Opção pelo Solidariedade
Pedro J. Bondaczuk
A
Polônia, embora pela sua própria situação geográfica na Europa tenha sido
sempre vítima, através da história (pelo menos dos últimos sete séculos), da
rapina das nações mais fortes, tem uma longa tradição de altivez. Seu povo
jamais se conformou com as seguidas agressões vindas de fora. Nunca se curvou à
força das armas, embora com isso tenha pago dolorosos tributos em vidas
valorosas suprimidas estupidamente. Os poloneses, extremamente religiosos que
são (95% são católicos), crêem, na sua maioria, que todos os homens são irmãos
e que compete a eles o exercício permanente da solidariedade. Da ajuda mútua.
Da união da vontade e esforços para a construção de uma sociedade mais justa e
permanente.
Foram
exatamente esses ideais que moveram os criadores do único sindicato
independente do partido oficial (o Comunista) do Leste Europeu. Tanto é que a
organização foi batizada com essa palavrinha mágica que reflete o desejo da
maioria dos poloneses: "Solidarnosc", que quer dizer, em nossa
língua, "solidariedade".
É
desnecessário lembrar todos os incidentes que levaram os trabalhadores da
Polônia a se rebelarem contra o sindicato oficial, que não passa de mero
apêndice da única agremiação existente no país, que por sua vez é dirigida do
Exterior. Ou seja, está voltada à implantação de algo, chamado eufemisticamente
de "ditadura do proletariado",
em âmbito mundial, mas que na verdade a implanta "sobre" este,
nos países que optaram por esse sistema. Não é necessário, até porque ainda
está muito fresco na memória de todos, lembrar as vítimas dessa postura de
altivez e de coragem dos adeptos do Solidariedade, das quais a mais recente é o
sacerdote operário Jerzy Popieluzsko, cujo assassinato permanece ainda bastante
nebuloso.
O
que deve ser ressaltado é que com toda a repressão determinada pelo Cremlin e
executada pelo regime polonês, consubstanciada nas prisões arbitrárias
realizadas especialmente a partir de 13 de dezembro de 1981, quando o
primeiro-ministro, general Woijciej Jaruzelski, decretou a lei marcial (num
autêntico golpe de Estado na Polônia), quase dez milhões de trabalhadores
mantêm intacta a vontade de que o sindicato Solidariedade sobreviva. Enquanto
isso, o oficial, comunista, comandado por preguiçosos burocratas, alheios aos
problemas e necessidades da classe operária, tem inscritos menos da metade
dessa quantidade, ou seja, 4,5 milhões
de sindicalizados.
Vale
ressaltar que a mão de obra ativa na Polônia é composta de 17 milhões de
trabalhadores, dos quais 2,5 milhões nâo têm nem simpatia pelo Solidarnosc e
muito menos estão ligados ao sindicato que conta com as bênçãos do regime.
Depreende-se que a legalização do Solidariedade, com todo o temor que essa
medida possa despertar no Cremlin, é uma simples questão de tempo. É impossível
impor perpetuamente a uma maioria determinada e que sabe o que quer, idéias e
programas que ela repudia. E os poloneses, desde agosto de 1980, fizeram a sua
opção. Clara, decidida e permanente. Seus trabalhadores querem gerir seus
próprios destinos, através da mútua e construtiva solidariedade. E fatalmente,
um dia, o farão.
(Artigo
publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 14 de dezembro de
1984)
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