Sunday, April 30, 2006

O poço dos desejos


Pedro J. Bondaczuk


Poço mágico, poço fundo, poço misterioso,
poço das ilusões e dos desejos!

Em busca da mutante felicidade,
com três moedas de dez centavos,
moedas simples, banais, de aço inox
--- não apenas uma, ou duas, mas logo três –
tentei subornar o futuro infecundo,
desmascarar a álgida, a fugidia lógica,
comprar (tão barato!) a imortalidade
no poço fundo, poço mágico dos desejos.

Quero sobreviver ao implacável tempo,
à irremediável insignificância, à efemeridade,
devassar os anos, os séculos, os milênios sem fim.
Misturar passado, presente e futuro
numa única, numa só, numa massa amorfa
e ser pedra, ser água, ser planta e ser ar,
ser camaleão místico, camaleão incansável,
transformar-me sempre e sempre...e sobreviver...

Quero ser sombra, substância, conceito,
ideais, lembranças, amores,
ser cravo, ser rosa, amor-perfeito,
ser amante e ser irmão de todas as flores.

Quero ser sombra, conceito, substância,
escultura de ébano ou de jade,
os sonhos imaturos da infância
e atos e amores da maturidade.

Quero ser substância, conceito, sombra
invisível, posto que presente,
ser arrependimento que assombra,
ser desejo urgente, intenso, ardente.

Quero, peixe mágico de horizontes
distantes, longínquos, infinitos,
banhar-me, liberto, em todas as fontes,
sobrepujar lendas, tradições e mitos.

Quero, barca mística e perene,
viajar, ufana, todos os rios,
ser a promessa séria, pensada, solene,
ser a essência de todos os desvarios.

Quero, marujo endurecido, invencível,
navegar, airoso, todos os mares,
ser crença cega, posto que incrível,
pedra fundamental de todos os altares.

Quero, mágico pastor, sublime mito,
todas emoções usufruir (ou apenas tê-las)
cavalgar no campo aberto do infinito,
pastorear mil tropilhas de estrelas.

Quero integrar-me à natureza,
não sentir rancores, iras, mágoas,
ser um filtro mágico da beleza,
ser irmão dos peixes, flores, águas.

Pois no poço mágico, poço frio, poço fundo,
simples poço dos desejos, eu sei,
tentei subornar o futuro infecundo
e três simples moedinhas atirei!

(Poema composto em Sumaré, em 2 de outubro de 1974).

REFLEXÃO DO DIA


O intelectual francês André Malraux observou que "o homem é o único animal que sabe que vai morrer". Blaisé Pascal, antes disso, tinha chegado à mesma conclusão, óbvia, mas que nem todos têm em mente, ao observar: "O homem é o único animal que sabe que não é eterno". Já o excelente poeta dinamarquês, Piet Hein, escreveu, num poema curto, porém marcante e repleto de sabedoria, intitulado "Uma Máxima para Vikings": "Eis aqui um fato, um bom motivo/para você lutar enquanto vivo:/as coisas que não causam logo a morte/tornam você mais forte". Por isso, não devemos nunca nos desesperar com as adversidades, mas extrair as lições que elas possam nos deixar.

Trabalho como privilégio


Pedro J. Bondaczuk


O trabalho é encarado pela maioria das pessoas como necessidade – física e principalmente econômica – para dar sentido à vida e custear a subsistência. Outros entendem-no como mera obrigação, um papel que o indivíduo tem que exercer na sociedade em que vive. Terceiros classificam-no como "castigo", baseados na sentença divina emanada quando da expulsão de Adão e Eva do Éden, conforme relato bíblico no livro de "Gênesis": "Com o suor de teu rosto comerás o pão até que voltes à terra, donde foste tirado". Alguns poucos consideram-no uma oportunidade para mostrar quanto valem e a que vieram ao mundo. Há, também, os que o encaram como satisfação, quando têm o privilégio de fazer somente o que gostam.
Todas essas pessoas têm, no entanto, uma preocupação comum: a manutenção do seu trabalho (gostem ou não dele), face à onda de desemprego que varre o Planeta em decorrência de vários fatores que vão desde a escravidão de milhões – por mais estranho que isso possa soar – ao avanço da tecnologia, que suprime anualmente (e para sempre) milhares e milhares de empregos em todo o mundo.
A Organização Mundial do Trabalho, em estimativa de 1994, avaliou em 840 milhões o número de desempregados ou subempregados (aqueles que têm "bicos" passageiros) em âmbito mundial. Ou seja, um terço da população economicamente ativa da Terra. Enquanto tanta gente quer (e precisa) trabalhar, há, no outro extremo, mais de 200 milhões de pessoas que trabalham forçadas, reduzidas à escravidão. A avaliação é de Dominique Torres, autora do livro "Esclaves" (Escravos), lançado no início do ano na França pela Editora Phébus, dentro da coleção "Libert‚ sur Parole" (Liberdade sob Palavra).
A pesquisadora denuncia que cerca de 50% desses escravos modernos são crianças. Outros 25% são mulheres e não somente as forçadas a se prostituir, mas também as empregadas em serviços domésticos e em vários tipos de indústria, em tarefas penosas e insalubres. O livro, verdadeira história de terror (infelizmente verídica), traz não só números, mas aborda relatos de casos verdadeiros, comprovados pela autora nos países que visitou quando fez a pesquisa. Os piores episódios, conforme destaca, ocorrem nos ricos países produtores de petróleo (Arábia Saudita, Kuwait e outros emirados) além de Paquistão e Marrocos.
A América Latina não está livre do flagelo e Dominique cita nominalmente, com os respectivos exemplos, Brasil, Guatemala e Colômbia. O Primeiro Mundo, às voltas com crescente desemprego, também explora pessoas indefesas e desesperadas. Traficantes de escravos e industriais sem escrúpulos dos EUA e Estados da Comunidade Européia "fazem os imigrantes ilegais entrar nesses países, encerram-nos em recintos onde, sob ameaças, os fazem trabalhar por 15 ou 18 horas". Revoltante e deprimente!
Enquanto isso, o mundo caminha para a era do fim dos empregos. Ou, se não tanto, para uma drástica redução deles. Essa nova realidade, em pleno andamento, traz aos administradores de vários níveis, da totalidade dos países (não importa se ricos ou pobres), o que promete ser o mais grave dos desafios dos primeiros anos do século XXI: como arranjar ocupação para mais de um bilhão de indivíduos, de formas a que eles possam se sustentar e manter a economia funcionando?
O economista norte-americano Jeremy Rifkin aborda com detalhes a questão no livro (recém-lançado no Brasil pela editora "Makron Books") "O fim dos empregos". Constata: "Após anos de previsões otimistas e alarmes falsos, as novas tecnologias de informática e de comunicações estão finalmente causando seu impacto, há tanto tempo prognosticado, no mercado de trabalho e na economia, lançando a comunidade mundial nas garras de uma terceira grande revolução industrial. Milhões de trabalhadores já foram definitivamente eliminados do processo econômico; funções e categorias de trabalho inteiras já foram reduzidas, reestruturadas ou desapareceram".
Número crescente de pessoas recorre a atividades informais para sobreviver. O crime organiza-se e já movimenta, com a exploração do tráfico de drogas, da prostituição, dos seqüestros, da extorsão e de tantas outras ações delituosas, um total de recursos superior ao Produto Interno Bruto de países como o Brasil, que tem o 9º maior PIB do mundo.
Técnicos dos Estados Unidos, América Latina e Europa, reunidos no início do ano no Panamá, revelaram que apenas os cartéis de narcotraficantes "lavam", anualmente, mais de US$ 500 bilhões. Milhões de famílias, afetadas pelo desemprego, caem nas garras do crime organizado, do qual se servem como recurso desesperado de sobrevivência.
Para a geração rápida de empregos, faz-se necessário que se estimule crescentemente aquilo que os economistas chamam de "insatisfação organizada". Ou seja, a criação de novas necessidades (não importa se supérfluas, ditadas por modas de momento). A cada modismo, que venha acompanhado de produtos (roupas, calçados, equipamentos, etc.) milhares de empregos serão criados ou preservados.
Fica, como advertência final aos responsáveis pela elaboração das políticas de governo, a afirmação de Jeremy Rifkind: "Às portas da nova aldeia global da alta tecnologia está um número cada vez maior de seres humanos carentes e desesperados, muitos dos quais voltando-se para uma vida de crime e criando uma nova e vasta subcultura da criminalidade. A nova cultura da ilegalidade começa a colocar uma ameaça séria à capacidade de os governos manterem a ordem e oferecerem segurança aos seus cidadãos".

(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em setembro de 1995)

Saturday, April 29, 2006

REFLEXÃO DO DIA


Que sonhos sirvam de tema para poesias, é compreensível, já que são, em si, verdadeiras metáforas. Mas compará-los a um poema é heresia. Essa pintura de um quadro, essa projeção de uma visão, essa reprodução de um desejo, esse registro de um estado emocional feito apenas com palavras, são atos, sobretudo, inteligentes. Mais do que isso: sublimes. Para praticá-los é necessário contar com um talento, com um dom, com uma aptidão divina, ao contrário das divagações de um cérebro sem o controle do consciente. Nesse aspecto, estou com Fernando Pessoa, que afirma: "Não pondero sonhos; não me sinto inspirado: deliro". A poesia é isso: delírio. E os sonhos? Mistério!

O poeta de alma azul


Pedro J. Bondaczuk


Pela alquimia
mística
da simpatia,
conquistei um amor.

Olhares cruzados,
caminhos coincidentes,
choque sentimental.

No magnetismo intenso,
na luz do coração,
encontrei nova ilusão.

Sorri, sorriu,
sonhou, sonhei:
AMO!

Dia virá em que
as trevas
hão de voltar
sem os meus sonhos.

E as pedras
da rua da saudade
serão trilhadas
com amargura.

Comprarei, então,
nova emoção
na barraca do Destino.

Deixem-me só!
Minha lira despertou
criando harmonia!

Nem a beleza do sol,
nem a imensidão do mar
(deste mar que é a minha alma)
hão de inspirar
canções tão ternas.

Riam de mim, insensíveis!
O poeta despertou
com o corpo verde
e a alma azul.

Resgatei minha saudade
numa loja de penhor.
Conquistei um amor
pela alquimia
mística
da simpatia!

(Poema composto em São Caetano do Sul, em 14 de fevereiro de 1964).


Pedro J. Bondaczuk


Pela alquimia
mística
da simpatia,
conquistei um amor.

Olhares cruzados,
caminhos coincidentes,
choque sentimental.

No magnetismo intenso,
na luz do coração,
encontrei nova ilusão.

Sorri, sorriu,
sonhou, sonhei:
AMO!

Dia virá em que
as trevas
hão de voltar
sem os meus sonhos.

E as pedras
da rua da saudade
serão trilhadas
com amargura.

Comprarei, então,
nova emoção
na barraca do Destino.

Deixem-me só!
Minha lira despertou
criando harmonia!

Nem a beleza do sol,
nem a imensidão do mar
(deste mar que é a minha alma)
hão de inspirar
canções tão ternas.

Riam de mim, insensíveis!
O poeta despertou
com o corpo verde
e a alma azul.

Resgatei minha saudade
numa loja de penhor.
Conquistei um amor
pela alquimia
mística
da simpatia!

(Poema composto em São Caetano do Sul, em 14 de fevereiro de 1964).


Pedro J. Bondaczuk


Pela alquimia
mística
da simpatia,
conquistei um amor.

Olhares cruzados,
caminhos coincidentes,
choque sentimental.

No magnetismo intenso,
na luz do coração,
encontrei nova ilusão.

Sorri, sorriu,
sonhou, sonhei:
AMO!

Dia virá em que
as trevas
hão de voltar
sem os meus sonhos.

E as pedras
da rua da saudade
serão trilhadas
com amargura.

Comprarei, então,
nova emoção
na barraca do Destino.

Deixem-me só!
Minha lira despertou
criando harmonia!

Nem a beleza do sol,
nem a imensidão do mar
(deste mar que é a minha alma)
hão de inspirar
canções tão ternas.

Riam de mim, insensíveis!
O poeta despertou
com o corpo verde
e a alma azul.

Resgatei minha saudade
numa loja de penhor.
Conquistei um amor
pela alquimia
mística
da simpatia!

(Poema composto em São Caetano do Sul, em 14 de fevereiro de 1964).


Pedro J. Bondaczuk


Pela alquimia
mística
da simpatia,
conquistei um amor.

Olhares cruzados,
caminhos coincidentes,
choque sentimental.

No magnetismo intenso,
na luz do coração,
encontrei nova ilusão.

Sorri, sorriu,
sonhou, sonhei:
AMO!

Dia virá em que
as trevas
hão de voltar
sem os meus sonhos.

E as pedras
da rua da saudade
serão trilhadas
com amargura.

Comprarei, então,
nova emoção
na barraca do Destino.

Deixem-me só!
Minha lira despertou
criando harmonia!

Nem a beleza do sol,
nem a imensidão do mar
(deste mar que é a minha alma)
hão de inspirar
canções tão ternas.

Riam de mim, insensíveis!
O poeta despertou
com o corpo verde
e a alma azul.

Resgatei minha saudade
numa loja de penhor.
Conquistei um amor
pela alquimia
mística
da simpatia!

(Poema composto em São Caetano do Sul, em 14 de fevereiro de 1964).

Friday, April 28, 2006

REFLEXÃO DO DIA


Seria o homem capaz de compreender a relação profundíssima que tem com a Terra e mudar, em curto espaço de tempo, seu comportamento infeliz, destrutivo e absurdo? Para que isso seja possível, é necessário educar os jovens, incutindo neles a mentalidade preservacionista, não como modismo ou bandeira "ideológica", mas como ação. A dúvida é: haverá tempo para isso? Ainda é possível reverter os sintomas de desgaste, de envelhecimento de "Gaia", que podem evoluir rapidamente para uma "doença" de caráter irreversível, que a leve em pouco tempo à morte? Sim! O ser humano pode qualquer coisa, desde que tenha vontade. Mas tem que começar hoje, agora, já!

Sorte e obstinação


Pedro J. Bondaczuk


A obstinação, ou seja, a perseverança na busca de um objetivo, é fator primordial para o sucesso de qualquer empreendimento, individual ou coletivo. É muito fácil (e cômodo), embora contraproducente, abandonar uma tarefa pelo meio, quando surgem dificuldades, às vezes sequer muito grandes, mas que exigem das pessoas maior dose de aplicação, de esforço, de talento ou apenas de persistência.
O desânimo é uma tendência bastante comum, mas que reflete comodismo e em geral falta de objetivos definidos. É uma atitude a ser combatida com autodisciplina e com uma visão clara da meta que se quer atingir. É, aliás, o comportamento da maioria das pessoas (das perdedoras, evidentemente), que esperam que os outros atendam os seus desejos e necessidades, de graça, sem que precisem dar nenhuma contrapartida.
Feio, porém, não é fracassar, mas não haver sequer tentado ser vencedor. Alguns obstáculos, à primeira vista, assumem o aspecto de intransponíveis, embora raros o sejam de fato. Isto, é claro, se o objetivo visado for factível. Ou seja, desde que não extrapole para o terreno da fantasia, do sonho inconseqüente, da impossibilidade física, intelectual ou material. Mesmo nestes casos, o homem tem sabido, no correr da história, superar limites.
Outro fator amiúde citado pelas pessoas como fundamental para o sucesso é a chamada "sorte". E o que vem a ser esse conceito tão vago, com tantos significados, e que costumo denominar de "acaso?" São as chances que aparecem, na hora certa e que, quando aproveitadas, podem reverter situações adversas. É o inesperado, que nos livra de riscos e que evita, em muitos casos, a própria morte. É o aleatório agindo a nosso favor. É estar na hora certa, no local adequado e atento o suficiente para usufruir a oportunidade.
Lester Thurow, em seu livro "The Future of Capitalism", observa: "A moral da história é que é importante ser esperto, é ainda mais importante ter sorte, mas ainda mais importante é ser obstinado". A obstinação consegue reverter situações aparentemente impossíveis e opera "milagres". É uma poderosa arma para superar as adversidades de toda a sorte, das financeiras às familiares, passando pelos fracassos profissionais, mais comuns do que se pensa. Quantos indivíduos, que são "feras" nos tempos de escola, detentores das melhores notas da classe, primeiros colocados em vestibulares e que ao exercerem a profissão para a qual se prepararam com tamanho empenho, acabam frustrando expectativas (próprias e de terceiros)!
Aliás, essa parece ser mais a regra do que a exceção. Dificilmente vemos as "promessas" dos bancos escolares vingarem nas profissões que escolheram. Porque apenas a preparação acadêmica é insuficiente para garantir o sucesso. O reverendo norte-americano Norman Vincent Peale revela: "tenho observado, no correr dos anos, que a adversidade ou engrandece a pessoa ou a diminui. Nunca deixa como era antes".
Os que sabem extrair lições dos fracassos, independente do fator sorte, em geral revertem situações aparentemente de desvantagem e logram grandes feitos. Obtêm ou fortuna, ou fama, ou satisfação pessoal, dependendo do(s) objetivo(s) que impuseram em suas vidas. A maioria, no entanto, tende à auto-flagelação diante de insucessos.
Os consultórios dos psiquiatras e psicanalistas andam repletos de neuróticos, viciados, deprimidos, com complexo de culpa ou de inferioridade. Foram "diminuídos" pelas adversidades (quando não massacrados por elas). Não souberam, ou não quiseram, ou não puderam perseverar. Em casos assim, a "sorte" nada resolve, até porque não costuma ser contínua, mas um evento raro, quando não único em uma vida.
O desânimo, no entanto, ainda não é o pior que pode acontecer a alguém e o levar ao fundo do poço. O pensador norte-americano Harry Emerson Fosdick aponta um inimigo ainda mais mortal: "É melhor desanimar do que se conformar", destaca. O conformismo diante de qualquer condição (mesmo as favoráveis) ou situação é o caminho mais curto para a acomodação. Daí para a mediocridade é apenas um passo.
A perseverança é o antídoto também contra a conformação. Roger William Riis observa que o ser humano tem poderes com os quais sequer atina. Destaca: "Sempre que enfrenta um obstáculo intransponível, o homem se atira ao trabalho e acaba por sobrepujá-lo. Se há limites para ele, ignoro onde ficam. Mas não acredito que haja. Vejo o homem como um filho do universo que tem como herança a eternidade. Acho-o maravilhoso, sou seu devotado entusiasta. E positivamente me orgulho de fazer parte da raça humana". Eu também. Em especial dos empreendedores, dos esforçados, dos entusiastas, dos obstinados...

Thursday, April 27, 2006

REFLEXÃO DO DIA


A caridade, tida como uma das virtudes cardeais que os homens deveriam cultivar, está em baixa, nos dias atuais, em boa parte do mundo. Vivemos numa civilização consumista, marcada, sobretudo, pelo individualismo exacerbado. Tudo funciona na base do "cada um por si". Ou do famigerado desejo de "levar vantagem em tudo". Felizmente para todos, há exceções, que merecem ser, quando não exaltadas – para que o bom exemplo possa se reproduzir, multiplicar e frutificar – ao menos imitadas, posto que parcialmente. Por isso, amiga inteligente e sensível, que não perdeu ainda aqueles ideais nobres que acalentou na mocidade, quando solicitada a socorrer alguém que precise, seja quem for, não se omita. Faça a sua parte. Diga sim à humanidade. Diga sim à dignidade. Diga sim à vida.

Sombra e substância


Pedro J. Bondaczuk


O homem, no afã de conquistar o abstrato – fama, fortuna e poder – perde o concreto, que é o ato puro de viver. A vida é dádiva, privilégio, bênção, sagração. Este é seu verdadeiro e único sentido. O mais, são fantasias, delírios, elucubrações. As pessoas – raras são as exceções (quando existem) – privam-se dos pequenos prazeres, que somados, se revelam maiúsculos... Senão essenciais... Senão tudo o que de fato vale a pena... Senão o verdadeiro "tosão de ouro" digno de se conquistar... Senão a justificação da existência...
Somos educados para a competição, mas nem sempre (ou quase nunca) estamos dispostos a seguir regras. Embora retoricamente condenemos essa atitude, na prática agimos achando que os meios (lícitos ou não, éticos ou não, justos ou não) justificam os fins. Corremos atrás de sombras. A substância não se faz presente. O homem abre mão do usufruto da beleza que existe em tudo o que nos cerca, bastando apenas um pouco de atenção para ser percebida e aproveitada – e onde reside a verdadeira felicidade – foge das emoções sadias, para tentar conquistar o abstrato: fama, fortuna e poder. Trilogia maldita que desgraça multidões! Sombras, fumaça, ilusões...
O poeta William Butler Yeats recomenda: "Unifique seus pensamentos a marteladas..." É isto...Agimos, em geral, sem pensar em profundidade em nossos atos e suas conseqüências. Não pensamos de maneira unitária. Nossas idéias são dispersas, vagas, contraditórias. Temos que unificá-las...Mesmo que a "marteladas"... Os verdadeiros prazeres, aqueles que justificam uma existência, são simples e gratuitos. Estão ao alcance das mãos de qualquer um que os queira usufruir. No entanto, complicamos tanto a nossa vida! No entanto, nos afligimos por tão pouco! No entanto, tentamos, na maior parte do nosso tempo, agarrar sombras! Não agimos assim, é evidente, por masoquismo, pelo prazer de sofrer ou então por maldade. Achamos, até mesmo, e com sinceridade, que estamos agindo certo.
O padre Antônio Vieira, em um magistral sermão, colocou bem essa atitude, ao constatar: "Quem estima vidros, cuidando que são diamantes, diamantes estima e não vidros; quem ama defeitos, cuidando que são perfeições, perfeições ama e não defeitos. Cuidai que amais diamantes de firmeza, e amais vidros de fragilidade; cuidais que amais perfeições angélicas, e amais imperfeições humanas. Logo, os homens não amam o que cuidam que amam. Donde também se segue que amam o que verdadeiramente não há; porque amam as coisas não como são, senão como as imaginam; e o que se imagina, e não é, não há no mundo". Pela conclusão de Vieira, portanto, tais indivíduos (nós), que estimam vidros cuidando que sejam diamantes, tentam "agarrar a sombra e perdem de vista a substância".
Há dinheiro que pague a satisfação estética advinda de pessoas, paisagens e atitudes bonitas? Há riqueza que compre a emoção despertada por um poema bem composto, por uma melodia harmoniosa, por uma escultura perfeita, por uma tela de onde explode a vida em cores, luzes e sombras? Há recurso material capaz de compensar a sabedoria que existe na renovação da natureza? Há maneira de pagar a sensação de plenitude que nos dão a sucessão de gerações, a inocência de uma criança, os ideais dos moços, o desenvolvimento dos filhos, a chegada dos netos e o resultado que vemos da educação que demos àqueles que nos competia dar?
Essas são as substâncias da vida. Fama, fortuna e poder são sombras. A criação, a solidariedade, o amor, a compreensão e o perdão são diamantes. A posição social, o dinheiro, a ostentação são vidros. Todos amamos, em certa medida, estas "sombras". Todos, em algum momento, abrimos mão da substância. Estimamos vidros cuidando que sejam diamantes, mas poucos têm a coragem de admitir o equívoco. A vaidade impede a admissão. A teimosia não deixa que possamos dar a meia volta para retomar, ou encontrar, o caminho melhor.
Há um texto de Ronald de Carvalho a esse respeito que considero basilar. Diz: "Nós complicamos o problema da existência com uma nuvem de palavras douradas e outra nuvem de lembranças teimosas e mortificadoras. Palavras inúteis e lembranças insopitáveis, são como as trepadeiras que se enrolam, preguiçosamente, ao longo dos troncos robustos. Dão, por vezes, alguma flor menos mofina, mas só o tronco sabe quanto lhe custou aquele formoso luxo. Todas as nossas idéias apriorísticas sobre a natureza do bem e do mal, todas as nossas construções metafísicas são como as flores daquela trepadeira. Quanto mais coloridas, tanto mais dolorosas... Devemos fazer da vida um motivo de alegria e de saúde, sem, contudo, nos entregarmos aos impulsos da sensação pura, ao gozo brutal do momento que passa".
O mundo não é mau, como ouvimos e lemos amiúde, desde tenra infância. A existência não é ruim, um vale de dores e de lágrimas, como asseguram furibundos e fanáticos pregadores ascéticos. A felicidade não é uma ocorrência rara e virtualmente ilusória. Nós é que complicamos a vida. Nossa vaidade, nossa arrogância e nossa prepotência contra o próximo é que, como a mola, voltam para nós com a mesma força com que as destinamos aos outros e nos oprimem, machucam e humilham. Corremos o tempo todo atrás de sombras e não percebemos a substância parada bem diante dos nossos narizes...

Wednesday, April 26, 2006

REFLEXÃO DO DIA


A humanidade conta, neste início de século e de milênio, com uma quantidade de riqueza e de recursos tecnológicos como jamais contou em época alguma da história. Há alimentos estocados, nos silos norte-americanos e das potências européias, suficientes para alimentar sobejamente cada indivíduo da Terra por um par de anos. Recordes de safras são batidos sucessivamente. A tecnologia "encolheu" o mundo, reduzindo distâncias, aproximando povos, expandindo o conhecimento. As comunicações, os transportes, a eletrônica, a informática, a medicina etc. chegaram a um ponto de desenvolvimento tal, que a vida das pessoas teria tudo para ser extremamente fácil, agradável e feliz. E, sobretudo, longa. Mas não é. Nunca, em tempo algum, houve tanta miséria e desolação como agora. O ser humano se supera, a cada dia, em egoísmo, insensibilidade e alienação.

Simulação da vida


Pedro J. Bondaczuk


Os sonhos são uma espécie de simulação de uma vida paralela à real, que nunca existiu no plano concreto, feita pelo nosso cérebro, às vezes com requintes de extraordinário realismo. Dizem os especialistas que uma pessoa normal sonha durante várias horas em todas as noites. Nós é que não nos lembramos da grande maioria.
Não posso garantir que seja assim. Um ou outro, apenas – em geral os que temos nos segundos que antecedem o despertar – é que ficam na memória, difusos, sem detalhes, sem nuanças, como uma coisa muito vaga. E mesmo estes acabam sendo esquecidos para sempre horas depois que levantamos, pois não pensamos mais neles. Alguns, raríssimos, talvez na proporção de um em um milhão ou mais, nos impressionam de tal forma, que jamais os esquecemos. Basta que fechemos os olhos para que os rememoremos, e na íntegra, como um filme gravado em vídeo.
Lembro-me, por exemplo, nitidamente de um sonho que tive há muitos anos, envolvendo um lugar belíssimo, onde nunca estive, e sequer sei se existe. Tratava-se de uma colina, onde havia um bosque com árvores de porte médio e flores, muitas flores. Lembro-me até mesmo do cheiro das plantas, de um perfume delicioso. De onde eu estava, via-se, a uns cinqüenta metros abaixo, em um vale, um caudaloso rio, de águas bastante límpidas, cujas margens continham pinheiros, por onde navegava um desses barcos parecidos com os que levam turistas para cima e para baixo através do Mississipi, nos Estados Unidos.
No sonho, eu estava bastante feliz (e não era para menos), numa espécie de festa ao ar livre, ao lado de uma mulher de extraordinária beleza e rara doçura, que não tinha as feições de ninguém que conheci. Onde meu subconsciente foi buscar a matéria-prima para a elaboração desse enredo, com tantos detalhes? Aliás, apesar de haver um número muito grande de estudos a respeito, tudo o que se refere aos sonhos está cercado de especulação e crendices.
Há os que juram que eles são sempre premonitórios, avisos cifrados, alertas que captamos subconscientemente e que, se formos capazes de decifrar, nos preveniremos contra algum perigo futuro ou ficaremos atentos para aproveitar alguma feliz oportunidade. Outros afirmam que não passam de projeções de desejos reprimidos, de uma espécie de válvulas de escape das nossas frustrações. Outros, ainda, asseguram que são somente divagações, fantasias, "estrepolias", molecagens do cérebro, que permaneceria ativo enquanto o restante do organismo repousa. Quem estaria certo? Todos? Ninguém?
Conclui-se que ninguém sabe, com certeza, o que está dizendo ao se referir a esse assunto. De qualquer forma, os especialistas garantem que os sonhos são de fundamental importância para a saúde física e mental das pessoas. Nisso estão com a razão. O interessante, no meu caso, é que todos são em branco e preto. Não distingo as cores. Mas gosto de sonhar. E mais ainda, de lembrar do que sonhei, mesmo quando se trate de pesadelo.
O dia seguinte parece que se torna mais "leve", menos opressivo, menos assustador. Esse exercício de projeção do cérebro no que eu chamaria de "transrrealidade" se presta, como seria de se esperar, à exploração dos poetas. O galês Dylan Thomas, por exemplo, diz a respeito: "Nossos sonhos de eunuco, infecundos sob a luz...enfeitam as negras noivas, as viúvas da noite".
Já Guilherme de Almeida escreve, em "Acalanto": "Dorme./Sobre o teu sono há um pensamento/vindo na asa de fuga do momento// Mandaste o olhar para não sei que exílios:/nem o peso da luz pesa em teus cílios.// O ponteiro parou contra o quadrante/seu dedo de silêncio vigilante.// Dorme! Há outros sonos estirados pelas/sombras, no acampamento das estrelas.// Dorme a noite da flor! Sonha a meu lado,/rosa dormida à beira de um pecado".
Que os sonhos sirvam de tema para poesias, é compreensível, já que são, em si, uma metáfora. Mas compará-los a um poema é heresia. Essa pintura de um quadro, essa projeção de uma visão, essa reprodução de um desejo, esse registro de um estado emocional feitos apenas com palavras, são atos, sobretudo, inteligentes. Mais do que isso: sublimes.
Para praticá-los é necessário contar com um talento, com um dom, com uma aptidão divina, ao contrário das divagações de um cérebro sem o controle do consciente. Nesse aspecto, estou com Fernando Pessoa, que afirma: "Não pondero sonhos; não me sinto inspirado: deliro". A poesia é isso: delírio. E os sonhos? Mistério!

Tuesday, April 25, 2006

REFLEXÃO DO DIA


A bomba de Hiroshima já parou de explodir? É óbvio que a detonação em si se esgotou às 8h15 da manhã de 6 de agosto de 1945, há mais de 60 anos, e em questão de segundos. Em curtíssima fração de tempo, a chamada “pika” arrasou prédios, pontes, monumentos e avenidas e trucidou, quase que instantaneamente, 100 mil pessoas. Outras cem mil sofreram conseqüências terríveis, condenadas a uma morte lenta, dolorosa, cheia de agonia. Mas os efeitos dessa terrível arma, psicológicos, econômicos, ambientais e políticos seguem tão devastadores quanto naquele trágico dia de verão na Ásia. “Hiroshima nunca mais”, é o que dizem, a toda a hora, os pacifistas. “Faremos do Planeta uma gigantesca Hiroshima”, parecem retrucar as potências nucleares, nas entrelinhas de seus atos e declarações. E é a vontade delas que conta, para a nossa desgraça...

Quadrado e redondo


Pedro J. Bondaczuk


O conflito de gerações é, certamente, tão antigo quanto o próprio homem. Vai existir enquanto houver ser humano na face da Terra. Mesmo sabendo disso, todavia, incomoda-me sobremaneira quando algum jovem diz, ou simplesmente insinua, que sou "quadrado", querendo com isso dar a entender que sou ultrapassado, antiquado, parado no tempo. O incômodo é ainda maior quando me lembro que a minha geração foi uma rompedora por excelência de tabus. Alterou costumes cristalizados, francamente hipócritas, quando não imbecis. Superou preconceitos, embora uma infinidade deles tenha resistido. Desafiou a ordem vigente, o chamado "sistema", quando era uma temeridade fazê-lo.
Cometeu, é verdade, nesse processo inovador, uma série de disparates. Derrubou conceitos morais de séculos, por exemplo, mas com um defeito grave: não apresentou nada de novo para substituir o que foi derrubado. Ainda assim, foi uma geração revolucionária. Na maioria dos aspectos, a atual é muito mais conservadora do que ela. Foram os moços idealistas e rebeldes dos anos 60 que abriram caminho para que os que hoje estão na faixa dos 18 aos 30 anos cresçam e se desenvolvam de forma mais livre e equilibrada.
Apregoa-se, a todo o momento, em especial nas artes, (colocando-a como um dogma), a "modernidade". E o que é ser moderno? Cada pessoa tem uma definição para esse conceito (bastante vago), de acordo com o seu grau cultural e sua formação. "Ah, é ser novo", dizem alguns. "É ser jovem", asseguram outros, como se a juventude fosse eterna e se constituísse em virtude, e não em mera condição biológica, que, por conseqüência, é transitória. Prefiro a forma de encará-la de Carlos Drummond de Andrade. Para o poeta de Itabira – que mesmo depois de morto jamais perdeu a modernidade – melhor é ser "eterno". Como Virgílio. Como Píndaro. Como Ovídio. O que há de arcaico, de ultrapassado, de imprestável nestes gênios clássicos?
Qual o garoto de hoje, (supostamente "moderno" somente porque ainda viveu muito pouco) que consegue expressar as delícias e sofrimentos do amor com maior ternura, com maior malícia, com maior picardia e com maior beleza do que esses escritores antigos, antiqüíssimos, anteriores ao nascimento de Cristo? Qual o adolescente atual que tem a coragem de negar a modernidade de um Caetano Veloso, sem corar de vergonha? Ou de um Gilberto Gil? Ou de um Chico Buarque, de uma Gal Costa, de um Roberto Carlos, etc.? Pois este pessoal todo é da minha geração! Todos estão na faixa dos 60 anos!
A esse propósito, tenho comigo o texto de um discurso do escritor russo Aleksander Soljenitsin, lido por seu filho Ignati na cerimônia da entrega da medalha de honra de literatura no Clube Nacional de Artes, em Nova York, em 6 de fevereiro de 1993. Antes, portanto, de regressar à sua Rússia natal. O texto é bastante longo, mas o trecho mais representativo é o que se refere a essa verdadeira obsessão pelo novo, sem levar em conta sua qualidade.
Diz: "A destruição se tornou apoteose desse vanguardismo beligerante. Ele visava a derrubar toda a tradição cultural que durava séculos, romper e desviar o fluxo natural do desenvolvimento artístico através de um repentino salto para a frente. Esta meta deveria ser conseguida através de uma busca vazia por formas inovadoras como fim em si mesmas, ao mesmo tempo rebaixando os padrões de proficiência de cada um, às vezes com crueza e do desleixo artísticos, às vezes combinados com um significado tão obscurecido que se confundia com a ininteligibilidade".
Ser moderno é abrir mão da técnica pictórica, em favor de meia dúzia de borrões ao acaso? É assassinar o vernáculo, arrebentar a gramática, subverter a grafia das palavras e trucidar a concordância? É juntar sons que lembram urros de dinossauros (ninguém sabe se eles os emitiam, pois desapareceram 70 milhões de anos antes do homem surgir sobre a Terra, mas se sim, devem ter sido aterrorizantes), ou dissonâncias mais primitivas do que as das tribos dos bosquimanos australianos? Se for...Sinceramente, prefiro continuar "quadrado". Mas em ótima companhia, não acham?

Monday, April 24, 2006

REFLEXÃO DO DIA


Estaria o homem perto de descobrir o segredo da vida? Conseguiria a condição simultânea, o duplo status de criatura e de criador? Teria a capacidade mental e sobretudo moral de produzir novos seres, não em benefício próprio ou de seu grupo, mas de toda a humanidade? A resposta óbvia para todas essas questões é "não!" Não que não tenha tentado chegar ao âmago do mistério. Inúmeras experiências já foram feitas, na tentativa de produzir um único ser vivo, mesmo que fosse o mais primitivo, unicelular. Todas acabaram frustradas. Foram simuladas, por exemplo, todas as condições supostamente existentes na Terra que resultaram no surgimento da vida, como a chamada "sopa de aminoácidos". Em vão! Ou o Planeta não era exatamente da forma como os cientistas pensavam, ou falta algum ingrediente muito especial e desconhecido, que ninguém ainda conseguiu atinar qual seja.

Persistir na persistência


Pedro J. Bondaczuk


As pessoas ainda têm, em sua maioria, uma idéia falsa, ou pelo menos estereotipada, a respeito do verdadeiro significado do heroísmo. Herói não é somente aquele sujeito que salva uma vida, ou que se destaca em uma batalha ou que tem um assomo ímpar de coragem, de acordo com os padrões vigentes. Estes podem sê-lo, não há dúvida. Contudo, o indivíduo aparentemente pacato, considerado "comum", aquele que não tem nada de excepcional na aparência ou nas atitudes que o destaque da multidão, mas que seja persistente na busca dos seus sonhos, aplicado em suas tarefas e responsável em sua conduta também o é. E talvez com maiores méritos do que aqueles que emergem, de uma hora para outra, para a fama, ao sabor das oportunidades ou circunstâncias.
O reverendo norte-americano Norman Vincent Peale, de tantas e positivas mensagens em seus inúmeros livros e sermões, observou: "Uma das coisas mais simples sobre a arte de viver é que para chegar aonde desejamos é preciso persistir na persistência". Trago estas palavras como lema em minha vida e repito-as nos piores momentos, naqueles em que massacrado por problemas e acossado pelo desencanto, me vejo tentado a desistir de tudo. Tanto isto é verdade, que as figuras que me são inspiradoras, aquelas que desejo imitar e que se constituem em luzes no meu caminho, foram persistentes na busca dos seus ideais, vencendo deficiências e superando dificuldades.
Em dezembro de 1967, classificado nos cinco primeiros lugares em um concurso de crônicas de Natal promovido pelo "Correio Popular", fui entrevistado pela professora e jornalista Célia Siqueira Farjallat. Na oportunidade, indagado sobre os meus ídolos, não titubeei. Nomeei, de imediato, Abraham Lincoln e Helen Keller. Ambos vencedores por sua coragem, fé e sobretudo persistência. O ex-presidente norte-americano era, quando moço, simples lenhador. Pôs na cabeça, no entanto, que um dia iria presidir os Estados Unidos. Estudou em condições adversas, à luz de velas, tornou-se advogado, destacou-se na profissão, entrou na vida pública, superou todos os obstáculos políticos para galgar degrau-após-degrau até chegar ao topo: à presidência da República. Conquistou, dessa forma, o seu sonho, não esperando pelo acaso. É, portanto, símbolo por excelência de persistência.
E o que dizer de Helen Keller? Cega, surda e muda, tinha tudo para ser posta à margem da vida e até para ser classificada como uma pessoa retardada. Mas nunca se conformou em assumir esse humilhante papel. É certo que contou com a generosidade de Anne Sulivan para se desenvolver. Primeiro, aprendeu a ler, através da linguagem Braille. Achou pouco. Decidiu aprender a falar. Também entendeu que ainda não era o suficiente. Queria ir mais longe, muito mais, na busca do seu espaço na vida.
Houve, é certo, momentos de desespero, em que pensou em abandonar tudo e se recolher à sua "desgraça". É compreensível. Mas Anne Sulivan não deixou. Keller persistiu. Formou-se, de forma brilhante, na universidade, em 1904. Ainda achava que era pouco. Tornou-se inflamada oradora. Fez palestras e conferências por todos os Estados Unidos, narrando sua experiência. Legou-nos vários livros, primores de otimismo e positividade. Anne Sulivan e Helen Keller, como se vê, persistiram na persistência.
A poetisa norte-americana Ella Wheeler Wilcox acentua: "O homem é o que ele pensa. Não o que diz, lê ou ouve. Mediante persistente pensar podemos desfazer qualquer condição que exista. Podemos libertar-nos de quaisquer cadeias, quer da pobreza, quer do pecado, da doença, da infelicidade ou do medo". E Michael Drury observa: "Podemos não ter os dotes necessários para construir uma ponte, compor um poema, ou descobrir uma nova estrela; mas se quisermos viver nossa vida com profundidade e espírito criador, precisamos trabalhar incessantemente para expressar o nosso próprio conceito do que significa estar vivo". Temos, em suma, que "persistir na persistência".
Um dos textos mais belos a este propósito nos foi legado por um francês igualmente persistente. Escritor, transformou-se em político, chegando ao Senado pelo voto popular e se tornando símbolo de homem público. E não apenas para as pessoas de seu tempo, mas de todas as épocas posteriores. Refiro-me ao poeta, romancista e conferencista Victor Hugo, que escreveu: "Todo o segredo dos grandes corações está nesta palavra: 'perseverar'. A constância diz que espécie de homem há dentro de nós, qual é a nossa personalidade, a dimensão da nossa coragem. Os constantes são os sublimes. Quem é apenas bravo tem só um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o tenaz, porém, tem a grandeza". Tenacidade é sinônimo de persistência. Só ela conduz ao verdadeiro heroísmo. E este consiste em vencermos nossas deficiências. Em conquistarmos os nossos sonhos...

Uma função para o homem


O desemprego tem se revelado o grande problema da década de 90, tanto nos países desenvolvidos, quanto no Terceiro Mundo, embora as causas do fenômeno nas nações ricas e pobres sejam diferentes. O tema é tão preocupante, que foi o principal item da pauta da reunião do Grupo dos Sete, realizada em julho de 1993, em Tóquio. Estados Unidos, Alemanha, França, Espanha, Japão etc., por razões mais ou menos parecidas, em maior ou menor grau, buscam alternativas para absorver milhões de pais de família que estão sem fonte de renda, embora possuam sistemas de proteção social bastante avançados.
No outro extremo, temos Brasil, Argentina, Venezuela, Índia e Nigéria vivendo idêntico drama. No caso dos países desenvolvidos, a alta tecnologia, que prescinde de parte considerável da mão-de-obra, é a responsável pelas altas taxas de desemprego. No Terceiro Mundo, faltam capitais para a formação de novos empreendimentos que absorvam os trabalhadores dispensados no auge da atual crise – após o término da Guerra do Golfo, o mundo entrou num período de depressão, já que, em apenas 42 dias de conflito, foram “queimados” US$ 420 bilhões nas areias do deserto – e os milhões de jovens que atingem a idade de ingressar no mercado de trabalho. A grosso modo, pode-se afirmar que a grande tarefa dos estadistas, no planejamento político, econômico e social para o fim deste milênio e os primeiros anos do próximo, é arranjar algo para as pessoas fazerem.
Tempos atrás, futuristas e futurólogos especulavam que, até o ano 2000, a tecnologia estaria tão avançada, que a maior parte da tarefa exercida pelo homem caberia às máquinas. Os indivíduos entrariam num período hedonístico, no qual seu raciocínio e seus dotes artísticos iriam adquirir grande valor. Pois bem, esta época está chegando, mas de Éden este mundo não tem absolutamente nada. Estabelece-se um enorme paradoxo. As sofisticadas engenhocas eletrônicas produzem, hoje, quase tudo, com alta qualidade e baixo custo. Todavia, os mercados consumidores encolhem-se mais e mais. Porquê? Simples! Havendo menos pessoas empregadas, a massa de salários, evidentemente, encolhe.
Não havendo dinheiro, quem vai adquirir os produtos fabricados pelas máquinas? Como o homem pode se dedicar às artes e à especulação filosófica, papel que lhe foi atribuído pelos futurólogos, se precisa estar permanentemente preocupado com a sua subsistência? Outro ponto contraditório é o antagonismo entre o aspecto econômico de uma sociedade e o lado social.
A definição clássica de economia é a de que ela é a administração da escassez. Só o que é escasso é valioso. O ouro, por exemplo, é adotado como padrão monetário mundial apenas por não ser abundante. Já o ferro, infinitamente mais útil do que esse metal, perde em “nobreza” em virtude de sua abundância. Pois bem, este aspecto impede a produção de alimentos em quantidades suficientes para alimentar toda a humanidade.
O acadêmico sueco Michael Chadwick, do Instituto de Pesquisas sobre o Meio Ambiente de Estocolmo, afirmou, em outubro de 1993, numa reunião de 57 academias de ciências de todo o mundo, ocorrida em Nova Delhi, que o Planeta tem condições de alimentar até 64 bilhões de pessoas. No entanto, tem 5,3 bilhões, dois terços dos quais passam fome. Por quê? Caso os alimentos fossem abundantes, perderiam o valor econômico. Ninguém se sentiria estimulado a produzi-los. O homem está ou não está numa armadilha criada por ele mesmo, ao basear a civilização nos atuais conceitos?

(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 83 a 85, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).

Sunday, April 23, 2006

REFLEXÃO DO DIA


O escritor Humberto de Campos, na “Antologia da Academia Brasileira de Letras”, observa: “Há em cada vida de homem sombrios desvãos, úmidas e recônditas grotas cheias de perfume e mistério. Aí moram os pensamentos que, por melindrosos demais, não se querem ver ao sol; as impressões que se não descrevem e os nomes que, no dizer de Saint-Beuve, ‘il faut bénir et taire’”. Somos seres racionais, com liberdade para escolher entre vários caminhos. O que temos é que exercer plenamente essa racionalidade e optar entre o certo e o errado, entre o bem e o mal, entre a sublimidade e o horror. Ninguém deve, ou pode, fazer isso por nós. A maioria das pessoas assusta-se com a complexidade dos relacionamentos humanos. Algumas, apavoram-se diante da vida e recolhem-se a uma covarde alienação. Mas não fazem nada para modificar o mundo para melhor. O importante, contudo, é agir.

Fome no país da abundância


Pedro J. Bondaczuk


O Brasil é o país de contrastes extremos. Olhando pela janela do meu gabinete de trabalho e vendo as brincadeiras despreocupadas das crianças na rua de casa – umas empinando papagaios, outras andando de bicicleta, outras, ainda, correndo atrás de uma bola, talvez sonhando em ser um Romário, um Bebeto ou, quem sabe, até mesmo um Pelé – fico imaginando quantos desses pequenos sonhadores conseguirão transformar em realidade os seus sonhos.
Esses meninos e meninas que vejo, por sinal, são uns privilegiados, por mais humildes que possam ser suas famílias. Têm infância! O mesmo não se pode dizer de 7,2 milhões de brasileirinhos abandonados nas ruas das grandes cidades deste país-continente.
Dizem que a crônica deve ser sempre bem-humorada, mas não consigo sorrir diante desse quadro trágico de miserabilidade e abandono. Não há como. Hoje, o Brasil já conta com 32 milhões de excluídos da cidadania, que não batalham, em absoluto, para concretizar grandes sonhos, elevados ideais ou mesmo por uma vida modesta. Nem mesmo à esperança parecem ter direito. Lutam, tão-somente, pela sobrevivência.
Enquanto crianças coradas e sadias passeiam seus ingênuos sonhos debaixo da minha janela, há, neste momento, milhares de outras perambulando, maltrapilhas e famintas, sem eira e nem beira, sem passado, presente ou futuro, pelas ruas de Campinas, de São Paulo, do Rio de Janeiro etc. Driblam os carros, nos cruzamentos das grandes avenidas, com uma flanela nas mãos ou carregando limões, chocolates, frutas ou balas para vender, à cata de alguns trocados dos sempre apressados e em geral mal-humorados motoristas.
Alguns desses garotos e garotas sequer sabem onde estão ou o que fazem, drogados com cola de sapateiro, quando não outros tóxicos mais fortes, como a maconha, o crack e às vezes até cocaína. Há quem esteja à espreita dos mais incautos, ou indefesos, para lhes surrupiar a carteira ou seja lá o que for que possam furtar.
Estes, em geral, estão a soldo de marginais adultos, que os exploram. Que terrível infância a do abandono, do desamor, da ausência de perspectivas e de dignidade! Como escrever bem-humorado sobre isso?!!

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de outubro de 1993)

Saturday, April 22, 2006

REFLEXÃO DO DIA


A modernidade, nos dias que correm, é confundida, via de regra, com permissividade, com a ruptura de todos os freios morais, que construíram as civilizações (que, bem ou mal, pelo menos se mantêm). Enquanto uma pequena parcela da humanidade usufrui as “delícias” de um consumismo desregrado e perdulário, a grande maioria passa fome. Enfrenta privações de toda a sorte, sem saber como será o amanhã, que talvez nem mesmo venha a ter. As pessoas, no processo acelerado de massificação pelo qual o mundo passa, sequer param para pensar qual a razão de suas existências. Não especulam (salvo exceções, naturalmente) acerca do que estão fazendo sobre a face da Terra. Em suma, não se entendem e nem procuram se entender. Não se estimam e nem se desestimam. Vivem porque vivem, e pronto! E se não têm um grau de estima genuíno por si próprias, não podem jamais sentir qualquer coisa de realmente profundo pelos outros.

Coração solitário


Estas coloridas pétalas
esparzidas pelo chão,
o inebriante perfume
e este irreal clarão
(brilhante, potente luz
que revelam meu mundo)
buscam eliminar a tristeza
e o acre cheiro de bolor,
dissipar a atroz treva
e tornar menos precário
o estado tão lamentável
deste meu temerário
e imprudente coração,
que vive tão solitário.

Meus versos forçados, vazios,
vazias canções arrítmicas,
o vazio na minha alma,
o vazio no meu mundo,
o vazio em minha vida,
o vazio em meu temário,
revelam o vazio existente
no meu coração solitário.

O Amor, que busco nas formas,
o Amor, essência da vida,
o Amor que trago nos olhos,
o Amor que insinuo no corpo,
o Amor que revelo nas mãos,
o Amor que cedo, por amor,
Amor trocado em Amor,
Amor que dou, não empresto,
de nada me tem valido.
O Amor é um grande falsário!

Embora distribuindo Amor,
sendo, até mesmo, perdulário,
não passo de poeta falido
e de coração solitário.

Meus instantes de tédio,
minha cisma e vagar,
as estrelas, que são minhas
em todas noites de luar,
formam, apenas, o corolário
de cismas e inquietações
que se resumem em penas,
de queixas, extenso rosário,
e insatisfação contínua
de um coração solitário.

(Poema composto em Campinas, em 24 de novembro de 1968).

Friday, April 21, 2006

REFLEXÃO DO DIA


É dever dos cidadãos que vivem sob democracias estáveis a cobrança de explicações sobre os desvios de conduta de seus governantes no que diz respeito aos direitos humanos, o que, convenhamos, raramente acontece. Não é somente no Terceiro Mundo que as arbitrariedades acontecem. É indispensável que essas mazelas sejam exemplarmente punidas, ao amparo da lei, acima da qual ninguém pode estar (e rigorosamente sob a sua égide) para que o exemplo de respeito à dignidade humana frutifique e atinja às comunidades mais atrasadas e carentes do Planeta. Com isso, haverá um parâmetro factível, que possibilitará contínua evolução no campo do Direito em âmbito global. Se isso for feito, certamente será lançada a semente, pelo menos uma, que conduzirá toda a humanidade, a longo prazo (mesmo que isso venha a demorar um milênio ou mais), a uma era de compreensão e de fraternidade, tendo a justiça por corolário.

Sejamos líricos


Pedro J. Bondaczuk


As emoções, em geral, prescindem da companhia muitas vezes necessária (mas às vezes incômoda) da razão. Têm a sua própria dinâmica, sua lógica, seu espaço e seu tempo. Estas observações vêm a propósito de um episódio que protagonizei há 44 anos (parece uma eternidade e, no entanto, foi tão ontem!).
Em janeiro de 1961 fui a Porto Alegre, visitar parentes que há tempos não via. Tinha recém completado 19 anos de idade, aliás feitos durante a viagem. Estava, portanto, naquela fase de achar-me o dono do mundo, ou quase. Confiava poder conquistar tudo e todos. Estava imbuído daquela irresponsabilidade característica dos moços, que tanto pode conduzir a gestos de heroísmo, quanto a arroubos de loucura. Foi quando conheci uma mulher deslumbrante, absolutamente inesquecível.
Jamais conversei com ela. A seu respeito, fiquei sabendo somente o nome. Nada mais. Soube que ela estava interessada em meu primo Alexandre, de quem era vizinha, que não correspondia (que tolo!) ao seu interesse. Não trocamos nem ao menos um cumprimento, um olhar, um sorriso, um gesto de cumplicidade e entendimento.
Nunca, todavia – nem até então e nem mesmo depois, pelo menos até hoje – conheci pessoa mais bonita. Tratava-se de uma mulher esteticamente perfeita. Não havia um único traço, uma só linha, um detalhe que destoasse. Era toda harmonia. Chamava-se Jeudi, como soube através do meu primo.
Tinha uma combinação rara da delicadeza européia com o erotismo tropical da brasileira. Era morena, com profundos e claros olhos azuis e cabelos negros. Seu sorriso (ah! seu sorriso devastador!) iluminava-lhe o rosto. Não consegui esquecê-la nunca mais. Embora a visse somente a uma certa distância, observando-a em seus gestos naturais, provavelmente ela jamais sequer me notou. E no entanto... Ouso dizer, passados tantos anos, que ela é a paixão da minha vida.
Os objetivos, as pessoas essencialmente práticas (aquelas que Affonso Romano de Sant'Anna chama de "idiotas da objetividade"), devem estar rindo desta confissão juvenil feita por um homem, digamos, maduro. A estes, responderia com a exortação de Nelson Rodrigues: "Amigos, sejamos mais líricos e menos objetivos". Até porque, quem pode explicar o que se passa na alma humana?
Emoção racionalizada é como aquelas borboletas de colecionadores. Torna-se morta. Perde o mistério, a chama, o viço, a graça. Ainda hoje, tenho a imagem da Jeudi nítida, clara, viva e linda (lindíssima) na retina. Basta fechar os olhos para vê-la no esplendor dos seus 18 anos (ou seriam 17, 16, 15? Não importa!).
Nunca mais soube qualquer notícia dela. Hoje, provavelmente, está casada e deve ser avó. Se a encontrasse, certamente não a reconheceria. A mulher que amei foi aquela que ficou perdida num já distante janeiro de 1961, no bairro Passo da Areia, de Porto Alegre, onde morava a minha musa.
A esse propósito, vêm-me à memória os versos de um poema de Carlos Drummond de Andrade, que se não explica, justifica essa paixão que sequer foi platônica, podendo ser classificada como meramente "estética" e que peço licença para reproduzir:
"O amor antigo vive de si mesmo,/ não de cultivo alheio ou de presença./Nada exige nem pede. Nada espera,/mas do destino não nega a sentença./O amor antigo tem raízes fundas,/feitas de sofrimento e beleza./Por aquelas mergulha no infinito,/e por estas suplanta a natureza./Se em toda parte o tempo desmorona/aquilo que foi grande e deslumbrante,/o antigo amor, porém, nunca fenece/e a cada dia surge mais amante./Mais ardente, mas pobre de esperança./Mais triste? Não. Ele venceu a dor,/e resplandece no seu canto obscuro,/tanto mais velho quanto mais amor".
Dizem que o tempo tudo apaga. Isto, porém, é relativo. É mera generalização. Enquanto estivermos vivos, é incapaz de apagar nossas lembranças mais vívidas, mais lúcidas, mais marcantes. Distorce, é verdade, alguns de seus contornos. Desfoca a imagem e a torna diluída, esmaecida, como uma fotografia amarelada.
Mas o principal permanece. A emoção original fica até mais intensa, em decorrência da saudade. Quarenta e quatro anos... Não consigo me furtar de repetir os versos de Cora Coralina que dizem: "Eu nasci num tempo antigo/muito velho/muito velhinho, velhíssimo". Eu também...

Thursday, April 20, 2006

REFLEXÃO DO DIA


A era da informática tende a contribuir decisivamente para a racionalização da vida urbana, fazendo, por exemplo, sem esforço, aquilo que as autoridades vêm tentando fazer (sem grande sucesso, através dos inconvenientes, mas necessários, rodízios): tirar centenas de milhares de veículos motorizados das ruas. Como? Através das chamadas "cidades virtuais". O cidadão já pode, se quiser, realizar operações do cotidiano, como pagar e receber contas, fazer depósitos e saques em bancos, comprar produtos em supermercados e lojas etc., sem sair de casa. Quando John Naisbitt previu, no livro "Megatendências", a possibilidade das residências se transformarem em extensões das grandes empresas e corporações, muitos viram na previsão novo exercício furado de "futurologia". Hoje, estima-se que pelo menos 200 mil norte-americanos já trabalhem em suas casas, com computadores bancados pelos seus empregadores. O futuro já chegou!

Vibração com a vida


Pedro J. Bondaczuk


O homem introspectivo, familiarizado com suas lembranças e com suas idéias, acostumado à solidão, no limiar do auto-conhecimento, raramente alcançado (poucos sequer o buscam), que é "íntimo" de si mesmo, confronta-se, a cada instante, com as próprias fraquezas que o irritam e decepcionam. É alguém que conhece o caminho da perfeição, mas se vê tolhido de chegar perto dela por limitações – algumas insuperáveis – que possui. Pobre condição humana...
Sentimo-nos deuses em determinados momentos de delírio megalomaníaco (que para alguns são virtualmente constantes), abstraídos da nossa mortalidade, da nossa pequenez, da nossa pouca lucidez (quando há alguma), da nossa efemeridade. Somos apenas um entre tantos (atualmente entre 5,7 bilhões de semelhantes), de uma determinada fração infinitesimal de tempo. E, no entanto, bem no íntimo, nos sentimos o centro do universo. Alguns, indiferentes ao papel ridículo que fazem, vivem, a cada momento, esse egocentrismo exacerbado. Outros, sabem disfarçá-lo. Pobre condição humana...
Estamos sempre confrontando realidade e fantasias. O doente mental é o que se deixa levar demais por esse lado fantasioso da vida. É muito difícil, senão impossível, definir um parâmetro de sanidade e de loucura. Conheço pessoas tidas como mentalmente doentes, algumas internadas em hospícios, que no entanto revelam mais lucidez e sabedoria do que muitos dos que me comandam. E que, sobretudo, sabem ser felizes. Talvez aí resida o que a maioria entende por "loucura". O homem teima em apostar na infelicidade.
Convivo, também, com indivíduos podres, que mereceriam ser contidos em uma camisa-de-força, e que, no entanto, posam de "gurus", de luminares do saber, de guias das novas gerações. São arrogantes, vaidosos, amorais e sem nenhum senso de piedade ou solidariedade. E são tidos por sãos, quando não por "gênios".
Fôssemos medir o grau de normalidade pelos parâmetros vigentes, todos seríamos passivos de internamento na "casa verde", da célebre história de Machado de Assis, "O Alienista". Somos todos um pouco loucos. Dyonélio Machado escreveu a propósito: "Saúde mental se define de uma maneira muito simples: é a capacidade de adaptação à realidade. A perda desta capacidade de adaptação leva às doenças mentais. Os animais não têm isso, têm uma grande capacidade de adaptação, eles se modificam para manter esta capacidade. Eles modificam até sua cor, para se adaptar à realidade".
Por este parâmetro, como se vê, somos todos um tanto pirados. Ou quase pirados. Ou totalmente pirados. Cada um que escolha a sua graduação. O homem contemporâneo vive, de fato, com os pés no chão? As regras sociais vigentes têm ao menos um mínimo de senso? É ou não é absurdo o fato de alguém se arrogar a dono de um pedaço (não importa de que tamanho) de um planeta que não construiu e que já encontrou pronto ao nascer e que vai continuar existindo bilhões de anos após a sua morte? Pobre condição humana...
E, no entanto, vale a pena viver, mesmo não atinando com a origem, o sentido e o fim dessa existência. É uma oportunidade única, de curta duração (para alguns limita-se somente a horas, quando não minutos), absolutamente imprevisível e que pouco podemos fazer para moldar à nossa feição. E ainda assim é uma experiência compensadora, mesmo que marcada pelo sofrimento e pela dor.
Há quem prefira o nada, a anulação, a inexistência, o risco do vazio, das sombras, da morte. Há pessoas que não vibram com a vida e vêem nela apenas um conjunto de sofrimentos e não um fascinante desafio que pode, é certo, nos fazer sofrer, mas também tem condições de nos trazer inefáveis satisfações, posto que efêmeras. Há quem tente abreviar o fim. Há quem pretenda que essa abreviação seja delegada a terceiros, que deteriam um poder absurdo. Há quem apregoe a eutanásia como "libertação", mesmo não sabendo o que há do "outro lado" ou se este de fato existe. Pobre condição humana...
O escritor Raduan Nassar expressa: "No fundo, no fundo mesmo, o que importa é vibrar com a vida. Me parece estar aí o ponto de partida da literatura, no que penso inteiramente diferente daquele personagem de Tonio Krueger que diz que quem morre pra vida nasce pra arte". É exatamente ao contrário. Não vejo beleza em esqueletos, em fósseis, em restos humanos ou de qualquer animal. Não acho belos a agonia, o estertor e a extinção. Não há poesia, lirismo e nem arte no desespero, no desânimo e na morte. Estas são fraquezas inerentes à nossa pobre condição humana. Prefiro tentar imitar os deuses... Estou comprometido com a beleza... Busco, a cada segundo, vibrar com a vida...

Wednesday, April 19, 2006

REFLEXÃO DO DIA


O crescimento desordenado dos habitantes de um país, que não conte com recursos para absorver novos e crescentes contingentes de pessoas, conduz à ocupação de todos os seus espaços, com crescente desmatamento e progressiva degradação do solo. De acordo com Programa de População das Nações Unidas, nascem, atualmente, em média, três bebês por segundo no Planeta. Descontando os indivíduos que morrem – por doenças, assassinatos, acidentes, guerras, fome ou por velhice – a espaçonave Terra ganha, diariamente, cerca de 250 mil passageiros. O trágico é que 90% desse explosivo crescimento populacional se verifica exatamente onde a prudência manda que se limite a natalidade. Ou seja, nas regiões mais pobres do mundo. A ONU informa que dos 6,3 bilhões de habitantes da Terra, mais de um bilhão, ou quase um quinto da humanidade, vive em estado de absoluta miserabilidade. Há solução? Qual?

Realidade virtual


Pedro J. Bondaczuk



A moderna tecnologia desenvolveu, com o advento da informática, um processo – que para uns é uma espécie de droga eletrônica e, para outros, mágico estímulo à imaginação, capaz de revolucionar as artes e a maneira do homem encarar o que o cerca – que faz as pessoas conviverem com uma dose cavalar de fantasias. Refiro-me à chamada "realidade virtual".
Há quem a encare como simples modismo, como tantos outros. Em contraposição, muitos crêem que em vez de desaparecer, ela não terá limites. Essa ilusão de óptica é possível dada a fragilidade, o restritíssimo alcance e a baixa capacidade dos sentidos, através dos quais o indivíduo se relaciona com o mundo material em que vive e com o universo em que está inserido. Sem instrumentais adequados, toda a realidade é apenas virtual, dada a pequenez humana. E mesmo com os existentes, tidos como sofisticados, o homem nunca terá acesso ao que é real, mas apenas ao que "parece" ser.
Os sentidos enganam. As informações que transmitem ao nosso cérebro são ilusórias. Por exemplo, a mesa em que estou trabalhando, parece um objeto absolutamente sólido. Bato com os nódulos dos dedos contra o seu tampo e é essa a impressão, diria a certeza, que tenho. A superfície é perfeitamente rígida. Não cede ao contato. Resiste à pressão que faço. Meus dedos não penetram nela.
No entanto, se tomarmos um pedaço desse objeto e o colocarmos sob um microscópio que o aumente milhares de vezes, perceberemos quanto estávamos iludidos. A rigidez desaparece. O objeto se mostra formado por uma infinidade de átomos, separados entre si por distâncias proporcionalmente imensas, como os vazios que há entre uma estrela e outra. A olho nu não conseguimos captar o universo infinitamente pequeno. E mesmo com instrumentais crescentemente sofisticados essa façanha nos é vedada.
Com o microscópio original, inventado no século XIII, a ilusão da rigidez da matéria começou a ruir. Mas os pesquisadores entendiam que haviam atingido o limite da pequenez. Trezentos anos depois, com o aperfeiçoamento desse instrumento, por parte do holandês Antonius van Leuwenhoek, perceberam que mais uma vez foram enganados pelos sentidos. Desde então, o homem passou a empreender uma viagem cada vez mais profunda ao âmago da matéria. Os microscópios eletrônicos foram ficando mais e mais potentes, aumentando não mais em milhares de vezes os objetos, mais em milhões e em bilhões. Os limites do minúsculo foram incrivelmente expandidos e o são continuamente. Provavelmente estão no infinito.
O mesmo raciocínio vale para o universo. Aí, as dificuldades são ainda maiores. O homem consegue captar o que está no ângulo de observação dos instrumentos que fabrica. E esbarra no infinito do tempo e do espaço. As distâncias universais são tremendamente grandes. Observando o céu, em uma noite estrelada, temos o vislumbre de uma realidade virtual e nada mais. O firmamento é mero "registro" vivo da história universal e assim mesmo de um reduzidíssimo "episódio". A origem do universo tem sido expandida, em termos temporais, sucessivamente, a cada nova descoberta. Hoje, o período aceito do suposto "Big Bang" original é de 16 bilhões de anos. É possível que seja o dobro, o triplo ou sabe-se lá que múltiplo desse tempo.
As estrelas que "vemos" estão tão distantes, que sua luz foi emitida a milhares, milhões e muitas vezes bilhões de anos e está chegando à nossa retina somente agora. Parte considerável delas sequer existe mais. Aliás, o homem somente teve acesso a essa "ilusão de óptica" com maior profundidade a partir do século XVI, com a invenção, por parte de Galileu, do telescópio. E conseguiu tornar as imagens celestes mais claras com o lançamento do Hubble, no fim da década retrasada.
Paul Virílio nos lembra: "Nossos sentidos não percebem nada de extremo. Barulho demais nos deixa surdos. Luz demais nos ofusca. As quantidades extremas nos são inimigas. Não sentimos mais, sofremos". Como, com instrumentos tão frágeis, ousamos falar em "real"? Só pode ser, mesmo, em sentido absolutamente figurado. O que percebemos, conforme o exposto, não passa desse eufemismo paradoxal que se convencionou chamar de "realidade virtual". Ou seja, do que parece ser, mas não é...

Tuesday, April 18, 2006

REFLEXÃO DO DIA


Como há 45 anos, no início da década de 60, temos pessoas rebeldes e até em maior número do que naquela ocasião. Mas sua rebeldia é inócua. Trata-se, apenas, de mera auto-afirmação, de uma batalha sem causa, destrutiva, ou, no mínimo, meramente catatônica. Caracteriza-se pelo ceticismo, pelo imobilismo, pela amargura, pelo isolamento. Claro que há exceções, mas estas, infelizmente, são cada vez mais raras. Bandeiras não faltam para serem erguidas. Pelo contrário, existem, e em maior quantidade do que nos anos 60. A maior delas é a da construção de um Brasil justo, próspero e decente, onde as crianças sejam encaradas como o grande patrimônio nacional e não meros estorvos, abandonadas e alvos de impiedosas caçadas. Eis, portanto, uma grande causa para os que se rebelam contra o que aí está.

Rebeldia sem causa

Pedro J. Bondaczuk


A violência urbana, embora se trate de um fenômeno mundial, é um dos maiores problemas da América Latina. Apesar de envolver pessoas de todas as idades, tanto como agressoras, quanto na qualidade de vítimas, afeta com maior intensidade os mais jovens, em especial os da faixa etária dos 15 aos 25 anos. Ou seja, os que estão na fase da vida em que o indivíduo é, ao menos teoricamente, mais produtivo.
Uma série de estudos tem sido feita a respeito para apurar as causas de tamanha fúria. Embora a violência seja inerente ao próprio homem e tenha existido em todas as épocas e entre todos os povos, através dos tempos, em termos qualitativos, atinge, nos dias de hoje, proporções absolutamente intoleráveis.
As pessoas têm sido violentas no lar, na escola, nas ruas, nos locais de diversão (estádios de futebol, casas de shows etc.), nos protestos políticos, nas guerras e vai por aí afora. A rebeldia tornou-se uma espécie de símbolo destes tempos.
O rebelde, quando direciona corretamente seu descontentamento e inquietação, é importante fator de mudanças. Combate a tirania, luta pela justiça, defende os direitos dos mais fracos e impede uma série de distorções na convivência entre os grupos humanos.
É possível ser combativo, porém, sem ser violento. Firmeza de convicção e violência estão longe de serem sinônimos. Pior é quando a pessoa (jovem ou não) assume uma rebeldia sem causa. Quando se opõe ao poder constituído e às normas sociais ou morais vigentes não porque estes estejam distorcidos ou corrompidos, mas porque existem.
Um especialista equatoriano em comportamento, Fernando Carrión, divulgou, em 1995, um estudo muito interessante a respeito do assunto, intitulado “América Latina é o continente mais perigoso para se viver”. Os dados que cita, posto que defasados (os números, hoje, são muito piores), mostra que o pesquisador não exagerou nessa afirmação.
As grandes cidades tendem a alterar o modo de agir dos que não têm uma estrutura psicológica sólida e se deixam influenciar tanto pelo próprio meio (sombrio, áspero, poluído e barulhento), quanto pelas más companhias.
Carrión demonstrou isso em números. Na ocasião, a América Latina contava com duas cidades de mais de 15 milhões de habitantes (São Paulo e Cidade do México), com 28 que tinham mais de um milhão de moradores e com 36 que passavam dos 600 mil.
O pesquisador equatoriano previu que até 2005, portanto em apenas uma década, este seria o continente com maior grau de urbanização. E não se enganou em suas previsões. Setenta e sete por cento da sua população vivem, hoje, em algum desses conglomerados urbanos, onde tudo é difícil e penoso, desde a locomoção, até o simples ato de respirar.
Ao contrário do que se apregoa por aí, o fator econômico não é a principal causa da marginalidade e conseqüente criminalidade. Claro que contribui, na medida em que impede que as pessoas menos favorecidas tenham acesso à educação e realizem seus sonhos de consumo, numa civilização absurdamente consumista.
Carrión apontou, em seu estudo, três fatores desencadeadores da violência entre os jovens situados na faixa de 15 a 25 anos. Os pesos de cada um deles podem ser diferentes. Eles podem influenciar os indivíduos isoladamente ou em conjunto. Mas estão sempre presentes e são facilmente detectáveis.
O primeiro é a influência exercida pelos meios de comunicação. Esta é uma geração que teve como babá a televisão. E o que a telinha hipnótica exibe nem sempre (ou quase nunca) é construtivo. A carga de violência e de atos, diríamos, não muito éticos, que a TV joga em nossos lares, é massacrante.
Mesmo os adultos influenciáveis, sem muito tirocínio para julgamentos, acabam se deixando contaminar por esse lixo cultural que importamos ou produzimos no próprio País. Queiram ou não, os personagens de filmes e novelas ditam comportamentos, linguagens, gostos e atitudes. Não é o veículo em si que é ruim, mas a falta de critério na escolha do que é veiculado por ele.
O segundo fator de estímulo à violência é a impunidade. Nosso aparato de Justiça (e nos referimos não especificamente ao Brasil, mas a toda a América Latina), não é dos mais eficientes. Deixa muito, muitíssimo a desejar. O jovem de classe menos favorecida, que comete algum delito, em geral é punido com rigor até excessivo. O mesmo não ocorre com adolescentes de classe média para cima.
Finalmente, o terceiro desencadeador de atos violentos, e o pior deles, é o consumo de produtos psicoativos. E não nos referimos, apenas, às drogas clássicas, como a maconha, o crack, a cocaína, a morfina, a heroína e o ópio.
A principal dessas substâncias, o álcool, poucas vezes é citada, por razões econômicas. Dá muito lucro aos que a produzem e a comercializam, que têm grande poder. Mas se trata do maior deflagrador de violência. E, o que é pior, é vendida livremente, sem nenhuma restrição.
Trata-se de uma questão que deve merecer cuidadosa reflexão por parte das pessoas que lidam com jovens: pais, professores, psicólogos, psiquiatras, delegados, promotores, juízes etc. É a única forma inteligente de se combater a violência. Ou seja, cortando o mal pela raiz.

Monday, April 17, 2006

REFLEXÃO DO DIA


Os líderes nacionais que conduzem os seus povos às guerras deveriam se conscientizar da gravidade de seus atos. Precisariam ter noção das desgraças que vão causar. Deveriam entender (mas não entendem) a real natureza do poder que lhes é outorgado. Necessitariam ter em mente o todo, e se conscientizar que o período que vivem é um mero segmento de algo muito maior, infinitamente mais amplo, que é o eterno. Não há glória alguma em destruir, causar dor, matar. E nem há ciência.. Na verdade, não somos nada. Somos menos do que um piscar de olhos na eternidade. E, no entanto, alguns de nossos atos têm um alcance tão grande, que continuam a produzir efeitos através dos anos. Às vezes, até por séculos, muito tempo depois da nossa extinção como pessoas.

Prevenção e informação


A humanidade convive e sempre conviveu com ameaças de toda a sorte, neste pequeno planeta do Sistema Solar. Alguns desses perigos são inevitáveis e o homem pode apenas torcer para que não se transformem em tragédias, como o choque de algum asteróide, cometa ou meteorito com a Terra ou desastres naturais como terremotos, tufões, maremotos e furacões. Outros, como epidemias e pandemias, hoje já são controláveis, embora exijam a colaboração geral. É o caso da insidiosa e terrível Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, a popularmente conhecida Aids.
A doença foi detectada e identificada em 1984 e, desde então, espalhou-se com uma rapidez espantosa por todas as partes do mundo, mobilizando governos e instituições de pesquisa num esforço concentrado para, se não encontrar uma cura, pelo menos desenvolver alguma vacina que imunize as pessoas contra o vírus HIV. A ciência progrediu muito nesse sentido, mas a doença também. Por enquanto, o caminho melhor indicado para escapar dessa ameaça é o da prevenção. A própria forma de contágio, através do sangue, permite que se use desse recurso.
Felizmente, trata-se de uma moléstia em que as pessoas não se contaminam pelo ar, ou pela ingestão de alimentos, ou pela água, ou por uma picada de insetos, ou então pelo simples contato da pele. Tais circunstâncias permitem que qualquer um, seja qual for sua condição econômica, social ou de saúde, previna-se contra a Aids. Mas para que isso seja possível, é preciso inserir no elenco das medidas preventivas uma palavrinha-chave: informação. Quanto mais coisas se souber sobre a doença e formas de contágio, melhores chances de prevenir a contaminação vão existir. Daí a relevância de campanhas preventivas, como a da Organização Mundial de Saúde, instituindo, em 1º de dezembro de cada ano, o Dia Internacional de Luta contra a Aids.
Embora não seja caso para pânico, a evolução da pandemia é muito séria. O vírus não admite descuidos, tanto na prática de relações sexuais sem a devida proteção de camisinhas, quanto no uso de sangue em transfusões sem que se saiba, com absoluta certeza, o grau de pureza desse importante elemento orgânico, além de exigir que as seringas utilizadas para qualquer finalidade que seja (para introduzir ou retirar substâncias do organismo) sejam descartáveis e totalmente esterilizadas. A adoção de tais cuidados é certeza de que não haverá contágio.
Quanto aos doentes, ou aos portadores do vírus sem que a moléstia haja ainda se manifestado, convém que se aja, sobretudo, com humanidade. Que se faça tudo o que esteja ao alcance para tentar sua cura ou para amenizar o seu sofrimento – em especial o psicológico – estendendo ao máximo seu tempo de vida produtivo. Atualmente, já há todo um arsenal de medicamentos que possibilitam um alívio para as pessoas que vivem esse drama e mantêm suas esperanças de sobrevivência.
O que é preciso erradicar, ainda, é o terrível vírus do preconceito, tão pernicioso e daninho quanto o HIV. Como todo doente, o aidético tem o direito de receber conforto e proteção dos parentes, dos amigos e da sociedade. Caso não se mantenha relações sexuais com ele e nem se entre em contato com seu sangue, não há o mínimo risco de contágio. Ninguém se contamina mediante beijos, abraços, apertos de mão, uso de pratos e talheres ou sentando no mesmo vaso sanitário utilizado pelo enfermo. Há que prevalecer sempre, e acima de tudo, o nosso senso de humanidade. Até os animais irracionais tendem a proteger um membro da espécie que esteja ferido ou doente. Por que o homem, único a gozar de racionalidade, não pode agir assim também?

(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 79 a 81, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).

Sunday, April 16, 2006

REFLEXÃO DO DIA

Como as comunicações via satélite reduziram o Planeta à aldeia global apregoada por Marshall McLuhan, temos, em âmbito ampliado, uma situação idêntica à da França de julho de 1789. A fome, o desemprego, a falta de perspectivas de vida atormentam severamente a dois terços da humanidade, enquanto o um terço restante segue, estupidamente, incensando o “bezerro de ouro”, crente que a capacidade de tolerância ao sofrimento dos desvalidos seja infinita e inesgotável. O nosso tempo, aliás, é o das grandes contradições. Nunca se falou tanto, por exemplo, em direitos humanos e jamais eles foram tão desrespeitados. Temos que agir, posto que ordeira e pacificamente, para modificar essa trágica realidade. É a omissão dos bons que propicia a perversa atuação dos maus. Tenhamos isso sempre em mente!

Clima e devastação florestal

Pedro J. Bondaczuk


O clima terrestre está mudando dramaticamente, disto pouca gente, agora, ousa ter mais dúvidas. As razões dessas alterações, no entanto, são objetos de controvérsias. E, mais uma vez, como não ocorreu no passado, vários setores internacionais atribuem à exploração irracional da Amazônia a causa principal desse descontrole climático.
Isso não deixa de ser um pouco de cinismo, por parte de determinados grupos, que nunca esconderam seu desejo de se apropriar dessa vasta área de floresta, a maior reserva verde do Planeta, mas não para que sirva de patrimônio da humanidade, conforme apregoam, mas certamente para o seu próprio proveito.
É um fato que milhares e milhares de hectares de árvores têm sido devastados, insensatamente, praticamente todos os dias, para projetos que, no final das contas, se revelam inviáveis.
No ano passado, por exemplo, não apenas na Amazônia, mas em diversas outras reservas florestais brasileiras, as chamas devoraram, em horas, aquilo que a natureza, em alguns casos, levou milhões de anos para produzir.
Mas, o que dizer das florestas tropicais africanas, dizimadas, quase que por completo, para atender à “fome” por madeira (para fabricar móveis e principalmente papel) das nações industrializadas? O que falar das selvas asiáticas, praticamente desaparecidas e transformadas em cinzas? E, virtualmente, por nada.
Das reservas florestais européias nem há o que mencionar. Simplesmente inexistem! Hoje restaram apenas alguns poucos bosques, onde antes floresceram matas enormes. E mesmo estes estão constantemente sujeitos ao fenômeno das “chuvas ácidas”, provocado pela intensa poluição industrial.
Portanto, se a chamada “comunidade internacional” (expressão vaga demais para ser sequer considerada) não soube zelar por esse patrimônio terrestre, por que saberia cuidar da Amazônia? Por que justamente dessa região, cheia de armadilhas e doenças, que costuma punir duramente quem não a conhece, onde os europeus ou os norte-americanos dificilmente iriam se adaptar? E quem iria fazer essa fiscalização, numa área tão extensa?
O caminho da preservação do chamado “pulmão do mundo”, portanto, não passa por sua internacionalização. A melhor estratégia seria, sem dúvida, a da conscientização acerca da importância da mata amazônica para o equilíbrio climático do Planeta.
Nesse aspecto, a campanha, movida pela imprensa mundial, até que é válida. Mas que não se mostre, apenas, a devastação das nossas matas. Que se exiba, por exemplo, o que aconteceu na China, na Malásia, na Tailândia e em outras partes da Ásia. Que se fale da dizimação florestal da África, num processo, também, irreversível. Que se divulgue que são as corporações do chamado Primeiro Mundo (exatamente o que está insinuando a tese da internacionalização da Amazônia) que estimularam, e vêm estimulando, a exploração irracional das reservas verdes para alimentar suas indústrias.
Se o assunto é a proteção do meio ambiente, que se diga a verdade por inteiro e não pela metade, pois meia-verdade é muito mais danosa do que a mentira completa!

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 28 de fevereiro de 1989).

Saturday, April 15, 2006

REFLEXÃO DO DIA

O ensaísta Stendhal constatou, em um de seus textos: "Enterrado vivo. Quantas precauções não se tomam contra semelhante perigo! Mas há almas enterradas vivas, corações enterrados vivos, inteligências enterradas vivas e quem se inquieta com isso?". Poucos... pouquíssimos...Anos atrás, era comum, por exemplo, haver médicos ecléticos em clínica geral, com conhecimentos para diagnosticar doenças em qualquer órgão. Hoje, o organismo foi "dividido em pedaços". O especialista em gastroenterologia pouco ou nada entende de urologia, ou de cardiologia, ou de pneumologia, etc. Isso se verifica em quase todas as profissões. A especialização exacerbada limita as alternativas profissionais, estreitando os horizontes mentais. A maioria, portanto, mantém a inteligência "enterrada viva"... E sequer se dá conta diss

Ah! se eu pudesse!

Pudesse vê-la sorrindo,
com inocência e candor,
com seu sorriso tão lindo
que só merece louvor,
quão feliz, então, seria,
nesta dura e longa espera,
vivendo minha quimera,
passageira e tão tardia!

Pudesse ouvi-la cantar,
com sua voz maviosa,
alguma canção gostosa,
que falasse em sol e mar,
sei que seria capaz
de até voltar a sorrir
e, com minha alma em paz,
a noite inteira a ouvir.

Pudesse vê-la tão linda,
tal como a via outrora,
creia, com ternura infinda,
sem atraso e sem demora,
reteria, num amplexo,
o seu corpinho bem feito.
Findaria no seu sexo,
num amor total, perfeito,
preso ao feminino encanto
da sua carne cheirosa
que há tempos desejo tanto!

Beijaria os seus olhinhos,
sua boca, rubra flor.
Seus seios, pequenininhos,
sugaria com furor.
O seu corpo, delicado,
beijaria, palmo a palmo,
consciente e deliciado
num amor total e calmo.

Pudesse sabê-la minha,
sem jamais sentir temor
de vir a perdê-la um dia,
eu seria bem mais sério,
conheceria o mistério
de privar do seu amor!!!

(Poema composto em São Caetano do Sul, em 31 de março de 1964).

Friday, April 14, 2006

REFLEXÃO DO DIA

O Brasil sofre dos dois principais tipos de poluição existentes hoje na face do Planeta, outrora maravilhoso e que aos poucos está se transformando numa monumental "lixeira cósmica": a da miséria dos países terceiromundistas e a da opulência das sociedades industrializadas. Esses dois aspectos, afinal de contas, convivem em todos os campos de atividade neste Brasil de contrastes. De um lado, multidões que "vegetam" nas periferias das nossas "megalópolis", sem que tenham água tratada para beber, esgotos para eliminar seus dejetos ou sequer a mínima noção de higiene. Do outro, estão as indústrias ditas modernas, que olimpicamente, do alto de uma indiferença estúpida e irracional, envenenam tudo. As altas concentrações de poluentes sólidos na atmosfera já estão provocando as apavorantes chuvas ácidas, também entre nós, precipitações de ácido sulfúrico, que atingem mananciais de água, plantas, pessoas e animais.

O poeta do povo

Pedro J. Bondaczuk


Pouca gente neste país não conhece algum verso de Vinícius de Moraes, das inúmeras composições que ele fez com vários parceiros, como Antonio Carlos Jobim, Toquinho ou Baden Powell. Durante pelo menos três décadas, o "Poetinha", como era carinhosamente chamado, espalhou ternura e magia, sonho e fantasia, ironia e verdade, como sempre fazem os poetas. Especialmente a geração que embalou o seu namoro ao som da Bossa Nova, na década dos 60s, ou a da chamada "fase do fechamento" do regime militar, na dos 70s, cantou, declamou, citou, viveu e curtiu Vinícius.
Pouca gente, entretanto, conhece esse incorrigível e sublime boêmio como escritor, autor de deliciosos poemas, como os publicados em seu livro "Para Viver um Grande Amor", além de textos políticos, com a agudeza de um "expert" na matéria. A maior parte da sua produção foi destinada a letras de canções que viveram anos na boca do povo, nos ouvidos atentos de todo um País, na memória de uma geração que até hoje não se conforma com a sua morte. O que fazer? O homem não consegue fugir da efemeridade!
O cidadão da "República Carioca de Ipanema" amava extremadamente o Brasil. Não com aquele sentimento piegas e verborrágico de escritores "nacionalistóides", ao estilo do Conde Afonso Celso, há muito ultrapassados, se é que chegaram algum dia a ter vez. E nem expressava esse sentimento contido através de tolos rasgos de ufanismo, na maior parte das vezes falsos e até de mau gosto. Mas à maneira bem carioca, bem boêmia, bem descontraída e marota, como todos nós, era crítico, quando precisava ser; irônico, via de regra, mas sem maldade e sobretudo bem-humorado. O bom-humor é fundamental na boa literatura.
Embora diplomata, de educação refinada, (despojado de seu cargo pela ditadura militar), Vinícius era, acima de tudo, "povo", na mais pura acepção desse termo, no sentido de ser autêntico, sincero, característico, o protótipo do verdadeiro brasileiro. Era o modelo mais perfeito e bem acabado, sem estereótipos, do carioca. Restringindo mais ainda: do morador da Zona Sul, de Ipanema, sim senhor!
Era Rio de Janeiro, com seus contrastes e contradições. Era um pouco, também, Zona Norte, dos pobres e problemáticos subúrbios onde, entretanto, o samba nasce em cada esquina, em cada casa que não esconde a mesmice da pobreza, em cada botequim, em cada história, descolorida e comum, dos seus moradores.
Mas era, antes de tudo, Zona Sul, de Ipanema até o Leblon: boêmio, irreverente e "bon vivant", com sua cultura "underground" e seu modo típico de ser. Acima de tudo, Vinícius era paixão, era alegria, era beleza, era poeta...Desses que vêem o lado belo das coisas onde elas aparentavam ser somente feias e chãs. Fazia brotar, como um mágico, lírios das infectas e nauseabundas sarjetas, extraindo diamantes de montanhas de lixo.
Vinícius era, e é nas obras que nos legou (menos do que seria desejável) um ser precioso demais, em meio às angústias, neuroses e incertezas dos nossos tempos. Não podemos prescindir de suas inspiradas visões de uma realidade da qual, como mortais comuns, sem a magia dos poetas, teimamos em ver apenas o lado avesso.
Existem versos mais simples, e por isso mais belos, do que os deste "Soneto da Fidelidade", que o "Poetinha" compôs, em outubro de 1939, em Estoril, Portugal? Sintam a ternura deste "pastor de emoções", na espontaneidade das suas palavras:
"De tudo ao meu amor serei atento/antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto/que mesmo em face do maior encanto/dele se encante mais meu pensamento.//Quero vivê-lo em cada vão momento/e em seu louvor hei de espalhar meu canto/e rir meu riso e derramar meu pranto/ao seu pesar ou seu contentamento.//E assim, quando mais tarde me procure/quem sabe a morte, angústia de quem vive/quem sabe a solidão, fim de quem ama/eu possa me dizer do amor (que tive):/que não seja imortal, posto que é chama/mas que seja infinito enquanto dure". Lindo, não é mesmo?!! É poesia pura!!

Wednesday, April 12, 2006

REFLEXÃO DO DIA

Como as comunicações via satélite reduziram o Planeta à aldeia global apregoada por Marshall McLuhan, temos, em âmbito ampliado, situação idêntica à da França de julho de 1789. A fome, o desemprego, a falta de perspectivas de vida atormentam severamente a dois terços da humanidade, enquanto o um terço restante segue, estupidamente, incensando o “bezerro de ouro”. O nosso tempo, aliás, é o das grandes contradições. Nunca se falou tanto em direitos humanos e jamais eles foram tão desrespeitados. Basta que se leia os relatórios da Anistia Internacional para que se inteire da sucessão de taras e de tarados que dão vazão, impunemente, aos seus desvios, aprisionando, torturando e matando semelhantes, usando, invariavelmente, como pretexto a defesa da “liberdade” e da “democracia”. Ou seja, lançando mão de duas palavrinhas tão prostituídas que até chegaram a perder o real sentido.

Paciência e preguiça

Pedro J. Bondaczuk


A paciência, virtude de pessoas muito especiais, atributo dos santos, é, muitas vezes, confundida com preguiça. Uma caracteriza-se por saber esperar, tanto para agir, quanto para colher os frutos dessa ação. Outra é a inação, a espera que os outros façam por nós o que deveria ser da nossa competência. É o não fazer. Para entendermos as vantagens de sermos pacientes, basta observar a natureza. Tudo nela tem o seu tempo certo: o de arar, o de semear, o de impedir que as ervas daninhas sufoquem as sementes e o de colher.
E o suceder das estações? Nunca o verão vem antes do inverno. Ou a primavera antecede o outono. Há um ciclo ordenado na natureza. Tempo certo para tudo. No caso do plantio, qualquer tentativa de pular uma das etapas pode arruinar toda uma lavoura e pôr a perder o trabalho despendido. O mesmo ocorre na vida. O apressadinho corre o risco de ficar sem colheita.
O raciocínio é válido em todos os empreendimentos: na profissão, nos relacionamentos entre pessoas e, mormente, nas artes. Há exercício maior de paciência do que o de um escultor? Da pedra bruta (ou do metal), à obra acabada, há todo um processo de desbastar, burilar e acertar detalhes. Há que se trabalhar, diligentemente, compenetradamente, pacientemente. Há que se confiar que no final desse esforço, da matéria disforme vai surgir uma escultura.
O escritor, igualmente, tem que ser paciente. E o artista plástico, o músico, o ator, etc... Ao contrário da preguiça, a paciência é irmã da constância, da persistência, do agir na hora certa. Um bebê, para nascer perfeito, precisa passar por uma gestação de nove meses. É inútil os pais se impacientarem e tentarem abreviar o processo.
Conheci pessoas extraordinárias nesse aspecto. Uma foi minha professora primária, dona Esther Freeman. Tratava-se de uma mestra abnegada, disposta a repetir os conceitos que queria transmitir aos alunos dez, vinte, mil vezes se fosse necessário. Insistia o quanto fosse preciso para aclarar as lições, de forma a que sentisse que todos, mas todos mesmo, haviam entendido o que se propunha a ensinar.
Para não prejudicar os meninos com percepção mais rápida, abria mão de partes da sua folga, para aulas de recuperação aos que estivessem em dificuldades. E jamais ouvi dona Esther dizer qualquer palavra mais áspera, que denotasse irritação, ou impaciência, até mesmo para os preguiçosos, os malandros, os que claramente não manifestavam nenhuma vontade de aprender.
Maravilhosa mestra que, além de sedimentar em minha mente conceitos básicos, que me permitiram um fácil aprendizado na seqüência dos meus estudos, me ensinou o valor da perseverança e a importância da paciência. Hoje, amadurecido, penso, agradecido, na professorinha primária que me ajudou a ser homem. Valorizo sua abnegação, sabedoria e, sobretudo, amor.
Lembro-me dela ao ler a citação de Jean-Jacques Rousseau, que ela sempre nos transmitia, embora com outras palavras, mais acessíveis para nossas mentes infantis: "A paciência é amarga, mas seus frutos são doces". É essa virtude que impede que desanimemos, quando fazemos tudo certo em determinada atividade e os resultados tardam a aparecer.
Tive amigos que eram exemplos de paciência. Perseguiam seus objetivos como leões, com uma garra invejável. Faziam o que tinham de fazer, por mais enfadonhas e árduas que fossem essas tarefas, com o espírito de Jó. Não reclamavam, não desanimavam, não se entregavam à inação. Esgotada a ação, esperavam quanto fosse necessário. Em alguns casos, a espera limitava-se a alguns dias. Em outros, chegava a anos. Mas mantinham-se tranqüilos, cientes de que tinham feito o quer era preciso fazer. Não conheço um só deles que tenha deixado de alcançar seu objetivo.
No outro extremo, convivi com pessoas brilhantes, mas sem nenhum espírito de luta. Indivíduos cujos prognósticos de sucesso na vida eram unânimes. Mas esperavam que esse êxito viesse através de magia ou caísse do céu. Ou que a colheita ocorresse no dia seguinte ao da semeadura.
Hoje, encontro-os em estado melancólico: envelhecidos, amargurados, alguns até viciados em álcool. Os primeiros, eram pacientes. Os segundos, preguiçosos. Paul Verlaine tem um poema elucidativo a respeito, que diz em determinado trecho: "Paciência, paciência,/paciência no céu azul,/cada átomo de silêncio/é a chance de um fruto maduro!". E não é?!

Tuesday, April 11, 2006

REFLEXÃO DO DIA

Os jovens, atualmente, são avaliados não como os sucessores da magna tarefa de construção da sociedade ideal, mas pelo seu potencial de combate. O seu precioso vigor natural é desvairadamente desperdiçado em nauseabundos campos de batalha, em guerras estúpidas e sem qualquer sentido como as do Afeganistão e do Golfo, entre outras tantas. E como agem geralmente os pais em relação a eles? Salvo exceções, castrando suas iniciativas mais brilhantes, ao invés de canalizar tanta energia para obras em que esses moços se sintam realizados e orgulhosos. Atuam como ditadores capciosos e duros. Alguns, até, como “proprietários” dos filhos, como se estes não fossem seres humanos com direito à liberdade e independência. Tratam-nos como autênticos animais de estimação. Isso quando não os largam de vez, os ignorando por completo, imersos em sua mesquinha faina por acumular riquezas e prestígio, efêmeros bens que não irão levar para o outro lado da vida.