Coração acima da razão
Pedro
J. Bondaczuk
O esquecimento é
tremenda injustiça que as novas gerações cometem em relação aos idealistas, aos
competentes, aos realizadores, aos que dedicam uma vida inteira a alguma causa
que beneficie a humanidade, aos abnegados, aos altruístas enfim. Tenho batido
insistentemente nessa tecla e nem sempre sou bem compreendido. Não faz mal! Meu
leitor assíduo é testemunha do meu empenho para manter viva a memória
principalmente dos bons escritores que, tão logo morrem, caem em completo
esquecimento, como se nem mesmo tivessem existido. E todos perdem com isso.
Aliás, quem perde menos (ou rigorosamente nada) é exatamente o esquecido.
Afinal, morto, não lhe faz a menor diferença se for lembrado ou não. Porém as
pessoas que estão formando opinião sobre a vida, o mundo e tudo o que nos
cerca, perdem preciosas referências, indispensáveis oportunidade de enriquecer
suas idéias.
Faço o que faço também
pensando na minha própria situação. Ajo assim na esperança (que espero não seja
vã) que alguém, algum dia, em algum lugar, em futuro distante, tenha a mesma
preocupação em relação à minha obra, resgatando-a e evitando que se perca no
vazio, como se nunca houvesse sido produzida e como se eu jamais tenha
existido. E, creiam-me, não se trata de vaidade. É questão sumamente prática,
além de representar justiça para quem não se omite, mas age sempre, e sempre e
sempre enquanto vivo. Se for para ser esquecido, não faz o menor sentido a
dedicação, a responsabilidade, o empenho, o sacrifício com a privação de tanta
coisa boa que a vida oferece para a produção de alguma obra, literária ou de
qualquer natureza.
Por isso, sempre que
posso, e utilizando, vez ou outra, como “gancho”, o centenário de nascimento ou
de morte de determinado escritor (ou de qualquer grande realizador), trago à
baila para as novas gerações, quem foi e, sobretudo, o que fez. Foi o que fiz,
por exemplo, nos dias anteriores em relação ao escritor português Vergílio
Ferreira, sobre o qual teci alguns comentários e que mereceria muito mais, pela
excelência da sua produção. A idéia inicial era a de escrever longo e detalhado
ensaio a propósito. Todavia, outros assuntos se impõem e se tornam mais atuais.
E não posso frustrar as expectativas dos leitores. Não abandonei, porém, a intenção
original, embora me proponha a cumpri-la apenas em ocasião mais oportuna.
Tomara que ela surja.
Pesquisando em
enciclopédias e no Google para elaborar uma pauta a ser seguida neste ano,
encontrei poucos centenários de nascimento e de morte de escritores que
ocorrerão em 2016. Provavelmente, deve haver muitos, mas de autores tão
“esquecidos”, que nenhuma fonte sequer os menciona. Uma lástima! E,
principalmente, enorme injustiça, além de irreparável perda para as novas
gerações. Localizei menções de três centenários de nascimento. Um deles, o de
Vergílio Ferreira, já abordei, embora, reitero, não da forma que pretendia e
que ele merece. Os outros dois que detectei vão ocorrer, apenas, no mês final
do ano: o do poeta matogrossense Manoel de Barros, falecido em novembro de 2014
e que completaria cem anos de idade em 19 de dezembro e o do folclorista, jornalista e escritor
Luís Cristóvão dos Santos, falecido em 1997 e que aniversaria no Natal. Se tudo
transcorrer como planejo, tratarei de ambos nessa ocasião. Por hoje, fica,
apenas, o registro.
Quanto aos centenários
de morte, localizei quatro. O primeiro é o do político, escritor, jornalista e
médico gaúcho, Ramiro Barcelos. Ele nasceu em 23 de agosto de 1851 e morreu em
28 de janeiro de 1916, aos 65 anos de idade. Tratarei da sua vida e sua obra,
portanto, ainda no final do corrente mês. Em fevereiro, vão se completar outros
dois centenários de morte: no dia 2, o do escritor, educador e jornalista
paraense José Veríssimo (nascido em 8 de abril de 1857) e, no dia 19, o do
advogado, romancista e contista Afonso Arinos de Melo Franco (que nasceu em 1º
de maio de 1868). Finalmente, a pauta do ano será completada em 6 de outubro,
com o centenário da morte do engenheiro, jornalista, professor, contista e teatrólogo
Manoel Ferreira Garcia Redondo, nascido em 7 de janeiro de 1854.
O consagrado escritor
colombiano Gabriel Garcia Marquez (querido Gabo!!!), ganhador do Prêmio Nobel
de Literatura de 1982, tinha opinião bastante pitoresca sobre essa questão de
esquecimento (com, a qual concordo plenamente). O autor de “Cem anos de
solidão” escreveu, certa feita: “Lembre-se: é fácil esquecer para quem tem
memória, difícil é esquecer para quem tem coração”. Ou seja, para quem não se
limita a raciocinar, mas se emociona com os que dedicam a vida para fazer algo
que mereça gratidão e eterna lembrança (embora essa “eternidade” seja, óbvio,
absoluta impossibilidade para nós, efêmeros humanos). Pois é assim que pauto
minha vida. Embora sem abrir mão da razão, priorizo o coração em meu
comportamento. Daí empenhar-me para nunca esquecer (e batalhar para que outros
jamais esqueçam) aqueles que merecem ser lembrados, mas ás vezes não são.
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