Sunday, June 02, 2013

Oposição trapalhona


Pedro J. Bondaczuk


A parcela lúcida da oposição romena, aquela composta por políticos que realmente merecem esse nome, soube extrair lições da contundente derrota sofrida nas urnas, nas eleições de domingo passado, para a Frente de Salvação Nacional, integrada por ex-comunistas.

Foram a impaciência e os exageros cometidos por alguns oposicionistas os principais responsáveis pela surpresa que o eleitorado lhes reservou. As seguidas manifestações em praça pública, as expressões de intransigência e confrontação e a postura de donos da verdade de muitos deles assustaram a população, ainda traumatizada pela sangrenta revolução de dezembro de 1989.

Nenhum romeno sentiu-se confiante em entregar os destinos do país, que vive duríssima crise econômica, nas mãos de pessoas que mostraram inexperiência até mesmo para administrar mera campanha eleitoral.

Pode-se dizer, portanto, sem fugir muito da verdade, que não foi bem a Frente de Salvação Nacional que venceu as eleições, mas, sim, a oposição que as perdeu. E não adianta lançar suspeitas sobre a lisura do processo eleitoral, como vem sendo feito até aqui.

Em primeiro lugar, a votação foi supervisionada por cerca de 500 observadores internacionais, de 12 países, a maioria dos Estados Unidos, representada por experientes deputados do Congresso norte-americano.

Em segundo, o número de votos obtido pelo grupo governista, que agora se transforma em partido, equivaleu a 85% do total. Mesmo que tenha havido, portanto, alguma irregularidade, num país onde a trapaça eleitoral jamais foi novidade, as coisas erradas não foram de tal monta a ponto de propiciar aos supostos fraudadores um massacre tão contundente nas urnas.

O que ocorreu na Romênia foi que os opositores foram com muita sede ao pote e o acabaram quebrando. No afã de mostrarem seu repúdio aos comunistas e que não tinham nada a ver com o regime do deposto ditador Nicolae Ceausescu, acabaram se aproximando mais  do que de fato se distanciando das práticas do sistema que procuravam condenar.

As imagens de televisão mostraram, na terça-feira, uma tentativa de linchamento do novo ministro da Justiça, então sequer empossado, e que se dispôs a ir à Praça da Universidade de Bucareste, onde os opositores radicais estão acampados há quase um mês, para iniciar negociações com os manifestantes.

Quantos atos mais, deste tipo, não aconteceram? Inúmeros, certamente. Muita gente pacata não expressou em público seu repúdio por essa baderna, certamente, por timidez, quando não por medo de represálias. Preferiu, no entanto, usar a grande arma da democracia contra os despreparados para o seu exercício: o voto. Daí a eleição de Íon Iliescu para a Presidência romena, com devastadores 85% de votos, sequer poder ser classificada de “surpresa”.            


(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 26 de maio de 1990).

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