Um gênio e seu imortal
personagem
Pedro
J. Bondaczuk
O personagem Dom
Quixote de La Mancha é uma das maiores criações literárias de todos os tempos.
Tanto que, passados mais de 400 anos de sua criação, permanece mais vivo do que
nunca, inclusive na mente de pessoas que nunca leram uma única linha do livro em
que é uma espécie de anti-heroi (na verdade, não leram nada, de nenhum outro
livro), convenhamos, a imensa maioria mundo afora. Tanto que suas atitudes
originaram até um adjetivo, constante em todos os dicionários (pelo menos nos
da língua portuguesa), para classificar “pessoas que têm intenções e ideais
nobres, mas é sonhadora e afastada da realidade”: quixotesco. Seu inseparável
parceiro, o bonachão, gorducho, ingênuo e atrapalhado seguidor, uma espécie de
caricato e ridículo escudeiro, embora muitíssimo menos popular do que Dom
Quixote, no caso, Sancho Pança, também sobrevive, teimosamente, no imaginário
popular.
Já tive a oportunidade
de escrever sobre estes personagens, porém, em texto de pequena extensão e não
em meu nome, mas no papel de “ghost writer”. Foi em 2005, quando do quarto
centenário do lançamento da primeira parte do livro (publicado em duas partes,
com dez anos de distância entre uma e outra) em que a dupla foi apresentada ao
público. Na ocasião eu trabalhava em uma agência de publicidade de minha
cidade, Campinas (A Arte Brasil), que detinha a conta de dezenas de colégios
salesianos. O texto, bastante curto, foi para uma das tantas revistas que
editávamos para esses nossos clientes e a “regra” é que fosse curto, objetivo e
direto. Não sei explicar a razão, mas o fato é que nunca mais escrevi a esse
respeito e muito menos em meu próprio nome. Por que, se o personagem é tão
importante? Sei lá! Por esquecimento, talvez. Ou por ausência de “gancho”. Ou
por eventual outro motivo qualquer que nem sei identificar e explicar.
Bem, devo frisar que
fiz várias referências esparsas à dupla, e muitas vezes, em crônicas e em
ensaios, embora não tenha tratado especificamente dela. Se não escrevi nada
sobre os dois personagens em questão, abordei, muito menos ainda, a figura do
seu genial criador, o espanhol Miguel de Cervantes Saavedra. Neste caso,
todavia, estou em ilustres companhias, pois a imensa maioria dos críticos
literários e mestres em Literatura, mundo afora, mesmo escrevendo fartamente
sobre o célebre livro e seu principal protagonista, pouco citaram quem o
escreveu e quem criou essa sublimemente ridícula figura, que encanta exatamente
pelo papel caricato que desempenha. Neste ano, todavia, proponho-me a corrigir
essa incompreensível omissão da minha parte. Pretendo escrever, e muito, sobre
Miguel de Cervantes, mesmo que não seja em comentários sucessivos e diários,
mas provavelmente alternados com outros assuntos literários de momento.
Não só eu escreverei, e
muito, sobre esse escritor genial, como gente muito mais habilitada e com mais
currículo, com maior renome que eu, certamente, também o fará. Por que farei
(na verdade, faremos) isso especificamente neste ano? Porque em 23 de abril
deste 2016 vão se completar 400 anos da sua morte. Ou seja, de quando o mundo
ficou privado, de vez, do seu mágico talento. Esse foi um dos tais sujeitos
que, embora geniais, tiveram vidas tão agitadas, que suas biografias, se não
superam suas obras, pelo menos rivalizam com elas. Cervantes, entre outras
coisas, foi refém, e por cinco anos consecutivos (entre 1575 e 1580), de
piratas do Mediterrâneo, na companhia do irmão Rodrigo, permanecendo cativo na
Argélia. Seis anos antes, em 1569, teve que fugir de Madri, para Roma, por
haver ferido um desafeto em um duelo á espada. Foi soldado e participou da
Batalha de Lepanto, contra os turcos, em 1571, oportunidade em que foi ferido e
teve a mão esquerda inutilizada para sempre. E viveu ainda tantas e tantas e
tantas outras peripécias.
E o que tudo isso tem a
ver com sua atividade literária? Nada!!! Como escritor, porém, foi magnífico
pioneiro. E que pioneiro! Para vocês terem uma idéia do quanto estava à frente
do seu tempo, basta dizer que Cervantes foi o precursor do Modernismo, e mais
de quatro séculos antes que esse movimento fosse lançado na Europa. Essa
constatação, com as devidas provas, foi feita por um dos maiores críticos
literários do mundo, o norte-americano Harold Bloom, no site do jornal inglês
“The Guardian Books”, em matéria intitulada “Don Quixote, the first modern
novel”. Além de tudo, foi inovador da língua que utilizou, tanto que, ainda no
seu tempo, o castelhano ficou conhecido como “o idioma de Cervantes”. Estas
escassas informações que lhes trago, no entanto, são meras “pílulas” do que
ainda pretendo escrever a seu respeito, ao longo deste 2016, ou em textos
sucessivos (talvez) ou (provavelmente) alternados com outros assuntos
literários de momento. Por enquanto...
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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