Pedro J. Bondaczuk
A cidade italiana de Assis, que há alguns séculos abrigou um santo, São Francisco – que em suas preces costumava pedir a Deus que o fizesse “instrumento da paz” – será, na próxima segunda-feira, a autêntica capital mundial da boa vontade. Irá reunir líderes das mais variadas religiões, cristãs ou não, que têm uma mensagem, a transmitir para a humanidade e que se resume no seguinte: “A violência não é a última palavra nas relações entre homens e nações”.
Nessa data, 27 de outubro, o papa João Paulo II pretende que as pessoas de boa índole, que felizmente ainda existem em bom número neste turbulento Planeta, transformem essas 24 horas num verdadeiro “Dia da Paz”.
O movimento, frise-se, não tem qualquer conotação política. Apesar de que poderá ter, se o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, e o secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, Mikhail Gorbachev (cujos países estão, novamente, às turras por causa de mútuas, desastradas e inoportunas expulsões de diplomatas) aceitarem o desafio do Pontífice e se reunirem em Assis, junto ao túmulo de São Francisco, para que, inspirados por esse mensageiro da concórdia, resolvam, de vez, de forma civilizada, suas pendências, para alívio de toda a comunidade planetária.
João Paulo II, na oportunidade, fará uma convocação a todas as nações onde haja algum conflito armado. Estas são, atualmente, mais de 40, e em todo o mundo. Será para que as suas respectivas facções em litígio façam uma trégua, mesmo que passageira, para meditação acerca dos resultados danosos das suas ações. Que concordem com um cessar-fogo, curto, temporário, de somente 24 horas, mas que será providencial. Se o apelo do Pontífice for atendido, a pausa nos combates dará, certamente, um dia a mais de vida a milhares de pessoas que são ceifadas, diariamente, pela cega e irracional violência nos campos de batalha, ou através de atentados terroristas, ou de ataques de surpresa de guerrilheiros.
O repto será seguido das preces de gente que crê num ser superior, que criou o homem à sua imagem e semelhança e que, portanto, não o abandonará, por certo, nesse momento dramático, de tantos e tão terríveis perigos para a humanidade. Não deixará o ser humano desprotegido, no instante em que essa criatura contraditória, misto de anjo e demônio, tem em suas mãos o segredo de uma arma capaz de a levar à autodestruição e também ao fim de tudo o que a natureza levou milhões (quiçá bilhões) de anos para formar.
As crenças diferentes não estão mais servindo de barreiras para essas pessoas esclarecidas, e que amam, acima de qualquer coisa, a vida, que têm a garantia da sua perpetuação apenas com a tão almejada, mas raramente conseguida, paz.
Esta é uma oportunidade para que todos os indivíduos, não importa de que credo religioso ou político, de que país ou ideologia, mas que sejam sinceros em seu empenho por um futuro de prosperidade e de justiça, façam uma meditação.
Não precisa nem mesmo ser demorada, como a de certos monges católicos ou budistas, que passam toda uma vida refletindo. Pode ser uma reflexão singela, de somente escassos 60 segundos. Mas que seja sincera e voltada na direção da concórdia. Que cada pessoa, homem, mulher ou criança, velho ou jovem, religiosa ou não, faça, na próxima segunda-feira, um minuto de silêncio, eleve o pensamento à divindade em que acredita (se é que crê em alguma) e diga, com sinceridade, do fundo da sua emoção: “Eu me comprometo a trabalhar pela paz!”. E que, de fato, trabalhe por ela.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 24 de outubro de 1986)
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