O lado primitivo e
instintivo da mente humana
Pedro
J. Bondacuk
O “Pai da Psicanálise”,
Sigmund Freud, em seus estudos da racionalidade humana – e de seus desvios, ou
seja, de sua irracionalidade – identificou três níveis de consciência que
denominou de “ID”, “Ego” e “Superego”. Trata-se de conceituação aparentemente simples,
contudo envolve imensa complexidade. Tamanha que, para seu entendimento, e
assim mesmo de forma apenas rudimentar sem nenhum aprofundamento técnico,
requer análise cuidadosa de cada um desses substratos isoladamente. Tentarei
fazê-lo da maneira mais didática possível. Caso cometa algum deslize, todavia,
peço indulgência ao leitor e que compreenda e, se possível, me corrija, já que
sou rigorosamente leigo na matéria.
Analisarei cada um dos
três níveis de consciência em textos separados, embora eles sejam inseparáveis
e formem o conjunto desse mistério que é a racionalidade humana, que leva esse
animal singular da natureza a policiar, controlar e não raro agir “contra” os
instintos, quando estes forem inadequados para os relacionamentos interpessoais
e sociais. Nesse aspecto, o homem é o único ser vivente que tem essa
capacidade. “Entende”, mesmo que não integralmente, o que é, onde está e como
deve proceder para assegurar a sobrevivência individual e da espécie. Mas...
nem sempre foi assim.
Presume-se que,
originalmente, o homem fosse como os demais animais e só contasse com o “ID”. E
o que vem a ser isso? É, de acordo com Freud, a fonte de energia psíquica, que
se pode chamar de “libido”. É completamente inconsciente. Caracteriza-se pelos
impulsos, motivações e desejos mais primitivos e selvagens do ser humano. É
nesse substrato que se localizam as pulsões de vida e de morte. É irracional.
Não faz planos, não espera, não admite frustrações e não tem nenhuma inibição.
Funciona, exclusivamente, tendo por objetivos a busca do prazer (não importa
por quais meios) e a fuga da dor.
O “ID” é caótico. Não
tem o menor contato com a realidade, que seria incapaz de identificar. Dessa
forma, uma satisfação fantasiosa de algum desejo tem, para esse substrato da
consciência, o mesmíssimo efeito que haveria se essa fosse concreta, fruto de
ação objetiva. É, além de exigente, impulsivo, cego, irracional, antissocial e
egoísta na obsessão pelo prazer. Desconhece, pois, absolutamente tudo o que
caracterize um mínimo de racionalidade, como juízo, lógica, valores, ética ou
moral. Vocês imaginaram se o homem ainda fosse assim? Certamente eu não estaria
escrevendo essas reflexões e nem vocês as estariam lendo. Não haveria
linguagem, nem cidades, nem sociedade e nem civilização, nem nada.
Não fossem os dois
outros substratos da consciência, o Ego e o Superego, o homem não seria de
forma alguma o que é. É possível, até, que a espécie fosse extinta, dada sua
fragilidade no confronto com os outros animais. Mesmo no Homem Sapiens contemporâneo,
há alguns indivíduos que têm o “ID” predominante. São os psicopatas, que não
medem conseqüências para satisfazer seus desejos. Horrorizamo-nos com seus
atos, como a prática do incesto, por exemplo, entre tantas e tantas outras
ações abomináveis, mas estes não têm aquela censura interna que as pessoas
normais têm que lhes indica a diferença entre o certo e o errado. Por isso,
sequer sentem remorso pelas atrocidades que venham a praticar.
A satisfação
prioritária que o “ID” busca obter, se isolado e sem a intervenção do Ego e do
Superego, é, de acordo com Freud, a da tensão sexual Há muitos equívocos a esse respeito em
relação às idéias do “Pai da Psicanálise”. A interpretação equivocada sobre
esse aspecto, trouxe-lhe muita oposição e inúmeros dissabores. De acordo com
Freud, sexualidade não se restringe aos órgãos genitais, como a maioria entende
e interpreta (embora estes, também, estejam incluídos). É todo o tipo de
comportamento que resulte em prazer físico, sensorial, agradável. Abrange, portanto,
toda atividade instintiva que se relacione às necessidades corporais.
Freud escreveu a
propósito desse impulso instintivo, selvagem e inconsciente: “Nós chamamos de
ID um caldeirão cheio de excitações efervescentes. O ID desconhece o julgamento
de valores, o bem e o mal, a moralidade”. A despeito do indispensável controle
exercido pelo Ego e pelo superego no “ID”, ele se manifesta, posto que
(felizmente) atenuado, nos extremos dos sentimentos até do ser humano
contemporâneo.
Freud escreveu: "O amor ou o ódio dos homens não
espera, para se fixar, ter primeiro estudado e reconhecido a natureza das
coisas. Os homens amam por impulso e por razões de sentimento que nada têm a
ver com o conhecimento e às quais a reflexão e a meditação não podem deixar de
tirar força". E complementou com esta outra afirmação: “Cães amam
seus amigos e mordem seus inimigos, bem diferente das pessoas, que são
incapazes de sentir amor puro e têm sempre que misturar amor e ódio em suas
relações”.
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