Thursday, January 31, 2013

Regime paraguaio ilhado

Pedro J. Bondaczuk

O presidente paraguaio, Alfredo Stroessner, que já está na presidência há 39 anos, desde 1954, quando se estabeleceu um vazio no poder, após uma sangrenta guerra civil, provavelmente vai ganhar um novo mandato de cinco anos. Atualmente, ele só perde para o norte-coreano Kim Il Sung, que governa a Coréia do Norte desde 1948, como o mandatário com mais tempo à frente de um governo em todo o mundo. E caminha, aceleradamente, para o recorde, a despeito de toda a oposição que enfrentou e está enfrentando no Paraguai.

É interessante o raciocínio dos caudilhos e dos puxa-sacos que os cercam. Os psiquiatras até criaram um termo para definir essa espécie de paranóia que se apossa deles e os faz achar que são insubstituíveis e que sem eles, o Estado não sobrevive: hubris.

O país vizinho, em termos institucionais (antes de Strossner, evidentemente), sempre se caracterizou pela instabilidade. Um partido oficial, o Colorado, dividido em subpartidos pelo grau de servilidade à figura do ditador, vem dominando a vida nacional neste século.

Em 176 anos de independência, o Paraguai já teve 51 governos, alguns com apenas meses de duração. O longo período no poder do generalíssimo estabilizou, mas na contramão, tal alternância. Para alguém menos avisado, que não soubesse acerca da duração dos mandatos dos vários presidentes e apenas fizesse uma simples divisão dos anos de existência do país pelo número de seus governantes, restaria uma impressão, falsa, de relativa democracia.

A média dos períodos governamentais seria de 3,4 anos. Todavia, apenas dois caudilhos, Higino Moriñigo, o responsável pela guerra civil e Alfredo Stroessner governaram 47 anos, quase meio século. Os demais 49 ficaram com o tempo restante.

Só entre 1948 e 1954, seis governantes passaram pelo palácio presidencial. Em 1948, após a fuga do ditador da época, Juan Manuel Frutos e Juan Natalicio Gonzalez ocuparam, transitoriamente, a gestão do Estado.

Em 1949, o Paraguai foi dirigido pelo general Raimundo Rolán, por Felipe Mola Lopez e finalmente por Federico Chavez, que viria a ser substituído, em 1954, pelo atual todo-poderoso presidente semi-vitalício.

Está, portanto, na hora dos paraguaios tentarem uma nova opção. Chegou o momento de pensarem em entrar no século XXI com uma nova formulação institucional, democrática e participativa. Afinal, em termos de regime, o Paraguai é uma verdadeira ilha, mesmo na nossa instável e caudilhesca América do Sul.

(Artigo publicado na página 27, Internacional, do Correio Popular, em 22 de novembro de 1987)

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