Pedro J. Bondaczuk
Os incidentes de violência que se verificaram em Bucareste, na quarta-feira e anteontem, que redundaram a morte de cinco pessoas e ferimentos em outras 277, e a campanha de desobediência civil que se registra em Sofia, na Bulgária (embora não tão dramática), evidenciam que, em matéria de democracia, os países do Leste europeu, em especial os mais subdesenvolvidos, ainda terão muito que aprender.
Ressalte-se que nesses dois Estados da região foram realizadas, recentemente, eleições multipartidárias, cuja lisura foi atestada por observadores internacionais, vencidas, nos dois casos, pelos ex-comunistas. No pleito romeno, a Frente de Salvação Nacional, que governou esse país banhado pelo Mar Negro após a deposição da ditadura de Nicolae Ceausescu, e seu líder, o presidente interino (confirmado nas urnas), Íon Iliescu, foram os grandes vencedores.
Na votação búlgara, cujo segundo turno se desenvolve amanhã, houve nítida predominância do Partido Comunista, que apenas mudou de nome, permanecendo com a mesma estrutura. Agora chama-se Partido Socialista. Nos dois países, a oposição, agindo com uma inabilidade a toda a prova, assustou o eleitorado. Daí ter sofrido as surpreendentes derrotas nas eleições.
Bucareste foi palco, nesta semana, de um surto de violência política só comparável ao verificado durante a revolução de dezembro de 1989. Apesar das condenações internacionais a Iliescu, todavia, os dois lados foram culpados pelas cenas lamentáveis ocorridas.
Cerca de 15 mil manifestantes tentavam repetir, na capital da Romênia, o que havia ocorrido no ano passado em Pequim. Ou seja, estavam acampados na Praça da Universidade desde 25 de abril. Mas as razões dos dois movimentos foram muito diferentes e as respectivas repressões não podem sequer se comparar.
Enquanto os chineses exigiam democracia, os universitários romenos – privilegiadíssimos num país paupérrimo – contestavam o resultado das urnas. Em última instância, desejavam fraudar a vontade popular (não cabe, aqui, discutir se os eleitores fizeram boa ou má e4scolha).
Sua atitude, por conseqüência, foi sumamente anti-democrática. Em nenhuma democracia ocidental (cujos governos estão condenando a repressão de Íon Iliescu), as autoridades permitiriam uma concentração de quase 60 dias na principal praça da sua capital.
Em Londres, em abril passado, por muito menos do que isso, a polícia distribuiu bordoadas por todos os lados em manifestantes que protestavam contra o “Poll Tax”, o novo imposto pessoal inventado por Thatcher. Em Washington, mesmo as manifestações contra a discriminação a portadores do vírus HIV têm sido dissolvidas à força. Por que, pois, condenar os romenos? Por pretenderem restabelecer a ordem em Bucareste?
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 16 de junho de 1990).
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