Mínimo, mas problemático
Pedro J.
Bondaczuk
A partir de amanhã, estará vigorando, até 1º de janeiro de
1993, o novo salário mínimo, de Cr$ 522.186,94, ou cerca de US$ 103, pelo
câmbio do dólar comercial de sexta-feira. Apesar de significar um relativo ganho
quando comparado aos dois aumentos anteriores do ano, o novo piso nacional está
muito aquém de satisfazer as necessidades básicas de qualquer pessoa.
Representa, conforme constatou o Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Sócio-Econômicos, Dieese, apenas um terço do mínimo racional para que
alguém se sustente com alguma dignidade.
Todavia, apesar de nitidamente
insuficiente, o novo salário vai causar contratempos em vários setores que têm
nele não a menor remuneração, mas a maior, em alguns casos. Um exemplo é o das
donas de casa que terão, pelo menos no início, muitas dificuldades para pagar
essa irrisória quantia às suas empregadas domésticas.
Ocorre que os reajustes nas
demais faixas salariais estão muito distantes dos cerca de 120% aplicados sobre
o piso nacional. As microempresas, às voltas com uma brutal recessão e
conseqüente queda de vendas, passam a ter, também, esse novo problema para
preocupa-las.
Todavia, o novo mínimo será
sentido com maior intensidade pelos vazios cofres da maioria dos municípios
brasileiros, onde o compadrismo, a irresponsabilidade administrativa e a
corrupção eleitoral incham o funcionalismo.
Algumas dessas localidades,
geralmente as mais pobres e menos populosas, não arrecadam o suficiente para
sequer cobrir as respectivas folhas de pagamento, num exemplo de como não se
deve administrar a coisa pública. Por conta desses “aprendizes de feiticeiro”,
os raros trabalhadores urbanos que percebem essa ridícula remuneração acabam
também penalizados. Há economistas prevendo que, em virtude do novo salário, a
inflação tende a disparar mais ainda.
Todavia, quem repassar o reajuste
para os preços vai estar demonstrando duas coisas, e ambas muito ruins. Ou será
um ato de má fé, já que a nova remuneração se originou exatamente em
decorrência do aumento já praticado nos preços, com a conseqüente elevação do
custo de vida. Ou, o que é pior, mostrará completa insensibilidade, absurda
desinformação acerca da realidade.
Se as vendas vêm despencando
sucessivamente com o que é cobrado atualme4nte, insuportável diante do absurdo
achatamento salarial ocorrido nos dois anos do desastroso governo Collor, com o
encarecimento, elas tendem a simplesmente desaparecer.
O quadro recessivo não deixou
espaço para os que se julgam muito “espertos”, mas que na verdade se mostram
tolos ou no mínimo revelam não ter traquejo na sua apuração de custos. A atual
política é tendente a eliminar a empresa nacional, despreparada para a
competição, na medida em que ela não consegue reter nem mesmo o incipiente
mercado interno em suas mãos, que, em virtude da crescente redução do poder de
compra, se encolhe dia a dia. Sem salário digno, não há consumo.
Conseqüentemente, não há produção, arrecadação de impostos e investimentos, num
círculo vicioso que tende a jogar o País de vez no Quarto Mundo, ao invés de
eleva-lo ao Primeiro.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 31 de
agosto de 1992).
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