Monday, February 03, 2014

Decisiva contribuição da mulher

Pedro J. Bondaczuk

A contribuição da mulher para a Literatura brasileira, posto que numericamente pequena –  se levarmos em conta o fato delas serem maioria da população – é importantíssima. Diria, até, que é fundamental. “Mas como?”, perguntará aquele leitor com vezo machista, já contestando o redator com sua pergunta, que soa mais como enfática negação, tendo em vista a reduzida participação feminina na história literária e a escassa presença, por exemplo, na Academia Brasileira de Letras. Essa é uma questão que dá muito pano para manga. É tema não para uma reflexão sem maiores pretensões, como esta, mas para todo um livro. Aliás, somente um não, mas para toda uma coleção com uma infinidade de volumes.

Bem, essa discussão, posto que importante e polêmica (e nem entendo a razão da controvérsia, mas.... deixa pra lá!) deixarei para uma oportunidade mais propícia. Por enquanto, espero que o leitor se contente com minha afirmação peremptória a propósito da importância da sempre agradável (diria agradabilíssima) presença feminina na Literatura brasileira. Aliás, ela é essencial em tudo na vida e não apenas nas letras. Isso, para mim, é óbvio demais! Ademais, sem a mulher, nem mesmo estaríamos vivos, ora bolas! Bem, isso não vem ao caso. Não agora.

Se a presença da mulher na Literatura brasileira é tão importante (e de fato é), na baiana, e de caráter ficcional, objeto desta série de estudos, não é menor. Nem poderia deixar de ser. Elas estão presentes, sim senhores, embora, como acontece em relação ao País, essa presença seja relativamente pequena, por uma série de razões, insisto, que nada tem a ver, todavia, com talento, criatividade e, sobretudo, sensibilidade. Neste caso, também, como em tantos outros, a “qualidade”  mais do que compensa o fator “quantidade”.

O oitavo escritor (na ordem de publicação) a ter conto publicado na antologia “Histórias da Bahia” (Edições GDR, Rio de Janeiro, 1963), que tomei como referência para estes estudos sobre alguns dos principais ficcionistas deste Estado, é, na verdade, “oitava”. Sim, leitor, é uma mulher. É Elvira Foeppel, nascida em 15 de agosto de 1923 em Canavieiras, mas que foi criada em Pontal de Ilhéus. E ela não é a única (felizmente) a integrar essa constelação de talentos. Conta com a companhia ilustre e já saudosa da escritora Sônia Coutinho. E por que afirmo esse “já saudosa”? Porque ela faleceu no Rio de Janeiro, semanas antes de eu começar esta série de estudos, mais especificamente em 25 de agosto deste 2013, aos 74 anos de idade. Porém, a exemplo de Elvira, tem seu nome marcado para sempre na Literatura brasileira e baiana, pelo inegável valor da sua obra.

Acho constrangedor o fato de, em um “universo” de 23 escritores, selecionados para integrarem esta antologia de contos,, haver, apenas, duas mulheres. Essa é, destaco, uma realidade não apenas regional ou nacional, mas internacional, global, mundial. No mundo todo, a participação feminina nas letras (belas?), e isso para não citar outras tantas áreas de atividades, é, mais ou menos, a mesma do Brasil, em termos proporcionais. Essa observação se faz indispensável para que não se julgue que o brasileiro seja mais machista (em termos pejorativos) do que os demais povos do Planeta. Nesse aspecto, há outros muito mais preconceituosos e injustos, do que o nosso. Basta atentar para o que ocorre na praticamente totalidade dos países do chamado mundo islâmico.

 Mas... a personagem de hoje, e dos próximos dias, é Elvira Foeppel, em cuja vida e, principalmente, em cujo estilo de escrever irei concentrar minha atenção. Seu próprio sobrenome sugere descendência européia. E ela, de fato, é filha de um casal baiano, mas cujo pai (Frederico Affonso Foeppel) e mãe (Eulina Schamm Foeppel) descendiam, os dois, de progenitores alemães. Ele era formado em Odontologia, posto jamais haver exercido essa profissão. Ela, por sua vez, era dona de casa, papel que no seu tempo, no início do século XX, era considerado o “único” adequado a uma mulher “de família”.

Elvira recebeu a instrução que então era a possível e “adequada” a uma moça de classe social, digamos, um pouco mais privilegiada. Fez o curso de Magistério, no qual se formou em 1943, aos 20 anos de idade, no Convento Nossa Senhora da Piedade, em Ilhéus. Ou seja, recebeu formação e treinamento para uma das pouquíssimas profissões em que a presença feminina era vista com “bons olhos”: a de professora (e aqui, não há nenhum demérito a esse sacerdócio, sem o qual não teríamos médicos, advogados, engenheiros etc.etc.etc. e muito menos escritores). Voltarei, certamente, a tratar da verdadeira saga que foi a entrada (e a tardia aceitação) de Elvira Foeppel no complexo e via de regra frustrante mundo das letras, que então era um círculo fechadíssimo, uma espécie de “clube do Bolinha”, em que “meninas não entravam”, por séculos e séculos e, portanto, eminentemente machista.


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