Teste do fôlego econômico da URSS
A União Soviética foi
colocada numa posição nitidamente defensiva diante das últimas providências
tomadas pelos Estados Unidos para recuperar terreno na corrida armamentista. A
adesão, formalizada ontem, dos aliados norte-americanos aos projetos de
pesquisa da “Iniciativa de Defesa Estratégica” de Ronald Reagan, mais do que a
decisão do Capitólio para liberar US$ 1,5 bilhão destinados à fabricação de 21
novos mísseis MX com dez ogivas nucleares cada um, foi um duro golpe para os
russos, que os leva a Ter que tomar uma difícil decisão. Ou cedem às exigências
dos EUA, nas conversações de Genebra, fazendo um acordo onde a “parte do leão”
certamente não lhes caberá, ou aceitam o desafio e continuam investindo imensos
recursos, dos quais não são tão pródigos quanto desejavam, na tentativa de não
perderem a hegemonia.
A
tática norte-americana nesta questão está cada vez mais clara a qualquer
observador medianamente arguto. Reagan, ciente de que o poderio econômico
soviético é muito aquém do militar, deseja exaurir os cofres russos, numa
competição desigual, envolvendo justamente aquilo que seu país mais possui e
que o adversário é carente: riquezas.
E
como se não bastasse o fabuloso potencial financeiro dos EUA, o presidente
norte-americano obtém, para um projeto de custos proibitivos, a adesão dos 14
países mais ricos e poderosos (após eles próprios e o seu já tradicional
arquiinimigo) nessa empreitada.
Os
soviéticos não escondem de ninguém que a sua economia se encontra atualmente
num estágio muito inferior à do país líder do Ocidente. O economista Georges
Sokoloff, no estudo “As Fontes do Poder Soviético, a Economia, a População e os
Recursos”, admite claramente: “Apesar dos seus investimentos e esforços notáveis,
a União Soviética conserva uma economia subdesenvolvida. A estrutura do seu
comércio exterior com o Ocidente lembra um país em vias de desenvolvimento.
Esta impressão é confirmada pelo crescimento rápido da sua dívida externa em
divisas conversíveis desde que o poder decidiu abrir a economia para atenuar as
insuficiências do seu patrimônio nacional. Para compreender essa situação é
preciso considerar a enorme sangria que representa a busca da paridade militar
com os Estados Unidos”.
Essa
tática norte-americana, todavia, pode, na verdade, acelerar ainda mais a
corrida armamentista, a uma velocidade vertiginosa jamais registrada e
extremamente imprudente. Ninguém sabe a exata extensão dos recursos que a União
Soviética dispõe, dado que certamente é o segredo de Estado mais indevassável
que eles possuem e guardado ciosamente a sete chaves.
É
impossível, também, se avaliar os recursos humanos existentes naquele país e o
grau de apoio que a população dá ao regime. Afinal, os russos já deram provas
no passado, quando em flagrante desvantagem em relação a inimigos muito mais
poderosos do que eles, de uma capacidade de recuperação fantástica.
O
que pode acontecer no final das contas é a superpotência oriental exaurir as
economias de seus fiéis e dóceis satélites, canalizando dinheiro, atualmente
usado para melhorar o padrão de vida dos povos do Leste europeu, para a
fabricação de armamentos.
Outra
questão refere-se ao tempo em que a União Soviética conseguirá suportar uma
brutal elevação nas despesas militares. Se a exaustão chegar, digamos, em
quatro ou cinco anos, a estratégia de Reagan terá sido válida, uma autêntica
“tacada de gênio”.
Se
o prazo for superior, todavia, todos nós trabalharemos nossas vidas todas,
gerando crescentemente riquezas apenas para a insaciável indústria armamentista
norte-americana despender em mísseis cada vez mais precisos e diabolicamente
certeiros e ogivas criadas sob o signo da destruição.
É,
portanto, uma corrida que, embora realizada diretamente por duas sociedades,
envolve a toda a humanidade, comprometida, de uma maneira ou de outra, para que
este planeta seja um lugar cada vez mais instável e inseguro para se viver.
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 28 de março de
1985).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment