Tuesday, June 25, 2013

O lado primitivo e instintivo da mente humana

Pedro J. Bondacuk

O “Pai da Psicanálise”, Sigmund Freud, em seus estudos da racionalidade humana – e de seus desvios, ou seja, de sua irracionalidade – identificou três níveis de consciência que denominou de “ID”, “Ego” e “Superego”. Trata-se de conceituação aparentemente simples, contudo envolve imensa complexidade. Tamanha que, para seu entendimento, e assim mesmo de forma apenas rudimentar sem nenhum aprofundamento técnico, requer análise cuidadosa de cada um desses substratos isoladamente. Tentarei fazê-lo da maneira mais didática possível. Caso cometa algum deslize, todavia, peço indulgência ao leitor e que compreenda e, se possível, me corrija, já que sou rigorosamente leigo na matéria.

Analisarei cada um dos três níveis de consciência em textos separados, embora eles sejam inseparáveis e formem o conjunto desse mistério que é a racionalidade humana, que leva esse animal singular da natureza a policiar, controlar e não raro agir “contra” os instintos, quando estes forem inadequados para os relacionamentos interpessoais e sociais. Nesse aspecto, o homem é o único ser vivente que tem essa capacidade. “Entende”, mesmo que não integralmente, o que é, onde está e como deve proceder para assegurar a sobrevivência individual e da espécie. Mas... nem sempre foi assim.

Presume-se que, originalmente, o homem fosse como os demais animais e só contasse com o “ID”. E o que vem a ser isso? É, de acordo com Freud, a fonte de energia psíquica, que se pode chamar de “libido”. É completamente inconsciente. Caracteriza-se pelos impulsos, motivações e desejos mais primitivos e selvagens do ser humano. É nesse substrato que se localizam as pulsões de vida e de morte. É irracional. Não faz planos, não espera, não admite frustrações e não tem nenhuma inibição. Funciona, exclusivamente, tendo por objetivos a busca do prazer (não importa por quais meios) e a fuga da dor.

O “ID” é caótico. Não tem o menor contato com a realidade, que seria incapaz de identificar. Dessa forma, uma satisfação fantasiosa de algum desejo tem, para esse substrato da consciência, o mesmíssimo efeito que haveria se essa fosse concreta, fruto de ação objetiva. É, além de exigente, impulsivo, cego, irracional, antissocial e egoísta na obsessão pelo prazer. Desconhece, pois, absolutamente tudo o que caracterize um mínimo de racionalidade, como juízo, lógica, valores, ética ou moral. Vocês imaginaram se o homem ainda fosse assim? Certamente eu não estaria escrevendo essas reflexões e nem vocês as estariam lendo. Não haveria linguagem, nem cidades, nem sociedade e nem civilização, nem nada.

Não fossem os dois outros substratos da consciência, o Ego e o Superego, o homem não seria de forma alguma o que é. É possível, até, que a espécie fosse extinta, dada sua fragilidade no confronto com os outros animais. Mesmo no Homem Sapiens contemporâneo, há alguns indivíduos que têm o “ID” predominante. São os psicopatas, que não medem conseqüências para satisfazer seus desejos. Horrorizamo-nos com seus atos, como a prática do incesto, por exemplo, entre tantas e tantas outras ações abomináveis, mas estes não têm aquela censura interna que as pessoas normais têm que lhes indica a diferença entre o certo e o errado. Por isso, sequer sentem remorso pelas atrocidades que venham a praticar.

A satisfação prioritária que o “ID” busca obter, se isolado e sem a intervenção do Ego e do Superego, é, de acordo com Freud, a da tensão sexual  Há muitos equívocos a esse respeito em relação às idéias do “Pai da Psicanálise”. A interpretação equivocada sobre esse aspecto, trouxe-lhe muita oposição e inúmeros dissabores. De acordo com Freud, sexualidade não se restringe aos órgãos genitais, como a maioria entende e interpreta (embora estes, também, estejam incluídos). É todo o tipo de comportamento que resulte em prazer físico, sensorial, agradável. Abrange, portanto, toda atividade instintiva que se relacione às necessidades corporais.

Freud escreveu a propósito desse impulso instintivo, selvagem e inconsciente: “Nós chamamos de ID um caldeirão cheio de excitações efervescentes. O ID desconhece o julgamento de valores, o bem e o mal, a moralidade”. A despeito do indispensável controle exercido pelo Ego e pelo superego no “ID”, ele se manifesta, posto que (felizmente) atenuado, nos extremos dos sentimentos até do ser humano contemporâneo.

Freud escreveu: "O amor ou o ódio dos homens não espera, para se fixar, ter primeiro estudado e reconhecido a natureza das coisas. Os homens amam por impulso e por razões de sentimento que nada têm a ver com o conhecimento e às quais a reflexão e a meditação não podem deixar de tirar força". E complementou com esta outra afirmação: “Cães amam seus amigos e mordem seus inimigos, bem diferente das pessoas, que são incapazes de sentir amor puro e têm sempre que misturar amor e ódio em suas relações”.


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