Decisiva contribuição
da mulher
Pedro
J. Bondaczuk
A contribuição da
mulher para a Literatura brasileira, posto que numericamente pequena – se levarmos em conta o fato delas serem
maioria da população – é importantíssima. Diria, até, que é fundamental. “Mas
como?”, perguntará aquele leitor com vezo machista, já contestando o redator
com sua pergunta, que soa mais como enfática negação, tendo em vista a reduzida
participação feminina na história literária e a escassa presença, por exemplo,
na Academia Brasileira de Letras. Essa é uma questão que dá muito pano para
manga. É tema não para uma reflexão sem maiores pretensões, como esta, mas para
todo um livro. Aliás, somente um não, mas para toda uma coleção com uma
infinidade de volumes.
Bem, essa discussão,
posto que importante e polêmica (e nem entendo a razão da controvérsia, mas....
deixa pra lá!) deixarei para uma oportunidade mais propícia. Por enquanto,
espero que o leitor se contente com minha afirmação peremptória a propósito da
importância da sempre agradável (diria agradabilíssima) presença feminina na
Literatura brasileira. Aliás, ela é essencial em tudo na vida e não apenas nas
letras. Isso, para mim, é óbvio demais! Ademais, sem a mulher, nem mesmo
estaríamos vivos, ora bolas! Bem, isso não vem ao caso. Não agora.
Se a presença da mulher
na Literatura brasileira é tão importante (e de fato é), na baiana, e de
caráter ficcional, objeto desta série de estudos, não é menor. Nem poderia
deixar de ser. Elas estão presentes, sim senhores, embora, como acontece em
relação ao País, essa presença seja relativamente pequena, por uma série de
razões, insisto, que nada tem a ver, todavia, com talento, criatividade e,
sobretudo, sensibilidade. Neste caso, também, como em tantos outros, a
“qualidade” mais do que compensa o fator
“quantidade”.
O oitavo escritor (na
ordem de publicação) a ter conto publicado na antologia “Histórias da Bahia”
(Edições GDR, Rio de Janeiro, 1963), que tomei como referência para estes
estudos sobre alguns dos principais ficcionistas deste Estado, é, na verdade,
“oitava”. Sim, leitor, é uma mulher. É Elvira Foeppel, nascida em 15 de agosto
de 1923 em Canavieiras, mas que foi criada em Pontal de Ilhéus. E ela não é a
única (felizmente) a integrar essa constelação de talentos. Conta com a
companhia ilustre e já saudosa da escritora Sônia Coutinho. E por que afirmo
esse “já saudosa”? Porque ela faleceu no Rio de Janeiro, semanas antes de eu
começar esta série de estudos, mais especificamente em 25 de agosto deste 2013,
aos 74 anos de idade. Porém, a exemplo de Elvira, tem seu nome marcado para
sempre na Literatura brasileira e baiana, pelo inegável valor da sua obra.
Acho constrangedor o
fato de, em um “universo” de 23 escritores, selecionados para integrarem esta
antologia de contos,, haver, apenas, duas mulheres. Essa é, destaco, uma
realidade não apenas regional ou nacional, mas internacional, global, mundial.
No mundo todo, a participação feminina nas letras (belas?), e isso para não
citar outras tantas áreas de atividades, é, mais ou menos, a mesma do Brasil,
em termos proporcionais. Essa observação se faz indispensável para que não se
julgue que o brasileiro seja mais machista (em termos pejorativos) do que os
demais povos do Planeta. Nesse aspecto, há outros muito mais preconceituosos e
injustos, do que o nosso. Basta atentar para o que ocorre na praticamente
totalidade dos países do chamado mundo islâmico.
Mas... a personagem de hoje, e dos próximos
dias, é Elvira Foeppel, em cuja vida e, principalmente, em cujo estilo de
escrever irei concentrar minha atenção. Seu próprio sobrenome sugere
descendência européia. E ela, de fato, é filha de um casal baiano, mas cujo pai
(Frederico Affonso Foeppel) e mãe (Eulina Schamm Foeppel) descendiam, os dois,
de progenitores alemães. Ele era formado em Odontologia, posto jamais haver
exercido essa profissão. Ela, por sua vez, era dona de casa, papel que no seu
tempo, no início do século XX, era considerado o “único” adequado a uma mulher
“de família”.
Elvira recebeu a instrução
que então era a possível e “adequada” a uma moça de classe social, digamos, um
pouco mais privilegiada. Fez o curso de Magistério, no qual se formou em 1943,
aos 20 anos de idade, no Convento Nossa Senhora da Piedade, em Ilhéus. Ou seja,
recebeu formação e treinamento para uma das pouquíssimas profissões em que a
presença feminina era vista com “bons olhos”: a de professora (e aqui, não há
nenhum demérito a esse sacerdócio, sem o qual não teríamos médicos, advogados,
engenheiros etc.etc.etc. e muito menos escritores). Voltarei, certamente, a
tratar da verdadeira saga que foi a entrada (e a tardia aceitação) de Elvira
Foeppel no complexo e via de regra frustrante mundo das letras, que então era
um círculo fechadíssimo, uma espécie de “clube do Bolinha”, em que “meninas não
entravam”, por séculos e séculos e, portanto, eminentemente machista.
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