital Geral. Foi prontamente atendido.

Decidiu, então, viajar para a França, para conhecer o já famoso Charcot, consagrado, ao lado de Guillaume Duchene, como um dos fundadores da neurologia moderna.  Passou a trabalhar com o renomado cientista francês no Hospital Psiquiátrico Saltpétriére, que na ocasião estudava a histeria. Freud entusiasmou-se com o mestre e com as descobertas que este fez desse desarranjo psicológico, até então pouco conhecido, posto que bastante comum. Esse aprendizado foi de grande valia na sequência de sua vitoriosa carreira.

Muitos outros influenciaram-no, possibilitando-lhe chegar onde chegou. Alguns foram amigos e confidentes e, principalmente, conselheiros. Várias dessas amizades, no entanto, por uma razão ou outra, acabaram rompidas intempestivamente. E algumas chegaram a transformar-se, até, em rancorosas e amargas inimizades. Estes casos, porém, merecem capítulo a parte. Abordarei os mais conhecidos oportunamente.

De tudo o que li a propósito de Freud (e foi uma quantidade imensa de informações), depreendi que ele tinha plena consciência tanto de suas forças, quanto das fraquezas. Não se tinha, como alguns afirmam, na conta de gênio (embora eu entenda que fosse), Não era arrogante e metido a sabe tudo. Sabia (ou acreditava saber) quais eram suas limitações. Deduzo isso dessa sua até patética confissão, que pincei de sua correspondência: "As minhas capacidades ou os meus talentos são muito limitados. Zero em ciências naturais; zero em matemática; zero em tudo quanto seja quantitativo. No entanto, o pouco que possuo, e que se reduz a pouca coisa, foi provavelmente, muito intenso". Trata-se daquela inflexível lógica: se você quiser erradicar uma doença, é indispensável, antes e acima de tudo, que não se engane no diagnóstico. E Freud não se enganou. Tinha a exata noção da importância do “outro”.


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Saturday, June 29, 2013

Diante do mistério da beleza – da qual me considero eterno servidor – faço minha a indagação de Ernesto Sábato, em seu livro “Antes do fim”: “A que epifanias de enigmáticos deuses o destino me conduziu?”. Sim, a que? Onde, quando e por que fiz essa opção de vida, que me torna tão diferente dos meus pares? Não sei! Só sei que a cada manhã, recito, contrito, a mesma prece de Charles Baudelaire: “Ó Senhor! Dai-me força e coragem para contemplar sem asco meu corpo e meu coração!”. O primeiro, dada a deformação causada pela deterioração natural produzida pelos anos. O segundo, o coração, tendo que resistir à cotidiana e constante maratona de angústias, ditada pela frustração de jamais atingir a beleza absoluta e irretocável, por mais que tente. E, arremato estas reflexões com a constatação de Ernesto Sábato: “Ainda que seja terrível compreendê-lo, a vida se faz um rascunho, e não nos é dado corrigir suas páginas”.


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Dentes de uma engrenagem

 Pedro J. Bondaczuk
  
O papa João Paulo II expressou, na encíclica “Sollicitudo Rei Socialis”, divulgada ontem, uma verdade que todos nós já tivemos a oportunidade de verificar, mas que muitos teimam em não querer ver: a de que os dois sistemas ideológicos que dividem o mundo entre si faliram no seu principal objetivo, que é o de promover a justiça e a harmonia entre os povos.

Ambos não passam de verso e reverso de uma mesma moeda. Os confrontos que os dois blocos sustentam, por outro lado, são o principal responsável pela miséria da maior parte da humanidade e que se acentua a cada dia, fazendo parecer que o Planeta é povoado por duas “espécies” diferentes de seres humanos. Uma teria direito a todos os privilégios e a nenhuma obrigação. À outra restariam somente os deveres, sem a devida recíproca.

Nenhuma parte do mundo sofreu, ou sofre mais com isso do que a América Latina, que há tempos só faz andar para trás, prenunciando um futuro trágico para seus infelizes habitantes. A área foi dotada pela natureza das maiores riquezas que se possa imaginar.

Seu subsolo generoso abrigou, há tempos, ouro, prata, cobre, estanho e outros metais preciosos em profusão. Lençóis petrolíferos extensos poderiam garantir tranqüilidade energética por milênios para a região. Suas terras úberes se prestam a todo o tipo de cultura que se deseje.

No entanto, aos invés dessas dádivas servirem para a prosperidade e felicidade latino-americanas, acabaram sendo instrumentos de sua servidão, indo parar em mãos alheias. A nós restaram, como sempre, apenas os ônus.

Eduardo Galeano observou: “Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um em que alguns países especializaram-se em ganhar e outro em que se especializaram em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta”.

O Papa falou, em sua encíclica, de um “sofisticado” tipo de neocolonialismo. Este caracteriza-se pela dominação econômica, que impõe no seu caudal compromissos políticos que transformaram o conceito de soberania em mera ficção. É este que há por aqui. O ex-presidente norte-americano. Woodrow Wilson, já observava, no início deste século: “Um país é possuído e dominado pelo capital que nele se tenha investido”.

Pior é quando os recursos que possibilitaram esse investimento saíram dele mesmo. Quando se originaram do ouro do Peru, do México e do Brasil; da prata da Bolívia, do cobre do Chile e da borracha brasileira. Quando não do preço vil pago por nossas matérias-primas vegetais (nem sempre as culturas mais apropriadas e que satisfazem os nossos interesses).

E essas riquezas, drenadas para os cofres alheios, voltaram para nossos países em forma de empréstimos, num surrealista processo multiplicador. Não podemos ser eternamente meros “dentes de uma gigantesca engrenagem”. Pois é o que somos!

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 20 de fevereiro de 1988).


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O Freud “escritor”

Pedro J. Bondaczuk

As pesquisas de Sigmund Freud, que resultaram nos fundamentos da Psicanálise e, sobretudo, seus livros (sua obra completa está reunida em 24 volumes que podem ser adquiridos até pela internet, na Amazon e em outras tantas empresas de e-commerce), foram considerados, e por muito tempo, pela maior parte da classe médica, como apenas obras de ficção. Eram encaradas como Literatura e nada mais. Creio que isso se deveu, basicamente, à desinformação a propósito dos seus estudos e da lógica das suas idéias.

Claro que ser considerado escritor não é demérito para ninguém. E também não o seria para Freud. Muitos, que sequer o são, sonham em ser (provavelmente iludidos pelas supostas vantagens que esse status possa lhes conferir). Os que não davam o devido valor às suas pesquisas ignoravam (ou faziam questão de ignorar) que antes e acima de tudo, o Pai da Psicanálise era médico, com vasta experiência em tratar de pacientes, seguindo os trâmites e procedimentos característicos da sua profissão.

Quem nunca leu nenhum dos livros de Sigmund Freud questiona-me, amiúde, sempre que o assunto vem à baila, se ele era, pelo menos, bom escritor. Entendo que sim. Tinha todas as características de um competente comunicador. Era claro, meticuloso e correto na exposição das idéias. E, sobretudo, conseguia prender, com perícia e criatividade, a atenção dos leitores, mesmo dos que discordavam de suas proposições o que, convenhamos, nem sempre é fácil. Entre seus livros destaco: “A interpretação dos sonhos”, “Sobre a psicopatologia da vida cotidiana”, “Um caso de histeria. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade e outros trabalhos”, “Os chistes e sua relação com o inconsciente” e vai por aí afora.

Além de escrever bem, Freud tinha profundo respeito pelos escritores e, notadamente, pelos poetas. Detectei várias de suas declarações a propósito, todas respeitosas, quando não elogiosas, a esses artífices da palavra. Uma delas é esta, que considero a mais representativa: “Devem estar lembrados de que eu disse que o indivíduo que devaneia oculta cuidadosamente suas fantasias dos demais, porque sente ter razões para se envergonhar das mesmas. Devo acrescentar agora que, mesmo que ele as comunicasse para nós, o relato não nos causaria prazer. Sentiríamos repulsa, ou permaneceríamos indiferentes ao tomar conhecimento de tais fantasias. Mas quando um escritor criativo nos apresenta suas peças, ou nos relata o que julgamos ser seus próprios devaneios, sentimos um grande prazer, provavelmente originário da confluência de muitas fontes. Como o escritor o consegue constitui seu segredo mais íntimo”.

Obviamente, não foi apenas isso o que escreveu a esse respeito. Na sequência desse mesmo texto, por exemplo, Freud afirmou:  “A verdadeira ars poetica está na técnica de superar esse nosso sentimento de repulsa (aos devaneios), sem dúvida ligado às barreiras que separam cada ego dos demais. Podemos perceber dois dos métodos empregados por essa técnica. O escritor suaviza o caráter de seus devaneios egoístas por meio de alterações e disfarces, e nos suborna com o prazer puramente formal, isto é, estético, que nos oferece na apresentação de suas fantasias. Denominamos de prêmio de estímulo ou de prazer preliminar ao prazer desse gênero, que nos é oferecido para possibilitar a liberação de um prazer ainda maior, proveniente de fontes psíquicas mais profundas. Em minha opinião, todo prazer estético que o escritor criativo nos proporciona é da mesma natureza desse prazer  preliminar, e a verdadeira satisfação que usufruímos de uma obra literária procede de uma libertação de tensões em nossas mentes. Talvez até grande parte desse efeito seja devida à possibilidade que o escritor nos oferece de, dali em diante, nos deleitarmos com nossos próprios devaneios, sem auto-acusações ou vergonha. Isso nos leva ao limiar de novas e complexas investigações”.

Freud foi ainda mais longe. Constatou: “Aonde quer que eu vá, eu descubro que um poeta esteve lá antes de mim”. Ou seja, confere a esses artistas caráter de pioneirismo no entendimento das emoções e, principalmente, do que as motiva. E pensar que há tanta gente que considera  poesia coisa inútil e sem valor prático e que, por isso, não cultiva o saudável (e delicioso) hábito de ler poemas! Não sabem o que estão perdendo.

Outra constatação que fez, ainda a propósito de escritores, com a qual concordo (e por experiência própria) foi sobre o que motiva as pessoas a escreverem. Afirmou: “Ninguém escreve para ganhar fama, que, de qualquer maneira, é coisa transitória, ou para atingir a imortalidade. Seguramente, escrevemos em primeiro lugar para satisfazer alguma coisa que se acha dentro de nós, não para as outras pessoas. É claro que, quando os outros reconhecem os nossos esforços, a satisfação interior aumenta, mas, mesmo assim, escrevemos primeiramente para nós mesmos, seguindo um impulso que vem de dentro”.

Não posso jurar, óbvio, que a motivação de “todos” os escritores seja esta, ou apenas esta. Posso assegurar, todavia, que a minha é. Escrevo, basicamente, para minha própria satisfação, para, como costumo classificar (até em tom de galhofa) “exorcizar meus demônios interiores”, meu instintivo ID. Procuro ser o mais meticuloso e detalhista possível, mas não por temor do ridículo ou esperando aplausos de uma platéia que sequer conheço e provavelmente jamais conhecerei. É lógico que, se eventualmente eu conseguir fama (a positiva, sem dúvida) com meus escritos e se eles, de quebra, engordarem minha conta bancária, não serei refratário e nem ficarei indiferente a tais vantagens. Mas nenhuma delas se iguala e nem é mais atrativa do que a intraduzível satisfação íntima de haver produzido textos de primeiríssima qualidade, que passem incólumes pelo meu implacável e severíssimo crivo e dos quais eu venha a me orgulhar.


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Friday, June 28, 2013

Todo poeta sonha com a produção de um verso definitivo, um único, porém perfeito e irretocável, que expresse, sem ambigüidades, a grandeza dos seus sentimentos. Por melhor que escreva, todavia, esbarra, não raro, na fragilidade das palavras. Estas, em geral, são muito pobres para expressar com fidelidade o que lhe passa na alma. O poeta Mauro Sampaio expressou muito bem essa frustração, nestes versos do “Poema único”:

“A minha canção,
a que sobreviverá aos tempos,
a que ficará inédita,
sobreviverá o sentimento e não buscará palavras”.

A minha canção definitiva e perfeita, também, terá essa peculiar característica. Será um poema mudo, sem palavras, impresso, apenas, no fundo dos meus olhos, interpretado e perfeitamente entendido pelos seus destinatários:  minha doce amada e os amigos leais e carinhosos, almas gêmeas que me completam, equilibram e justificam.  


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Pirilampo

Pedro J. Bondaczuk


Campos abertos, campos vastos, campos mágicos
dos sentimentos secretos e emoções reprimidas.
Sons ecoam de todos recantos e direções...
Risos, choros e gritos de crianças.
Sussurros lúbricos de desejos e paixões...
Gemidos de angústia e horror, brados de ira.
 Fantasmas de uma vida de ilusões e dores
--- alegres lembranças e recordações com gosto de fel –
misturam suas vozes, em selvagens canções,
brincam de roda com os meus sonhos azuis.

Como um raio, riscando ignotos horizontes,
um pirilampo vara a noite da saudade
pisca-piscando irresistíveis tentações.
Olhar de fogo, olhar enganoso, olhar sutil,
olhar esgazeado, desesperador e insano,
olhar sem brilho, álgido e fátuo.

E o pirilampo voa, revoa e se vai...
Só resta a noite, avassaladora e misteriosa
nos campos abertos, campos vastos, campos mágicos
dos sentimentos secretos e emoções reprimidas
e eu, a me esvair em versos e recordações,
fundamente ferido de encantamento e ternura,
numa fatal hemorragia de beleza e de poesia.

(Poema composto em Campinas, em 23 de junho de 1967).

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Por que buscar o autoconhecimento?

Pedro J. Bondaczuk

O Superego (a parte da nossa personalidade que representa a moralidade) forma-se – de acordo com as proposições de Sigmund Freud, ao sugerir e identificar três níveis de consciência – após o Ego. A formação ocorre muito cedo, tão logo a criança desenvolva razoável nível de compreensão, durante seu esforço de apreender os valores transmitidos primeiro pelos pais e depois pela sociedade, notadamente na escola. Instintivamente, ela se conscientiza que se obedecer o que lhe é determinado, receberá amor e afeição. Em caso contrário... Será menos amada ou detestada. E isso tende a fazer diferença enorme pelo resto de sua vida.

O Superego pode funcionar de maneira bastante primitiva, punindo o indivíduo não apenas por ações praticadas, mas também por meros pensamentos. Daí ser fonte potencial de neuroses e de outros desarranjos da personalidade. Outra de suas características é o pensamento dualista. Ou seja, funciona na base do tudo ou nada, do certo ou errado, sem nenhum meio-termo ou graduação. O comportamento inadequado sujeito à punição torna-se parte da consciência da criança, uma porção do Superego. Já o que é aceitável para os pais ou para o grupo social, e que proporcione a recompensa, passa a integrar o Ego-Ideal. Ou seja, outra sua porção.

Dessa forma, recapitulando, o comportamento é determinado, inicialmente, pelas ações dos pais. Uma vez formado o Superego, porém, passa a ser determinado pelo autocontrole pessoal. Nesse ponto, a pessoa administra as próprias recompensas ou punições. Freud imaginava constante luta dentro da personalidade, com o Ego sendo pressionado o tempo todo pelas forças contrárias insistentes. Suas “tarefas” são múltiplas, principalmente as de tentar retardar os ímpetos agressivos e sexuais do ID, perceber e manipular a realidade para aliviar a tensão resultante, e lidar, no outro extremo, com a busca do Superego pela perfeição. E, quando pressionado demais, o resultado é a condição que foi definida por Freud como ansiedade.

O polêmico (e para mim genial) “Pai da Psicanálise” pôde observar, nos seus pacientes neuróticos (recorde-se que ele era médico), que a maior parte das perturbações emocionais das pessoas que tratava se devia à repressão sexual. Recorde-se que o conceito de sexualidade, para ele, tinha significado muito mais amplo do que o atribuído pela linguagem comum. Para Freud, esta não se deve identificar exclusivamente com a “genitalidade”.

Entendia que a sexualidade era todo o tipo de comportamento que resultasse fisicamente gratificante, que produzisse sensações de prazer. Abarcaria, portanto, toda a atividade instintiva relacionada com as necessidades corporais. Ele tratou, por exemplo, de alguns casos de histeria. Essa é uma perturbação que, no seu entender, era provocada exclusivamente pela repressão da atividade sexual, e principalmente nas mulheres.

Recorde-se que se estava em fins do século XIX, em plena “Era Vitoriana”. E que as mulheres não tinham, naquela ocasião, os mesmos direitos que os homens em termos da manifestação dos desejos sexuais (entre outros tantos). As que eram, sobretudo, casadas, eram tidas e havidas como meras “reprodutoras”. Não deviam, por questões éticas, morais e culturais da época, manifestar sequer o mínimo desejo ou prazer no ato sexual. Mas, como evitá-los, se os sentiam? Seu Superego, implacável, condenava esses pensamentos e impulsos. Pior: punia-as, por sentirem essa vontade ou essa satisfação, com o sentimento de culpa. E isso as fazia adoecer. Cruel, não é mesmo?

O Superego, conclui-se, representa a sociedade dentro do próprio indivíduo, com suas leis e normas muitas vezes fonte de embaraços e de inibições para a estrutura do Ego. Afinal, todos sabemos, ela está infinitamente distante da perfeição. É repleta de erros, maldade e superstições. Caso nos tenham sido incutidos conceitos equivocados e distorcidos de moralidade, quando crianças, isso tenderá a nos cobrar preço proibitivo em termos de sofrimentos ao longo da nossa vida. As exigências do Superego se opõem, quase sempre, aos desejos do ID que, posto sejam instintivos, nem por isso são “todos” inadequados, ou anti-sociais, ou moralmente condenáveis. Este conflito incide diretamente no Ego. Afinal, tanto o primeiro dos três níveis de consciência, quanto o segundo, procuram fazer com que ele atue de acordo com suas próprias exigências ou desejos, que são, todavia, incompatíveis.

Pode-se dizer que, para Freud, a personalidade consiste, basicamente, neste conflito. Ou seja, nessa luta interminável entre desejos instintivos e normas interiorizadas da sociedade. E esse confronto se desenrola no grande cenário constituído pela relação mútua entre o Ego e a realidade ambiental. O criador da Psicanálise caracterizou-a, em sua essência, como a cura pelo amor. Ou seja, como tentativa para libertar esse sublime sentimento – quando estiver recalcado pelo Superego – das suas poderosas garras, quase sempre representadas por conceitos falsos (religiosos, sociais, morais etc.), preceitos equivocados e estúpidas e irracionais superstições, que nos são incutidos, desde tenra infância, pelos que nos “educam”.

Cabe, a caráter, a definição de Sigmund Freud para o que de fato somos: “Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais: somos também o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos 'sem querer'”. Daí a necessidade da busca permanente pelo autoconhecimento para a desejável correção de rumos.


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Thursday, June 27, 2013

Nossos dias e nossas noites, nosso sono e nosso despertar diário estão, somente, nas mãos de Deus. Piedosamente, não sabemos o que nos irá acontecer no segundo seguinte, quanto mais nos anos vindouros. Se forem grandes alegrias e a realização dos nossos sonhos, a surpresa multiplicará esse bem. Se forem tragédias, desastres ou até a morte, é melhor, mesmo, que não saibamos, para não sofrermos duplamente. Sonho ter um dia um magnífico e definitivo despertar, num mundo infinitamente melhor e, sobretudo, imortal. O poeta Mauro Sampaio escreveu a respeito, nestes versos do seu poema “Amanhecer”:

“Os dias e as noites são teus, Senhor.
Teu é o meu sono e o amanhecer.
Mas penso agora em outra noite e outro dia,
Amalgamados
em um único e admirável despertar.
E imagino minha confusão deslumbrante e definitiva!”.

Por essa esperança, sim, vale a pena viver, não é mesmo?


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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária” José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br

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Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista).Preço: R$ 23,90.

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Passos para a paz

Pedro J. Bondaczuk

Os cinco presidentes centro-americanos, que firmaram um histórico acordo de paz para a América Central em 7 de agosto passado, na Guatemala, cumpriram, até aqui, a palavra empenhada, a despeito de análises apressadas (e algumas mal intencionadas) feitas em determinadas áreas políticas.

O pacto, denominado “Esquipulas-II”, previa que 90 dias após sua assinatura, todos os signatários deveriam mostrar progressos rumo à pacificação da região. Ou seja, o documento não previu, em absoluto, que os conflitos (alguns seculares) cessassem de repente, como em um passe de mágica. Quem disser, por outro lado, que não houve nenhuma evolução no quadro político centro-americano ou é muito mal informado, ou deseja, apenas, tumultuar o processo de pacificação.

Por essa razão, estamos de acordo com o mentor do plano, o jovem presidente da Costa Rica, Oscar Arias Sanchez, ganhador do Nobel da Paz deste ano, quando manifestou, ontem, entusiasmado, em San José, na presença de jornalistas: “Hoje, inicia-se um processo histórico. Meu espírito está cheio de otimismo. Sei que iremos adiante, apesar dos obstáculos e do ceticismo de muita gente”.

Dificuldades persistem, é óbvio, mas ninguém, em sã consciência, esperava que elas desaparecessem da noite para o dia. É verdade que Daniel Ortega bate pé firme e se recusa a negociar com guerrilha anti-sandinista da Nicarágua, preferindo dialogar diretamente com quem a formou e a sustentou todo este tempo: o governo norte-americano.

Os obstáculos não param por aí. Em El Salvador, o assassinato do presidente da Comissão dos Direitos Humanos, Herbert Anaya (possivelmente pelos ultradireitistas esquadrões da morte), fez com que os rebeldes deixassem a mesa de negociações.

Na Guatemala, o presidente Vinício Cerezo Arévalo exige que os sediciosos deponham armas para dialogar. Honduras, por seu turno, reluta em expulsar de seu território os indesejáveis “contras”, não tanto por morrer de amores por eles, mas por temer se indispor com a Casa Branca, de cuja ajuda depende por completo.

No entanto, em somente 90 dias, caminhou-se mais do que em toda uma década rumo à paz na América Central. Os sandinistas suspenderam a censura ao “La Prensa”, permitindo a reabertura do jornal, negociam com a oposição política e decretaram um cessar-fogo unilateral, em algumas áreas, além de terem permitido o retorno de sacerdotes católicos que haviam sido expulsos do país.

O governo salvadorenho sancionou uma lei de anistia e impôs uma trégua unilateral. Os guatemaltecos pelo menos já dialogaram, em vez de se limitarem a trocar tiros, como faziam recentemente. E cresce o movimento em Honduras, especialmente entre os militares, para a expulsão dos “contras” do país.

Tudo isso, ressalte-se, foi conseguido em apenas três meses! Não é de admirar, portanto, que o presidente costarriquenho não tenha perdido, ainda, o seu entusiasmo. Agora, pelo menos, fala-se de paz e não mais de guerra, na atribulada América Central. E isso já é um importante avanço para os padrões políticos dessa região.     

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 6 de novembro de 1987)


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