Pedro J. Bondaczuk
As guerras civis, por envolverem um confronto armado entre grupos de uma mesma sociedade nacional, costumam ser mais difíceis de se terminar do que conflitos com outros países, com resultados tão perversos quanto os produzidos por estes, quando não maiores.
Nesses casos, o “inimigo” não está alhures, à espera de uma bem sucedida invasão, mas na própria nação, na própria cidade, às vezes na própria rua de cada cidadão. Seus ataques, portanto, contam com o poderoso fator surpresa.
Para que uma conflagração destas comece, não há grandes dificuldades. A tarefa gigantesca é pôr fim a tais guerras civis, mesmo que elas terminem com a vitória categórica de um dos lados. A parte perdedora, embora muitas vezes aceite a conciliação (pelo menos perante a opinião pública) sempre acaba guardando ressentimentos. Por isso, qualquer incidente tolo pode recomeçar os combates.
Esta introdução nós fazemos a propósito do que vem acontecendo no Líbano. Ontem, por toda e qualquer lógica, seria uma data festiva para os libaneses. Afinal, era o quadragésimo-sexto aniversário da independência do país em relação à França. E o dia até que chegou a começar com festa.
Triste, lamentável, terrível foi a forma como terminou, com o banho de sangue causado pela explosão de um carro-bomba, que estraçalhou o corpo do novo presidente, René Moawad, escolhido há somente 17 dias, como uma esperança de pacificação para esta que já foi uma sociedade nacional apontada como exemplar entre etnias e religiões diferentes.
Esse político foi mais uma das tantas vítimas da intolerância e do fanatismo, da violência cega e irracional que tomaram conta dos libaneses nestes quase 15 anos de encarniçada luta. Ele veio somar-se a Bachir Gemayel, a Rashid Karami e a tantos outros líderes, mortos de tocaia, através do covarde expediente do terror.
E não é apenas o Líbano que não consegue encontrar o caminho da conciliação. Outras guerras civis já estão completando ou ultrapassando décadas, como as de El Salvador e da Nicarágua, na América Central; de Angola e Moçambique, na África; do Afeganistão e do Sri Lanka, na Ásia e muitas outras, que temos abordado periodicamente em nossos comentários.
Mesmo assim, em diversas sociedades nacionais, ainda há os insensatos, que se dizem líderes, pregando o recurso das armas como solução para as contradições existentes em seus países. Tais dirigentes não passam de suicidas, que conduzem povos inteiros à desorganização social.
O que uma negociação sensata e sincera não consegue resolver, não será pelas armas que se obterá solução. Está aí o exemplo chocante do Líbano para mostrar esta verdade, que muitos ainda teimam em não aceitar.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 23 de novembro de 1989).
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