Pedro J. Bondaczuk
Toda caminhada – e não importa a extensão e nem a duração – começa com o primeiro passo. Sei que se trata de afirmação óbvia, até acaciana, contudo raras vezes nos damos conta disso. É, até mesmo, um chavão, surrado clichê, utilizado por tanta gente nos mais variados contextos. Isso, porém, não anula sua verdade. Antes a confirma e valoriza. Afinal, a Literatura também é feita de clichês, que não deixam de ser oportunos, dependendo da habilidade e criatividade de quem os utilize.
Queremos chegar ao objetivo a que nos propomos com a velocidade do pensamento. Seria mais fácil se fosse possível. Mas... Não é. Claro que não conseguiremos essa façanha de atingir a meta a que nos propusemos alcançar sem a indispensável ação. Jamais chegaremos a esse lugar, ou a outro qualquer, se não tomarmos a iniciativa de nos movimentar. E se não nos limitarmos a ficar ruminando sobre o caminho a percorrer, sobre seus perigos e possibilidades. Temos, isso sim, que acionar as pernas e dar início efetivo à jornada e, o quanto antes, melhor.
Escrevi, não faz muito, a propósito, em uma crônica: “Vocês já notaram que todo o começo de alguma ação que venhamos a empreender, não importa de que natureza, é, salvo raríssimas exceções, alegre, promissor e não raro eufórico? Pois é. Dificilmente, porém, conseguimos manter o mesmo pique, o mesmo entusiasmo, a mesma determinação até o fim dessa jornada, mesmo que bem-sucedida”. E por que agimos assim? Porque queremos mais do que o possível, para não dizer, o impossível. Encaramos o sucesso (quando o conseguimos, claro) como pequeno demais face ao esforço despendido. Nosso sentimento, então, em vez de ser o de euforia, aquela mesma do início da caminhada, é o de decepção.
Iniciamos nossa longa jornada com o máximo de energia e seguros de que chegaremos ao destino da mesma maneira, ou seja, alegres e bem-dispostos, mesmo que cansados. Quase nunca chegamos. Por que? Porque não levamos em conta os obstáculos que podem surgir no trajeto (e surgem mesmo) e não nos prevenimos para eles, não desenvolvemos nenhuma estratégia para enfrentá-los, deixando tudo por conta da improvisação ou do acaso. Às vezes, isso funciona, mas... nem sempre. Assim, vamos nos desgastando ao longo da empreitada, esmorecendo, perdendo o ímpeto e a força, nos cansando e, não raro, sequer chegamos à meta pretendida. Ficamos, lamentavelmente, pelo caminho.
Estamos iniciando nova jornada, cujo ponto de chegada é medido não em termos de extensão, ou seja, de quilômetros a serem percorridos, mas de tempo, de duração desse esforço: de 365 dias (um dos quais já se escoou). Partimos entusiasmados, cheios de energia, eufóricos até, confiantes de que tudo dará certo e que os eventuais obstáculos que surgirem serão vencidos facilmente. Talvez não sejam. Termos em mente essa possibilidade não se trata de pessimismo, mas de prevenção. E, recorrendo a outro clichê, que tem lá seu fundo de verdade: “quem é prevenido, vale por dois”. Chegaremos incólumes à nossa meta? Quem o sabe? Pode ser que sim, pode ser que não. Pode, até, acontecer de sequer chegarmos. Mas essa é uma possibilidade que devemos descartar, para não entrarmos em desespero. Mas existe.
Para termos chances de chegar a algum lugar temos que saber, óbvio, para onde queremos ir. Nem todos sabem. Aliás, a maioria não sabe. Costumamos pedir aos outros que nos apontem os caminhos que devemos seguir, quando esta é uma escolha rigorosamente pessoal, que nos cabe com exclusividade. Pior quando pedimos isso a um poeta. Aí é que as coisas se complicam. Nós, e apenas nós e mais ninguém, somos os únicos com condições de conhecer, por minimamente que seja, o que mais nos convém, de acordo com nossa personalidade, anseios e talentos.
É certo que há conselhos que salvam, no entanto, estes são bastante raros. Na maioria das vezes, quem nos aconselha está mais sem rumo do que nós, perdido em contradições e informações furadas, sem exatidão ou conteúdo. O que temos que fazer com maior constância é darmos ouvidos ao nosso coração, estabelecermos metas factíveis, atentarmos para a intuição e seguirmos em frente. Adolfo Casais Monteiro, no poema “Permanência”, faz este alerta nestes versos:
“Não peçam aos poetas um caminho. O poeta
anda aos encontrões da realidade
sem acertar o tempo com o espaço”.
Outra coisa que devemos ter em mente é que os caminhos do sucesso e da felicidade são, salvo exceções, ásperos e acidentados. Nunca teremos a certeza de que nossos esforços não serão vãos. Esperar isso é arrumar para a cabeça, é dar margem para frustrações e monumentais decepções. Todavia, isso não nos libera de nos esforçar. Se não tentarmos, se não buscarmos nossos objetivos com inteligência, vontade, competência e determinação, de uma coisa poderemos estar certos: o fracasso será fatal e inevitável.
O escritor Graham Greene escreveu, no livro “O Poder e a Glória” (metaforicamente é claro), “que o caminho do céu é através do inferno”. Ou seja, só chegaremos à nossa meta enfrentando os obstáculos naturais inerentes à nossa condição humana e à realidade do mundo. Não podemos esperar, pois, que o mal e o erro não nos afetem. Vão afetar. Depende, porém, do quanto. E, principalmente, da forma que reagirmos. Mesmo inevitáveis, nem por isso devemos nos submeter a eles, mas combatê-los com todas as nossas forças. Claro que nos sobrarão feridas. Mas estas serão curadas ao experimentarmos o doce sabor da vitória final.
Aliás, o sucesso é um conceito abstrato, bastante subjetivo. É algo que não se obtém por acaso. Precisa ser cuidadosamente planejado e incessantemente buscado, mas antes de tudo, previamente definido. O que entendemos que ele seja? Queremos ser bem sucedidos no quê? Além disso, não é sequer certificado de garantia de que quem o obtenha será feliz.
O doutor Lair Ribeiro, expert em neurolinguística, define os dois conceitos com precisão: “Sucesso é conseguir o que você quer. Felicidade é querer o que você conseguiu”. Muitos optam pelo primeiro e envelhecem desiludidos e amargos, abreviando suas vidas. Outros, apostam no segundo e terminam seus dias na Terra dando preciosas lições de sabedoria e de amor ao próximo. Viver é, além de maravilhosa oportunidade, inigualável aventura e enorme privilégio, sobretudo uma arte.
Meus votos, querido leitor que começou esta nova jornada comigo são, num primeiro passo, que pelo menos a complete. Num segundo, que chegue incólume à meta ou, na pior das hipóteses, com um mínimo de arranhões e hematomas. E, num terceiro e mais importante, que possa comemorar a vitória de ter concretizado planos, sonhos e desejos que planejou, sonhou e desejou no início da caminhada, com orgulho e alegria. E, finalmente, como corolário disso tudo, que se sinta feliz!
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