As
sementes da violência
Pedro J. Bondaczuk
O atentado ocorrido ontem de manhã, na hora do rush,
no centro de Teerã, embora muitos possam querer justifica-lo, foi um ato
covarde e monstruoso, por atingir, sobretudo, pessoas inocentes que,
certamente, pouca, ou nenhuma, influência têm nos rumos políticos do Irã. Ao
contrário, tornam-se duplamente vítimas: de um regime extremamente repressivo,
que já executou, conforme denúncias, 40 mil opositores e que mantém
encarcerados três vezes mais do que essa cifra, ou seja, 120 mil cidadãos, e
dos que tentam derrubar esse governo e cometem barbaridades como essa, numa
zona central da movimentada capital.
Os auto-denominados revolucionários de nossos dias
(aliás, isso sempre foi assim), defendem ações terroristas, como essa, mesmo
sabendo que muitos inocentes acabarão sendo atingidos e que, geralmente,
aqueles que eles pretendem alcançar, não sofrem nenhuma conseqüência pessoal.
Apegam-se ao surrado brocardo romano que diz: “Se queres a paz, prepara-te para
a guerra”. Sofisma! Terrível sofisma!
Não conhecemos nenhum regime, ao longo de toda a
História, que assumindo o poder à força, não fosse por ela derrubado. É
impossível uma tutela permanente e eficaz sobre todo o povo, por todo o tempo.
E sempre algum vencido acaba sobrando para engendrar vingança.
O poder adquirido por esse meio é usurpado,
ilegítimo, ilegal e, portanto, passível de disputa. Somente é legitimado quando
outorgado, livremente, pelo povo, através do voto secreto, livre e universal,
nas urnas. Utopia? Pode ser! Mas convém, ao menos, que lutemos por ela.
Que o regime dos aiatolás do Irã é um retrocesso
para a sua população, nos parece mais do que evidente. Que ele vem adotando
métodos até mais arbitrários, cruéis e desumanos do que os usados pela polícia
secreta do deposto e falecido xá Rheza Pahlevi, a toda poderosa Savak, parece
não restar a menor dúvida.
Mas o que pode oferecer aos iranianos, na
eventualidade de conquistar o poder, uma organização que coloca bombas em
locais públicos, para explodir em horário de intenso movimento de pessoas,
ciente de que da explosão delas a maioria dos atingidos será constituída de
inocentes, mortos, portanto, à traição?! Como pode trabalhar pelo povo, como
apregoa, quem tem tamanho menosprezo por ele? Quem tem amigos desse tipo não
precisa temer nenhum inimigo. Já tem horror mais do que suficiente.
Ingênua, ou não, a nossa conclusão é que foram essas
“revoluções” e esses “revolucionários” que, ao longo de séculos de História,
levaram o mundo ao impasse atual. Fizeram escola! Foram eles que cobriram de
densas sombras o mapa político mundial, hoje todo marcado por “guerras de
libertação”, que não passam de meras trocas de jugos. Eles são as autênticas
sementes da violência, que sufocam todos os ideais de paz, solidariedade e
justiça.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do
Correio Popular, em 24 de agosto de 1984)
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