Pedro J. Bondaczuk
A situação palestina, os fatos já demonstraram sobejamente, só terá uma solução duradoura mediante uma ampla negociação, realizada com o espírito aberto e desarmado. O confronto, que caracteriza, até aqui, a estratégia das duas partes em conflito, somente conseguirá agravar as tensões existentes na zona desde 1948 e que por falta de um ato dde coragem (como o demonstrado em fins da década passada pelo presidente egípcio, Anwar el Sadat e pelo primeiro-ministro israelense, Menachen Begin) acabará, mais cedo ou mais tarde, se degenerando em algo pior para transformar aquelas terras, consideradas sagradas por três grandes grupos religiosos, em palco de sangrentas batalhas futuras, a exemplo do que acontece atualmente com o Líbano.
O atual chanceler de Israel, Shimon Peres, um político arguto e com grande visão, percebeu isso. Daí o seu empenho pela realização de uma conferência internacional de paz para o Oriente Médio, reunindo em torno de uma mesma mesa todos os que têm alguma espécie de interesse na região.
Caso houvesse um pouquinho de boa vontade, apesar da complexidade da questão, não seria difícil de se conseguir uma solução que fosse satisfatória para todos. Ou mediante a absorção dos palestinos pela comunidade árabe (já que eles pertencem a ela, por língua, costumes, religião e tradições) ou através da transformação da Cisjordânia e Faixa de Gaza, atualmente sob ocupação, em país independente.
Mas para que isso se tornasse possível, seria necessário um compromisso de não agressão ao Estado judeu, o que no momento parece um tanto utópico (como utopia é pensar que Israel vai abrir mão do seu direito de existir como nação).
Não serão atos terroristas, nem manifestações violentas, seguidas de repressão descontrolada, que levarão a paz a tanta gente, que só deseja o mesmo que todos nós: viver. Construir um futuro. Erguer um país próspero e justo, para legar às gerações futuras.
Por mais que se tente, ou que se tenha tentado, nada de duradouro e estável foi, é ou será construído através das armas, que só servem para matar. Soluções existem e até muitas para a crise do Oriente Médio. Mas todas dependem de negociações, que devem ser feitas, sobretudo, com o espírito desarmado e disposição de se fazer concessões.
Até o histórico gesto de Sadat, dispondo-se a ir a Jerusalém para defender seus pontos de vista, quem poderia esperar que egípcios e israelenses pudessem conviver, e até cooperar, uns com os outros, pós duas guerras, que deixaram muito ressentimento?
Hoje, no entanto, essa convivência e essa cooperação são uma confortadora realidade. O que falta, portanto, é outro ato de coragem como este. Resta saber se existe alguém com grandeza suficiente para realizá-lo.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 18 de fevereiro de 1988).
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