Thursday, January 31, 2013

Aventuras e desventuras de um escritor

Pedro J. Bondaczuk

A fórmula “infalível” para o sucesso de vendas de um livro é algo que escritores do mundo todo e de todas as épocas sempre buscaram e buscam, incansavelmente, mesmo que, quando questionados a propósito, neguem enfaticamente. Dizem (e sequer ficam vermelhos com a mentira que sabem estarem dizendo), que fazem literatura por idealismo. E blá-blá-blá, bla-bla-blá, bla-bla-blá. Ora, ora, ora... É conversa para boi (quem sabe até para elefante) dormir, claro.

Não nego que também já tive (e tenho) essa pretensão de ver meus livros venderem não apenas uns poucos milhares de exemplares, mas milhões e milhões deles. Quem me dera! E considero esse desejo dos mais justos e lógicos. Tolo e incoerente eu seria se não o tivesse. Afinal, por mais que se goste de literatura, ninguém escreve exclusivamente para o próprio deleite. Pelo menos não livros. Se alguém quiser fazer isso (ninguém é proibido de fazê-lo) que o faça, mas em diários ou em textos esparsos, sei lá. Alguns agem assim (só não entendo por que). Enfim... Em cada cabeça, uma sentença Mas, quem faz isso não é escritor. É mero diletante.

Pergunto: existe alguma fórmula que, se aplicada, garante êxito total e absoluto e, sobretudo, sempre que for utilizada a alguém? Objetivamente respondo: não, não e não! E coloque aí toda a ênfase que você conhecer. Claro que não! Há atitudes e ações que conferem, potencialmente, maiores possibilidades de êxito para quem as adotar. Mas não são infalíveis. Não são mesmo. Quase nada na vida é! Ou nada mesmo, sei lá!

O sucesso e o fracasso, a experiência me sugere (ou demonstra) têm muito a ver com circunstâncias e acaso. Claro que a qualidade do livro que se pretende transformar em best-seller conta, e bastante. Contudo não é fator determinante. Não confere nenhuma certeza a ninguém. Já vi muitas obras mal escritas, pessimamente editadas, eivadas de erros gramaticais, sem continuidade nenhuma e cheias de incoerências e contradições (no entanto bem divulgadas), esgotarem edições e mais edições. Para mim elas são casos para o Procon. Afinal, o consumidor está sendo redondamente (ou quadradamente, sei lá) enganado e lesado. Como vi, também, livros muitíssimo bem escritos, tanto na forma quanto no conteúdo, encalharem nas prateleiras das livrarias e darem prejuízo monumental às editoras e aos seus decepcionados e infelizes autores. Por que isso acontece? Mistério!

A vida do escritor, no Brasil, não é nada fácil. Nem sempre, por exemplo, um sucesso de crítica é acompanhado do respectivo êxito de vendas. Muitos livros, de escritores consagrados, cujos textos constam das melhores antologias literárias e são utilizados nas escolas, nas aulas de Português, como modelos de boa redação, venderam escassos milhares de exemplares (se é que chegaram a tanto) e não raro precisaram de uma década ou mais para que isso acontecesse. Não citarei nomes, óbvio, e nem obras. Os motivos são os mais diversos possíveis (cada um pode apresentar sua lista de razões e estará certo). Achar soluções para o problema é que são elas.

Por exemplo, o nível de leitura do brasileiro ainda é extremamente baixo para o conjunto da nossa população (em torno de 200 milhões de habitantes). Pergunte às pessoas que o cercam quantos livros elas lêem por ano. Quantos leram recentemente? Os sinceros confessarão que não leram nenhum em 2012, em 2011, em 2010... Os que mentirem, será fácil pegar na mentira. É só perguntar do que as obras que disseram ter lido tratam. Vão, certamente, gaguejar, desconversar e mudar de assunto. Eu fiz esse teste e o resultado foi o óbvio, o que eu tinha certeza que seria.

Os motivos alegados para a falta de leitura são os mais diversos e alguns não deixam de ser até bizarros. O brasileiro, por exemplo, lê infinitamente menos do que o argentino, ou do que o chileno ou do que o uruguaio (e nem faço a comparação com o norte-americano, ou o japonês, ou o europeu, porque seria uma covardia. Perderemos de goleada!). A maioria tenta se justificar argumentando que o preço do livro no Brasil é muito alto para seu padrão econômico. Bem, barato, barato, não é mesmo. Mas há exceções.

Pergunte, porém, a quem se queixa de preço, se ele deixa de ir aos estádios, para assistir a jogos de futebol cada vez mais sonolentos, chatos, com cartas marcadas (muitos, ostensivas marmeladas, com resultados distorcidos por péssimas arbitragens) e... caros. Ou se economizam não indo a baladas, barulhentas e aborrecidas, que mais cansam, desgastam e irritam do que divertem. Ou a shows de rock. Ou a rodeios.

Ademais, há livros bastante baratos, de custo inferior ao de um maço de cigarros (duvidam? Informem-se!) e, sem dúvida, sem provocar nenhum dos malefícios que esse perverso e nocivo veneno causa à saúde. Onde encontrar essas pechinchas? Ora, ora, ora, é só procurar. Quem tem interesse de fato de ler, certamente encontrará essas edições baratas, baratíssimas (qualquer dia vou mencionar uma lista completa delas).

Escrever um livro, embora seja tarefa digna dos doze trabalhos de Hércules (claro, se sua pretensão for a de produzir uma obra de qualidade que mereça ser publicada), não é o lado pior da atividade. Publicá-lo, não raro, se transforma em autêntica saga, em inconstante e aborrecida aventura (ou desventura) e você tem que estar preparado para ouvir infinitos “nãos” de pelo menos uma dezena de editoras. E, ainda assim, não é o que de mais complicado você terá que superar.

O complicado, complicado mesmo, é fazer com que esse seu “filho espiritual” (é assim que considero o que produzo) chegue aos pontos de venda deste país de dimensões continentais. E mais, é torná-lo conhecido e atraente aos potenciais consumidores. A internet que poderia exercer esse papel, não é tão eficaz nesse sentido como pensamos. Eu, pelo menos, decepcionei-me com os resultados dessa divulgação pela rede mundial.

Quando divulgo meus livros por esse veículo, potencialmente tão abrangente, em especial nas redes sociais (Facebook, Orkut, Twitter etc.) volta e meia tenho que engolir comentários jocosos (e burros) de “donos da verdade”, criticando minha atitude. Estes entendem que tais espaços sirvam, ou devam servir apenas, para escrever banalidades, “gracinhas” sem nenhuma graça, postar imagens e citações pirateadas que a maioria posta zilhões de vezes, quando não coisas piores, como marcar brigas entre torcidas organizadas ou divulgar suas taras, como a pedofilia. Durma-se com um barulho desses!

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