Monday, April 04, 2016

O potencial e o real


Pedro J. Bondaczuk


O Brasil é mesmo um país de contradições. Dispõe de um potencial infinito, mas perde-se, invariavelmente, em conflitos evitáveis, em políticas desastradas e que privilegiam minorias, em um individualismo desastroso – aspecto que já o imperador Dom Pedro II criticava, no século passado, e que apenas se acentuou na presente geração – e em tantos outros comportamentos distorcidos, por isso nocivos, que inibem o crescimento econômico e, sobretudo, o progresso social.

Dizer que se trata de um Estado pobre é, quando muito, força de expressão. Afinal, trata-se da oitava maior economia do mundo. E dispõe de meios materiais e humanos para galgar novas e sucessivas posições. No entanto, ocupa, nos parâmetros sociais, um contundente 63º lugar!

Ou seja, é um pais rico, com um povo pobre. Paupérrimo, na maioria dos casos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou, esta semana, que o Produto Interno Bruto (PIB) do País cresceu 5,7% em 1994. Com esta alta, acumula, em apenas dois anos, expressivo aumento de 10%. Nem por isso houve, porém, uma retração no assustador quadro de miséria com que nos deparamos no dia-a-dia. O bolo da riqueza nacional cresceu, no entanto, à maioria dos convivas não restaram sequer as migalhas.

O governo acaba de baixar novo pacote – o segundo em dois meses – para inibir o consumo. Argumenta que o poder aquisitivo do trabalhador aumentou com o controle da inflação e que esse ganho desembocou no comércio, numa fúria consumista.

Resta saber de qual parte da “Belíndia” se está falando. Certamente é o do lado Bélgica, ou seja, da minoria privilegiada que pode pagar ágio na aquisição de automóveis e tem como comprar tudo o que vê pela frente, mesmo que para isso fique endividada até a raiz do cabelo, tendo que fazer jogo de cheques pré-datados.

Ocorre que a maioria dos brasileiros, a parte Índia do País, tem que se contentar com miseráveis R$ 70,00 mensais, insuficientes para adquiri até mesmo uma espartana cesta básica. Urge, pois, um aumento intensivo, intensivíssimo, da produção, não só para equilibrar oferta e demanda, mas para gerar empregos, milhões deles, de preferência – expandir a massa salarial e ampliar o mercado às fronteiras do seu potencial.

Os brasileiros são quase 160 milhões. Quantos deles consomem? Provavelmente, não mais do que 16 milhões. A miséria no País é grande demais para ser varrida debaixo do tapete. Que se promova, pois, junto ao crescimento, o resgate dessa absurda dívida social, que se eterniza.   


(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de fevereiro de 1995).

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