Pedro J. Bondaczuk
O ano de 1988 pode ser considerado de grande sucesso para o líder da Organização para a Libertação da Palestina, Yasser Arafat, no terreno diplomático. Como que num passe de mágica, ele conseguiu transformar as desconfianças e até hostilidades contra a entidade que fundou em 1964 e que dirige com mão-de-ferro desde então em franco apoio às suas teses.
A bem da verdade, o dirigente não somente mudou a sua estratégia radical de tempos atrás, como reduziu em muito suas reivindicações. Agora, ele já não defende mais a ação armada para "jogar os israelenses ao mar". Ou seja, não reivindica, como outrora, todo o território da antiga Palestina, mas somente as terras da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
Ademais, num discurso claro e expressivo, pronunciado na terça-feira, e numa entrevista cristalina e enfática, na quarta, Arafat renunciou ao terrorismo como forma para alcançar os seus objetivos. E reconheceu o direito de Israel existir como país e em plena segurança. Suas palavras tiveram um efeito imediato. Na mesma noite da coletiva que concedeu em Genebra, os Estados Unidos anunciaram negociações com a OLP, após 13 anos de ruptura.
Outra vitória do líder palestino foi a aprovação, quase unânime, de uma resolução na Assembléia Geral das Nações Unidas, anteontem, para que seja realizada uma conferência internacional de paz sobre o Oriente Médio e que os territórios ocupados pelo Estado judeu sejam colocados sob a supervisão da ONU. Todavia, nenhum desses sucessos garante que ele venha a obter o êxito maior, o final, aquele almejado desde 1948, qual seja, o de estabelecer, afinal, uma pátria para o seu povo.
Os entraves são monumentais. Em primeiro lugar, há a intransigência israelense para negociar com a OLP. As autoridades de Israel não querem nem ouvir falar nisso. Outro obstáculo, que não é menor, é a incrível divisão do movimento palestino. As organizações apoiadas pela Síria, por exemplo, repudiam o compromisso solene assumido por Arafat na ONU.
Pelo visto, portanto, o sucesso do dirigente pode acabar sendo esvaziado melancolicamente. Isto a menos que algum fato novo e surpreendente surja em qualquer das duas grandes vertentes do conflito. Ou do lado israelense, como uma mudança em relação à OLP. Ou, o que é mais improvável, no próprio lado palestino, com os radicais aceitando reconhecer o direito de existência do Estado judeu e renunciando à prática do terrorismo. Diante da improbabilidade de que isto aconteça, o sucesso diplomático de Arafat tem tudo, lamentavelmente, para se transformar em mera "vitória de Pirro".
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 17 de dezembro de 1988)
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