Preâmbulo
para uma análise do autoconhecimento
Pedro J. Bondaczuk
O conhecimento de que mais
necessitamos é o autoconhecimento. Ou seja, de como somos (e não como os outros
nos vêem), do por que de agirmos de determinada maneira, bem ou mal, em certas
ocasiões, notadamente as críticas, de qual a razão de gostarmos de determinadas
pessoas e/ou atividades e detestarmos outras que aparentemente são melhores e
vai por aí afora. É importante sabermos, até onde isso for possível, o máximo a
nosso próprio respeito. Poucos sabem. Pouco sabemos. Pouco sei a meu propósito.
Esse é um conhecimento relegado,
quase sempre, e pelas mais diversas razões, a um segundo plano. Achamos que se
trate de algo supérfluo, ou desnecessário, ou mesmo inacessível. Ledo engano!
As pessoas (e me incluo entre elas, óbvio, pois não me considero melhor e nem
pior do que ninguém) relutam em assumir essa tarefa – e a maioria não a assume
jamais e sequer chega a tentar –, possivelmente temerosas do que possam vir a
descobrir a seu respeito. Todavia, só conhecendo, de fato, nossas
potencialidades e vulnerabilidades teremos condições de evoluir e, quem sabe,
voar tão alto a ponto de alcançar as estrelas. Por isso, vale o esforço.
Para o filósofo Blaisé Pascal,
"é indispensável conhecermo-nos a nós próprios; mesmo se isso não bastasse
para encontrarmos a verdade, seria útil, ao menos para regularmos a vida, e
nada há de mais justo". Há uma infinidade de citações, de renomados
intelectuais, defendendo essa necessidade, e pelas razões as mais diversas.
Para o escritor italiano, Ítalo Calvino, por exemplo, “o conhecimento
do próximo tem isto de especial: passa necessariamente pelo conhecimento de si
mesmo”. Ou
seja, ele entende que jamais seremos capazes de conhecer quem quer que seja se
não nos conhecermos antes. O filósofo chinês, Lao Tse, por seu turno, considera
que "quem conhece os outros é sábio; quem conhece a si mesmo é
iluminado".
É certo que nem todos vêem vantagens – e, até ao
contrário, vislumbram imensos obstáculos e traiçoeiros perigos – no
autoconhecimento. O polêmico escritor francês, André Gide, é um deles. Ele
observou, em um dos seus livros, especificamente a esse propósito: "Conhece-te
a ti mesmo. Máxima tão perniciosa quanto feia. Qualquer pessoa que se observe
cessa o seu próprio desenvolvimento. A lagarta que tentasse 'conhecer-se bem'
jamais se tornaria uma borboleta". Respeitosamente, discordo dessa opinião.
Considero o autoconhecimento – com tudo o que de
desagradável possa nos revelar a nosso próprio respeito – não apenas
importantíssimo, como fundamental para nosso desenvolvimento psíquico e
intelectual. E para nossa conseqüente evolução como seres inteligentes e
sensíveis. Volta e meia menciono essa necessidade em crônicas, ensaios ou
simples reflexões nas redes sociais, notadamente no Facebook. O poeta, crítico
e filósofo alemão, Gotthold Lessing, entende que esse tipo de conhecimento
propicia a quem o consegue preciosa lição de humildade. Afirma: "Aprendi a
conhecer-me a mim próprio, e certamente desde então nunca mais ri ou escarneci
de ninguém que não fosse eu próprio".
Pois é, muitas das fraquezas e deficiências
alheias, em especial as que nos despertam zombarias e risos de mofa, não raro
são exatamente as nossas e sequer o sabemos. Reagimos (para o bem
e para o mal) muito em função das circunstâncias, do momento, das oportunidades
e nos surpreendemos com nossas reações, boas ou más, mesmo que jamais admitamos
a terceiros (ou a nós próprios), essa surpresa. Não nos conhecemos (salvo,
claro, exceções). Do que precisamos é de informações elementares, comezinhas,
básicas que nos conduzam a esse desejável (ou indesejável?) autoconhecimento.
Somente nos conhecendo estaremos capacitados a fazer a escolha correta e
responsável do que entendermos, então, ser o melhor para nós. Se errarmos,
paciência. Seremos, provavelmente, fracassados e infelizes.
Todo esse bla-bla-blá sobre
autoconhecimento vem a propósito da solicitação, por e-mail, feita por um leitor (esse pessoal me coloca em cada
fria!), para que eu trate de um assunto que me fascina, mas do qual entendo
pouquíssimo, não mais do que um ou outro rudimento: da psicanálise. Como não
sou de fugir de desafios, por mais arriscados que sejam, e como detesto dizer
“não”, tentarei, nos próximos dias (se consecutivamente ou não ainda não
decidi), aventurar-me pelos “pântanos” da mente, tendo, por guias, o criador
dessa disciplina, Sigmund (muitos grafam seu nome como Sigismund) Freud e seu
preclaro discípulo (e contestador) Carl Gustav Jung.
A título de prevenção, vou logo
avisando que não se trata da minha área de especialização. Afinal, não passo de
jornalista e de escritor (e dos menores na escala dos que “fazem” Literatura),
com conhecimentos apenas superficiais sobre tema tão complexo, em que os
próprios especialistas não se entendem (daí existirem tantas escolas
psicanalíticas). Peço, pois, indulgência aos que dominam o assunto (pelo menos
melhor do que eu, o que nem é tão difícil ou raro) para possíveis deslizes e
disparates que eu eventualmente vier a perpetrar, embora prometa empenhar-me ao
máximo para não perpetrá-los ou fazê-lo em quantidades mínimas.
Aprendi muito a propósito, posto
que não o suficiente para considerar-me, se não expert, pelo menos um “curioso”
razoavelmente bem informado, não especificamente no intuito de me autoconhecer,
mas de criar personagens originais e verossímeis (como muitos escritores
melhores do que eu fizeram e fazem a todo instante) para meus contos. Li, por
exemplo, praticamente todos os livros de Freud traduzidos para o português.
Já quanto à obra de Jung, fico
devendo. Além de vasta (cataloguei 35 títulos), é complexíssima, escrita em uma
linguagem só acessível a iniciados (e olhem lá!), além de monótona e chata de
se ler, posto que certamente importante. Não seria burro de contestar sua
importância. Li-o, no entanto, por “tabela”, através da leitura do excelente
livro da médica psiquiatra Nise da Silveira (falecida em 1999), “Jung: vida e
obra”, tratando, de maneira clara, objetiva e didática (e ideal para leigos
como eu) de suas idéias e circunstâncias em que vieram a lume. Enfim... Estou
pronto para nova “aventura”, desta vez lítero-psicológica.
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