Thursday, January 31, 2013

Ensinar, mais do que meramente uma profissão, é uma arte. Requer grandeza, competência, dedicação, paciência e lucidez. É um sacerdócio, um ato de permanente autodoação. É uma arte que tem que ser exercida, sobretudo, com amor. O escritor Anatole France observou o seguinte, sobre como se deve exercer essa sublime atividade: “A arte de ensinar não é mais do que a arte de despertar a curiosidade das crianças para satisfazê-la em seguida. E a curiosidade só é viva e sã nos espíritos felizes. Portanto, não se deve ensinar com recursos de terror”. E não se deve, mesmo. Muitos dos meus amigos aqui exercem esse sublime sacerdócio: o do magistério. A vocês rendo minha modesta, mas comovida homenagem que, certamente, contará com o apoio e a solidariedade de quem não é professor, mas que deve a maior parte do seu conhecimento e do seu sucesso aos mestres que teve.

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Regime paraguaio ilhado

Pedro J. Bondaczuk

O presidente paraguaio, Alfredo Stroessner, que já está na presidência há 39 anos, desde 1954, quando se estabeleceu um vazio no poder, após uma sangrenta guerra civil, provavelmente vai ganhar um novo mandato de cinco anos. Atualmente, ele só perde para o norte-coreano Kim Il Sung, que governa a Coréia do Norte desde 1948, como o mandatário com mais tempo à frente de um governo em todo o mundo. E caminha, aceleradamente, para o recorde, a despeito de toda a oposição que enfrentou e está enfrentando no Paraguai.

É interessante o raciocínio dos caudilhos e dos puxa-sacos que os cercam. Os psiquiatras até criaram um termo para definir essa espécie de paranóia que se apossa deles e os faz achar que são insubstituíveis e que sem eles, o Estado não sobrevive: hubris.

O país vizinho, em termos institucionais (antes de Strossner, evidentemente), sempre se caracterizou pela instabilidade. Um partido oficial, o Colorado, dividido em subpartidos pelo grau de servilidade à figura do ditador, vem dominando a vida nacional neste século.

Em 176 anos de independência, o Paraguai já teve 51 governos, alguns com apenas meses de duração. O longo período no poder do generalíssimo estabilizou, mas na contramão, tal alternância. Para alguém menos avisado, que não soubesse acerca da duração dos mandatos dos vários presidentes e apenas fizesse uma simples divisão dos anos de existência do país pelo número de seus governantes, restaria uma impressão, falsa, de relativa democracia.

A média dos períodos governamentais seria de 3,4 anos. Todavia, apenas dois caudilhos, Higino Moriñigo, o responsável pela guerra civil e Alfredo Stroessner governaram 47 anos, quase meio século. Os demais 49 ficaram com o tempo restante.

Só entre 1948 e 1954, seis governantes passaram pelo palácio presidencial. Em 1948, após a fuga do ditador da época, Juan Manuel Frutos e Juan Natalicio Gonzalez ocuparam, transitoriamente, a gestão do Estado.

Em 1949, o Paraguai foi dirigido pelo general Raimundo Rolán, por Felipe Mola Lopez e finalmente por Federico Chavez, que viria a ser substituído, em 1954, pelo atual todo-poderoso presidente semi-vitalício.

Está, portanto, na hora dos paraguaios tentarem uma nova opção. Chegou o momento de pensarem em entrar no século XXI com uma nova formulação institucional, democrática e participativa. Afinal, em termos de regime, o Paraguai é uma verdadeira ilha, mesmo na nossa instável e caudilhesca América do Sul.

(Artigo publicado na página 27, Internacional, do Correio Popular, em 22 de novembro de 1987)

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Aventuras e desventuras de um escritor

Pedro J. Bondaczuk

A fórmula “infalível” para o sucesso de vendas de um livro é algo que escritores do mundo todo e de todas as épocas sempre buscaram e buscam, incansavelmente, mesmo que, quando questionados a propósito, neguem enfaticamente. Dizem (e sequer ficam vermelhos com a mentira que sabem estarem dizendo), que fazem literatura por idealismo. E blá-blá-blá, bla-bla-blá, bla-bla-blá. Ora, ora, ora... É conversa para boi (quem sabe até para elefante) dormir, claro.

Não nego que também já tive (e tenho) essa pretensão de ver meus livros venderem não apenas uns poucos milhares de exemplares, mas milhões e milhões deles. Quem me dera! E considero esse desejo dos mais justos e lógicos. Tolo e incoerente eu seria se não o tivesse. Afinal, por mais que se goste de literatura, ninguém escreve exclusivamente para o próprio deleite. Pelo menos não livros. Se alguém quiser fazer isso (ninguém é proibido de fazê-lo) que o faça, mas em diários ou em textos esparsos, sei lá. Alguns agem assim (só não entendo por que). Enfim... Em cada cabeça, uma sentença Mas, quem faz isso não é escritor. É mero diletante.

Pergunto: existe alguma fórmula que, se aplicada, garante êxito total e absoluto e, sobretudo, sempre que for utilizada a alguém? Objetivamente respondo: não, não e não! E coloque aí toda a ênfase que você conhecer. Claro que não! Há atitudes e ações que conferem, potencialmente, maiores possibilidades de êxito para quem as adotar. Mas não são infalíveis. Não são mesmo. Quase nada na vida é! Ou nada mesmo, sei lá!

O sucesso e o fracasso, a experiência me sugere (ou demonstra) têm muito a ver com circunstâncias e acaso. Claro que a qualidade do livro que se pretende transformar em best-seller conta, e bastante. Contudo não é fator determinante. Não confere nenhuma certeza a ninguém. Já vi muitas obras mal escritas, pessimamente editadas, eivadas de erros gramaticais, sem continuidade nenhuma e cheias de incoerências e contradições (no entanto bem divulgadas), esgotarem edições e mais edições. Para mim elas são casos para o Procon. Afinal, o consumidor está sendo redondamente (ou quadradamente, sei lá) enganado e lesado. Como vi, também, livros muitíssimo bem escritos, tanto na forma quanto no conteúdo, encalharem nas prateleiras das livrarias e darem prejuízo monumental às editoras e aos seus decepcionados e infelizes autores. Por que isso acontece? Mistério!

A vida do escritor, no Brasil, não é nada fácil. Nem sempre, por exemplo, um sucesso de crítica é acompanhado do respectivo êxito de vendas. Muitos livros, de escritores consagrados, cujos textos constam das melhores antologias literárias e são utilizados nas escolas, nas aulas de Português, como modelos de boa redação, venderam escassos milhares de exemplares (se é que chegaram a tanto) e não raro precisaram de uma década ou mais para que isso acontecesse. Não citarei nomes, óbvio, e nem obras. Os motivos são os mais diversos possíveis (cada um pode apresentar sua lista de razões e estará certo). Achar soluções para o problema é que são elas.

Por exemplo, o nível de leitura do brasileiro ainda é extremamente baixo para o conjunto da nossa população (em torno de 200 milhões de habitantes). Pergunte às pessoas que o cercam quantos livros elas lêem por ano. Quantos leram recentemente? Os sinceros confessarão que não leram nenhum em 2012, em 2011, em 2010... Os que mentirem, será fácil pegar na mentira. É só perguntar do que as obras que disseram ter lido tratam. Vão, certamente, gaguejar, desconversar e mudar de assunto. Eu fiz esse teste e o resultado foi o óbvio, o que eu tinha certeza que seria.

Os motivos alegados para a falta de leitura são os mais diversos e alguns não deixam de ser até bizarros. O brasileiro, por exemplo, lê infinitamente menos do que o argentino, ou do que o chileno ou do que o uruguaio (e nem faço a comparação com o norte-americano, ou o japonês, ou o europeu, porque seria uma covardia. Perderemos de goleada!). A maioria tenta se justificar argumentando que o preço do livro no Brasil é muito alto para seu padrão econômico. Bem, barato, barato, não é mesmo. Mas há exceções.

Pergunte, porém, a quem se queixa de preço, se ele deixa de ir aos estádios, para assistir a jogos de futebol cada vez mais sonolentos, chatos, com cartas marcadas (muitos, ostensivas marmeladas, com resultados distorcidos por péssimas arbitragens) e... caros. Ou se economizam não indo a baladas, barulhentas e aborrecidas, que mais cansam, desgastam e irritam do que divertem. Ou a shows de rock. Ou a rodeios.

Ademais, há livros bastante baratos, de custo inferior ao de um maço de cigarros (duvidam? Informem-se!) e, sem dúvida, sem provocar nenhum dos malefícios que esse perverso e nocivo veneno causa à saúde. Onde encontrar essas pechinchas? Ora, ora, ora, é só procurar. Quem tem interesse de fato de ler, certamente encontrará essas edições baratas, baratíssimas (qualquer dia vou mencionar uma lista completa delas).

Escrever um livro, embora seja tarefa digna dos doze trabalhos de Hércules (claro, se sua pretensão for a de produzir uma obra de qualidade que mereça ser publicada), não é o lado pior da atividade. Publicá-lo, não raro, se transforma em autêntica saga, em inconstante e aborrecida aventura (ou desventura) e você tem que estar preparado para ouvir infinitos “nãos” de pelo menos uma dezena de editoras. E, ainda assim, não é o que de mais complicado você terá que superar.

O complicado, complicado mesmo, é fazer com que esse seu “filho espiritual” (é assim que considero o que produzo) chegue aos pontos de venda deste país de dimensões continentais. E mais, é torná-lo conhecido e atraente aos potenciais consumidores. A internet que poderia exercer esse papel, não é tão eficaz nesse sentido como pensamos. Eu, pelo menos, decepcionei-me com os resultados dessa divulgação pela rede mundial.

Quando divulgo meus livros por esse veículo, potencialmente tão abrangente, em especial nas redes sociais (Facebook, Orkut, Twitter etc.) volta e meia tenho que engolir comentários jocosos (e burros) de “donos da verdade”, criticando minha atitude. Estes entendem que tais espaços sirvam, ou devam servir apenas, para escrever banalidades, “gracinhas” sem nenhuma graça, postar imagens e citações pirateadas que a maioria posta zilhões de vezes, quando não coisas piores, como marcar brigas entre torcidas organizadas ou divulgar suas taras, como a pedofilia. Durma-se com um barulho desses!

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Wednesday, January 30, 2013

O filósofo Will Durant constatou, no livro “Filosofia da Vida”: “...A educação tem que produzir homens completos; deve desenvolver todas as forças criadoras existentes no indivíduo, abrindo-lhe o espírito para todos os aspectos amenos e instrutivos do mundo. Um homem sobrecarregado de milhões de informações, mas para quem Beethoven, Corot ou Thomás Hardy, ou o fulgor de um ocaso do outono significam apenas sons e cor, não passa de matéria-prima dum homem; metade do mundo conserva-se fechada às janelas embaciadas do seu espírito. Uma educação meramente científica transforma o educado em mero instrumento; deixa-o estranho à beleza, afasta-o da sabedoria”.

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Anote e Confira

INTRIGA INTERNACIONAL
Num dia de programação relativamente fraca, o destaque fica para um filme do mestre do suspense, Alfred Hitchcock, na Rede Manchete. Trata-se de “Intriga Internacional”, produzido em 1959, que fala sobre o rapto de um bem sucedido publicitário novaiorquino, confundido como sendo membro do Serviço Secreto dos EUA. Aliás, por falar em Hitchcock, a Globo deu uma grande mancada na sexta-feira passada, quando anunciou o filme do mestre, “Quando o coração fala”, no Cine Clube, e acabou exibindo “Houve uma vez um verão”, frustrando muita gente que queria assistir a atração anunciada. Este trabalho de Hitchcock, que estamos recomendando, será mostrado pela Manchete hoje, no “Primeira Classe”, que vai ao ar às 22h15. E vai mesmo!

(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na página 22, “TEVÊ”, do Correio Popular, em 3 de julho de 1984).

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O jogo de símbolos

Pedro J. Bondaczuk

As obsessões de um dos meus principais “gurus” literários, Jorge Luís Borges, se constitui num dos meus temas preferenciais, sobre o qual não me canso de escrever. Já redigi, entre crônicas e ensaios, o equivalente a um livro, desses volumes bem grossos, de 600 páginas ou mais e estou longe, muito distante, de esgotar o assunto. Por isso, é provável que em determinadas ocasiões tenha me tornado repetitivo, expressão que prefiro trocar por outra, “quase” equivalente, mas que é característica da minha profissão de jornalista, ou seja, reiterativo.

O que é importante merece reiteração, até para fixar conceitos e “marcar território” do ponto de vista literário. Para refrescar a memória dos leitores, transcrevo esta declaração do próprio Borges, que já transcrevi em “n” ocasiões, mas que entendo ser oportuno reiterar: “Na verdade, tudo isso corresponde a obsessões de minha infância. Os espelhos, os labirintos, os tigres, as armas brancas. E creio que isso é tudo, não tenho outros temas”. Nesse ponto, discordo dele. Não sei se o “tempo” foi ou não outra obsessão borgiana, mas o fato é que ele permeia, de uma forma ou de outra, toda a sua obra, quer a poética, quer a ensaística, quer a de seus marcantes e memoráveis contos.

Querem um exemplo? Cito, meio que a esmo, alguns de seus livros em que o tema se faz presente no próprio título. São os casos de “Historia de La noche” (poesia, 1978), “La memória de Shakespeare” (contos, 1983), “Historia de La eternidad” (ensaios, 1936) e “Historia universal de La infâmia” (ensaios, 1935). Na verdade o tema se faz presente em praticamente toda a sua vasta obra, ora ostensivamente, ora de maneira velada.

É possível que Borges não o tenha caracterizado como uma de suas obsessões por não ter sido obcecado por ele na “infância”, como nos demais casos que mencionou. É até provável que nunca tenha se dado conta disso. Afinal, nem sempre identificamos ou admitimos, ou sequer sabemos o que está guardado nos substratos mais íntimos da nossa mente, no inconsciente e no subconsciente. Quem sabe nunca tenha classificado sua preocupação com o tempo como obsessão. Mas que este foi tema constante e recorrente em sua obra, é facílimo de comprovar. Basta ler seus livros. Não tenho a menor dúvida a respeito.

Volto a tocar no assunto, porque tempo e espelho são duas das três obsessões literárias que tenho desde a infância e que antecedem, portanto, minha leitura de qualquer dos tantos livros de Borges que li (a terceira é a dos labirintos, esta sim por sua influência). Tanto que intitulei uma das minhas publicações recentes de “Cronos” (simbolizado pelo relógio) e “Narciso” (cujo símbolo, para mim, é o espelho). São dois temas que não faltam em praticamente nenhum dos meus textos, quer na poesia, quer na crônica, no conto ou em ensaio.

Borges justificou assim sua obsessão por espelhos: “Recordo que havia no meu quarto de menino uma cômoda com três espelhos. Eu me via triplicado nesses espelhos e tinha medo de me ver diferente em algum deles”. Da minha parte, não consigo identificar a causa de ser obcecado por esse tema (e nem pelo do tempo). O fato é que, mesmo à minha revelia, sempre que redijo algum texto literário, ambas obsessões afloram, vêm, invariavelmente, à tona e, quando me dou conta, lá estão os dois presentes, com constância e com rigorosa assiduidade.

Mas, em vez de tentar racionalizar e explicar minhas fixações, prefiro citar trechos das obras de Borges sobre um desses temas recorrentes, no caso o dos espelhos. Certamente o leitor terá muito maior proveito dessas citações do que das minhas elucubrações. Pincei em um de seus ensaios, por exemplo, esta singela explicação: “Já nos acostumamos com os espelhos. Ainda assim, existe algo de temível nessa duplicação visual da realidade”. No seu livro “Elogio da sombra – Um ensaio autobiográfico”, encontrei esse trecho do poema “Cambridge”, em que ele escreve:

“...Somos nossa memória,
somos esse quimérico museu de formas
inconstantes,
esse montão de espelhos rotos”.

Querem mais? Pois transcrevo este poema extraído de “A rosa profunda”, em que Borges diz:

Sou

“Sou o que sabe não ser menos vão
Que o vão observador que frente ao mudo
Vidro do espelho segue o mais agudo
Reflexo ou o corpo do irmão.
Sou, tácitos amigos, o que sabe
Que a única vingança ou o perdão
É o esquecimento. Um deus quis dar então
Ao ódio humano essa curiosa chave.
Sou o que, apesar de tão ilustres modos
De errar, não decifrou o labirinto
Singular e plural, árduo e distinto,
Do tempo, que é de um só e é de todos.
Sou o que é ninguém, o que não foi a espada
Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada”.

Como se nota, no poema estão presentes o espelho, o labirinto e... o tempo. Isso só comprova, no que se refere a este último tema, minha tese sobre as obsessões borgianas. Ou seja, a de que elas não são, apenas, as que ele mencionou. Finalmente, para encerrar estas reflexões, partilho com vocês este belíssimo poema em que Borges volta a se referir a espelho:

Os Meus Livros

“Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre”.

Espelhos, labirintos, tigres, punhais e... o tempo, no final das contas, mesmo sendo concretos, quando explorados, em literatura, não passam de símbolos. Pergunto-me: o que não é? Tomamo-los não pelo que são, extrinsicamente, mas pelo que representam abstratamente. A propósito, deixo a última palavra a cargo de Borges, que escreveu: “O mundo inteiro é um jogo de símbolos e todas as coisas significam outra coisa”. E não é?!!!

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Tuesday, January 29, 2013

O único caminho para mudar um país autoritário, desumano, preconceituoso e violento, e torná-lo justo, solidário, humano e com pessoas de mente receptiva, é a educação. Daí a necessidade da valorização do seu abnegado agente: o professor. Esta constatação é de um dos mais lúcidos e competentes educadores que o Brasil já teve, Paulo Freire, que no seu livro “Pedagogia da Indignação”, escreveu: “Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Muitos dos meus amigos exercem esse sublime sacerdócio (que tive o privilégio de exercer um dia). A vocês rendo modesta homenagem que, certamente, contará com o apoio de quem não é professor, mas que deve a maior parte do seu conhecimento e do seu sucesso aos mestres que teve.

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Pausa para o mundo meditar

Pedro J. Bondaczuk

A cidade italiana de Assis, que há alguns séculos abrigou um santo, São Francisco – que em suas preces costumava pedir a Deus que o fizesse “instrumento da paz” – será, na próxima segunda-feira, a autêntica capital mundial da boa vontade. Irá reunir líderes das mais variadas religiões, cristãs ou não, que têm uma mensagem, a transmitir para a humanidade e que se resume no seguinte: “A violência não é a última palavra nas relações entre homens e nações”.

Nessa data, 27 de outubro, o papa João Paulo II pretende que as pessoas de boa índole, que felizmente ainda existem em bom número neste turbulento Planeta, transformem essas 24 horas num verdadeiro “Dia da Paz”.

O movimento, frise-se, não tem qualquer conotação política. Apesar de que poderá ter, se o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, e o secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, Mikhail Gorbachev (cujos países estão, novamente, às turras por causa de mútuas, desastradas e inoportunas expulsões de diplomatas) aceitarem o desafio do Pontífice e se reunirem em Assis, junto ao túmulo de São Francisco, para que, inspirados por esse mensageiro da concórdia, resolvam, de vez, de forma civilizada, suas pendências, para alívio de toda a comunidade planetária.

João Paulo II, na oportunidade, fará uma convocação a todas as nações onde haja algum conflito armado. Estas são, atualmente, mais de 40, e em todo o mundo. Será para que as suas respectivas facções em litígio façam uma trégua, mesmo que passageira, para meditação acerca dos resultados danosos das suas ações. Que concordem com um cessar-fogo, curto, temporário, de somente 24 horas, mas que será providencial. Se o apelo do Pontífice for atendido, a pausa nos combates dará, certamente, um dia a mais de vida a milhares de pessoas que são ceifadas, diariamente, pela cega e irracional violência nos campos de batalha, ou através de atentados terroristas, ou de ataques de surpresa de guerrilheiros.

O repto será seguido das preces de gente que crê num ser superior, que criou o homem à sua imagem e semelhança e que, portanto, não o abandonará, por certo, nesse momento dramático, de tantos e tão terríveis perigos para a humanidade. Não deixará o ser humano desprotegido, no instante em que essa criatura contraditória, misto de anjo e demônio, tem em suas mãos o segredo de uma arma capaz de a levar à autodestruição e também ao fim de tudo o que a natureza levou milhões (quiçá bilhões) de anos para formar.

As crenças diferentes não estão mais servindo de barreiras para essas pessoas esclarecidas, e que amam, acima de qualquer coisa, a vida, que têm a garantia da sua perpetuação apenas com a tão almejada, mas raramente conseguida, paz.

Esta é uma oportunidade para que todos os indivíduos, não importa de que credo religioso ou político, de que país ou ideologia, mas que sejam sinceros em seu empenho por um futuro de prosperidade e de justiça, façam uma meditação.

Não precisa nem mesmo ser demorada, como a de certos monges católicos ou budistas, que passam toda uma vida refletindo. Pode ser uma reflexão singela, de somente escassos 60 segundos. Mas que seja sincera e voltada na direção da concórdia. Que cada pessoa, homem, mulher ou criança, velho ou jovem, religiosa ou não, faça, na próxima segunda-feira, um minuto de silêncio, eleve o pensamento à divindade em que acredita (se é que crê em alguma) e diga, com sinceridade, do fundo da sua emoção: “Eu me comprometo a trabalhar pela paz!”. E que, de fato, trabalhe por ela.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 24 de outubro de 1986)

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Escritores à revelia

Pedro J. Bondaczuk

A necessidade e o acaso, não raro, revelam talentos em todas as áreas de atividade e não é diferente, claro, quando se trata de literatura. Aliás, atrevo-me a dizer que nessa arte isso é até mais comum do que em outros setores da vida Há pessoas que, subitamente, se transformam (ou são transformadas) em “escritoras”, muitas vezes (dependendo das circunstâncias) à sua revelia, sem que sequer tenham a menor intenção disso.

Não são raros, por exemplo, os casos em que diários pessoais são transformados em livros, que se tornam sucessos editoriais, são traduzidos para vários idiomas e vendem milhões e milhões de exemplares, esgotando edições após edições. Isso pode ocorrer (e ocorre) por várias razões: ou pela exatidão dos fatos registrados para exclusivo uso particular, ou pelo estilo de redação ou pelo valor histórico ou por vários outros tantos motivos cuja citação é até desnecessária.

Aliás, de diário eu entendo – ou pelo menos acredito entender – já que, desde 1987, mantenho rigoroso, meticuloso e constante registro da minha vida, sem falhar um único dia – e faço isso sem nenhuma intenção de torná-lo peça de Literatura. O objetivo específico e único é o de “refrescar” a memória, que sei ser tão frágil e traiçoeira, para quando pretender citar, literalmente, algum fato de passado já remoto em alguma das minhas tantas crônicas (estas sim com intenção literária), e fazê-lo com rigor e exatidão. Embora não contenham nada de comprometedor, não gostaria de ver esses registros íntimos bisbilhotados, publicados e muito menos divulgados. Mas meu diário me é bastante útil, já que, como jornalista, lido com fatos e fui treinado a relatá-los com a maior veracidade possível.

Nem sempre, é verdade, esse tipo de registro prima pela utilidade. Não raro, não passa de ingênuo desabafo, quando não de infantis devaneios de garotinhas que experimentam a primeira paixão amorosa da vida. Creio que as mulheres, em especial as adolescentes na faixa dos 13 aos 17 anos, são as que mais recorrem a esse expediente. Experimentem ler, sem sua autorização, um desses diários! Essa inconfidência resultará, certamente, em uma inimizade “eterna” por parte de quem teve a intimidade violada. Não recomendo a nenhum bisbilhoteiro que se atreva a bisbilhotar esses cadernos tão íntimos.

Mas, como ia dizendo, às vezes tais registros tão particulares extrapolam seus objetivos originais e únicos e se transformam em livros. Foi o que aconteceu com a jovem Zlata Filipovic. Provavelmente esse nome é familiar ao leitor bem informado. Caso não seja, permitam-me informar-lhes de quem se trata. E, para quem a conheça, nunca é demais refrescar a memória, não é mesmo?.

A guerra civil da Bósnia – que durante mais de meio século integrou a federação da Iugoslávia – foi um drama, relativamente recente, ocorrido quando esse Estado federativo socialista se desagregou e resultou na criação de seis ou sete (não me recordo agora) novos países. O sangrento e perverso conflito freqüentou as manchetes internacionais por um bom tempo, mais especificamente entre 1990 e 1994. Entre tantas coisas ruins que ensejou (e põe ruim nisso!), porém, gerou algo de bom: propiciou o aparecimento de uma espécie de Anne Frank contemporânea, posto que dos Balcãs. Refiro-me, e vocês certamente já perceberam, exatamente a Zlata Filipovic.

Na oportunidade, esta hoje bacharelada em ciências humanas pela Universidade de Oxford, com mestrado na área de saúde pública em estudos da paz internacional pelo Trinity College, em Dublin, estava com apenas dez anos de idade. Era menininha esperta, observadora e aplicada. Residia em Sarajevo e registrou, em seu diário, o dia a dia de uma cidade sitiada, submetida a constantes (e intermináveis) bombardeios, onde a vida, claro, perdeu qualidade e as ruas, outrora movimentadas e cheias de saudável agitação, típicas de uma grande metrópole européia, se transformaram em um lugar sumamente perigoso, em autênticas “sucursais do inferno”.

Durante três anos, tudo o que a menina viu, ouviu e sentiu, foi meticulosamente registrado. Frise-se que Zlata não foi a única criança de Sarajevo a manter esses registros. Várias outras o fizeram. Tanto que o Unicef apelou às que mantinham diários que os mostrassem aos seus professores, instruídos, por seu turno, a selecionarem os melhores, com vistas à publicação. E o de Zlata foi o que mais impressionou a todos, pela exatidão, pela coerência, clareza e até estilo. Foi, pois, selecionado para ser publicado em julho de 1993.

Desde então, ela passou a ostentar o apelido de “Anne Frank de Sarajevo”. Seu diário foi lançado em livro, inicialmente, em Paris. O sucesso foi tão grande, e imediato, que a editora Viking Penguin/Penguin Books lançou-o nos Estados Unidos, onde também se transformou em best-seller. No Brasil o lançamento coube à Editora Companhia das Letras. O destino de Zlata, todavia, foi muito diferente (para melhor, óbvio) do que o de Anne Frank.

O editor francês de seu livro providenciou a remoção dela e da família para a França, livrando-os do inferno da guerra civil. De lá ela seguiu para a Grã-Bretanha, onde pôde completar os estudos e obter oportunidades que em seu país certamente não obteria jamais. Hoje, perto de completar 32 anos (nasceu em 3 de dezembro de 1980) é conferencista das mais requisitadas, narrando, sucessivamente, suas dramáticas experiências de infância para atentas e curiosas platéias de várias partes da Europa.

A família de Anne Frank, que era judia, por sua vez, fugiu de Frankfurt, na Alemanha, para Amsterdã, na Holanda, logo após a ascensão de Adolf Hitler ao poder, em janeiro de 1933. O pai, Otto, montou uma pequena indústria de alimentos, em sociedade com os Van Daan, judeus holandeses. O sótão, onde a menina se abrigou por quase dois anos, com a família, começou a ser construído no número 263 da Rua Prinsengrachr, em maio de 1940, quando a Alemanha invadiu a Holanda.

Eles decidiram esconder-se nesse camuflado abrigo quando os nazistas publicaram uma ordem de prisão contra Margot, a irmã mais velha da menina, em 6 de julho de 1942. Na oportunidade, Anne tinha 13 anos. Os Frank (e os Van Daan, que se juntaram a eles mais tarde) só deixaram a casa em 4 de agosto de 1944, quando foram presos pelos nazistas, após uma denúncia. Nesse tempo, a adolescente escreveu seu célebre diário, que “batizou” de Kity (o de Zlata foi batizado de Mimmy). Ambos contêm as impressões de menininhas prodígios, praticamente crianças, sobre a desumanidade da guerra, a rotina na prisão domiciliar e, no caso da garotinha judia, sobre seu amor platônico pelo jovem Peter van Daan.

Da família Frank, apenas o pai sobreviveu à guerra. Aliás, foi ele o responsável pela publicação do diário da filha, que se tornou best-seller mundial, além de sucesso de bilheteria, quando a história foi transposta para as telas de cinema. Anne Frank e os demais companheiros do longo confinamento no tal sótão de Amsterdã morreram no campo de concentração de Bergen Belsen, em março de 1945, semanas antes da morte de Adolf Hitler e da rendição da Alemanha nazista. Ela e a irmã Margot contraíram tifo e não resistiram.

O livro da menina bósnia foi publicado com o título: “Diário de Zlata: a vida de uma criança em Sarajevo”. É leitura que recomendo. Aliás, a recomendação é a de que leiam as duas obras, que contêm relatos aterradores e reflexões de causarem inveja a muitos marmanjos que aspiram a ser escritores, mas que “tropeçam”, invariavelmente, na mesmice.

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Monday, January 28, 2013

O professor não educa somente uma, dez, cem, mil pessoas ou mais. E nem, apenas, uma geração: a sua. As sementes que planta sobrevivem ao tempo e produzem frutos muitos e muitos anos depois da sua morte. Na verdade, ele educa uma espécie, daí merecer o máximo respeito e reverência de todas as pessoas, sem exceções. O norte-americano Henry Adams foi de extrema felicidade ao constatar: “Um professor sempre afeta a eternidade. Ele nunca saberá onde sua influência termina”. Muitos dos meus amigos aqui do Orkut exercem esse sublime sacerdócio (que tive o privilégio de também exercer um dia). A vocês rendo minha modesta, mas comovida homenagem que, certamente, contará com o apoio e a solidariedade de quem não é professor, mas que deve a maior parte do seu conhecimento e do seu sucesso aos mestres que teve. 

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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária” – José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com

“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: nenem138@gmail.com

“Aprendizagem pelo Avesso” – Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br

O que comprar:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). – Preço: R$ 23,90.

Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. – Preço: R$ 20,90.

Como comprar:

Pela internet – WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.

Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.


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Novelas são destaques do ano na TV

Pedro J. Bondaczuk

As novelas, em geral, e “Roque Santeiro”, em particular, salvaram a programação televisiva deste ano, com vários trabalhos bem elaborados sendo mandados ao ar, com a Rede Globo distinguindo-se, tranquilamente, das demais emissoras. Entre os programas que abordamos nas duas semanas anteriores, omitimos dois que, por questão de justiça, merecem menção, ambos exibidos pela Rede Bandeirantes.

O primeiro é comandado por esse extraordinário jornalista, mais do que isso, autêntico repórter na mais exata acepção do termo, que é Goulart de Andrade. Há tempos vínhamos acompanhando sua atuação na emissora anterior que trabalhava, a TV Record. E, na Bandeirantes, ele nos brindou com reportagens, como sempre originais e extremamente informativas, além de instrutivas.

O outro programa que não pode, jamais, deixar de ser citado é “Maria Gabi Gabriela”, comandada pela competente profissional que lhe empresta o nome. Finalmente, ela encontrou seu espaço mais adequado para expandir seu talento, após passagem, de início brilhante e depois um tanto acidentada, pela Rede Globo. O telespectador pôde sentir o seu grande amadurecimento e quase que uma implícita promessa de trabalhos até mesmo melhores do que o atual, num futuro próximo, e de excelente nível.

Abrindo e fechando rapidamente esse parêntese, voltemos ao tema de abertura destas considerações. Escrevíamos que as novelas salvaram o ano em termos de programação de TV. E disso, acreditamos, ninguém tem qualquer espécie de dúvida. É consenso. Afinal, foi uma obra do gênero, o excelente “Roque Santeiro”, de Dias Gomes, que conseguiu um feito deveras raro e não apenas em televisão, mas em qualquer atividade: a unanimidade.

Em várias ocasiões, a novela obteve índice de audiência absoluta, isto é, de 100%, o que quer dizer que nesses dias, na hora em que o programa foi ao ar, “todos” os receptores de TV do País que estavam ligados, estavam sintonizados na Globo. E, especificamente, no “Roque Santeiro”. Não é sempre que uma façanha desse porte se concretiza. Aliás, é mais correto dizer que quase nunca isso ocorre.

A novela caiu tanto no agrado dos brasileiros, que vários de seus personagens impuseram modas, passaram a ser imitados em seus cacoetes e as passagens mais enfáticas do enredo se transformaram em temas obrigatórios das conversas nos bares, nas filas de ônibus, nos salões de cabeleireiros e, por que não dizer, até asqui, na redação do Correio Popular.

Algumas sessões da Câmara de Deputados, em Brasília, tiveram, sutilmente, seus horários alterados, para que os parlamentares não perdessem nenhum capítulo. E até reuniões de negócios de empresários deixaram de ser agendadas nos horários em que “Roque Santeiro”, costumeiramente, vai ao ar, para não privar ninguém dos seus emocionantes lances.

Mas não foi apenas essa novela – embora, obviamente, tenha se destacado das demais – que despertou o interesse do telespectador em 1985. Várias outras, como “A gata comeu”, “Livre para voar”, “Corpo a corpo”, “Um sonho a mais”, “Vereda tropical” e “De quina para a lua” (apenas para mencionar as mais comentadas) prenderam as pessoas em casa, atrasaram jantares em muitas residências por este imenso Brasil afora e até interferiram em horários de muitas atividades profissionais, até mesmo dos políticos (o que não é muito de se estranhar dada sua má fama de ociosidade).

Os que acompanham futebol (e quem não acompanha neste País?) devem estar bem lembrados da gravação do capítulo final de determinada novela. Durante o jogo entre o Vasco da Gama e o Corinthians, no Morumbi, válido pela “Taça de Ouro”, Mário Gomes, vestindo a camisa corintiana, chegou a entrar em campo com a partida em pleno andamento, levando o árbitro, naquela oportunidade, a determinar uma paralisação do encontro para advertir o ator.

“Vereda tropical”, responsável por esse incidente, teve todos os ingredientes para prender a atenção de pessoas de todos os gostos à mágica telinha. Teve romance, humor, pancadaria e... até futebol, já que o personagem principal era um atleta profissional, cujo objetivo era ser contratado por algum grande clube. Destaque-se a atuação soberba de Geórgia Gomide, que retornou, em grande estilo, ao vídeo, após uma década de incompreensível ostracismo.

Em “Corpo a corpo”, a linha do misticismo, que já houvera feito tanto sucesso em “O astro”, voltou a empolgar os telespectadores. O tema lembrou, ligeiramente, o mito de Mefistófeles, abordado, magistralmente, pelo genial escritor alemão Johann Wolfgang Göethe, há alguns séculos, no clássico “Fausto”, em que uma pessoa ambiciosa, para satisfazer seu desejo de fazer fama e fortuna, vendeu a alma ao demônio em troca da ajuda das forças do mal.

Sua adaptação para o mundo atual, moderno, que a princípio gerou desconfianças nos críticos (inclusive em mim), foi bastante criativa e convincente. E esse aspecto tem que ser destacado, pois chamou a atenção. Mas as outras novelas que mencionei também tiveram, todas elas, seu destaque. Algumas foram valorizadas por interpretações excelentes de alguns atores, ou de todo o elenco, que deram sustentação a histórias banais, que cresceram por esse motivo. Outras brilharam por causa de cenários bem escolhidos ou magnificamente elaborados, ou por impecável direção, quando não (e principalmente) pelo conjunto. Mas ninguém pode negar que o gênero, que completa quase um quarto de século de sucesso na TV, depois de ter brilhado por muito tempo no rádio, teve, certamente, um de seus melhores anos, neste 1985.

(Comentário publicado na página 20, editoria de Artes e Variedades, do Correio Popular, em 12 de dezembro de 1985).

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Astúcia e sabedoria

Pedro J. Bondaczuk

A sabedoria e a astúcia raramente andam de mãos dadas. O ideal é que andassem. Aliás, não raro, são condições até antagônicas. Muitos consideram-nas sinônimas. Acham que se trata da mesma coisa, apenas com nomes diferentes. Ou seja, entendem que se trate tão somente de questão de semântica. Enganam-se, todavia.

Posso, por exemplo, ser sábio e, no entanto, despido de esperteza (esta sim sinônima de astúcia). Aliás, a fama de que gozam os notórios luminares da sabedoria, os gênios, os gigantes intelectuais da espécie, é a de serem ingênuos. Nem todos, óbvio, o são. Mas o fato de serem não os tornaria e nem os torna menos sábios.

O astuto é aquele sujeito que deseja, e tenta levar vantagem em tudo. Não lhe importa os meios que venha a empregar para isso. A ele qualquer um a que recorra justifica os fins. E estes são, sempre, os de se sair bem, mesmo que para isso prejudique multidões, não raro um país inteiro.

Reitero, isso não é sabedoria. O sábio faz da astúcia, quando se vale dela, mera estratégia, mas tem em mente que se causar prejuízos ou qualquer espécie de dano a alguém, fatalmente terá que arcar com as conseqüências. Por isso, não os causa. Já o tolo não tem essa preocupação. E sua astúcia, desacompanhada de sabedoria, invariavelmente o leva a trocar os pés pelas mãos. Via de regra, quem quer levar vantagem em tudo, finda por não levar vantagem em nada. Pode até se dar bem por certo tempo. Mas no final, sempre acaba desmascarado, pagando o preço por sua “esperteza”.

O filósofo inglês Francis Bacon advertiu, ainda no século XVI: “Nada provoca mais danos num Estado do que homens astutos a quererem passar por sábios”. Suas palavras são para lá de atuais e oportunas; Soam como se fossem ditas hoje pela manhã. Quem acompanha de perto a política, ou por gosto (o que se torna cada vez mais raro), ou por necessidade profissional, e não importa em que lugar do mundo viva, identifica isso com a maior facilidade.

Detecta os danos de homens astutos, querendo se passar por sábios, que enganam os simples e ingênuos (que constituem absoluta maioria e são tão maleáveis a ponto do seu conjunto ser classificado, pejorativamente, de “massa”), e fazem estragos, não raro irreparáveis, em áreas fundamentais do Estado, como Finanças, Saúde, Educação, Justiça etc.

Lá um belo dia são pegos com a boca na botija e alguns (não todos) são punidos. Outros escapam ilesos, embora caiam na boca do povo com a pecha que merecem, a de corruptos. Porém os males que causaram ficam sem reparação e geram efeitos perversos por anos, ás vezes até por séculos, atravessando gerações.

Claro que há políticos sábios e honestos (posto que, infelizmente, se tornem cada vez mais raros), já que não se pode e não se deve generalizar. Mas... os meramente astutos, mesmo que não sejam maioria, são sumamente daninhos quando, ou se atingem seus objetivos. Nem se trata, sequer, de questão de quantidade. Afinal, uma única maçã podre, em um cesto de frutas sadias, tende a contaminar boa parte do lote, quando não sua totalidade.

Acho sumamente interessante, e inteligente, a forma como o escritor francês Anatole France – pseudônimo literário de Jacques Anatole François Thibault, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1921, pelo conjunto de sua obra – traçou a diferença entre o sábio e o tolo que se faz astuto. Escreveu: “Na noite onde todos estamos, o sábio esbarra com a parede, enquanto o ignorante fica tranqüilamente no meio do quarto”.

Ao desavisado, parece que o primeiro age de forma imprudente e tola e o segundo é que está certo. Afinal, com sua inércia, evita o risco de se ferir. Todavia, o sábio age, no sentido de encontrar uma saída e escapar da escuridão, mesmo que dê um encontrão ou outro em obstáculos, no caso, a parede. Depende, pois, apenas dele, do seu senso de orientação para encontrar uma solução. Já o ignorante, oportunista, fica na dependência do outro para se livrar da incômoda situação. Às vezes, se livra. Mas...

Se o sábio encontra a saída, o astuto aproveita-se do seu êxito, sem ter se esforçado para tal. Caso contrário... ambos podem morrer de inanição, esquecidos pelo mundo, no meio da escuridão. Com uma diferença fundamental. O primeiro (no caso, o sábio), pelo menos tentou, com chances razoáveis de conseguir. Já o segundo (o ignorante, porém astuto), pode morrer sem sequer haver tentado coisa alguma para se salvar, na dependência exclusiva de terceiros. Viram como as meras aparências enganam?

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