A
estrela da campanha
Pedro J. Bondaczuk
A questão do erro na declaração do Imposto de Renda,
cometido pela deputada norte-americana Geraldine Ferraro e seu marido John
Záccaro, deverá render, ainda, alguns aborrecimentos à candidatura democrata à
vice-presidência dos EUA, mas poderá ser uma arma de dois gumes para seus
adversários republicanos. É muito conhecida a capacidade de perdoar do povo
desse país, àqueles que confessam, publicamente, suas falhas. E o “affaire”
tenderá a espicaçar Gerry, como ela é carinhosamente conhecida, ao revide.
Uma das principais características dessas mulher,
que firmou, junto ao eleitorado, a imagem de uma bem-sucedida “self-made
woman”, é, sem dúvida, a combatividade. É a rapidez de raciocínio. É a grande
capacidade de argumentação que desenvolveu em sua atividade de advogada,
inicialmente, e depois, de brilhante e respeitada parlamentar.
Ninguém chega à posição que Geraldine chegou, ou
seja, a de primeira mulher. Na história norte-americana, a postular uma
vice-presidência, por mero caso. Méritos, não tenham dúvidas, ela possui, e de
sobra. Isso nem os mais ferrenhos adversários conseguem negar.
O ex-presidente dos EUA, Gerald Ford, em seu
discurso de anteontem, na convenção republicana, que se realiza em Dallas,
surpreendeu seus correligionários ao tecer comentários elogiosos a essa
respeitável opositora. Notou-se, também, uma extrema cautela de outros
convencionais, quando se referiram ao problema de Ferraro com o fisco.
Os republicanos conhecem o seu valor, sabem até que
ponto as mulheres do país projetam sobre ela seus anseios e esperanças e estão
cientes de que Gerry pode ser o fator de desequilíbrio para a tentativa de
Ronald Reagan de permanecer mais quatro anos na Casa Branca.
Muita gente anda impressionada com as pesquisas de
opinião, unânimes em considerar o atual presidente favorito. Na verdade, a
campanha está recém-começando e muita água deve rolar por baixo da ponte da
opinião pública até novembro.
Reagan tem a seu favor o trunfo do crescimento
inédito, pelo menos nos últimos trinta anos, da economia norte-americana, que
deve emplacar, neste ano, a extraordinária marca de 7,5% de crescimento, com a
irrisória inflação de 4,8% anual. Mondale, por seu turno, vai explorar o preço
disso tudo, ou seja, um déficit triplicado, saltando de US$ 69 bilhões em 1983
para quase US$ 180 bilhões ao final deste exercício, tornando, os EUA, de
credores em devedores externos.
A campanha, praticamente, começa em setembro e,
mesmo com todo este barulho em torno do erro fiscal de Geraldine Ferraro, não
tenham dúvidas de que ela, mais do que o próprio Ronald Reagan, será a grande
estrela destas eleições presidenciais.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do
Correio Popular, em 23 de agosto de 1984)
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