Friday, April 22, 2016

Todas as honras para uma cidadã do mundo


Pedro J. Bondaczuk


O clima de violência existente no mundo, reflexo do fanatismo ideológico e/ou religioso, do desequilíbrio econômico e da injustiça social, faz, muitas vezes, com que percamos a perspectiva até dos objetivos da nossa existência.

Tomados por um irresistível pessimismo, passamos a descrer de tudo e de todos, vendo em cada pessoa, em cada ato e em cada promoção de caráter humanitário sempre uma segunda intenção, e em nada nobre.

Por isso, é extremamente reconfortante quando, em meio a manchetes falando de seqüestros, de atentados, de assassinatos e de tantas mazelas, que tornam este mundo inseguro e mais feio, o crítico consegue se deparar com uma notícia positiva e agradável. Principalmente quando esta é sobre uma figura humana que nos devolve a crença no único animal inteligente da natureza.

Referimo-nos à monja Agnes Gonsha Bojaxhiu, mais conhecida, em todos os círculos mundiais, como Madre Teresa de Calcutá. Anteontem, os seus méritos foram, mais uma vez (e com rara justiça) reconhecidos pelos poderosos da Terra.

A pequenina e frágil freira, encurvada em seus quase 75 anos de uma vida de privações e de sacrifício pessoal, honrou a Casa Branca como jamais o fizeram antes reis, presidentes, ministros e outras personalidades. Ali recebeu, das mãos do presidente Ronald Reagan, a maior comenda do governo dos EUA dada a uma estrangeira: a “Medalha da Liberdade”.

É reconfortante saber que os líderes mundiais ainda não perderam por completo o senso de perspectiva, a noção da escala de valores e sabem reconhecer, em pessoas que não se destacaram por feitos guerreiros ou por atos extremados (erroneamente vistos como de heroísmo), mas que engrandeceram a espécie humana através da bondade, os devidos méritos.

É muito bom ver sendo homenageada quem, esquecida da própria segurança pessoal, do próprio conforto e dessa busca insensata por valores materiais, dedica cada segundo do seu tempo aos deserdados, aos mais humildes entre os humildes, aos milhões de despossuídos que povoam este pequenino Planeta.

O presidente norte-americano, ao saudar essa extraordinária monja, foi muito feliz em três expressões usadas. A primeira delas, quando justificou porque só agora Madre Teresa estava se apresentando para receber a honraria de que é merecedora.

Disse: “Ela estava muito ocupada, como sempre, salvando o mundo”. A segunda frase, colocada com muita inspiração por Reagan, foi quando previu o destino que a comenda provavelmente terá: “Esta é a primeira vez que concedo a Medalha da Liberdade com a intuição de que a pessoa que a recebe a poderá derreter para ajudar os pobres”.

A terceira afirmação, e a mais feliz de todas, foi quando o presidente definiu a nacionalidade de Madre Teresa, nascida (de origem albanesa) numa pequena localidade da Iugoslávia, atuando nas áreas mais miseráveis de Calcutá, na Índia, e recebida por reis, papas, primeiros-ministros e presidentes de todo o mundo. Reagan disse que a frágil Agnes Gonsha Bojaxhiu é “uma heroína de nossa época e, no sentido mais verdadeiro, uma cidadã do mundo!”. E nós dizemos: “amém...”.

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 22 de junho de 1985).


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