Saturday, April 30, 2016

Teste do fôlego econômico da URSS

 Pedro J. Bondaczuk


A União Soviética foi colocada numa posição nitidamente defensiva diante das últimas providências tomadas pelos Estados Unidos para recuperar terreno na corrida armamentista. A adesão, formalizada ontem, dos aliados norte-americanos aos projetos de pesquisa da “Iniciativa de Defesa Estratégica” de Ronald Reagan, mais do que a decisão do Capitólio para liberar US$ 1,5 bilhão destinados à fabricação de 21 novos mísseis MX com dez ogivas nucleares cada um, foi um duro golpe para os russos, que os leva a Ter que tomar uma difícil decisão. Ou cedem às exigências dos EUA, nas conversações de Genebra, fazendo um acordo onde a “parte do leão” certamente não lhes caberá, ou aceitam o desafio e continuam investindo imensos recursos, dos quais não são tão pródigos quanto desejavam, na tentativa de não perderem a hegemonia.

A tática norte-americana nesta questão está cada vez mais clara a qualquer observador medianamente arguto. Reagan, ciente de que o poderio econômico soviético é muito aquém do militar, deseja exaurir os cofres russos, numa competição desigual, envolvendo justamente aquilo que seu país mais possui e que o adversário é carente: riquezas.

E como se não bastasse o fabuloso potencial financeiro dos EUA, o presidente norte-americano obtém, para um projeto de custos proibitivos, a adesão dos 14 países mais ricos e poderosos (após eles próprios e o seu já tradicional arquiinimigo) nessa empreitada.

Os soviéticos não escondem de ninguém que a sua economia se encontra atualmente num estágio muito inferior à do país líder do Ocidente. O economista Georges Sokoloff, no estudo “As Fontes do Poder Soviético, a Economia, a População e os Recursos”, admite claramente: “Apesar dos seus investimentos e esforços notáveis, a União Soviética conserva uma economia subdesenvolvida. A estrutura do seu comércio exterior com o Ocidente lembra um país em vias de desenvolvimento. Esta impressão é confirmada pelo crescimento rápido da sua dívida externa em divisas conversíveis desde que o poder decidiu abrir a economia para atenuar as insuficiências do seu patrimônio nacional. Para compreender essa situação é preciso considerar a enorme sangria que representa a busca da paridade militar com os Estados Unidos”.

Essa tática norte-americana, todavia, pode, na verdade, acelerar ainda mais a corrida armamentista, a uma velocidade vertiginosa jamais registrada e extremamente imprudente. Ninguém sabe a exata extensão dos recursos que a União Soviética dispõe, dado que certamente é o segredo de Estado mais indevassável que eles possuem e guardado ciosamente a sete chaves.

É impossível, também, se avaliar os recursos humanos existentes naquele país e o grau de apoio que a população dá ao regime. Afinal, os russos já deram provas no passado, quando em flagrante desvantagem em relação a inimigos muito mais poderosos do que eles, de uma capacidade de recuperação fantástica.

O que pode acontecer no final das contas é a superpotência oriental exaurir as economias de seus fiéis e dóceis satélites, canalizando dinheiro, atualmente usado para melhorar o padrão de vida dos povos do Leste europeu, para a fabricação de armamentos.

Outra questão refere-se ao tempo em que a União Soviética conseguirá suportar uma brutal elevação nas despesas militares. Se a exaustão chegar, digamos, em quatro ou cinco anos, a estratégia de Reagan terá sido válida, uma autêntica “tacada de gênio”.

Se o prazo for superior, todavia, todos nós trabalharemos nossas vidas todas, gerando crescentemente riquezas apenas para a insaciável indústria armamentista norte-americana despender em mísseis cada vez mais precisos e diabolicamente certeiros e ogivas criadas sob o signo da destruição.

É, portanto, uma corrida que, embora realizada diretamente por duas sociedades, envolve a toda a humanidade, comprometida, de uma maneira ou de outra, para que este planeta seja um lugar cada vez mais instável e inseguro para se viver.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 28 de março de 1985).


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