Tuesday, February 18, 2014

Crise pode provocar golpe militar


Pedro J. Bondaczuk

O Peru, na avaliação de vários analistas políticos internacionais, é o candidato mais sério, em toda a América do Sul, a sofrer um golpe militar de Estado nos próximos meses. O país rivaliza-se, nesse aspecto, somente com as nações centro-americanas (à exceção da Costa Rica), em toda a América Latina, que em termos de democracia deixa tudo a desejar.

Apenas a Guatemala corre riscos maiores de fechamento do regime do que os peruanos. Nos dois casos, a atuação de guerrilhas esquerdistas pode ser o fator de desestabilização, o "estopim" que tem condições de determinar, caso aconteça, outro infeliz retrocesso institucional, dos tantos que a região já viu em sua curta, mas turbulenta, história.

O governo do presidente aprista, Alan Garcia Perez, além de ser ver às voltas com os grupos guerrilheiros "Sendero Luminoso" e "Tupac Amaru", entre outros (há quatro atuando no país), ainda enfrenta um processo hiperinflacionário mais agudo do que o brasileiro. Sua inflação acumulada, no corrente exercício, deverá bater na casa dos 2.000%, fazendo do dia a dia dos peruanos uma autêntica aventura, um jogo de adivinhação.

Planos estabilizadores da economia até que foram tentados, mas todos se frustraram. Ministros das Finanças o país teve quatro somente neste ano. Nenhum conseguiu levar para o governo nada de criativo. À medida em que os preços evoluem, o descontentamento popular, obviamente, cresce. A autoridade presidencial tem sido constantemente contestada e muitos setores, inclusive alas militares, apelam ao presidente para que renuncie.

Há muita gente apostando que Alan Garcia não somente não conclui o seu mandato, como ainda deve ser deposto no máximo em seis meses. Se isso acontecer, obviamente, vai ser lamentável. Afinal, quando ele tomou posse como um dos mais jovens mandatários latino-americanos, suas propostas confiantes e seu desafio aberto à comunidade financeira internacional despertaram muitas esperanças de que afinal estava emergindo ali uma liderança forte na região.

Todavia, ele acabou vencido pela realidade. A guerrilha, em momento algum do seu mandato, lhe deu qualquer trégua. E os prejuízos que ela causou (fora a perda daquilo que dinheiro algum paga, ou seja, vidas humanas) já ascendem a mais da metade da dívida externa de US$ 15 bilhões. Sobem a astronômicos US$ 10 bilhões, insensatamente consumidos por quem se diz defensor do povo. Uma sangria de recursos dessa ordem, além de obviamente criminosa, é irrecuperável, numa nação cujas necessidades vão muito além dos recursos que ela dispõe.

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 28 de dezembro de 1988)


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