Saturday, April 30, 2016

A INCERTEZA DITA O DESTINO HUMANO

Gibran Khalil Gibran nos exorta, em seu magnífico “O Profeta”: “Anda. Parar é covardia e olhar para a cidade do passado é ignorância”. As pessoas não dogmáticas, com sede e fome de conhecimento, que se mantêm permanentemente ligadas ao mundo, dispostas a aprender tudo o que possam, são as que têm as maiores chances de mudar, sem que tais mudanças impliquem em traumas. Claro que a incerteza dita o destino humano. Agora estamos vivos. No segundo seguinte, poderemos não estar mais. E a vida – embora espiritualistas garantam que não, baseados apenas nas próprias convicções – não tem reprise. Se tivesse, a humanidade não estaria privada dos gênios e santos que com suas ações e exemplos fizeram o homem evoluir e que tanta falta fazem hoje.


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Teste do fôlego econômico da URSS

 Pedro J. Bondaczuk


A União Soviética foi colocada numa posição nitidamente defensiva diante das últimas providências tomadas pelos Estados Unidos para recuperar terreno na corrida armamentista. A adesão, formalizada ontem, dos aliados norte-americanos aos projetos de pesquisa da “Iniciativa de Defesa Estratégica” de Ronald Reagan, mais do que a decisão do Capitólio para liberar US$ 1,5 bilhão destinados à fabricação de 21 novos mísseis MX com dez ogivas nucleares cada um, foi um duro golpe para os russos, que os leva a Ter que tomar uma difícil decisão. Ou cedem às exigências dos EUA, nas conversações de Genebra, fazendo um acordo onde a “parte do leão” certamente não lhes caberá, ou aceitam o desafio e continuam investindo imensos recursos, dos quais não são tão pródigos quanto desejavam, na tentativa de não perderem a hegemonia.

A tática norte-americana nesta questão está cada vez mais clara a qualquer observador medianamente arguto. Reagan, ciente de que o poderio econômico soviético é muito aquém do militar, deseja exaurir os cofres russos, numa competição desigual, envolvendo justamente aquilo que seu país mais possui e que o adversário é carente: riquezas.

E como se não bastasse o fabuloso potencial financeiro dos EUA, o presidente norte-americano obtém, para um projeto de custos proibitivos, a adesão dos 14 países mais ricos e poderosos (após eles próprios e o seu já tradicional arquiinimigo) nessa empreitada.

Os soviéticos não escondem de ninguém que a sua economia se encontra atualmente num estágio muito inferior à do país líder do Ocidente. O economista Georges Sokoloff, no estudo “As Fontes do Poder Soviético, a Economia, a População e os Recursos”, admite claramente: “Apesar dos seus investimentos e esforços notáveis, a União Soviética conserva uma economia subdesenvolvida. A estrutura do seu comércio exterior com o Ocidente lembra um país em vias de desenvolvimento. Esta impressão é confirmada pelo crescimento rápido da sua dívida externa em divisas conversíveis desde que o poder decidiu abrir a economia para atenuar as insuficiências do seu patrimônio nacional. Para compreender essa situação é preciso considerar a enorme sangria que representa a busca da paridade militar com os Estados Unidos”.

Essa tática norte-americana, todavia, pode, na verdade, acelerar ainda mais a corrida armamentista, a uma velocidade vertiginosa jamais registrada e extremamente imprudente. Ninguém sabe a exata extensão dos recursos que a União Soviética dispõe, dado que certamente é o segredo de Estado mais indevassável que eles possuem e guardado ciosamente a sete chaves.

É impossível, também, se avaliar os recursos humanos existentes naquele país e o grau de apoio que a população dá ao regime. Afinal, os russos já deram provas no passado, quando em flagrante desvantagem em relação a inimigos muito mais poderosos do que eles, de uma capacidade de recuperação fantástica.

O que pode acontecer no final das contas é a superpotência oriental exaurir as economias de seus fiéis e dóceis satélites, canalizando dinheiro, atualmente usado para melhorar o padrão de vida dos povos do Leste europeu, para a fabricação de armamentos.

Outra questão refere-se ao tempo em que a União Soviética conseguirá suportar uma brutal elevação nas despesas militares. Se a exaustão chegar, digamos, em quatro ou cinco anos, a estratégia de Reagan terá sido válida, uma autêntica “tacada de gênio”.

Se o prazo for superior, todavia, todos nós trabalharemos nossas vidas todas, gerando crescentemente riquezas apenas para a insaciável indústria armamentista norte-americana despender em mísseis cada vez mais precisos e diabolicamente certeiros e ogivas criadas sob o signo da destruição.

É, portanto, uma corrida que, embora realizada diretamente por duas sociedades, envolve a toda a humanidade, comprometida, de uma maneira ou de outra, para que este planeta seja um lugar cada vez mais instável e inseguro para se viver.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 28 de março de 1985).


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Giovanni Villani relata a peste em Florença

Pedro J. Bondaczuk

A cidade italiana de Florença foi assolada, a partir de 1347, pela peste bubônica que, a exemplo de todos os lugares em que este flagelo se manifestou, teve sua população drasticamente reduzida, com uma quantidade de mortos estimada em até 80%. Por pouco, portanto, escapou de desaparecer do mapa. A localidade foi vítima da mesma pandemia que eliminou, conforme estimativas (que considero irreais e exageradas) cerca de 75% da população europeia. Bem, a quantidade exata de vítimas pouco importa, até pela impossibilidade de ser determinada. O fato é que a peste negra exterminou, em questão de pouco tempo, alguns milhões de pessoas.

Vários escritores registraram a pandemia – iniciada, ao que se sabe, em novembro de 1347, no porto francês de Marselha, proveniente do mundo árabe – cada qual relatando o que ocorreu nas respectivas cidades em que residiam. Florença, que já então gozava de grande prestígio artístico e cultural, pela quantidade de artistas e de escritores que lá viviam, foi foco de diversos desses relatos, dando conta dos estragos causados por esse mortal flagelo. Um dos principais relatores, Giovanni Villani, autor da famosa obra “Nova Crônica”, foi uma das vítimas da doença. Morreu um ano (1348) após haver contraído a enfermidade, da qual, a princípio, se curou. Havia ficado doente em 1347, antes da epidemia se agravar em Florença. E sofreu recaída no ano seguinte, quando os casos na cidade já se multiplicavam descontroladamente. Dessa vez... não teve como escapar. Nem chegou a completar sua obra-prima, uma das fontes de informação mais completas e detalhadas da vida política, econômica e cultural florentina da primeira metade do século XIV.

O livro “Nova Crônica”, que havia sido interrompido por Giovanni Villani em 1347, quando adoeceu, foi concluído, somente, 16 anos depois, pelo seu irmão, Matteo, e por seu sobrinho, Filippo. Hoje é uma espécie de clássico dos tipos, costumes e personalidades da Florença medieval. Giovanni, antes de adoecer, teve tempo ainda de relatar o avanço da epidemia e a evolução do número de mortes que ela já havia causado. Matteo, por sua vez, fez um balanço, em 1363, dessa tragédia. Calculou que 50 mil florentinos morreram por causa dela. E arriscou-se a apontar o que, no seu entender, era a causa dessa desgraça: “um castigo de Deus, claro!”. Expressou, assim, a opinião geral em toda a Florença. Essa “certeza”, inclusive, explica o “tratamento” – não físico, mas espiritual – dado pela população para a doença: rezas, procissões, promessas, autoflagelações e todo o tipo de sacrifícios e privações físicas que o leitor possa imaginar. Destaque-se que a cidade era estritamente católica, constituindo-se na terra natal de seis papas: Leão X, Clemente VII, Clemente VIII, Leão XI, Urbano VIII e Clemente XII.

Ademais, nem na culta e evoluída (para a época) Florença, deixou-se de relacionar a peste com cometas.Todos estavam absolutamente convictos dessa vinculação. E em 1347, havia sido detectado um deles, que se supõe tenha passado relativamente perto da Terra. Coincidentemente, nesse mesmo ano, como vimos, ocorreu a mais mortal pandemia de que se tem notícia na História (há quem estime que matou 200 milhões de pessoas). O cometa em questão foi batizado de “Negro”, que seria o mesmo que foi visto recentemente, a partir de setembro de 2012, desta vez, chamado de “Ison”, também conhecido pelo código astronômico de “C/2012 S1”. A pandemia, que durou cinco anos, e que causou a dantesca mortandade em Florença, espalhou-se com estonteante velocidade pelo continente. Nos cerca de cinco anos que durou, expandiu-se para o Norte da Europa, sendo freada, apenas, pelo Oceano Atlântico, depois de percorrer a Escócia, a Irlanda e as então semidesérticas planícies da estepe russa.

Giovanni Villani escreveu o seguinte sobre o que interpretou como “prenúncio de desgraças”: “(...) Ao final de março deste ano (1347) apareceu na parte oriental do céu um cometa, entre Virgem e Libra. São avisos anunciadores para o corpo humano de grande destruição e de morte, como veremos mais adiante. O cometa durou muito pouco. Não foi, todavia, o caso dos sofrimentos infligidos à nossa cidade por conta da peste negra, que ainda continuam (...)”. A amplitude e a virulência dessa pandemia justificam a razão de tantos cronistas e escritores da época, de diversos dos países da Europa atingidos, terem registrado, com tamanha riqueza de detalhes (como pretendo demonstrar oportunamente), e sempre em tom apocalíptico, as terríveis conseqüências da catastrófica peste negra.


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Friday, April 29, 2016

IDENTIFICANDO E ASSUMINDO UMA MISSÃO DE VIDA


Quem estabelece, de forma consciente, uma tarefa positiva a cumprir, que nem precisa ser grandiosa, para justificar e qualificar sua vida, deve, antes de tudo, ser autodisciplinado e coerente em pensamentos e ações, para, assim, ter pelo menos mínimas chances de cumpri-la. Se não conseguir... paciência. Pelo menos restará o mérito (ou simplesmente o consolo) de haver tentado (isso quando tentar). Nada e ninguém, portanto, devem deter nossos passos em nossa jornada em busca da concretização da nossa missão de vida. Certamente, reitero, todos temos uma, mesmo que conscientemente desconheçamos isso e sejamos incapazes de identificá-la de forma clara e coerente. Viemos ao mundo com uma tarefa a cumprir, sem que nos seja sequer revelada qual é. Compete-nos descobrir a nossa, de acordo com nossas vocações e competências, e executá-la, sejam quais forem as circunstâncias. Obstáculos, certamente, encontraremos, e em profusão, em nosso caminho. Teremos inúmeras quedas. Mas o verdadeiro homem, mesmo enfraquecido e fragilizado, sempre conseguirá se levantar, e prosseguir, sem desespero ou esmorecimento, para realizar sua missão. Recompensas podem ou não vir. Nem sempre (ou raramente) vêm. Não raro, não teremos sequer o reconhecimento dos que viermos a beneficiar. Não importa. O importante é que cumpramos, com honestidade, nossa missão.

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Seriedade para evitar grande frustração


Pedro J. Bondaczuk


A população brasileira, de modo geral, está diante de uma crise econômica aguda, com taxas altíssimas de inflação, com o salário sendo corroído a cada instante pela voracidade incontida não somente desse “monstro”, mas de outras feras, como o “leão” do fisco, por exemplo; afetada por uma série de surtos, como os de dengue, sarampo, malária, hanseníase e  até tuberculose; temerosa pelo que pode lhe acontecer após a decisão de suspensão do pagamento de juros da nossa monumental dívida externa, está em vias de ter outra frustração.

Esta, de proporções gigantescas, não por ela em si, mas pelas circunstâncias em que vivemos. Trata-se da nova Constituição, que está para ser elaborada desde 1º de fevereiro e cujos trabalhos ainda não se efetivaram, só os parlamentares sabem porque.

No nosso entender, a opinião pública foi, mais uma vez, manipulada pelos que detêm o poder, nesta questão. Quando do anúncio da convocação da Assembléia Nacional Constituinte, já ocorreu um erro basilar, que se não tira a legitimidade dos encarregados da elaboração da nossa Carta Magna, a reduz sobremaneira. Trata-se da decisão de se atribuir dupla função aos parlamentares eleitos em 15 de novembro passado. Uma, será a ordinária, característica do Poder Legislativo, de confecção da legislação rotineira, que eles, a rigor, nem estão exercendo direito. E outra, de redação da futura Constituição.

A segunda falha foi o enfoque dado à campanha eleitoral que precedeu a escolha dos constituintes. A atenção principal foi dada àquilo que deveria ter sido secundário, às eleições dos governadores. Toda a propaganda, pelo rádio e pela televisão, concentrou-se nessa disputa, quase irrelevante nas circunstâncias de então.

Criou-se uma espécie de sutil “cortina de fumaça” sobre o papel e principalmente sobre as propostas dos postulantes à elaboração da nossa Carta Magna. Em conseqüência disso, cerca de 20% dos 60 milhões de eleitores, ou seja, 12 milhões de brasileiros, não estão representados na Assembléia, por terem votado em branco ou anulado o seu voto para esse cargo. Isso sim tira a legitimidade, e muito, da atual Constituinte. E que não se culpe a ocorrência dessa avalanche de manifestações de omissão os analfabetos (de fato ou funcionais).

A campanha é que foi dirigida para que esse fenômeno viesse a acontecer. A maneira como a propaganda foi feita é responsável por isso. Quem possuía condições financeiras ou apoio de grupos econômicos representativos, em geral se deu bem e foi eleito. Quem não dispunha dessa facilidade e tinha a seu favor apenas idéias, sugestões e projetos, foi deixado à margem. Francisco Weffort afirmou, logo após o pleito, com toda a razão do mundo: “os votos brancos e nulos serão um rato morto na garganta dos constituintes”.

Como foi destacado no preâmbulo, o País está passando por um agudo momento de descontentamento, de descrença e, principalmente, de incerteza. A economia anda pessimamente das pernas. Mas o que os nossos representantes, aqueles que deveriam, através do voto de confiança que lhes outorgamos, nos colocar, teoricamente, no poder, através da sua atuação, estão discutindo? As causas e conseqüências das absurdas taxas de juros praticadas? As razões e a maneira de contornar o descontentamento trabalhista? Regras, nem que sejam falhas, para nossas relações econômicas?

Não! Os políticos não se atrevem a descer do seu Olimpo, da sua torre de marfim, para debater questões tão mesquinhas. Sua atenção está em coisas mais “transcendentais”, como o regulamento da Constituinte, a composição da sua mesa ou de suas comissões, e coisas desse gênero, temas com os quais se ocupam durante semanas a fio, em estéreis briguinhas e discussões, que poderiam ser solucionadas com apenas um pouquinho de bom senso. É por isso que não se pode deixar de dar razão ao ex-chanceler Santiago Dantas, quando afirmou: “No Brasil, o povo como povo é muito melhor do que as elites como elites”.

É por essa razão, também, que se percebe tanto desencanto nas ruas. Não aquele cósmico, universal, que afeta o homem quando ele se dá conta da sua insignificância diante do infinito. Teilhard de Chardin escreveu, numa carta datada de 4 de maio de 1935: “Pergunto-me hoje se a humanidade não se está realmente dividindo entre os que crêem e os que não crêem no futuro do Universo”.

Isso poderia ser transcrito de outra forma, para se adaptar à atual situação brasileira, dividida entre os 20% que ainda acreditam que o atual governo vá solucionar nossas aflições e os 80% que nunca tiveram ou que perderam essa crença, questionando a sua legitimidade.

A esse propósito, Henry David Thoreau escreveu, com sua peculiar argúcia, em seu livro “Escritos Selecionados sobre a Natureza e a Liberdade”: “A autoridade do governo, para ser estritamente justa, precisa ter a sanção e o consentimento dos governados”:.

É hora da classe política despertar para a realidade. É o momento dos políticos analisarem as expectativas que foram despertadas na população dez meses antes da eleição da Constituinte. Foi passada uma mensagem ao povo de que a nova Constituição seria uma panacéia para todos os males nacionais, o que foi uma enorme irresponsabilidade. O cidadão já vai ficar frustrado ao perceber, quando a nova Carta Magna for promulgada, que a sua vida não mudou virtualmente em nada e que suas aflições estão longe de acabar. Imaginem se, além disso, ela acabar sendo pior da que está em vigor!

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de março de 1987).


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História secreta relata pandemia de peste

Pedro J. Bondaczuk

O escritor é Procópio de Cesarea (não confundir com figura do mesmo nome, mártir cristão, canonizado pela Igreja Católica como São Procópio de Cesarea). O livro? “História secreta de Justiniano I”. Assunto: devastadora epidemia de peste bubônica que assolou Bizâncio, a versão oriental do Império romano, cuja capital era Constantinopla. Ano: 540 da nossa era. Essa obra, pouco conhecida e não muito divulgada, até mesmo das escritas por esse ilustre historiador, publicada na França, em 1669 (não sei se tem versões em outros idiomas) é historicamente importante por se tratar do primeiro registro escrito de uma pandemia. Em outros tantos textos anteriores que chegaram até nós, a doença é apenas mencionada, não raro de passagem, para completar o cenário em que os escritores situaram seus temas. A epidemia em questão não ficou restrita a Bizâncio. Propagou-se por toda a Europa meridional e durou praticamente um século (se não mais). Imaginem quantas pessoas matou, levando em conta a absoluta ausência de recursos da época, quando se desconheciam, até, as causas da peste! A quantidade de vítimas fatais pode, apenas, ser grosseiramente estimada.

Prova de que determinadas regiões européias foram assoladas por este flagelo é o relato feito pelo escritor francês Gregoire de Tours que, em seu livro “Histoires” relatou que por volta do ano 590, portanto 50 anos depois do início da epidemia em Bizâncio, a peste dizimou multidões notadamente no Sul da Gália. Procópio de Cesaréa focaliza seu relato em especial em Antioquia, mas sem deixar de citar o que acontecia nas demais cidades do Império Bizantino. Isso faz todo o sentido. Afinal, tratava-se da terceira mais populosa metrópole do mundo da época, a maior povoação urbana do Oriente. Em termos mundiais, só perdia para Roma e Alexandria. Tinha, no auge, população estimada em meio milhão de habitantes, o que, então, era uma enormidade. Guardadas as devidas proporções, Antioquia poderia ser comparada, em importância, a metrópoles atuais do porte de Nova York, ou de Londres ou de Tóquio.

Procópio é considerado pelos especialistas como o último historiador da chamada Antiguidade tardia. Nasceu na cidade palestina de Cesarea, daí sua cidade natal ter sido incorporada ao seu nome, como era o costume da época. Seus livros foram escritos no idioma grego clássico, sendo que tomou, como modelo, os dois maiores historiadores da Grécia antiga: Heródoto e Tucidides. Sua obra mais famosa é a “História” do reinado de Justiniano I, em oito volumes, exaltando os feitos do imperador, sem trazer uma única linha que o desmerecesse, ou seja, sem nem mesmo insinuar os desmandos, crimes e atos de corrupção (que não foram poucos) desse governante. Não foi, no entanto, como procedeu em “História secreta” (que no original tinha o sugestivo título de “Anedokta”), cuja autoria sempre negou (por razões compreensíveis, para evitar represálias e retaliações), mas que ficou amplamente comprovada após sua morte.

Esse livro permaneceu perdido por vários séculos até que foi descoberto (dizem que por acaso) na Biblioteca do Vaticano (e ninguém nunca soube explicar como foi parar lá). Flavius Petrus Sabbatius Justinianus, ou simplesmente Justiniano I, o Grande, assumiu o poder em 1º de agosto de 527 e reinou por 38 anos, até sua morte, em 14 de novembro de 565. Originário de família humilde, caiu nas graças de seu antecessor, por sinal seu tio, Justino I, a quem viria a suceder. Consta que era “dominado” pela mulher, Teodora, ex-atriz e ex-prostituta, cuja descrição de suas estripulias Procópio fez em detalhes, não poupando nada em seu livro. Explica-se, pois, porque sempre negou ser o autor dessa obra. A grande ambição de Justiniano era restabelecer a glória de Roma antiga. Até certo ponto, conseguiu. Mas...

E onde entra a peste bubônica nesta história? Bem, segundo o relato do historiador, a epidemia teria começado após devastador terremoto que assolou a região. Ele descreve assim essa sucessão de tragédias: “(...) Catastróficos tremores de terra assolaram Antioquia, a primeira cidade do Oriente (...) Todas as cidades dos arredores foram, naquela época, assoladas pelo terremoto e seus habitantes morreram quase todos. Chegou a peste, que mencionei anteriormente, que dizimou pelo menos a metade dos moradores. Tal foi a destruição que assolou a humanidade a partir de quando Justiniano cobrou os impostos devidos ao governo e que se prolongou pelo período da sua autoridade”. Ou seja, a pandemia não foi debelada, pelo menos, até 565. E, de acordo com Gregoire de Tours, espalhou-se por toda a Europa meridional e não havia sido controlada pelo menos por volta do ano de 590.

Este foi o primeiro registro escrito que chegou até nós da ocorrência da peste bubônica, mas não como epidemia, ou seja, restrita a determinadas cidades, como outros escritores fizeram, porém em forma de “pandemia”, atingindo grande parte do mundo conhecido de então (possivelmente a totalidade do Planeta). Foi uma das tantas vezes em que essa letal doença – ainda não de todo extinta, posto que controlada – ameaçou extinguir toda a espécie humana da face da Terra.


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Thursday, April 28, 2016

TODOS TEMOS UMA MISSÃO

A missão do homem jamais se esgota, embora ele ache que sim. “E quem não tem nenhuma?”, perguntará o atento leitor. Todos têm, mesmo que se trate de algo comezinho e trivial, que sequer considere com esse pomposo nome e nem mesmo se dê conta dessa obrigação pessoal que se impôs. Essa missão pode ser, por exemplo, a de garantir conforto e segurança à família, o que é mais comum e muito importante, por que não? Ou simplesmente superar a pobreza ou até a miséria e ter uma vida melhor, pelo menos um tantinho digna. Até marginais, bandidos tidos e havidos (por de fato serem) nocivos à sociedade têm lá suas missões pessoais, posto que inconsistentes e ruins. Quando mais não seja, sua missão pode ser, por exemplo, a de jamais ser preso em decorrência de ações ilegais e criminosas. Para tanto, porém, é indispensável que não as cometam. Nossa principal missão, porém, é a de vivermos com plenitude, grandeza e alegria, aproveitando ao máximo esta “aventura”, que é única, sem jamais prejudicar ninguém, batalhando por imprimir nossa marca no mundo, sem abrir mão da busca da felicidade, que sempre está ao alcance de nossas mãos. Basta identificá-la e localizá-la.. 

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Cresce a tensão no Golfo



Pedro J. Bondaczuk


O drama que se desenvolve há quase sete anos no Golfo Pérsico evolui, a cada dia que passa, para o seu momento culminante, que não parece ser o da paz. Já não bastassem as tensões causadas pelo conflito em si e pelo aumento da presença militar das grandes potências mundiais na área, criando um clima de suspense quase insuportável, raramente visto no pós-guerra, o incidente ocorrido anteontem, na cidade de Meca, na Arábia Saudita, veio colocar muito mais lenha nessa imensa fogueira. Ou melhor diríamos, pôr “petróleo” nela, já que esse é o produto mais farto em toda essa tormentosa zona.

Há tempos, um analista político europeu previu que algo dessa espécie iria ser provocado, mais cedo ou mais tarde, pelo regime do aiatolá Ruhollah Khomeini, chefe espiritual de cerca de 100 milhões de xiitas espalhados por todo o mundo.

Para entender o caráter de sua liderança, é preciso ter em mente que o clérigo é considerado um “imã” islâmico. Ou seja, é um mestre e juiz, uma espécie de santa em vida, com poder de absolver pecados, abaixo, apenas, do profeta Maomé.

Sua ascendência sobre os fiéis (embora o número deles seja 7,5 vezes menor do que o de católicos) é superior à que o Papa tem sobre a sua comunidade. As cinco seitas muçulmanas (como acontece na grande divisão existente no cristianismo), diferenciam-se apenas por detalhes, atinentes à forma de se praticar a religião, e não ao conteúdo.

Enquanto os sunitas apegam-se às tradições muçulmanas, incorporando-as aos ensinamentos do Corão, os xiitas respeitam o livro sagrado e afirmam que ele é o único código (civil, penal e religioso) que deve ser acatado e seguido. Ele é a lei máxima para todas as situações.

Entre seus fiéis não há distinções referentes à vida religiosa e à civil. Os assuntos de política e de fé estão interligados, já que entendem que o homem é uma unidade indivisível. Meca, portanto, é uma cidade sagrada não somente para essas duas seitas maometanas, mas para todas elas.

O incidente de sexta-feira, por esse motivo, corre o risco de, além de ter uma conotação profana, ser levado para o terreno religioso. O massacre de xiitas, por parte da polícia saudita, equivaleria, para os iranianos, a um eventual e hipotético tiroteio que viesse a ocorrer na Praça de São Pedro, em Roma, por exemplo, no qual centenas de peregrinos fossem mortos.

Tal ato poderia ser considerado, antes de tudo, um sacrilégio, por ter profanado um sítio sagrado. Dessa forma, se entraria por um terreno muito mais perigoso do que o por si só inseguro e volúvel campo político.

O analista mencionado acima previu que os iranianos, dispostos a desestabilizar a monarquia saudita e a antagonizar esse regime com a comunidade islâmica, poderiam provocar um tumulto desse tipo e posar de vítimas.

Oxalá tudo não passe de um novo susto, e nada mais. Caso contrário, a guerra do Golfo Pérsico poderá ter conseqüências muito mais graves do que as que teve até aqui, que já não são nada desprezíveis.       

(Artigo publicado na página 22, Internacional, do Correio Popular, em 2 de agosto de 1987)


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Sófocles esbanja talento na descrição da peste


Pedro J. Bondaczuk

As epidemias são retratadas, em todas suas trágicas dimensões e consequências, em vários e vários livros da mais remota antiguidade, quer a grega, quer a indiana, quer a chinesa etc., como se pode comprovar nas relativamente escassas obras que chegaram incólumes até nós. É certo que, invariavelmente, são tratadas como fenômenos naturais, posto que nefastos, da natureza ou, o mais das vezes, como “castigo dos deuses”. Pudera! Não se conheciam as verdadeiras causas dessas doenças (e nem se poderia), notadamente da peste bubônica, aquela que mais vezes é citada, posto que não nominalmente, mas mediante a descrição dos sintomas.   É o caso, por exemplo, de uma das mais famosas (e geniais) peças da dramaturgia mundial: “Édipo rei”, do grego Sófocles.

Ressaltar a importância desse drama, e de seu autor, chega a ser redundante. Não há pessoa razoavelmente bem-informada, de cultura mediana, que não conheça, nem que seja algum escasso detalhe, por ínfimo que seja, desse icônico personagem, mesmo que nunca tenha lido sequer o resumo da obra em que ele aparece e jamais tenha assistido à peça, ou mesmo freqüentado, algum dia, qualquer teatro. Édipo, para refrescar a memória dos “esquecidos”, é aquela figura que acabou se apaixonando pela mãe, com a qual se casou e assassinando o pai, sem saber, claro, seu vínculo filial com uma e com outro. A psicanálise apropriou-se desse infeliz monarca ficcional para nomear um complexo, que nem mesmo é tão raro.

Recorde-se que a peça foi escrita há quase três milênios (por volta de 430 a.C) e, ainda assim, continua incrivelmente atual. Segue sendo, por exemplo, encenada (décadas, séculos, milênios) em palcos os mais diversos, tanto de escolas quanto de grandes teatros mundo afora e praticamente todos os dias. Quantas foram suas encenações? Como saber?! Provavelmente, milhões!!! Quem sabe, até mais. Não tenho dúvidas, por exemplo, que hoje mesmo, no momento em que escrevo estes comentários, alguma companhia teatral, alhures, está encenando “Édipo  rei”, em algum palco de Londres, Paris, Roma, Nova York, Boston etc.etc.etc. Dela, sim, se pode afirmar que se trata de campeã de audiência. Cabe, aqui, até mesmo, um superlativo (tão ao meu gosto): campeoníssima!

O drama, criado por Sófocles, começa com a cidade de Tebas sendo assolada pela epidemia de peste. É certo que o dramaturgo utilizou a doença como uma espécie de metáfora. Pretendeu, e conseguiu, com grande maestria, simbolizar a violência que se irradiava e se expandia naquela comunidade de maneira contagiosa, que resultaria, ao fim e ao cabo, na desgraça do infeliz personagem central.Sófocles escreve, a certa altura da peça:

“(...) Ó poderoso Édipo, rei da minha pátria! Já vês que somos de diferentes idades, nós que nos achamos aqui, ao pé dos teus altares. São crianças que apenas podem andar; velhos sacerdotes encurvados pela velhice; eu, o sacerdote de Júpiter, e estes, que são os escolhidos entre a juventude. Nós e o resto do povo, com os ramos dos suplicantes nas mãos, estamos na praça pública, prosternados diante dos templos de Minerva e sobre as fatídicas cinzas de Imeno. A cidade, como tu mesmo vês, comovida tão violentamente pela desgraça, não pode levantar a cabeça do fundo do sangrento torvelinho que a revolve. Os frutíferos germes secam nos campos; morrem os rebanhos que pastam nos prados, assim como as crianças nos peitos de suas mães (...)”

Terrível descrição de uma cidade tomada pelo medo, com a morte ceifando, sem cessar, multidões. É o relato de alguém que já testemunhou uma epidemia, com suas catastróficas conseqüências e captou com precisão as reações dos atingidos. E Sófocles prossegue: “(...) Invadiu a cidade o deus que provoca a febre: a destruidora peste que deixa desabitada a mansão de Cadmo e enche o inferno com nossas lágrimas e gemidos. Nem eu e nem estes jovens que estamos junto ao seu lugar, viemos implorar-te como a um deus, mas porque te julgamos o primeiro entre os homens para socorrer-nos na desgraça e para obter o auxílio dos deuses. Tu, que recém chegaste á cidade de Cadmo, nos redimiste do tributo que pagávamos à terrível esfinge e isto sem haver nos inteirado de nada e nem haver dado nenhuma instrução, mas que só, com o auxílio divino – assim se diz e se crê – foste o nosso libertador (...)”.

Não irei, óbvio, sequer resumir o enredo da peça. No caso, não me importam as circunstâncias que levaram Édito a matar o pai, Laio (cuja paternidade desconhecia) e nem a casar-se com Jocasta, a mãe. Meu foco é a descrição de Sófocles da epidemia que assolava Tebas, tão terrível, ou mais, do que a esfinge, da qual nosso herói (ou anti-herói?) a livrou antes. Recomendo ao leitor que leia essa magnífica obra, uma das sete (entre as 123 que o dramaturgo compôs) que escaparam incólumes da destruição, para a satisfação dos que apreciam a boa literatura (as outras seis são “Ajax”, “Antigona”, “As Traquínias”, “Electra”, “Filoctetes”,  e ´”Édipo em Colono”). Só adianto que, para salvar Tebas da peste que a assolava, Édipo enviou seu cunhado, Creonte, para falar com o oráculo de Delfos. E este afirmou que a cidade só seria salva depois que se expulsasse dela o assassino de Laio, o rei anterior. E este era o infeliz herói criado por Sófocles. Ou seja, o próprio Édipo.


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