Friday, February 28, 2014

A ambição suprema de todo ser humano é a eternidade, mas numa condição diferente, ideal, em que não haja dores e nem doenças e num mundo perfeito, de plena harmonia e paz. Se existe ou não essa possibilidade, numa outra condição, é questão de fé. Quem acredita, continuará crendo até o fim, e nada e ninguém abalarão sua crença. Quem não crê, é inútil buscar convencê-lo, já que o âmago das pessoas é interdito e indevassável. Mesmo na condição material, porém, o homem é eterno. Seu corpo morre, é verdade, mas não desaparece: se transforma em outros estados da matéria e permanece, eternamente, em algum ponto do universo, posto que transformado. O poeta Eugênio Giovanardi trata disso nestes versos do poema “Eternidade”:

“Tudo em você é eterno
eis o prêmio de ter nascido.
A vida é tudo e nada.
A vida é só a vida.
E o que é a vida
senão uma corrida insana
ao lado do desejo
da esperança
e do amor intangível?”


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Dúvida justificada

  
Pedro J. Bondaczuk


O ex-tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello, Paulo César Farias, terminou, na madrugada do último sábado, sua vida da mesma maneira com que desenvolveu toda a sua trajetória pública: de forma polêmica. Tratou-se da culminância de uma tragédia grega ou, quem sabe, de um caso de suspense bem ao estilo de Alfred Hitchcock. Seu assassinato, na casa de praia que tinha em Maceió, é tema de quase todas as rodas de amigos. E não exatamente por ter acontecido – o que era até previsível pelo tanto que o controvertido empresário conhecia dos deslizes e negociatas que caracterizaram os que orbitavam o poder no início dos anos 90 –  mas pelas suas circunstâncias. Pelo mistério que o cerca.

A pergunta que todos fazem (menos a Polícia Civil de Alagoas) é se a morte se tratou de um crime passional, cometido por sua namorada, Suzana Marcolino da Silva, ou se foi o que na gíria do submundo se denomina de "queima de arquivo". Há inúmeras perguntas sem resposta a indicar que as coisas podem não ser tão simples quanto as autoridades alagoanas tentam sugerir.

Várias enquetes feitas nos últimos dias mostram que a população duvida da tese oficial, de que a namorada de PC tenha atirado nele enquanto este dormia e posteriormente cometido suicídio. Muitas autoridades têm a mesma dúvida, embora expressem esse ponto-de-vista com compreensível cautela, dada a delicadeza do assunto. A família da mulher também contesta a versão oficial, argumentando que Suzana não gostava de armas, não tinha uma e sequer sabia atirar. Os irmãos do empresário morto, todavia, em entrevistas dadas nos últimos dias, disseram estar convencidos de que se tratou, mesmo, de crime passional.

Gente que queria Paulo César Farias fora do caminho não faltava. Pelo contrário. E eram pessoas e grupos poderosíssimos, do País e talvez do Exterior. Embora tenha arcado sozinho com a culpa do maior escândalo de corrupção do Brasil, dos que vieram à tona – devem existir dezenas encobertos – era um homem que sabia demais. Mesmo mantendo a boca fechada no curso dos vários processos a que estava sendo submetido, a qualquer momento poderia começar a falar. O que diria se resolvesse virar a mesa? Ninguém sabe e jamais saberá. É um segredo que PC Farias levou para o túmulo.

Mas é inegável que o empresário alagoano se constituía em uma testemunha extremamente perigosa para os que têm "dívidas no cartório", para aqueles que estão atolados até o pescoço em negociatas de toda a sorte, em subornos, em contas fantasmas em bancos, em lavagem de dinheiro, e em outras ações ilícitas. Se a sua morte foi, de fato, mero crime passional, o caso já está solucionado. Não há mais nada a fazer. Se não foi, será esta a versão que irá prevalecer. O que de fato aconteceu na casa de praia de Maceió, na madrugada de 22 para 23 de junho, provavelmente ninguém jamais virá a saber com certeza. Foi o último de uma infinidade de segredos que PC Farias levou para o túmulo.


(Artigo publicado na página 2, Opinião,  do Correio Popular, em 25 de junho de 1996)


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Visão crítica aliada à perícia descritiva

Pedro J. Bondaczuk

O conto com que Luiz Henrique Dias Tavares participa da antologia “Histórias da Bahia” (Edições GDR, Rio de Janeiro, 1963) que tomei como referência para esta série de estudos sobre 23 dos principais ficcionistas baianos, tem o título de “O velho”. Foi extraído do seu livro “A noite do homem”. Sobre essa obra, aliás, há uma peculiaridade que deve ser destacada. Ela foi publicada por duas editoras diferentes, em épocas e regiões diversas, e em ambas foi sucesso de vendas. Pudera! O livro é muito bom! A primeira publicação ocorreu em 1960, na Bahia, integrando a coleção “Tule”. A segunda deu-se anos depois, quando Luiz Henrique já era conhecido além fronteiras do seu Estado, e ocorreu em São Paulo. Ambas, reitero, foram bem sucedidas, sucesso esse comprovado pelas sucessivas edições que tiveram por parte das duas editoras. O que é bom – salvo exceções – vende logo, e muito.

Antes de reproduzir trecho do seu conto “O velho” – aquele com que inicia a produção ficcional – peço licença para comentar, brevemente, um trecho da entrevista que Luiz Henrique Dias Tavares deu, em 2005, a determinada revista, especializada em História. Nela, o mestre aborda, entre outros assuntos, a situação social brasileira e no que esta tende a redundar, para o País, a longo prazo, no futuro. Acima de tudo, mostra-se cético em relação às ações dos vários governos, no sentido de promover a inclusão de milhões e milhões de brasileiros, excluídos das benesses do desenvolvimento econômico. Para ele, a escravidão não acabou. Persiste no País, mais de cem anos após a promulgação da Lei Áurea.

É verdade que isso ocorre, no seu entender, de forma dissimulada, embora em alguns grotões do Brasil ela seja até mesmo ostensiva e tão perversa como era antes de 1888. Luiz Henrique atribuiu grande parte disso ao fato dos brasileiros desconhecerem sua real história, notadamente a regional. E desconhecem mesmo. Ou melhor, “desconhecemos” (pois também sou ignorante neste mister). Esse desconhecimento possibilita que espertalhões se aproveitem da vulnerabilidade social dos mais humildes e desprotegidos e explorem-nos, com a mesma sem cerimônia, como faziam os antepassados da chamada elite nos tempos anteriores ao propalado fim da escravidão no Brasil, em 13 de maio de 1888. Para Luiz Henrique, todavia, essaa servidão ainda não acabou. Está, apenas, disfarçada. E essa exclusão social persistente é uma das causas do atraso crônico do País quando analisado no conjunto e não apenas enfocado por algumas regiões mais desenvolvidas, como o Sudeste e Sul, onde o atraso e a exploração também existem, mas não são tão ostensivos e nem tão generalizados.

“O Brasil só será o Brasil em 2050”, afirmou, na oportunidade. Passados quatro anos, em outra entrevista que deu, em 2009, Luiz Henrique sustentou a mesmíssima opinião, a despeito de inegáveis avanços sociais ocorridos ao longo dos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Afirmou, nessa ocasião: “Não vejo avanço no ensino da história dos Estados brasileiros, em especial no Norte e Nordeste. E, de vez em quando, ainda aparecem denúncias de escravidão. Não é exploração do trabalho. É escravidão. A Lei Áurea é uma mentira”. Por tudo o que vejo e que leio, e pelo que meus amigos escritores, que vivem em lugares mais distantes do Brasil (nos chamados “grotões”), me relatam, concordo (infelizmente) com Luiz Henrique.
    
Quanto ao seu conto “O velho”, cujo início reproduzo abaixo, chamo em particular a atenção do leitor para a incrível capacidade descritiva desse notável ficcionista, que não fica nada a dever ao consagrado historiador. Suas palavras são tão precisas e bem colocadas, que conseguimos “visualizar”, sem a necessidade de nenhuma ilustração gráfica, o cenário onde o enredo se desenvolve. E, principalmente, vemos nitidamente a “fotografia”, de corpo inteiro, dos personagens que o contista cria, calcados na realidade. Se acharem que estou exagerando, confiram, e certamente me darão razão. 

“Era uma terra amarela, petrificada, aberta em sulcos largos. Sob o amanhecer, ficava roxa e, enquanto o dia não surgia de todo, apresentava duas tonalidades bem distintas: uma, cinzento-escuro, outra verde-carregado. Sob o cinzento-escuro ou o verde-carregado, estendiam-se parte das terras amarelas e muito das terras negras. Era possível diferenciá-las. As terras amarelas subiam e desciam às encostas, em diversas faixas compridas e rasgadas. Por sua vez, as terras negras, deitadas ao longo daquele pequeno vale de Jaguaribe, cobriam as baixas, margeando o rio, os afluentes e os pequenos cursos dágua. Terras descansadas e úmidas. Nos meses sem chuva são as únicas cultiváveis. Os homens as revolvem – com o gume dentado das suas enxadas; elas recebem as sementes e germinam.

Agora está clareando o dia. A baixada é um lençol branco, coberto de espuma.

No recuado, o galpão dos agregados semelha um barco, mas um barco estranho, de quilha reta. Alguns bois ruminam perto – pontos sombrios, parados. De repente, no mundo impreciso, longos rasgões cor-de-laranja iluminam a baixada e as encostas. As folhas verdes do canavial novo, erguidas sobre a terra, ficam tocadas pelo fogo. É o dia.

Acordado com os primeiros galos o coronel veio esperar o sol. Está sentado em cadeira de espaldar alto. Avança o corpo, força a vista no extremo  do campo, e até além, além do longe, depois da linha entre o negro e roxo. Investiga um instante aquelas terras que são domínio seu. Acha tudo bom, sob o clarão que se embranquece, e se recosta na cadeira para tossir melhor.

Estava velho. A pele, couro áspero e rugoso, despencava-se pelo rosto; no ventre, formava ondas. As pernas emperravam, pesadas. Com esforço grande arrastava o chinelão de couro cru. No rosto largo e curto, os olhinhos, remelentos, enxergavam menos.

A voz, antes forte e cheia, soava fraca e sem tom. Tornara-se desleixado. A barba crescia informe; a pêra alongava fios sujos de fumo e catarro. O bigode introduzia-se na boca. Na calça de urucubaca os restos de urina alongavam pernas e pontos.

Sentado no varandado, bengalão de castão de ouro entre as pernas, o casaco fechado, as mãos de veias inchadas sobre as coxas magras, procurava ver o nevoeiro se afastar na baixada.

O sol se espalha. Sobe fumaça do galpão, surgem ruídos. A cabeça do velho pende para a frente; cochila. Os fatos se embaralham no sonho, enxerga bois e canaviais, a baixa se alagando, é então a cheia de 19, o Jaguaribe barrento, subindo para as terras negras, cobrindo-as, espraiando-se para as terras amarelas (...)”


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Thursday, February 27, 2014

O poeta Emilsen Zorzi faz pitoresca (posto que pertinente) analogia das palavras triviais, aquele conjunto relativamente pequeno que usamos no cotidiano para nos comunicar, com produtos enlatados. Ou seja, os que consumimos e, depois de usados, nos descartamos. Não se referiu, claro, às palavras nobres, usadas pelos poetas para compor versos, ou pelos pensadores para registrar pérolas do pensamento, enfim, pelos que têm o que dizer e que mereça permanência. Há palavras cortantes, explosivas, destrutivas, das quais jamais deveríamos nos utilizar, mesmo que “enlatadas” e passivas de “descarte”. São tão ferinas, que seu invólucro chega a nos cortar a língua. Zorzi conclui da seguinte forma seu poema “Palavras-latas”:

“Às vezes pronuncio palavras como latas!
abro-as no momento exato da necessidade do seu uso
e jogo-as fora depois,
cortam os meus lábios com a tampa serrada.
e imediatamente cerro meus lábios”.


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Guerra nuclear sem bombas

Pedro J. Bondaczuk

O desastre verificado na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, mais do que um simples motivo para um novo e dissimulado lance da Guerra Fria, com acusações e exageros sobre o que de fato ocorreu naquela região da União Soviética, deveria servir de tema para profundas reflexões para todos aqueles que têm a capacidade de decidir alguma coisa no mundo.

Se as dimensões do acidente foram mesmo aquelas divulgadas pelo governo russo, menos mal. Uma quantidade menor de pessoas terá morrido ou estará condenada à morte por um futuro câncer. Caso sejam as especuladas em vários círculos ocidentais, de nada valerá o Cremlin esconder o fato. O mundo haverá, de uma maneira ou de outra, de saber toda a verdade.

Um aspecto muito importante, porém relegado ao esquecimento até aqui, deveria merecer, doravante, uma atenção muito especial. Refere-se a algum eventual ataque militar contra qualquer das 374 usinas em funcionamento atualmente numa infinidade de países. E não se trata de nenhuma hipótese fantasiosa, principalmente quando se recorda que um caso desses já aconteceu nesta década, em 1980.

Aviões israelenses destruíram, nessa ocasião, as instalações do reator nuclear "Osíris", que estava em fase de montagem, no Iraque. Caso ele estivesse funcionando, já naquela época teríamos uma catástrofe provavelmente muito maior do que o acidente verificado em Chernobyl. Afinal, por maior que seja a má vontade ocidental em relação aos soviéticos, em virtude de antagonismos ideológicos, ninguém poderá negar que esse país é um dos líderes mundiais em pesquisas científicas.

 Ocorresse um caso semelhante em outro lugar, que não tivesse a mesma capacidade de mobilização, e os mesmos recursos para a tomada de providências, e as conseqüências seriam impossíveis de se prever, principalmente quanto à forma de deter, o mais rapidamente possível, o vazamento de radiação. Recorde-se que a nuvem radioativa procedente de Chernobyl percorreu praticamente todo o globo terrestre. Os soviéticos, contudo, tiveram grande presença de espírito, coragem e técnica para não somente resfriar o reator que estava queimando, visando a impedir o fenômeno conhecido como "Síndrome da China", como para sepultar os seus restos sob toneladas de concreto, detendo uma tragédia muito pior.

Essa possibilidade das usinas nucleares serem eventualmente bombardeadas em caso de algum conflito (e estes é que não faltam no atual e conturbado mundo), foi levantada durante um simpósio, realizado em Bruxelas em fevereiro passado, patrocinado pela Organização Internacional de Médicos para a Prevenção da Guerra Nuclear, entidade que recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 1985. Quem abordou a questão foi o doutor Joseph Rotblat, um britânico, que faz parte deste extraordinário grupo. Mas o tema nunca foi mencionado em organismos oficiais, ligados à energia atômica e jamais se sugeriu qualquer acordo proibindo este tipo de ataque.

Imagine o leitor um bombardeio sobre algum reator indiano, paquistanês ou líbio. Essas áreas, nem é preciso repetir ou alertar, são caracterizadas por grandes tensões. E não foram poucas as vezes em que tais desavenças saíram do terreno da simples retórica para o do uso da violência. Em qualquer desses países, numa eventualidade dessas, até que as primeiras providências para estancar o vazamento radioativo fossem tomadas, milhões de pessoas já teriam sido afetadas com gravidade e irremediavelmente pela radiação.

Mesmo na Europa, onde essa possibilidade é bem mais remota, os riscos seriam apavorantes. Conforme depoimento do dr. Rotblat, seria impossível estimar o provável número de vítimas em tais circunstâncias, com a agravante de que amplas zonas ficariam contaminadas por um tempo muito grande e teriam por conseqüência, que ser evacuadas e literalmente transformadas num deserto.

Como se vê, o assunto é muito sério e exige uma atenção muito maior do que vem sendo dada. Uma guerra nuclear, portanto, pode ser feita sem que uma única ogiva atômica seja detonada. Bastará que alguém mais esquentado, ou insensato ou precipitado bombardeie diversos reatores de usinas em funcionamento, simultaneamente, para que uma boa parte da humanidade morra de maneira lenta e pavorosa. É o preço que se tem de pagar pela abertura dessa autêntica "caixa de Pandora".

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 30 de maio de 1986)


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Harmonia entre o historiador e o ficcionista

Pedro J. Bondaczuk

O escritor – e também historiador, professor de História e jornalista – Luís Henrique Dias Tavares conseguiu a façanha de ser bem sucedido em todas as atividades citadas que exerceu. Em Literatura, por exemplo, marcou território como um dos mais criativos e férteis ficcionistas regionais e não apenas da sua região, o Recôncavo Baiano, e nem só do seu Estado, mas do Brasil. E isso, com um único e solitário livro de contos publicado, “A noite dos homens”, datado de 1960. Mas se produziu (ou pelo menos publicou) pouco no gênero das histórias curtas, mais do que compensou isso escrevendo (e publicando) novelas. As duas mais conhecidas são: “Não foi o vento que levou” (1996) e “Nas margens do leito seco”, cuja redação iniciou, ainda, por volta de 1963, mas que foi lançada apenas agora, neste ano de 2013, pela Editora Universidade da Bahia.

Este último livro merece algumas considerações à margem, porquanto fica absolutamente nítido o harmonioso “casamento” de suas duas principais habilidades: a de ficcionista e a de historiador. O enredo é baseado em fatos reais. Começa com um leilão de uma virgem (que realmente aconteceu), cuja virgindade é renhidamente disputada, principalmente pelos “coronéis” locais. Luís Henrique inspirou-se em um acontecimento de 1920, na Bahia. O cenário principal do enredo é Salvador, mas a trama se desenvolve, também, em Ilhéus (no Sul da Bahia) e na cidade italiana de Florença.

A narrativa é posta na boca de Juca, principal personagem, repórter novato, aquele que é chamado nas redações de “foca”, em sua primeira missão jornalística, que se apaixona por Gina. Esta é uma jovem italiana, levada para Salvador para “trabalhar” na casa de uma “exploradora de mulheres”, ou seja, para fins de meretrício. Como se vê, é uma situação complicada para propiciar o nascimento, e principalmente, para prosperar uma paixão entre o casal de protagonistas. Luís Henrique, no entanto, não se limita a narrar as venturas e desventuras dos dois pombinhos apaixonados. Revela, como uma espécie de pano de fundo, de maneira sutil, mas realista, qual era a mentalidade da época, ou seja, do ano de 1920. Desnuda aquela sociedade, aparentemente moralista e calcada em valores morais tradicionais. Mostra que esse moralismo era, em última instância, hipócrita, aparente, apenas de fachada. Documenta, sobretudo, costumes, valores, moralidade, além do grau de tolerância que então imperavam. É mais do que uma novela, é um estudo de comportamento, embora assim não pareça aos desatentos e desavisados.

Claro que não vou sequer resumir o enredo, para não estragar o prazer da surpresa, o da descoberta dos leitores que eventualmente vierem a adquirir o livro. Todavia, recomendo, se puderem, que o adquiram. E não somente isso, mas que, sobretudo, o leiam atentamente, de capa a capa. Ponho a minha mão no fogo como irão gostar dessa narrativa. O autor, provavelmente, deixará no espírito do leitor a mesma dúvida que inicialmente deixou no meu: Luís Henrique é melhor ficcionista ou melhor historiador? Minha conclusão – e não se trata de ficar “em cima do muro” – é que há “empate” nesse aspecto. É excelente em ambos os casos.

O prefácio de “Nas margens do leito seco” foi escrito pelo escritor e doutor em letras Aleilton Fonseca, que citei em outros textos desta série de estudos sobre alguns dos principais ficcionistas baianos. O ilustre prefaciador destaca, entre outras coisas, o que já afirmei anteriormente e que considero o principal fator diferenciador dessa novela, em relação a tantas outras. Observa: “(...) o leitor percebe a proximidade do texto literário com o estilo do registro historiográfico, podendo confundir, deliberadamente ou não, a ficção com a realidade factual. O texto seria percebido, assim, como um relato de época, de caráter memorialístico ou até mesmo biográfico”.

Para muitos críticos literários e estudiosos da matéria, porém, a obra-prima de Luís Henrique não é algum livro de ficção. Trata-se da “História da Bahia” (não confundir com o título da antologia que serve de referência para esta série de estudos, que tem um “s” a mais que este compêndio não tem). É uma produção tão importante, que quando iniciei minhas pesquisas, já estava em décima primeira edição. Não há dúvida que o autor é, se não o maior (creio que o seja), pelo menos um dos maiores experts em história do seu Estado. Alguns outros livros de pesquisa histórica dele, são: “O primeiro século do Brasil: da expansão da Europa Ocidental aos governos gerais das terras do Brasil”, “Independência do Brasil na Bahia”, “Da sedição de 1798 à revolta de 1824 na Bahia”, “Abdicação de Dom Pedro I: derrota do absolutismo”, “Bahia, 1798”, História da sedição intentada na Bahia em 1798”, “Comércio proibido de escravos”, “Nazaré, cidade do Rio Moreno” e “A independência do Brasil na Bahia”.

Mantenho, todavia, minha opinião. Luís Henrique é tão bom ficcionista quanto historiador, o que, se fosse melhor numa coisa do que na outra, convenhamos, não haveria demérito algum. São atividades sobretudo opostas: uma, vale-se, principalmente, da imaginação e da criatividade e a outra requer rigor dos fatos, baseados sempre em documentos e outras provas incontestáveis.


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Wednesday, February 26, 2014

O Ser Supremo, que tudo sabe, tudo pode e tudo vê, infinito e eterno, que não teve princípio e jamais terá fim, provê ao homem os recursos para sua contínua evolução: física, material e espiritual. Ao mesmo tempo que cria problemas, disponibiliza meios para sua solução. O Ser Onipotente, imanente e transcendente, dotou a frágil e arrogante criatura humana de um instrumento irresistível para sua sobrevivência: a razão. Metaforicamente pode-se dizer que transformou “a lama em ouro”, posto que ao final de alguns anos, esse barro impuro volte a ser pó. O poeta Emiliano Perneta tem um poema revelador a respeito, cujos versos finais dizem:

“Mas sei também que há mil aspirações estranhas
que havemos de subir montanhas e montanhas,
que a Natureza avança e o homem faz-se luz...
Que a vida, com o sol, um alquimista louro
tem o dom de poder mudar a lama em ouro,
e em límpidos cristais esses rochedos nus!”


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Mínimo, mas problemático


Pedro J. Bondaczuk


A partir de amanhã, estará vigorando, até 1º de janeiro de 1993, o novo salário mínimo, de Cr$ 522.186,94, ou cerca de US$ 103, pelo câmbio do dólar comercial de sexta-feira. Apesar de significar um relativo ganho quando comparado aos dois aumentos anteriores do ano, o novo piso nacional está muito aquém de satisfazer as necessidades básicas de qualquer pessoa. Representa, conforme constatou o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos, Dieese, apenas um terço do mínimo racional para que alguém se sustente com alguma dignidade.

Todavia, apesar de nitidamente insuficiente, o novo salário vai causar contratempos em vários setores que têm nele não a menor remuneração, mas a maior, em alguns casos. Um exemplo é o das donas de casa que terão, pelo menos no início, muitas dificuldades para pagar essa irrisória quantia às suas empregadas domésticas.

Ocorre que os reajustes nas demais faixas salariais estão muito distantes dos cerca de 120% aplicados sobre o piso nacional. As microempresas, às voltas com uma brutal recessão e conseqüente queda de vendas, passam a ter, também, esse novo problema para preocupa-las.

Todavia, o novo mínimo será sentido com maior intensidade pelos vazios cofres da maioria dos municípios brasileiros, onde o compadrismo, a irresponsabilidade administrativa e a corrupção eleitoral incham o funcionalismo.

Algumas dessas localidades, geralmente as mais pobres e menos populosas, não arrecadam o suficiente para sequer cobrir as respectivas folhas de pagamento, num exemplo de como não se deve administrar a coisa pública. Por conta desses “aprendizes de feiticeiro”, os raros trabalhadores urbanos que percebem essa ridícula remuneração acabam também penalizados. Há economistas prevendo que, em virtude do novo salário, a inflação tende a disparar mais ainda.

Todavia, quem repassar o reajuste para os preços vai estar demonstrando duas coisas, e ambas muito ruins. Ou será um ato de má fé, já que a nova remuneração se originou exatamente em decorrência do aumento já praticado nos preços, com a conseqüente elevação do custo de vida. Ou, o que é pior, mostrará completa insensibilidade, absurda desinformação acerca da realidade.

Se as vendas vêm despencando sucessivamente com o que é cobrado atualme4nte, insuportável diante do absurdo achatamento salarial ocorrido nos dois anos do desastroso governo Collor, com o encarecimento, elas tendem a simplesmente desaparecer.

O quadro recessivo não deixou espaço para os que se julgam muito “espertos”, mas que na verdade se mostram tolos ou no mínimo revelam não ter traquejo na sua apuração de custos. A atual política é tendente a eliminar a empresa nacional, despreparada para a competição, na medida em que ela não consegue reter nem mesmo o incipiente mercado interno em suas mãos, que, em virtude da crescente redução do poder de compra, se encolhe dia a dia. Sem salário digno, não há consumo. Conseqüentemente, não há produção, arrecadação de impostos e investimentos, num círculo vicioso que tende a jogar o País de vez no Quarto Mundo, ao invés de eleva-lo ao Primeiro.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 31 de agosto de 1992).


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Historiador com talento de ficcionista

Pedro J. Bondaczuk

O décimo sexto integrante (por ordem de publicação) da antologia de contos “Histórias da Bahia” (Edições GDR, Rio de Janeiro, 1963), que tomei como referência para esta série de estudos sobre 23 dos principais ficcionistas baianos, é Luiz Henrique Dias Tavares. Trata-se de um dos intelectuais mais ilustres e reconhecidos entre todos os que já abordei (e dos que ainda irei abordar) nestas tantas considerações que tenho a oportunidade de fazer e de partilhar com os leitores. E esse destaque é tanto na Literatura (regional e nacional), quanto na atividade acadêmica.

Nosso personagem dedicou décadas e mais décadas de vida á atuação como historiador e como requisitado professor universitário de História. Neste último caso cito, apenas para que não pareça que estou exagerando sua importância e seu prestígio, que recebeu, se não me falha a memória em março de 2007, o título de “doutor honoris causa” da Universidade Federal da Bahia. Para que o leitor tenha uma idéia da importância dessa homenagem, basta informar que Luiz Henrique foi, apenas, o terceiro a ser reconhecido com essa láurea. Os outros dois foram Thabo Mbeki – ex-presidente da África do Sul e sucessor de Nelson Mandela, de quem foi companheiro de lutas  – e o dramaturgo Abdias do Nascimento.

Sua dedicação ao magistério, e à pesquisa histórica não o impediram de ser um dos maiores escritores da Bahia e do País. Ouso afirmar, até, que seu sucesso literário tem muito a ver com essas duas atividades correlatas. E ele destacou-se tanto em ficção (daí integrar a antologia “Histórias da Bahia”), quanto em não-ficção. No primeiro caso, publicou nove livros – embora só um de contos, mas vários deles são novelas – com destaque para a mais recente delas, “Nas margens do leito seco”, datada de 2009. A propósito dela tratarei, em texto separado, oportunamente, pela sua importância na obra do escritor.

Luiz Henrique Dias Tavares nasceu em Nazaré, cidade do Recôncavo Baiano, em 25 de janeiro de 1926. É um dos integrantes da chamada “Geração dos Cadernos da Bahia”, que revelou magníficos escritores do porte de Vasconcelos Maia, James Amado e José Pedreira, entre tantos outros. Exerceu, a exemplo de tantos companheiros de letras, por algum tempo, o jornalismo. Fundou, por exemplo, com Ariovaldo Matos e Darwin Brandão, a revista “Evolução”, que viria a ser fechada, pelo DIP, durante a ditadura de Getúlio Vargas, pelo tom crítico e independente que adotava. Participou de outros movimentos culturais em Salvador, que influenciaram a cultura e as artes do seu Estado. Um deles foi o “Teatro de Estudantes”, com Heron de Alencar.

Como se vê, Luiz Henrique nunca foi aquele tipo de escritor que se restringe a escrever, isolado em seu gabinete de trabalho, sem contato com o público (embora não haja demérito algum em quem age dessa maneira). Foi um ativista, no mais legítimo sentido do termo, e nos campos da política, das artes e da cultura em geral. E, claro, das letras. Doutorou-se em História em 1961, ano em que assumiu a cátedra de História do Brasil na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências da Universidade Federal da Bahia. Na mesma época, lecionou essa mesma disciplina no principal colégio estadual soteropolitano. Pouco depois, obteve o pós-doutorado no exterior, na Inglaterra, na renomada University of London.

Foi diretor do Arquivo Público do Estado e membro do Conselho Estadual de Cultura. Durante anos, foi cronista do “Jornal da Bahia” e publicou importante livro do gênero, “Moça sozinha na sala” (Livraria Martins Editora), datado de 1960, tão bom que obteve, com ele, o Prêmio Carlos de Laet, da Academia Brasileira de Letras do ano de 1963. A condição de historiador contribuiu muito, em vez de eventualmente atrapalhar, na narrativa de ficção de Luiz Henrique Dias Tavares. Muitos dos enredos de seus contos e, sobretudo, de suas novelas, foram fatos reais, acontecidos mesmo, que ele soube dar o devido tratamento ficcional. Aliás, ele admitiu isso, em entrevista concedida em 2005, ao afirmar: “Meus conhecimentos maiores são da história baiana. Então minhas novelas não deixam de ter uma marca histórica”. Convenhamos, são raros os historiadores que conseguem promover este “casamento” perfeito entre a ficção e a realidade.

A também historiadora Patrícia Valim comentou, certa feita, sobre essa facilidade do seu ilustre colega em “descobrir” nos documentos, aspectos que passam batidos de outros pesquisadores. Comentando seu livro “Conjuração baiana”, conhecida também como “Revolta dos Alfaiates”, um dos mais completos já publicados sobre esse episódio da História do Brasil no Sul do País, ela observou: “Ele (Luiz Henrique) tem muita sensibilidade para pesquisa em arquivos. É algo que talvez parte da historiografia sobre a Conjuração não tenha. Ele não vai aos documentos apenas para comprovar aquilo que já sabe. Quando foi diretor do Arquivo (Público do Estado), ajudou muito a ampliar a documentação sobre aquele episódio da história baiana”.

Para não deixar o leitor no ar, esclareço no que consistiu a tal conjuração. Foi um movimento que estourou na Bahia em 1798 – pouco depois da Inconfidência Mineira que resultou no enforcamento de Tiradentes – liderado por alfaiates, que propunha, entre outras coisas, a emancipação daquele Estado de Portugal e a libertação dos escravos. Pouca gente sabe que essa revolta popular sequer existiu. Luiz Henrique, porém, não apenas a trouxe à baila, como detalhou todas suas circunstâncias e resultados (mais ou menos parecidos com o que se verificou em Minas Gerais). Voltarei a tratar desse personagem, que conseguiu “casar” ficção e realidade em sua riquíssima obra ficcional.


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Tuesday, February 25, 2014

Não raro, por causa do noticiário aterrador dos meios de comunicação, nos dando conta das mazelas do cotidiano, com seu desfile de desgraças, assassinatos, assaltos, injustiças, taras, vaidades exacerbadas, egoísmo e corrupção, nos sentimos tentados ao desânimo. Embora se trate de atitude normal, nos esquecemos de que esta geração vai passar e que, se prepararmos devidamente as próximas, esse quadro tem possibilidades de mudar. Ademais, em vez de desanimar, por que não pensar o que deve ser pensado? E mais: por que não fazer o que tem que ser feito? O peruano Eduardo Rada tratou com perícia do tema no poema “Realizador”. Após apontar as mazelas que nos assustam e angustiam, concluiu, com estes versos sensatos e otimistas:

“Mas felizmente/ainda restam aqueles
que realizam o que pensam
e demonstram em sua prática
o que é possível ser pensado
ou melhor ainda:
o que é preciso ser feito”.

Felizmente!!!


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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária” José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso” Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br

O que comprar:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista).Preço: R$ 23,90.

Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro.Preço: R$ 20,90.

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As sementes da violência


Pedro J. Bondaczuk


O atentado ocorrido ontem de manhã, na hora do rush, no centro de Teerã, embora muitos possam querer justifica-lo, foi um ato covarde e monstruoso, por atingir, sobretudo, pessoas inocentes que, certamente, pouca, ou nenhuma, influência têm nos rumos políticos do Irã. Ao contrário, tornam-se duplamente vítimas: de um regime extremamente repressivo, que já executou, conforme denúncias, 40 mil opositores e que mantém encarcerados três vezes mais do que essa cifra, ou seja, 120 mil cidadãos, e dos que tentam derrubar esse governo e cometem barbaridades como essa, numa zona central da movimentada capital.

Os auto-denominados revolucionários de nossos dias (aliás, isso sempre foi assim), defendem ações terroristas, como essa, mesmo sabendo que muitos inocentes acabarão sendo atingidos e que, geralmente, aqueles que eles pretendem alcançar, não sofrem nenhuma conseqüência pessoal. Apegam-se ao surrado brocardo romano que diz: “Se queres a paz, prepara-te para a guerra”. Sofisma! Terrível sofisma!

Não conhecemos nenhum regime, ao longo de toda a História, que assumindo o poder à força, não fosse por ela derrubado. É impossível uma tutela permanente e eficaz sobre todo o povo, por todo o tempo. E sempre algum vencido acaba sobrando para engendrar vingança.

O poder adquirido por esse meio é usurpado, ilegítimo, ilegal e, portanto, passível de disputa. Somente é legitimado quando outorgado, livremente, pelo povo, através do voto secreto, livre e universal, nas urnas. Utopia? Pode ser! Mas convém, ao menos, que lutemos por ela.

Que o regime dos aiatolás do Irã é um retrocesso para a sua população, nos parece mais do que evidente. Que ele vem adotando métodos até mais arbitrários, cruéis e desumanos do que os usados pela polícia secreta do deposto e falecido xá Rheza Pahlevi, a toda poderosa Savak, parece não restar a menor dúvida.

Mas o que pode oferecer aos iranianos, na eventualidade de conquistar o poder, uma organização que coloca bombas em locais públicos, para explodir em horário de intenso movimento de pessoas, ciente de que da explosão delas a maioria dos atingidos será constituída de inocentes, mortos, portanto, à traição?! Como pode trabalhar pelo povo, como apregoa, quem tem tamanho menosprezo por ele? Quem tem amigos desse tipo não precisa temer nenhum inimigo. Já tem horror mais do que suficiente.

Ingênua, ou não, a nossa conclusão é que foram essas “revoluções” e esses “revolucionários” que, ao longo de séculos de História, levaram o mundo ao impasse atual. Fizeram escola! Foram eles que cobriram de densas sombras o mapa político mundial, hoje todo marcado por “guerras de libertação”, que não passam de meras trocas de jugos. Eles são as autênticas sementes da violência, que sufocam todos os ideais de paz, solidariedade e justiça.  

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 24 de agosto de 1984)


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