Assassinatos
impunes
Pedro J. Bondaczuk
A sociedade reclama, e com razão, da impunidade dos
chamados crimes de colarinho branco, caracterizados por negociatas e falcatruas
cometidas por figurões, mas nem sempre cobra punição para um outro tipo de
delito, muito mais hediondo, em relação ao qual a Justiça tem passado ao largo.
Tratam-se dos assassinatos de crianças e
adolescentes, denunciados em várias ocasiões pela Anistia Internacional, mas
cujos autores acabam sendo esquecidos e deixados em paz. A maior parte desses
massacres é cometida contra meninos e meninas abandonados, principalmente na
violentíssima Baixada Fluminense.
Tais atos, em geral, são praticados por grupos de
assassinos frios, maníacos que precisam ser tirados das ruas, com urgência, dada
sua paranóia, que se auto-intitulam de "Vigilantes".
Apenas entre março e agosto do corrente ano, 424
delitos do tipo foram cometidos. Destes, todavia, só 17 tiveram seus autores
identificados. Tais dados constam de relatórios de Análises Sociais e Econômicas
e Movimento Nacional dos Meninos de Rua.
Está aí uma situação em que seres humanos, que não
pediram, evidentemente, para virem ao mundo em que foram colocados por pais
absolutamente irresponsáveis, são tratados de forma pior do que animais. Para a
proteção destes últimos, a sociedade até que tem se mobilizado a contento.
É freqüente exibirem-se reportagens mostrando
cidadãos sendo presos por manterem aves ou macacos ou outros tipos quaisquer de
bichos que estejam em risco de extinção em cativeiro. No entanto, o mesmo não
acontece em relação aos que exploram crianças – inclusive sexualmente –
maltratam esses pequenos seres humanos e, o que é muito mais grave, os
assassinam, sem nenhuma contemplação, como se estivessem matando pardais,
formigas ou gafanhotos.
Os menores abandonados, se cometem delitos para
sobreviver, estão agindo por instinto. Se a sociedade pretender se proteger
contra a sua ação, deve deixar de lado seu cinismo e traçar um programa de
assistência. Mas não se concebe, em nenhuma circunstância, que simplesmente
feche os olhos para o que está acontecendo, como se a agressão contra seus
semelhantes fosse algo que em absoluto não lhe dissesse respeito.
Ignorar a questão não significa resolver o terrível
drama. A omissão somente conseguiu multiplicar o número de crianças
absolutamente abandonadas que hoje já são, conforme estimativas até otimistas,
mais de sete milhões. As escolas que se deixarem de construir hoje, serão os
presídios que se terão de erguer amanhã. Negar esta verdade é esconder o sol
com a peneira.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 10 de novembro de 1990).
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