Saturday, April 09, 2016

A estrela da campanha



Pedro J. Bondaczuk


A questão do erro na declaração do Imposto de Renda, cometido pela deputada norte-americana Geraldine Ferraro e seu marido John Záccaro, deverá render, ainda, alguns aborrecimentos à candidatura democrata à vice-presidência dos EUA, mas poderá ser uma arma de dois gumes para seus adversários republicanos. É muito conhecida a capacidade de perdoar do povo desse país, àqueles que confessam, publicamente, suas falhas. E o “affaire” tenderá a espicaçar Gerry, como ela é carinhosamente conhecida, ao revide.

Uma das principais características dessas mulher, que firmou, junto ao eleitorado, a imagem de uma bem-sucedida “self-made woman”, é, sem dúvida, a combatividade. É a rapidez de raciocínio. É a grande capacidade de argumentação que desenvolveu em sua atividade de advogada, inicialmente, e depois, de brilhante e respeitada parlamentar.

Ninguém chega à posição que Geraldine chegou, ou seja, a de primeira mulher. Na história norte-americana, a postular uma vice-presidência, por mero caso. Méritos, não tenham dúvidas, ela possui, e de sobra. Isso nem os mais ferrenhos adversários conseguem negar.

O ex-presidente dos EUA, Gerald Ford, em seu discurso de anteontem, na convenção republicana, que se realiza em Dallas, surpreendeu seus correligionários ao tecer comentários elogiosos a essa respeitável opositora. Notou-se, também, uma extrema cautela de outros convencionais, quando se referiram ao problema de Ferraro com o fisco.

Os republicanos conhecem o seu valor, sabem até que ponto as mulheres do país projetam sobre ela seus anseios e esperanças e estão cientes de que Gerry pode ser o fator de desequilíbrio para a tentativa de Ronald Reagan de permanecer mais quatro anos na Casa Branca.

Muita gente anda impressionada com as pesquisas de opinião, unânimes em considerar o atual presidente favorito. Na verdade, a campanha está recém-começando e muita água deve rolar por baixo da ponte da opinião pública até novembro.

Reagan tem a seu favor o trunfo do crescimento inédito, pelo menos nos últimos trinta anos, da economia norte-americana, que deve emplacar, neste ano, a extraordinária marca de 7,5% de crescimento, com a irrisória inflação de 4,8% anual. Mondale, por seu turno, vai explorar o preço disso tudo, ou seja, um déficit triplicado, saltando de US$ 69 bilhões em 1983 para quase US$ 180 bilhões ao final deste exercício, tornando, os EUA, de credores em devedores externos.

A campanha, praticamente, começa em setembro e, mesmo com todo este barulho em torno do erro fiscal de Geraldine Ferraro, não tenham dúvidas de que ela, mais do que o próprio Ronald Reagan, será a grande estrela destas eleições presidenciais.      

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 23 de agosto de 1984)


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