Friday, February 28, 2014

Dúvida justificada

  
Pedro J. Bondaczuk


O ex-tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello, Paulo César Farias, terminou, na madrugada do último sábado, sua vida da mesma maneira com que desenvolveu toda a sua trajetória pública: de forma polêmica. Tratou-se da culminância de uma tragédia grega ou, quem sabe, de um caso de suspense bem ao estilo de Alfred Hitchcock. Seu assassinato, na casa de praia que tinha em Maceió, é tema de quase todas as rodas de amigos. E não exatamente por ter acontecido – o que era até previsível pelo tanto que o controvertido empresário conhecia dos deslizes e negociatas que caracterizaram os que orbitavam o poder no início dos anos 90 –  mas pelas suas circunstâncias. Pelo mistério que o cerca.

A pergunta que todos fazem (menos a Polícia Civil de Alagoas) é se a morte se tratou de um crime passional, cometido por sua namorada, Suzana Marcolino da Silva, ou se foi o que na gíria do submundo se denomina de "queima de arquivo". Há inúmeras perguntas sem resposta a indicar que as coisas podem não ser tão simples quanto as autoridades alagoanas tentam sugerir.

Várias enquetes feitas nos últimos dias mostram que a população duvida da tese oficial, de que a namorada de PC tenha atirado nele enquanto este dormia e posteriormente cometido suicídio. Muitas autoridades têm a mesma dúvida, embora expressem esse ponto-de-vista com compreensível cautela, dada a delicadeza do assunto. A família da mulher também contesta a versão oficial, argumentando que Suzana não gostava de armas, não tinha uma e sequer sabia atirar. Os irmãos do empresário morto, todavia, em entrevistas dadas nos últimos dias, disseram estar convencidos de que se tratou, mesmo, de crime passional.

Gente que queria Paulo César Farias fora do caminho não faltava. Pelo contrário. E eram pessoas e grupos poderosíssimos, do País e talvez do Exterior. Embora tenha arcado sozinho com a culpa do maior escândalo de corrupção do Brasil, dos que vieram à tona – devem existir dezenas encobertos – era um homem que sabia demais. Mesmo mantendo a boca fechada no curso dos vários processos a que estava sendo submetido, a qualquer momento poderia começar a falar. O que diria se resolvesse virar a mesa? Ninguém sabe e jamais saberá. É um segredo que PC Farias levou para o túmulo.

Mas é inegável que o empresário alagoano se constituía em uma testemunha extremamente perigosa para os que têm "dívidas no cartório", para aqueles que estão atolados até o pescoço em negociatas de toda a sorte, em subornos, em contas fantasmas em bancos, em lavagem de dinheiro, e em outras ações ilícitas. Se a sua morte foi, de fato, mero crime passional, o caso já está solucionado. Não há mais nada a fazer. Se não foi, será esta a versão que irá prevalecer. O que de fato aconteceu na casa de praia de Maceió, na madrugada de 22 para 23 de junho, provavelmente ninguém jamais virá a saber com certeza. Foi o último de uma infinidade de segredos que PC Farias levou para o túmulo.


(Artigo publicado na página 2, Opinião,  do Correio Popular, em 25 de junho de 1996)


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: