Tuesday, April 05, 2016

Como negociar com terroristas?



Pedro J. Bondaczuk


A vida do negociador da Igreja Anglicana para o Líbano, Terry Waite, que foi seqüestrado, em Beirute, em 20 de janeiro de 1987, quando se encontrava na capital libanesa cumprindo missão sumamente humanitária, qual seja, a de tentar libertar vários reféns estrangeiros nesse conturbado país do Oriente Médio, foi ameaça, e por duas vezes, em menos de 24 horas, entre anteontem e ontem.

Todas as informações a seu respeito têm sido das mais confusas nestes mais de 30 meses que já dura o seu drama. Houve quem o desse por morto, há mais de um ano, atingido por uma rajada de metralhadora. Um jornal do Oriente Médio assegurou que o dirigente religioso havia sido trasladado, clandestinamente, para o Irã. Mas, em termos de certeza, nada se sabe acerca do seu paradeiro ou condição. Nem se está vivo ou morto.

Aliás, o caso de Waite mostra bem o equívoco de se pretender negociar com terroristas. Quando o representante do Deão de Canterbury, Robert Runcie, foi para Beirute, seguiu na qualidade de interlocutor de uma negociação. Portanto, através de qualquer regra, até mesmo aplicável em casos de notórios bandidos, como são, aliás, os seqüestradores, ele deveria contar com uma espécie de salvo-conduto automático, que lhe garantisse a integridade física e permitisse que desempenhasse integralmente a sua missão.

Sua segurança pessoal deveria ser preservada, qualquer que fosse o resultado de suas negociações. A milícia muçulmana drusa, inclusive, assumiu o encargo de zelar por sua proteção enquanto Waite estivesse em Beirute. No entanto, misteriosamente, ele desapareceu, bem debaixo do nariz de seus protetores, sem deixar qualquer vestígio.

Desde então, ninguém fez qualquer exigência de resgate pela sua libertação. Ninguém, por outro lado, assumiu seu seqüestro. O representante anglicano simplesmente desapareceu. Vários observadores no Oriente Médio já chegaram a dizer que deve ter morrido há algum tempo, embora, vo9lta e meia, algum telefonema anônimo seja dado em Beirute ou falando na iminência da sua libertação, como ocorreu no mês passado, ou dizendo que ele será morto, como os de anteontem e ontem.

Em quem acreditar? Ou melhor, como acreditar nestes grupelhos fanáticos, se nem mesmo eles souberam respeitar a condição de negociador de Waite, coisa que até os piores gangsters de que se tem notícia não fariam? Por isso, a tentativa israelense de obter a troca de reféns judeus e ocidentais, no Líbano, pelo xeque xiita Abdul Karim Obeid, que um comando israelense seqüestrou, na sexta-feira passada, foi uma operação não somente insensata, mas sumamente desastrada.    

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 2 de agosto de 1989)


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