Três
grandes incógnitas no ar
Pedro J. Bondaczuk
A guerra no Golfo Pérsico vai começar a qualquer
momento, já que hoje se esgota o prazo dado pelo Conselho de Segurança das
Nações Unidas para que Saddam Hussein retire suas tropas do Kuwait, sem que este
tenha dado a mínima indicação de atender o ultimato.
Três grandes incógnitas permanecem no ar, além da
natural incerteza acerca dos resultados de um conflito dessa natureza – o
primeiro a ser travado nos últimos 50 anos em que as duas partes contam com sofisticados
recursos tecnológicos – embora a disparidade de forças, a favor dos Estados
Unidos, salte, evidentemente, à vista.
A primeira incerteza refere-se à reação de Israel
caso o Estado judeu seja atacado. Nos últimos dias, afirmou-se, equivocadamente,
que a ameaça de ataque de Saddam Hussein a esse país foi feita somente agora,
para unir a comunidade árabe (hoje dividida) em torno de sua causa.
Todavia, se forem consultados os arquivos de
jornais, veremos que em abril do ano passado, portanto quatro meses antes da
invasão do Kuwait, o presidente iraquiano já havia dito que arrasaria dois
terços do território israelense com suar armas químicas se o seu território
viesse a ser atingido.
O subsecretário de Estado norte-americano, Lawrence
Eagleburger, passou o final de semana em Jerusalém, tentando obter um
compromisso do primeiro-ministro, Yitzhak Shamir, de que suas Forças Armadas
não retaliariam o Iraque em caso de ser vítima de agressão. Tudo, porém, foi em
vão.
Tel Aviv exige o direito de resposta, que considera
inalienável, e, caso o exerça, fatalmente romperá a coalizão árabe contra
Saddam. Ninguém concebe a Síria, o Egito ou a própria Arábia Saudita lutando do
mesmo lado da trincheira do Estado judeu.
A segunda incógnita refere-se a que tipo de influência
o massacre soviético na Lituânia irá exercer sobre o ânimo ocidental em relação
ao Golfo Pérsico. E se Mikhail Gorbachev for sancionado, por causa dessa ação
militar, e em represália decidir mudar de posição?
Não seria a primeira vez que Moscou mudaria de lado
durante uma guerra. Afinal, na Segunda Guerra Mundial a URSS era aliada da
Alemanha nazista, antes de ser invadida. Não seria hora do Ocidente fazer vista
grossa?
Finalmente, a terceira grande interrogação refere-se
ao uso de armas nucleares no conflito. O presidente norte-americano, George
Bush, e o primeiro-ministro britânico, John Major, descartaram essa hipótese.
Mas isto seria uma garantia segura da não utilização do armamento? E se o
transcorrer das batalhas não for tão favorável às forças multinacionais quanto
estas esperam? Ainda assim a decisão seria mantida? Como fica Israel nesta
questão? O Estado judeu também estaria disposto a descartar esse expediente?
Informa-se que os israelenses teriam pelo menos cem
armas nucleares. Tudo isso é mais do que suficiente para tirar o sono do
cidadão mais desinformado e alienado, quanto mais daqueles que estarão no
comando dessa guerra.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do
Correio Popular, em 15 de janeiro de 1991)
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