Friday, January 11, 2013

Pérolas de reflexão e de emoção

Pedro J. Bondaczuk

As opiniões, emitidas por Victor Hugo, sobre os mais variados assuntos, mesmo que “pinçadas” aleatoriamente e fora de contexto, dariam para compor, por si sós, alentado volume, repleto, sobretudo, de sabedoria e de sensibilidade. São coerentes, apaixonadas e convincentes. Mesmo as mais polêmicas, e eventualmente contestáveis, foram expressadas com tamanha elegância, clareza e originalidade, que não há como não (no mínimo) admirá-las.

A título de ilustração, separei algumas, sem atentar para nada de específico, extraídas ao léu, de várias fontes, ou seja de seus romances, poemas, ensaios e até de discursos (afinal, como político, pronunciou vários, nas mais diversas ocasiões, ao longo de sua vitoriosa carreira, sendo três deles memoráveis: o sobre a condição feminina, o acerca do ensino religioso nas escolas e o referente à pena de morte). Peço licença para compartilhar com você, paciente leitor, algumas dessas opiniões (não necessariamente as mais conhecidas e, portanto, mais célebres) e dar o meu pitaco a respeito.

Como poeta – e considerado, consensualmente, até pelos mais ferrenhos críticos e adversários como o maior da França, e de todos os tempos – o amor, em todas suas formas e graduações, foi, provavelmente, o tema sobre o qual mais escreveu. Pudera! Antes da transcrição e de comentários a respeito, permitam-me mais uma observação, que na verdade é uma reiteração. E aqui não vai nenhuma espécie de contestação ao talento e genialidade de Hugo.

Nunca concordei com o tipo de avaliação que considere Fulano, Sicrano ou Beltrano como o “maior, ou o “melhor” no que quer que seja. Trata-se de juízo de valor sumamente subjetivo (e até antipático, principalmente por ser inexato) e sem base num parâmetro que seja incontestável. Prefiro referir-me aos “gênios” de suas respectivas atividades utilizando uma palavrinha simples, que não deixa de lhes fazer justiça, mas que nem por isso é injusta em relação aos demais. Em vez de afirmar que Fulano é o “maior” ou o “melhor” no que quer que seja, tenho o cuidado de colocar à frente dessas expressões o cauteloso limitante: “um dos”. Afinal, no caso de poetas, não conheço “todos” os que existem, já existiram ou possam vir a existir e muito menos suas obras. Ninguém conhece. Portanto... Daí ser equivocado (quando não mentiroso) esse tipo de peremptória conclusão.

Hugo nos legou, sobre o amor, pérolas preciosas e raras, como esta, por exemplo: “A medida do amor é amar sem medida”. Parece mero jogo de palavras, mas não é. Reflitam a respeito e concluirão que o poeta está coberto de razão. Além do que, expressou-o com tamanha elegância e beleza que é de causar inveja a quem se proponha a escrever. Bem que gostaria que essa conclusão fosse da minha lavra. Claro que não é. E o que dizer deste “conselho” que Hugo dá aos amantes, que reproduzo a seguir? “Vós, que sofreis, porque amais, amai ainda mais. Morrer de amor é viver dele”. E não é?!! Essa experiência, tão acessível a qualquer pessoa, mas que muitos relutam em vivê-la, por medo de decepções e de se ferir, compensa tudo na vida, até mesmo (ou principalmente) ela.

Aliás, ainda a esse propósito, Hugo tem uma citação que considero genial e que ressalta o quanto, no seu entender (e no meu, claro) esse sentimento é importante e até redentor. Utilizando metáforas sumamente criativas, escreveu: “A vida é um campo de urtigas onde a única rosa é o amor”. Eu acrescentaria: “a despeito dos espinhos”.

Outra opinião de Hugo que me proponho a compartilhar com você, é a que trata do exercício da reflexão, da meditação, do convívio com idéias. Ele escreveu: “Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos”. Para que você pense dessa forma, porém, o ideal é cultivar o hábito de pensar. Experimente. Ao contrário do que você possa eventualmente temer, é um exercício agradável e indolor. Pensar não dói, embora pareça que muitos achem que sim.

Bondade e justiça são duas virtudes basilares e o ideal é que andassem sempre juntas. Uma não apresenta maiores dificuldades. Basta, tão somente, a vontade de cada um para se manifestar. Já a outra... é complexa e depende de uma série de circunstâncias. Qual das duas você acha que é mais possível de ser cultivada, e sem maiores sacrifícios? Hugo responde: “Ser bom é fácil. O difícil é ser justo”. Você discorda? Eu não! Estou plenamente de acordo com o poeta.

Interessante é a forma que, como Hugo observou, as pessoas encaram o futuro. As opiniões a respeito variam de acordo com os vários tipos de personalidade. Enquanto alguns esperam-no com tranqüilidade, otimismo e confiança, outros tantos temem-no, chegam mesmo a apavorar-se com sua iminência, dada, principalmente, a incerteza desse tempo potencial, que pode nem sequer existir para muitos de nós. Todavia, não adianta temê-lo, pois, o que tiver que acontecer, acontecerá. Hugo escreveu a propósito: “O futuro tem muitos nomes: para os fracos é o inalcançável, para os temerosos, o desconhecido, para os valentes é a oportunidade”.

E o que você acha dos sonhos? Interpreta, como muito sujeito que se diz realista, como sendo coisa de desocupado ou considera-o como ideal que mobiliza pessoas e povos às grandes realizações? Aqui, óbvio, não me refiro a sonhos involuntários, aos que temos, à nossa revelia, durante o sono, embora muitos deles sejam tão agradáveis que, ao tê-los, sequer gostaríamos de acordar, para não interrompê-los. Refiro-me às idealizações, à forma como gostaríamos que as pessoas e o mundo fossem. Hugo discorda de quem os ache inutilidades, perdas de tempo, devaneios irrealizáveis. Escreveu a respeito: “Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã”. Albert Einstein, posto que com outras palavras, disse algo semelhante. Não foram assim que as grandes obras e a própria civilização nasceram, ou seja, de meros sonhos? Ora, se foram!

E quando surgirem dificuldades em nosso caminho, quando estivermos face a obstáculos aparentemente intransponíveis ou quando o solo da realidade nos parecer tão instável a ponto de ameaçar afundar, como devemos proceder? Fugir? Temer? Alienar-nos? Para Hugo, a única reação possível é a da confiança. É a de acreditar em nossas forças e, sobretudo, em nossa capacidade de ação e de reação. E propôs: “Sede como os pássaros que, ao pousarem um instante sobre ramos muito leves, sentem-nos ceder, mas cantam! Eles sabem que possuem asas”. Saibamos disso. E cantemos...

Para encerrar estas descompromissadas reflexões a propósito das opiniões contidas na obra de Victor Hugo (e as que abordei são ínfimas migalhas, se considerarmos o quanto e como ele opinou, e sobre tudo, em sua quase uma centena de livros, além dos discursos que proferiu), nada melhor do que saber como encarava a atividade que mais o projetou e da qual foi mestre. E ele escreveu a respeito: “A poesia é tudo o que há de íntimo em tudo”. Querem definição melhor?! Eu poderia estender-me por páginas e mais páginas, transcrevendo e comentando à margem dezenas, centenas, milhares dessas pérolas de reflexão e de emoção. Todavia, não o farei. Mas recomendo que vocês o façam, como saudável exercício de dialética. Afinal, dialogar com gênios é tarefa das mais úteis, proveitosas e agradáveis e não os encontramos a todo momento por aí. Infelizmente...


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