Sunday, June 23, 2013

Uma dura tarefa

Pedro J. Bondaczuk

A Alemanha Oriental, que nasceu comunista, fruto da divisão germânica determinada pela derrota nazista na Segunda Guerra Mundial, tem, desde ontem, um governo que não é, em absoluto, dessa ideologia. Muito pelo contrário, a coalizão que forma e dá sustentação política ao novo gabinete, se opõe ferozmente ao marxismo e se alinha com as teses ocidentais. Para primeiro-ministro foi escolhido um dirigente que, embora possua 30 anos de militância na vida pública, e tenha demonstrado ser exímio negociador na "costura" da aliança, que lhe garantiu os dois terços do Parlamento necessários para alterar a Constituição, é, em certos aspectos, inexperiente. Sabe bem o que "não deve" fazer, pois a sua União Democrata-Cristã foi por muito tempo aliada do Partido Comunista. Nesta condição, Lothar de Maiziere pôde testemunhar todas as chicanas e malandragens políticas possíveis, praticadas pelas "velhas raposas" do PC.

Todavia, é provável que o novo premier não possua a tarimba suficiente acerca do que "precisa" ser feito. Possivelmente, terá que se guiar por seu instinto, mais pela intuição. Afinal, sendo oposicionista, num país que não admitia a oposição, sua atuação certamente foi mínima. Um aspecto positivo desse advogado, relativamente jovem, é o seu descomprometimento com o passado germânico. Ele é de uma geração que nada teve a ver com o nazismo, embora tenha pago o preço da loucura de Adolf Hitler.

De Maiziere tem 50 anos, o que quer dizer que quando a Segunda Guerra Mundial terminou tinha somente cinco e quando começou, ele sequer tinha nascido. Com os comunistas, embora seu partido tenha apoiado esse regime, ele nunca se envolveu em profundidade. Jamais ocupou qualquer cargo de expressão. Começou a crescer na escala partidária somente após 10 de novembro de 1989, quando da queda do Muro de Berlim e da aceleração do processo de democratização do seu país. Isto é muito bom, pois caberá a este político a importantíssima tarefa de conduzir, pelo lado alemão oriental, o processo de reunificação germânica, que afeta, por tudo aquilo que envolve, não somente as duas Alemanhas, mas toda a Europa e até o restante do mundo.

Como seu colega ocidental, o chanceler Helmut Kohl, de Maiziere precisará vencer desconfianças internas, quanto ao papel a ser exercido pelo seu Estado após a união (evitando que seja secundário) e em especial externas. Neste último aspecto, um grande passo o Parlamento já deu ontem, ao reconhecer a atual fronteira polonesa. Resta acalmar os temores da Comunidade Européia, sobre a atuação de uma Alemanha maior e mais forte economicamente, no contexto de uma CEE sem barreiras e virtualmente sem fronteiras em 1992 e o da União Soviética, atinente à sua segurança militar.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 13 de abril de 1990)


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