Ética na economia
Pedro J. Bondaczuk
A
nova ministra do Planejamento, Yeda Rorato Crusius, propõe que a exemplo do que
aconteceu na política --- com o movimento exigindo uma postura ética firme por
parte dos representantes do povo --- o mesmo seja repetido em relação à
economia.
Tal
ação, convenhamos, deve iniciar-se pelo governo. É indispensável que ele
recupere um mínimo de credibilidade --- e no caso, a falta dela não se refere
especificamente à gestão de Itamar Franco, recém iniciada --- para que as
providências que encetar não caiam, como agora, no ridículo. A verdade é que a
sociedade não acredita mais em seus governantes. Em nenhum deles.
O
recente episódio acerca de um hipotético "Plano Carnaval" mostrou o
grau de desconfiança, especialmente dos agentes econômicos privados, em relação
às autoridades constituídas. Bastou Itamar dar uma entrevista um tanto nebulosa
--- diríamos desastrada --- acerca da reunião ministerial que havia programado
para 16 de fevereiro, para que logo começassem a circular especulações sobre
choques, congelamentos, controle de preços, etc.
Tudo
isto, a despeito das reiteradas declarações do ministro Paulo Haddad,
descartando tais expedientes, e do próprio presidente, que prometeu agir às
claras e com respaldo do Congresso. Mas quem acredita? Nos governos anteriores,
foram tantas as promessas rompidas, que o inocente acaba por pagar pelo
pecador.
O
movimento pela ética na política redundou no inédito impeachment do
ex-presidente Fernando Collor. Em termos de economia, o que se espera é uma
postura nova não apenas da parte do governo, mas de toda a sociedade. Como o
fim das pequenas fraudes, por exemplo, iguais às mostradas no programa
"Fantástico" da Rede Globo, no domingo passado, consideradas
"inocentes" por alguns, mas que além de serem atos criminosos ---
quem se dispõe a roubar uma agulha pode assaltar um banco se tiver oportunidade
--- quando em quantidades elevadas, redundam em enormes prejuízos. Ou como o
recolhimento correto dos tributos, com a conseqüente fiscalização rigorosa da
sua destinação. E a relação do que é necessário fazer poderia ser estendida por
linhas e mais linhas.
Diz-se
que o exemplo deve sempre vir de cima. E no caso brasileiro, é indispensável
que isto ocorra. O eventual movimento pelo restabelecimento (ou
estabelecimento, caso jamais haja existido) da ética na economia envolve,
igualmente, os legisladores, que teriam de parar de legislar em causa própria,
deixando de estipular para si próprios altíssimos salários, quando a
remuneração da população é das mais minguadas.
O
que não mais se admite é continuar com essa situação atual, quando um boato,
que nunca se sabe de onde partiu, adquire maior credibilidade do que as
informações oficiais. E, quando o rumor é desmentido, enormes somas de dinheiro
já se transferiram do bolso dos desavisados, para o dos espertalhões, que
continuam querendo "levar vantagem em tudo". Essa pseudo-esperteza
faz com que, há tempos, na realidade, o Brasil não leve vantagem em nada. Ou
leva?
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de janeiro de 1993).
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