Crise pode provocar golpe
militar
Pedro J. Bondaczuk
O Peru, na avaliação de
vários analistas políticos internacionais, é o candidato mais sério, em toda a
América do Sul, a sofrer um golpe militar de Estado nos próximos meses. O país
rivaliza-se, nesse aspecto, somente com as nações centro-americanas (à exceção
da Costa Rica), em toda a América Latina, que em termos de democracia deixa
tudo a desejar.
Apenas a Guatemala corre
riscos maiores de fechamento do regime do que os peruanos. Nos dois casos, a
atuação de guerrilhas esquerdistas pode ser o fator de desestabilização, o
"estopim" que tem condições de determinar, caso aconteça, outro infeliz
retrocesso institucional, dos tantos que a região já viu em sua curta, mas
turbulenta, história.
O governo do presidente
aprista, Alan Garcia Perez, além de ser ver às voltas com os grupos
guerrilheiros "Sendero Luminoso" e "Tupac Amaru", entre
outros (há quatro atuando no país), ainda enfrenta um processo
hiperinflacionário mais agudo do que o brasileiro. Sua inflação acumulada, no
corrente exercício, deverá bater na casa dos 2.000%, fazendo do dia a dia dos
peruanos uma autêntica aventura, um jogo de adivinhação.
Planos estabilizadores da
economia até que foram tentados, mas todos se frustraram. Ministros das
Finanças o país teve quatro somente neste ano. Nenhum conseguiu levar para o
governo nada de criativo. À medida em que os preços evoluem, o descontentamento
popular, obviamente, cresce. A autoridade presidencial tem sido constantemente
contestada e muitos setores, inclusive alas militares, apelam ao presidente
para que renuncie.
Há muita gente apostando que
Alan Garcia não somente não conclui o seu mandato, como ainda deve ser deposto
no máximo em seis meses. Se isso acontecer, obviamente, vai ser lamentável.
Afinal, quando ele tomou posse como um dos mais jovens mandatários
latino-americanos, suas propostas confiantes e seu desafio aberto à comunidade
financeira internacional despertaram muitas esperanças de que afinal estava
emergindo ali uma liderança forte na região.
Todavia, ele acabou vencido
pela realidade. A guerrilha, em momento algum do seu mandato, lhe deu qualquer
trégua. E os prejuízos que ela causou (fora a perda daquilo que dinheiro algum
paga, ou seja, vidas humanas) já ascendem a mais da metade da dívida externa de
US$ 15 bilhões. Sobem a astronômicos US$ 10 bilhões, insensatamente consumidos
por quem se diz defensor do povo. Uma sangria de recursos dessa ordem, além de
obviamente criminosa, é irrecuperável, numa nação cujas necessidades vão muito
além dos recursos que ela dispõe.
(Artigo publicado na página
14, Internacional, do Correio Popular, em 28 de dezembro de 1988)
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