Dúvida
justificada
Pedro J. Bondaczuk
O ex-tesoureiro de campanha do ex-presidente
Fernando Collor de Mello, Paulo César Farias, terminou, na madrugada do último
sábado, sua vida da mesma maneira com que desenvolveu toda a sua trajetória
pública: de forma polêmica. Tratou-se da culminância de uma tragédia grega ou,
quem sabe, de um caso de suspense bem ao estilo de Alfred Hitchcock. Seu
assassinato, na casa de praia que tinha em Maceió, é tema de quase todas as
rodas de amigos. E não exatamente por ter acontecido – o que era até previsível
pelo tanto que o controvertido empresário conhecia dos deslizes e negociatas
que caracterizaram os que orbitavam o poder no início dos anos 90 – mas pelas suas circunstâncias. Pelo mistério
que o cerca.
A pergunta que todos fazem (menos a Polícia Civil de
Alagoas) é se a morte se tratou de um crime passional, cometido por sua
namorada, Suzana Marcolino da Silva, ou se foi o que na gíria do submundo se
denomina de "queima de arquivo". Há inúmeras perguntas sem resposta a
indicar que as coisas podem não ser tão simples quanto as autoridades alagoanas
tentam sugerir.
Várias enquetes feitas nos últimos dias mostram que a
população duvida da tese oficial, de que a namorada de PC tenha atirado nele
enquanto este dormia e posteriormente cometido suicídio. Muitas autoridades têm
a mesma dúvida, embora expressem esse ponto-de-vista com compreensível cautela,
dada a delicadeza do assunto. A família da mulher também contesta a versão
oficial, argumentando que Suzana não gostava de armas, não tinha uma e sequer
sabia atirar. Os irmãos do empresário morto, todavia, em entrevistas dadas nos
últimos dias, disseram estar convencidos de que se tratou, mesmo, de crime
passional.
Gente que queria Paulo César Farias fora do caminho
não faltava. Pelo contrário. E eram pessoas e grupos poderosíssimos, do País e
talvez do Exterior. Embora tenha arcado sozinho com a culpa do maior escândalo
de corrupção do Brasil, dos que vieram à tona – devem existir dezenas
encobertos – era um homem que sabia demais. Mesmo mantendo a boca fechada no
curso dos vários processos a que estava sendo submetido, a qualquer momento
poderia começar a falar. O que diria se resolvesse virar a mesa? Ninguém sabe e
jamais saberá. É um segredo que PC Farias levou para o túmulo.
Mas é inegável que o empresário alagoano se
constituía em uma testemunha extremamente perigosa para os que têm
"dívidas no cartório", para aqueles que estão atolados até o pescoço
em negociatas de toda a sorte, em subornos, em contas fantasmas em bancos, em
lavagem de dinheiro, e em outras ações ilícitas. Se a sua morte foi, de fato,
mero crime passional, o caso já está solucionado. Não há mais nada a fazer. Se
não foi, será esta a versão que irá prevalecer. O que de fato aconteceu na casa
de praia de Maceió, na madrugada de 22 para 23 de junho, provavelmente ninguém
jamais virá a saber com certeza. Foi o último de uma infinidade de segredos que
PC Farias levou para o túmulo.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de junho de 1996)
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