Ética na economia
Pedro J. Bondaczuk
Os brasileiros que saíram às ruas
ao longo de 1984, durante a memorável campanha das Diretas-já; que enfeitaram
as praças e avenidas das grandes cidades com as cores dos “caras pintadas”, nos
movimentos pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em agosto e
setembro do ano passado, deveriam repetir tal mobilização agora, para exigir
soluções consistentes para deter a inflação.
Recentemente, a ministra do
Planejamento, Yeda Crusius, propôs que se faça algo, em âmbito de cidadania, em
favor da ética na economia. Na semana passada, o ministro do Trabalho, Walter Barelli, sugeriu
que os trabalhadores encampassem uma guerra nacional contra a carestia e a
especulação.
O País precisa acordar para o
problema da inflação. Ela é muito mais perniciosa do que se pode imaginar. Tem
um poder corruptor imenso. O professor Eduardo Gianetti da Fonseca, da
Universidade de São Paulo, publicou um excelente ensaio, intitulado “Ética e
Inflação”, no número 1 do “Braudel Papers”, documento do Instituto Fernand
Braudel de Economia Mundial, associado à Fundação Armando Álvares Penteado.
O mestre abre o supracitado
trabalho com a seguinte constatação: “Em qualquer lugar do mundo democracia e
mercado são plantas frágeis. Sem moeda estável, fica comprometida a
estabilidade da democracia e ficam inteiramente desfiguradas as relações de
mercado. Alteram-se, profundamente, os incentivos e os padrões de conduta dos
indivíduos na vida prática”.
E Gianneti prossegue: “Tanto o
setor público quanto o privado são afetados por essa realidade. A convivência
com a inflação alta é uma escola de imediatismo,
oportunismo e corrupção (os grifos são do autor). A permanência da inflação
– a ausência de uma unidade de valor estável na sociedade – é hoje, no Brasil,
o pior inimigo da consolidação da democracia e da conquista do mercado”.
Trata-se de uma advertência
fundamentada, de eminente estudioso de economia, que convém ser levada a sério.
O País convive há uma década com índices inflacionários absurdos, que tornaram
nossa moeda mera abstração. Isso depois de três reformas monetárias, uma
infinidade de choques e outras aventuras do gênero.
Seria o problema carente de
solução? Não estaríamos, nós, brasileiros, acomodados, confiantes no nosso
tradicional “jeitinho”, nos julgando
imunes aos efeitos desastrosos dessa doença econômica que vem se tornando
crônica?
Em carta que nos foi encaminhada,
junto com o citado documento, o diretor-executivo do Instituto Fernand Braudel
de Economia Mundial, Norman Gall, assinala: “A Rússia com 2.000% e o Brasil com
mais de 1.100% de aumento nos preços ao consumidor em 1992, lideram hoje o
campeonato mundial da inflação. Nos dois países ocorreram recentemente mudanças
de governo, no entanto, não foi superado o bloqueio institucional que cria mais
desordem nas ruas, nos mercados e nas finanças públicas. Cada vez mais
questionamos nossa capacidade de encarar as dificuldades que surgem como
reflexo das distorções na economia e na sociedade. Precisamos de novas
iniciativas e novas idéias para vencer esse bloqueio”.
O melhor plano de combate à
miséria é, sem dúvida, a vitória sobre a inflação. Está aí um magnífico desafio
para os rebeldes sem causa. Que tal batalhar nas ruas pela ética na economia?
(Artigo publicado na página 2,
Opinião, do Correio Popular, em 11 de fevereiro de 1993).
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