Todas as honras para uma cidadã do mundo
Pedro J.
Bondaczuk
O clima de violência existente no mundo, reflexo do
fanatismo ideológico e/ou religioso, do desequilíbrio econômico e da injustiça
social, faz, muitas vezes, com que percamos a perspectiva até dos objetivos da
nossa existência.
Tomados por um irresistível
pessimismo, passamos a descrer de tudo e de todos, vendo em cada pessoa, em
cada ato e em cada promoção de caráter humanitário sempre uma segunda intenção,
e em nada nobre.
Por isso, é extremamente
reconfortante quando, em meio a manchetes falando de seqüestros, de atentados,
de assassinatos e de tantas mazelas, que tornam este mundo inseguro e mais
feio, o crítico consegue se deparar com uma notícia positiva e agradável.
Principalmente quando esta é sobre uma figura humana que nos devolve a crença
no único animal inteligente da natureza.
Referimo-nos à monja Agnes Gonsha
Bojaxhiu, mais conhecida, em todos os círculos mundiais, como Madre Teresa de
Calcutá. Anteontem, os seus méritos foram, mais uma vez (e com rara justiça)
reconhecidos pelos poderosos da Terra.
A pequenina e frágil freira,
encurvada em seus quase 75 anos de uma vida de privações e de sacrifício
pessoal, honrou a Casa Branca como jamais o fizeram antes reis, presidentes,
ministros e outras personalidades. Ali recebeu, das mãos do presidente Ronald
Reagan, a maior comenda do governo dos EUA dada a uma estrangeira: a “Medalha
da Liberdade”.
É reconfortante saber que os
líderes mundiais ainda não perderam por completo o senso de perspectiva, a
noção da escala de valores e sabem reconhecer, em pessoas que não se destacaram
por feitos guerreiros ou por atos extremados (erroneamente vistos como de
heroísmo), mas que engrandeceram a espécie humana através da bondade, os
devidos méritos.
É muito bom ver sendo homenageada
quem, esquecida da própria segurança pessoal, do próprio conforto e dessa busca
insensata por valores materiais, dedica cada segundo do seu tempo aos
deserdados, aos mais humildes entre os humildes, aos milhões de despossuídos
que povoam este pequenino Planeta.
O presidente norte-americano, ao
saudar essa extraordinária monja, foi muito feliz em três expressões usadas. A
primeira delas, quando justificou porque só agora Madre Teresa estava se
apresentando para receber a honraria de que é merecedora.
Disse: “Ela estava muito ocupada,
como sempre, salvando o mundo”. A segunda frase, colocada com muita inspiração
por Reagan, foi quando previu o destino que a comenda provavelmente terá: “Esta
é a primeira vez que concedo a Medalha da Liberdade com a intuição de que a
pessoa que a recebe a poderá derreter para ajudar os pobres”.
A terceira afirmação, e a mais
feliz de todas, foi quando o presidente definiu a nacionalidade de Madre
Teresa, nascida (de origem albanesa) numa pequena localidade da Iugoslávia,
atuando nas áreas mais miseráveis de Calcutá, na Índia, e recebida por reis,
papas, primeiros-ministros e presidentes de todo o mundo. Reagan disse que a
frágil Agnes Gonsha Bojaxhiu é “uma heroína de nossa época e, no sentido mais
verdadeiro, uma cidadã do mundo!”. E nós dizemos: “amém...”.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 22
de junho de 1985).
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