Uma dura tarefa
Pedro J. Bondaczuk
A Alemanha Oriental, que nasceu comunista, fruto da
divisão germânica determinada pela derrota nazista na Segunda Guerra Mundial,
tem, desde ontem, um governo que não é, em absoluto, dessa ideologia. Muito
pelo contrário, a coalizão que forma e dá sustentação política ao novo
gabinete, se opõe ferozmente ao marxismo e se alinha com as teses ocidentais.
Para primeiro-ministro foi escolhido um dirigente que, embora possua 30 anos de
militância na vida pública, e tenha demonstrado ser exímio negociador na
"costura" da aliança, que lhe garantiu os dois terços do Parlamento
necessários para alterar a Constituição, é, em certos aspectos, inexperiente.
Sabe bem o que "não deve" fazer, pois a sua União Democrata-Cristã
foi por muito tempo aliada do Partido Comunista. Nesta condição, Lothar de
Maiziere pôde testemunhar todas as chicanas e malandragens políticas possíveis,
praticadas pelas "velhas raposas" do PC.
Todavia, é provável que o novo premier não possua a
tarimba suficiente acerca do que "precisa" ser feito. Possivelmente,
terá que se guiar por seu instinto, mais pela intuição. Afinal, sendo
oposicionista, num país que não admitia a oposição, sua atuação certamente foi
mínima. Um aspecto positivo desse advogado, relativamente jovem, é o seu
descomprometimento com o passado germânico. Ele é de uma geração que nada teve
a ver com o nazismo, embora tenha pago o preço da loucura de Adolf Hitler.
De Maiziere tem 50 anos, o que quer dizer que quando
a Segunda Guerra Mundial terminou tinha somente cinco e quando começou, ele
sequer tinha nascido. Com os comunistas, embora seu partido tenha apoiado esse
regime, ele nunca se envolveu em profundidade. Jamais ocupou qualquer cargo de
expressão. Começou a crescer na escala partidária somente após 10 de novembro
de 1989, quando da queda do Muro de Berlim e da aceleração do processo de
democratização do seu país. Isto é muito bom, pois caberá a este político a
importantíssima tarefa de conduzir, pelo lado alemão oriental, o processo de reunificação
germânica, que afeta, por tudo aquilo que envolve, não somente as duas
Alemanhas, mas toda a Europa e até o restante do mundo.
Como seu colega ocidental, o chanceler Helmut Kohl,
de Maiziere precisará vencer desconfianças internas, quanto ao papel a ser
exercido pelo seu Estado após a união (evitando que seja secundário) e em
especial externas. Neste último aspecto, um grande passo o Parlamento já deu
ontem, ao reconhecer a atual fronteira polonesa. Resta acalmar os temores da
Comunidade Européia, sobre a atuação de uma Alemanha maior e mais forte
economicamente, no contexto de uma CEE sem barreiras e virtualmente sem
fronteiras em 1992 e o da União Soviética, atinente à sua segurança militar.
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 13 de abril de
1990)
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