Tuesday, June 11, 2013

Empregos em risco

Pedro J. Bondaczuk

As medidas do governo, adotadas a toque de caixa sob a alegação de proteção do real, trouxeram de volta o espectro do desemprego para parcela considerável dos brasileiros. Trata-se de autêntico "presente de grego", numa época de festas, comprometendo a confraternização de fim de ano.

O ponto de maior peso no elenco de 51 decisões encaminhado pela equipe econômica ao Congresso, foi o aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados, o IPI.

A elevação dos juros, determinada dias antes da emissão do pacote (que objetiva arrecadar R$ 20 bilhões a mais para os cofres do Tesouro) também pesou bastante, sobretudo sobre o comércio, espantando compradores, temerosos não apenas de não conseguir honrar as prestações, mas sobretudo da perda de seus empregos.

E isso ocorre em um período particularmente sensível para os lojistas, na ocasião potencialmente mais favorável para fazer caixa e compensar prejuízos passados. Muitas empresas decidiram "enxugar" seu quadro de pessoal e as que não procederam dessa maneira, limitaram as tradicionais contratações de fim de ano. Se o comércio não vende, não repõe estoques. E a indústria sofre.

O setor metalúrgico vem sendo um dos mais atingidos pelos cortes de trabalhadores. E a situação só não está pior porque a Volkswagen está ainda na fase de barganha com seus empregados, na tentativa de reduzir seus salários em 20%. Se não conseguir, 10 mil operários vão ser postos na rua. Pesquisa do Dieese sobre desemprego mostrou que a Grande São Paulo conta hoje com mais de 1,5 milhão de desempregados, "caldo de cultura" ideal para a violência.

O presidente Fernando Henrique Cardoso contestou esses números, afirmando que são exagerados e que possui dados que comprovam que o desemprego na região metropolitana estaria dentro da média nacional, pouco acima de 5%. Provavelmente, está mal informado. Se há exageros, estes talvez estejam nos números, otimistas em demasia, obtidos pelo Planalto.

Sempre que o problema do desemprego vem à baila, a argumentação quase que imediata dos líderes governistas é a de que se trata de um fenômeno mundial. Sem dúvida. Mas as situações existentes no Brasil e no âmbito da União Européia são muito diferentes. Temos um potencial incomensurável a explorar, à espera de iniciativas, de capitais e sobretudo de vontade política.

Via de regra, os defensores do atual modelo econômico exemplificam com o que ocorre na Europa, às voltas com taxas de desemprego altíssimas há já bom tempo, sem nenhuma perspectiva de reversão desse quadro.

Ocorre que lá, salvo uma ou outra exceção, existem sistemas de proteção social que funcionam e impedem que os demitidos tenham que recorrer à chamada "economia informal", descambando para a marginalidade econômica, para não despencar na indigência.

Entre nós, as coisas são muito mais graves. Há tempos o nosso mercado de trabalho não consegue absorver sequer o contingente de jovens que procura seu primeiro emprego. No Brasil, o desempregado enfrenta uma situação trágica.

O seguro-desemprego não cobre quase nada de suas necessidades básicas, é cercado de muita burocracia e seu período de vigência é limitadíssimo. Por isso, não são raros os casos em que a própria família de quem tem a infelicidade de perder o emprego acabe se desagregando. Por puro desespero.

(Texto escrito em 8 de dezembro de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).

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