Reprovação popular
Pedro J. Bondaczuk
O
Congresso, a despeito da aprovação de algumas das tão necessárias e aguardadas
reformas constitucionais (administrativa e da previdência), sofreu, no final
desta legislatura, um profundo desgaste aos olhos da população. Recente
pesquisa, levada a efeito pelo "Datafolha", revela que 42% dos
consultados consideram a atuação do Legislativo como regular. Para 33%, ela
oscila entre "ruim" e "péssima". A taxa de reprovação,
portanto, é de 75%!
Em
menos de quatro anos, o desgaste da imagem dos políticos --- que nunca foi lá
essas coisas --- se acentuou de forma marcante. Em 1994, quando da edição do
Plano Real, apenas 12% dos pesquisados naquela oportunidade reprovaram os
congressistas. Não se pode negar que a produção do atual Congresso, se
comparada com os anteriores, mormente o último antes deste, foi considerável.
Projetos
de suma importância para o País, que se arrastavam por décadas nas várias
comissões da Câmara de Deputados e do Senado, foram aprovados e já estão em
vigor. Alguns deles, é verdade, são extremamente polêmicos, caso específico da
nova legislação de doação de órgãos para transplante, que torna todo brasileiro
que não manifestar em seus documentos intenção de não doar, em doadores
presumidos.
Outras
medidas aprovadas são de grande relevância, como é o caso do Código de Trânsito
Brasileiro, que em menos de 90 dias de vigência, reduziu bastante a mortalidade
nas avenidas de nossas cidades e nas estradas do País. Esse Congresso, apesar
de vícios iguais aos anteriores --- por exemplo, só três dias de trabalho por
semana, entre outros --- foi bastante atuante. Então, por que tamanho repúdio?
A
forma como foi aprovado o projeto de reeleição é uma dessas causas. Pegou muito
mal. O fato da CPI dos precatórios terminar "em pizza" foi outra. Os
vários escândalos, de vendas de votos e outras irregularidades menores, também
pesaram na balança.
Por
último, a relutância em cassar o mandato do deputado Sérgio Naya, réu confesso
de uma série de crimes que o desqualificam para a função, para que ele possa
pagar pelo que fez, foi a gota d'água que faltava para consolidar o descrédito.
Tão
logo a "Rede Globo" divulgou, no programa "Fantástico", a
fita de vídeo em que o dono da Sersan diz, para quem quiser ouvir, que praticou
vários delitos passíveis até de prisão (inclusive falsificação de assinaturas e
contrabando), a mesa da Câmara se manifestou dizendo que o parlamentar seria
cassado num prazo máximo de vinte dias.
O
tempo foi passando, o desabamento do Palace 2 foi caindo no esquecimento, e o
corporativismo do Congresso, levado a extremos, foi ganhando força. Esperto
como é, o acusado tem procurando ganhar tempo na apresentação de sua defesa.
Encaminha laudos médicos aos seus pares, dando a entender que está doente e,
portanto, impossibilitado de depor. Conta, evidentemente, com a falta de
memória nacional para escapar impune. Adota manobra protelatória, perceptível
até a uma criança, despida de malícia.
Os
congressistas, no entanto, precisam levar muito a sério o desencanto popular,
expressado na pesquisa "Datafolha". A população quer, dos seus
representantes, não somente operosidade (pois isto é o mínimo que eles devem
fazer), mas lisura nas atitudes, vergonha na cara, senso ético e a colocação do
bem nacional acima de qualquer interesse pessoal ou de grupo. Tudo leva a crer
que mais da metade dos atuais parlamentares vão sofrer "cassação"
liminar nas urnas, em 3 de outubro e serão afastados da vida pública. Um novo
Brasil, como se apregoa e se tenta construir, requer um Legislativo renovado,
moralizado e sobretudo atuante. A este faltam algumas dessas virtudes.
(Artigo
publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 18 de março de 1998)
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