Empregos em risco
Pedro J. Bondaczuk
As
medidas do governo, adotadas a toque de caixa sob a alegação de proteção do
real, trouxeram de volta o espectro do desemprego para parcela considerável dos
brasileiros. Trata-se de autêntico "presente de grego", numa época de
festas, comprometendo a confraternização de fim de ano.
O
ponto de maior peso no elenco de 51 decisões encaminhado pela equipe econômica
ao Congresso, foi o aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados, o IPI.
A
elevação dos juros, determinada dias antes da emissão do pacote (que objetiva
arrecadar R$ 20 bilhões a mais para os cofres do Tesouro) também pesou
bastante, sobretudo sobre o comércio, espantando compradores, temerosos não
apenas de não conseguir honrar as prestações, mas sobretudo da perda de seus
empregos.
E
isso ocorre em um período particularmente sensível para os lojistas, na ocasião
potencialmente mais favorável para fazer caixa e compensar prejuízos passados.
Muitas empresas decidiram "enxugar" seu quadro de pessoal e as que
não procederam dessa maneira, limitaram as tradicionais contratações de fim de
ano. Se o comércio não vende, não repõe estoques. E a indústria sofre.
O
setor metalúrgico vem sendo um dos mais atingidos pelos cortes de
trabalhadores. E a situação só não está pior porque a Volkswagen está ainda na
fase de barganha com seus empregados, na tentativa de reduzir seus salários em
20%. Se não conseguir, 10 mil operários vão ser postos na rua. Pesquisa do
Dieese sobre desemprego mostrou que a Grande São Paulo conta hoje com mais de
1,5 milhão de desempregados, "caldo de cultura" ideal para a
violência.
O
presidente Fernando Henrique Cardoso contestou esses números, afirmando que são
exagerados e que possui dados que comprovam que o desemprego na região metropolitana
estaria dentro da média nacional, pouco acima de 5%. Provavelmente, está mal
informado. Se há exageros, estes talvez estejam nos números, otimistas em
demasia, obtidos pelo Planalto.
Sempre
que o problema do desemprego vem à baila, a argumentação quase que imediata dos
líderes governistas é a de que se trata de um fenômeno mundial. Sem dúvida. Mas
as situações existentes no Brasil e no âmbito da União Européia são muito
diferentes. Temos um potencial incomensurável a explorar, à espera de iniciativas,
de capitais e sobretudo de vontade política.
Via
de regra, os defensores do atual modelo econômico exemplificam com o que ocorre
na Europa, às voltas com taxas de desemprego altíssimas há já bom tempo, sem
nenhuma perspectiva de reversão desse quadro.
Ocorre
que lá, salvo uma ou outra exceção, existem sistemas de proteção social que
funcionam e impedem que os demitidos tenham que recorrer à chamada
"economia informal", descambando para a marginalidade econômica, para
não despencar na indigência.
Entre
nós, as coisas são muito mais graves. Há tempos o nosso mercado de trabalho não
consegue absorver sequer o contingente de jovens que procura seu primeiro
emprego. No Brasil, o desempregado enfrenta uma situação trágica.
O
seguro-desemprego não cobre quase nada de suas necessidades básicas, é cercado
de muita burocracia e seu período de vigência é limitadíssimo. Por isso, não
são raros os casos em que a própria família de quem tem a infelicidade de
perder o emprego acabe se desagregando. Por puro desespero.
(Texto escrito em 8 de dezembro de 1997
e publicado como editorial na Folha do Taquaral).
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