Thursday, December 31, 2015

A VIDA É COMO UMA GANGORRA

O que há em nossa vida são circunstâncias aleatórias, ora favoráveis, ora até destrutivas (quando não definitivas e letais), que nos cabe enfrentar e tentar modificar para melhor (no caso de serem negativas). Como? Cada qual deve procurar a melhor estratégia que se adéqüe a situações específicas. Muitas vezes, conseguimos fazer essa reversão. Outras tantas, contudo, por uma razão ou outra, mesmo tentando com todas nossas forças, físicas e mentais (principalmente estas) nos damos por vencidos. Fracassamos. A vida é como uma “gangorra”. Em determinado momento nos joga para cima, quando então gozamos as benesses do sucesso, achando que este será duradouro. Raramente é.  Quando menos esperamos (e nunca esperamos), de repente, num piscar de olhos, nos atira no fundo do poço. E nos vemos na necessidade de  batalhar para encontrar alguma saída. Às vezes nos surge uma oportunidade providencial que, aproveitada, nos impulsiona, de novo, para o alto. Caso não a aproveitemos... O não aproveitamento dessa chance, que pode ou não ser a única, se juntará ao nosso elenco de aflições, com o arrependimento por não termos feito nada, agravando, assim, nossa penúria.


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Injustiças sociais são maior ameaça


Pedro J. Bondaczuk


O primeiro resultado positivo obtido na 7ª reunião de cúpula que o presidente soviético, Mikhail Gorbachev, realizou com dirigentes norte-americanos – cinco foram com Ronald Reagan e duas com George Bush – foi o fato de tais encontros terem se tornado mais freqüentes.ç Transformaram-se quase que numa rotina.

Isto demonstra que as superpotências, finalmente, após mais de quatro décadas de guerra fria, adquiriram o hábito de dialogar, em substituição ao antigo costume de trocar ameaças e acusações. Existem, ainda, muitos pontos de atrito entre os Estados Unidos e a URSS e tais divergências, certamente, deverão existir sempre, em decorrência da própria condição de liderança que os dois países exercem no mundo.

Mas hoje, ao contrário de há somente cinco anos, seus presidentes “conversam” sobre os principais assuntos, com veemência e franqueza, mas igualmente com cordialidade. Não ameaçam se destruir.

A comunidade internacional já se acostumou, todas as vezes em que eles se reúnem, com a assinatura de alguns acordos desarmamentistas, tornando mais distante o espectro da guerra nuclear e, em conseqüência, o Planeta se sente cada vez mais seguro, com a aproximação progressiva, da humanidade, de uma sonhada era de paz irreversível.

Duas pessoas, por maior afinidade que tenham, sempre terão um elenco considerável de divergências, acerca das coisas, dos fatos e dos indivíduos que as cercam. Por que não esperar o mesmo de países, principalmente em se tratando das duas superpotênciais mundiais?

O bom, neste tipo de contato tête-a-tête, inaugurado com a cúpula Reagan-Gorbachev levada a efeito em 20 de novembro de 1985, em Genebra, é que os interlocutores sempre acabam por encontrar um ponto de aproximação. Isto impede que suas diferenças se ampliem por ausência de comunicação.

No presente encontro de Washington houve mais divergências do que concordâncias. Uma delas referiu-se ao processo de reunificação da Alemanha e à presença ou não do Estado germânico reunificado na Organização do Tratado do Atlântico Norte.

A outra versou sobre a política do Cremlin em relação aos anseios autonomistas das Repúblicas bálticas. No entanto, já ficaram muito para trás obstáculos antes considerados intransponíveis, como a presença soviética no Afeganistão, as tropas de Cuba em Angola, o Muro de Berlim e as ditaduras comunistas do Leste europeu.

Os entraves que sobraram são ridiculamente pequenos se comparados com os já superados. Por isso, é lícito que a humanidade renove as esperanças de um mundo melhor, de prosperidade e paz, nos anos vindouros. Mas tem que trabalhar para isso.   

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 2 de junho de 1990).


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Livros para colorir para adultos

Pedro J. Bondaczuk

O mercado editorial brasileiro mostrou algumas peculiaridades, neste ano de 2015 que ora se encerra, caracterizado por uma crise que ainda não se encerrou, uma delas, aliás, seguindo uma tendência que é internacional. Uma dessas “novidades” (que considero preocupante para os escritores, não importa se de ficção ou não ou de qual gênero), é a “explosão” de vendas de livros para colorir, para adultos, considerados como excelente terapia para desestressar os estressados (muitíssimos, convenhamos). Por mais que tentem me convencer do contrário, não considero esse produto como “Literatura”, embora admita que tenham lá algum valor, digamos, artístico. Para as editoras (as que apostaram nesse tipo de obra, que foram várias), a procura popular foi uma “festa”. E mais, foi o que se pode chamar de “salvação da lavoura”, numa época de vacas magérrimas, em que todos os setores econômicos foram e estão sendo afetados por grave crise, com severa retração de vendas.

Para que o leitor tenha uma idéia do que essa preferência (para mim, outro dos tantos modismos que volta e meia aparecem e logo declinam e somem) representa, informo que, apenas nos seis primeiros meses do ano, os tais livros para colorir para adultos já haviam gerado faturamento da considerável cifra de R$ 25 milhões!!! Nada mau para as editoras, não é mesmo? Não tenho os números finais e definitivos do ano, até porque ele ainda não acabou. Todavia estimo, com base em pesquisas informais que fiz, que as vendas,  no mínimo, na pior das hipóteses, tendem a fechar 2015 no dobro das cifras registradas em junho. A probabilidade, porém, é que sejam bem maiores, considerando-se as épocas em que as pessoas mais presenteiam amigos e entes queridos (como o Dia dos Pais e o Natal). Não me surpreenderei, portanto, se tiverem ultrapassado os R$ 100 milhões, se não mais.

Para o leitor ter uma idéia da “temperatura” a que chegou esta “febre”, basta citar que os dois best-sellers de 2015, em todas as relações dos mais vendidos no período, foram justamente dois livros para colorir para adultos: “Jardim secreto” e “Jardim encantado”, ambos da ilustradora escocesa Johanna Basford, publicados, um e outro, pela Sextante. Se foram absoluto (e surpreendente) êxito comercial (e não somente para essa editora, mas para todas que investiram no produto), considero (e tenho certeza de que serei contestado) o fato como mega fracasso literário. As opiniões das pessoas envolvidas com Literatura variam a propósito (afinal, como diz o surrado clichê, “em cada cabeça há uma sentença”). Para uns, é um fenômeno passageiro e, até certo ponto, positivo, dado o caráter dessas obras, principalmente pelo seu papel anti-estressante e interativo. Poderia ser encarado, portanto, como uma “terapia” de baixo custo. Para outros, no entanto (entre os quais me incluo), trata-se de ostensivo sintoma de infantilização do mundo atual (e particularmente do Brasil). Ou não?!!

Essa explosão de vendas, admito, pode até ter muitos outros aspectos positivos, do ponto de vista exclusivamente econômico. Afinal, movimentou outras indústrias, como a de lápis de cor, por exemplo, além de gráficas, ilustradores, editores etc. Isso, convenhamos, é benéfico. Gera empregos e renda. Sobretudo em época de retração econômica, de recessão (para muitos, de depressão) como esta que encaramos. Mas que não classifiquem esses livros para colorir para adultos como Literatura. Não são!!! Não têm nada a ver com essa fascinante, mas tão frustrante, atividade intelectual. Cauê Muraro observou, em matéria que publicou em 23 de junho de 2015 no portal G1, intitulada “Livros para colorir: entenda o fenômeno em 10 cifras impressionantes”, que “’todo ano tem algo assim’, afirma Cassia Carrenho, gerente-geral do PublishNews, portal que analisa o mercado. Dois exemplos de ondas anteriores: livros eróticos, como ‘Cinquenta tons de cinza’, e os religiosos. ‘O mercado editorial não lança moda, ele só segue a moda. Uma tendência em todas as áreas, não é só no editorial, de voltar um pouco às raízes, o 'handmade’, continua Cassia”.

E Muraro prossegue, em sua matéria: “Outra facilidade óbvia para trazer sucessos internacionais de colorir ao Brasil: eles não precisam ser traduzidos. Além disso, é comum que o ‘leitor’, depois de concluir a pintura, compre uma segunda obra. E eventualmente uma terceira, uma quarta... As próximas tendências do setor devem ser livros para colorir de nicho, temáticos. A nova leva terá títulos sobre gatos e bichos em geral, além de clássicos para colorir (tipo ‘O pequeno príncipe’) e uma série sobre ‘cidades do mundo'”. Eu não veria mal algum nesse “modismo” caso ele não afetasse a venda de livros, digamos, autênticos, de textos, destes em que os autores superam o maior desafio que todo bom escritor gosta de encarar: o de “fazer pensar os que podem”, como observou há mais de cem anos o pintor francês Eugene Delacroix. Todavia... afeta. Será que esses livros para colorir para adultos induzem pessoas à meditação? Caso induzam, não são de todo maus. Mas... tenho lá minhas sérias (e bem fundamentadas) dúvidas. Enfim... cada um gasta seu dinheiro como e no que quer, não é mesmo?


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Wednesday, December 30, 2015

TEMOS QUE IDENTIFICAR AS OPORTUNIDADES


Nem sempre as oportunidades surgidas são claras. Às vezes são, até, bastante obscuras e temos que nos arriscar. É possível que nos atiremos de cabeça, tentando agarrá-las e venhamos a nos dar mal. Se não tentarmos, todavia, jamais saberemos. Todos temos, em algum momento, a nossa hora decisiva, o instante fatal que pode determinar todo nosso futuro ou, até mesmo, se teremos algum. Há que se ter coragem nessas decisivas situações. E, claro, contar com a favorabilidade do acaso. Ao lermos biografias de determinadas personalidades, obviamente vencedoras (caso contrário sequer seriam biografadas), somos tentados a achar que “todas” as circunstâncias de suas vidas, ou, pelo menos, a maior parte delas foram favoráveis. E que não tiveram que encarar essa infernal “gangorra”, que consome tempo e energia nos momentos de baixa. As coisas não são bem assim.

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Postura de caudilho


Pedro J. Bondaczuk


O escritor peruano Mário Vargas Llosa, candidato presidencial desse país nas eleições de 1989, derrotado por Alberto Fujimori, declarou, numa entrevista dada em 1986: "Persiste ainda, em nossos homens políticos, uma tendência de se comportar como caudilhos. E desconfio sempre dos líderes carismáticos que acreditam poder alterar o curso dos acontecimentos por obra de sua vontade e sua força".

A desconfiança cabe, como nunca, ao caso do presidente afastado Fernando Collor, por tudo o quanto fez e falou nos pouco mais de dois anos que permaneceu no poder. Conforme se depreende da entrevista do novo diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, publicada na seção "Página 13", do "Jornal do Brasil" deste domingo, o alardeado "caçador de marajás" permitiu a ação de uma quadrilha que saqueou "os cofres da Nação de uma forma sem similar na história do Brasil".

O escândalo de tráfico de influência que tem por pivô o empresário alagoano Paulo César Farias tem dimensões tamanhas que a maioria dos brasileiros sequer consegue atinar com suas proporções. As revelações do delegado foram feitas com base nos 234 volumes do inquérito sobre o caso, que já reúnem mais de 70 mil páginas.

"Desde as flores até as obras de arte da Casa da Dinda, tudo era oriundo de Paulo César Farias", afirmou o novo diretor da Polícia Federal.

Há, certamente, quem acredite que as acusações contra Collor sejam exageradas. Que o processo de impeachment tenha somente motivações políticas, como o presidente afastado tem reiterado amiúde. Os ingênuos é que possibilitam a existência dos espertalhões.

Todavia, o delegado descarta por completo a hipótese de mera perseguição de adversários. Com base nos mais de 300 depoimentos que ouviu, afirmou não ter a mínima dúvida das ligações do ex-governante com PC Farias. E garantiu que os laços são muito profundos entre os dois.

Paulo Lacerda chegou a pinçar no winchester (disco rígido de memória) do computador da empresa do empresário alagoano uma frase que vem servindo de autêntico fio da meada para conduzir toda a sua investigação.

"Nossa amizade é mais sólida que um casamento", PC deixou registrado, numa referência sua a Collor. Com tantas provas, o presidente afastado ainda tem a coragem de lançar mão de medidas protelatórias para adiar o julgamento no Senado, intranqüilizando a Nação. Paralisa, com isso, investimentos, inviabiliza o governo Itamar Franco e mantém 150 milhões de brasileiros em suspense com a angústia da incerteza.

No dia 19 de dezembro, por exemplo, disse, aparentando uma candura que na verdade não possui e uma inocência que é desmentida pelos fatos, ao jornalista Bóris Casoy, do SBT: "Esta é a minha trincheira de luta. Fico de pé, de cabeça erguida, esperando que o julgamento imparcial me seja garantido".

Que tipo mais de imparcialidade Collor deseja, diante das regalias e salvaguardas que seus julgadores lhe concederam, mesmo dispondo das provas que dispõem? Será que ele acredita ser o iluminado salvador da pátria, insubstituível para guindar o País, ao término de um mandato, ao seleto Primeiro Mundo?

Por que, então, não praticou uma política coerente, de proteção social, conforme prometeu aos ingênuos "descamisados", dos quais, na verdade, subtraiu as calças e os chinelos? Como explicar o US$ 1 bilhão arrecadado pelo famigerado esquema PC, que funcionou debaixo do seu nariz?

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de dezembro de 1992).


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Planejar é preciso

Pedro J. Bondaczuk

O décimo quinto ano do terceiro milênio da era cristã está prestes a terminar, com seus dramas, tragédias, comédias e coisas boas e ruins, de acordo com a realidade de cada um. Como se vê, nada de novo, que não tenha ocorrido em 2014, 2013, 2012 e vai por aí afora. Muitos dirão que tivemos de novidade a crise política e econômica, ainda não resolvida, cujos próximos capítulos podem trazer, ou não, surpresas agradáveis ou não. Onde a novidade, porém? Desde que me conheço por gente, o País sempre conviveu com esse tipo de situação, ora mais grave, ora menos, mas nunca ausente. Queiram ou não, o brasileiro é viciado em crises.

Engraçado é que, apesar de se tratar de mera mudança de números em uma folhinha, as pessoas (e eu também, claro) agem como se o começo do novo ano fosse o início de uma nova era, que fantasiam como próspera e radiosa, ou pelo menos melhor do que a que está no fim. Quase que mecanicamente, consideram que o período recém-findo lhes trouxe só amarguras e dissabores, esquecidas das alegrias e bênçãos que tiveram, geralmente não poucas e nem inexpressivas. Somos incorrigíveis insatisfeitos, ora pois. As pessoas (e eu não sou exceção) passam a fazer planos, geralmente muito vagos e inconsistentes, para o futuro próximo, acompanhados de resoluções, que raros cumprem.

É errado planejar? Diz o bom senso que não! O grande erro que se comete é o de ignorar os planos feitos, logo na primeira semana do novo ano, e sequer tentar cumprir o planejado. A menos que aquilo que se planejou não seja factível, se mostre irrealizável, absurdo ou mesmo pernicioso. Neste caso, a falha está no “planejador” desastrado, que confundiu plano com mero e fantasioso devaneio. Apenas perdeu tempo e nada mais. O planejamento nada mais é do que uma preparação para o que se pretende fazer. É ordenar as ações, para não ser dispersivo. Em suma, é um exercício de autodisciplina. O norte-americano Benjamim Franklin (um dos “pais” da pátria de Tio Sam), advertiu: “Falhar em preparar-se é preparar-se para falhar”. E como é!!!

O ideal (e, sobretudo, realista) é nunca fazer planos rígidos, que não comportem alterações, ditadas pelas circunstâncias e pelos caprichos do acaso. O escritor romano, Publius Syrius, já sabia disso e observava, lá por volta do ano 50 a.C. que “o plano que não pode ser mudado não presta”. Não presta mesmo. Afinal, não sabemos sequer o que vai acontecer no minuto seguinte, quanto mais em semanas, quinzenas e meses. Um leitor, cujo nome foge-me no momento, perguntou-me se é possível o escritor planejar um livro. Respondo que não somente é possível, mas desejável. Põe ordem no empreendimento. Determina um cronograma e define quando, como e onde pesquisar, as horas destinadas à leitura e à redação e outras coisas assim. Claro, levando sempre em conta a possibilidade de mudanças “quando” e “se” forem necessárias.

Não vou ao cúmulo de afirmar que livros não planejados sejam inviáveis ou tenham qualidade melhor ou pior. Esse aspecto depende do talento e da criatividade do autor e não como, onde e quando ele escreve. Afirmo, porém por experiência própria, que o planejamento (reitero, não muito rígido) ajuda. Sem nunca perder de vista a observação feita pelo dramaturgo francês, Jean Moliére: “É longo o caminho que vai do projeto à coisa projetada”. Longo e geralmente trabalhoso. Nesse caso, o plano só tende a pôr ordem na tarefa, para que o escritor não desperdice esforços, por falta de organização.

Esse mesmo leitor, que me questionou a propósito de planejamento de um livro, pergunta onde entra a “inspiração” nessa equação. Não entra. Quem acompanha com assiduidade meus textos sabe o que penso a esse propósito. Nenhum livro vem prontinho do firmamento direto ao nosso cérebro, bastando, apenas, que o transcrevamos. Não é assim que a coisa funciona. Inspiração não passa de um lampejo, de um fragmento de idéia, que exige muito trabalho e muito conhecimento para ser viabilizada. Literatura é trabalho, é disciplina, é poder de observação. E, claro, tudo isso movido pelo talento. Se o sujeito não foi feito para a coisa, não adianta. Pode até escrever algo, mas seu texto não passará de um caricato monstrengo, de um disforme Frankenstein literário (na verdade, nem isso, pois não merecerá essa pomposa designação). Nesse aspecto, concordo com o escritor espanhol, Camilo José Cela: “A inspiração é trabalhar uma boa quantidade de horas”. Creia-me, leitor, é isso mesmo, sem tirar e nem por.

Por isso, caro escritor, que tal planejar aquele livro que você sonha, há anos, em escrever, mas que nunca ousou mover uma única palha para a sua redação? Esta é a hora mais adequada para uma resolução deste tipo para 2016. Mas não aja como a maioria das pessoas que, tão logo passe a ressaca do “réveillon”, esquecem tudo o que prometeram fazer no novo ano. Cabe, aqui, a forma com que encerrei uma crônica, escrita há uns vinte anos:

“As solenes resoluções da véspera serão prontamente esquecidas. A vida seguirá o seu curso, até o próximo final do ano. Estudos, trabalho, namoro, casamentos, separações, planos, sucessos, fracassos, encontros e desencontros, nascimentos e mortes... Tudo se sucederá, meio que aleatoriamente. E continuaremos, como sempre, buscando a felicidade alhures, mesmo que ela esteja debaixo do nosso nariz. A esperança ainda é o grande alimento das ilusões humanas. E estas constituem-se na essência da vida...” Sobretudo, planeje e busque seguir ao máximo o que planejou.


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Tuesday, December 29, 2015

DEPENDÊNCIA DAS CIRCUNSTÂNCIAS

Vocês já notaram o quanto dependemos das circunstâncias (ou do acaso, como queiram), para obter sucesso no que quer que seja? Muitos atribuem essas oscilações, ora dramáticas e intensas, ora mais suaves e amenas, que ocorrem sem nenhum aviso prévio em nossas vidas, a algo mal definido, que chamam, genericamente, de “destino”. Para essas pessoas, tudo o que nos acontece, de bom ou de ruim, já está ou já estava predeterminado desde nosso nascimento ou até antes. Tolice, claro. Fosse assim, de nada adiantariam nossos esforços para nos instruir, nos capacitar e nos tornar aptos a encarar quaisquer desafios. Jamais conseguiríamos construir nada de útil e de positivo que não estivesse previamente “escrito” (onde, podem dizer, e por quem?). Ou seja, que não nos fosse “destinado”. Não consigo acreditar nisso, por mais que me esforce.


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Ambiente não favorece intervenção no Golfo


Pedro J. Bondaczuk


A determinação do governo do presidente George Bush de enviar unidades de reforço da Força Aérea dos Estados Unidos rumo ao Golfo Pérsico para pressionar o ditador iraquiano, Saddam Hussein, a dar plena liberdade às equipes de fiscalização das Nações Unidas para que localizem e destruam seus arsenais de armas de eliminação em massa, vem recebendo as mais variadas interpretações, interna e externamente, dependendo do analista.

Alguns políticos democratas norte-americanos afirmam que a decisão é puramente de caráter eleiçoeiro. Os republicanos vêem na atitude um ato de prudência diante da possibilidade dos bombardeios efetuados no Iraque durante os 42 dias de guerra não terem sido tão "cirúrgicos" quanto o Pentágono fez questão de apregoar. Há quem ache que a nova pressão faça parte de uma velha tática da Casa Branca, de nunca deixar o inimigo sossegado.

Seja qual for a razão, dificilmente irá ocorrer alguma intervenção militar, pelo menos em escala considerável. O ambiente atual não é propício para esse tipo de atitude. A opinião pública mundial demonstra ter se cansado do assunto envolvendo um ditadorzinho qualquer do Terceiro Mundo e se volta para outros temas, como a guerra civil da Iugoslávia, que vem apresentando uma assustadora escalada nos últimos dias, o futuro da União Soviética, à medida em que se assenta a poeira da maluca e surrealista tentativa de golpe de 19 de agosto passado e que o furor nacionalista começa a ceder lugar à realidade e a sempre lembrada, mas nunca resolvida, questão árabe-israelense.

É possível que todas as interpretações da decisão de Bush estejam corretas, pois elas fazem sentido, ou que nenhuma delas seja a verdadeira. Nesta época de meias-verdades, é uma tarefa sobreumana tentar interpretar as ações de políticos, especialmente num país em que a mídia eletrônica exerce uma espécie de ditadura. Entre o que se diz perante as câmeras, para sustentar uma imagem pública em geral forjada pelos assessores, e aquilo que os dirigentes realmente estão pensando, vai uma distância enorme.

Faria sentido que o presidente norte-americano reavivasse o conflito do Golfo Pérsico, que lhe rendeu tantos pontos de popularidade e que o fizeram o governante mais apoiado da história dos Estados Unidos, quando a campanha sucessória de 1992 começa a ser colocada nas ruas.

Por enquanto, inibidos pelas pesquisas de opinião, os democratas revelam extrema timidez acerca das eleições presidenciais de 1992. Tanto é que até o momento apenas duas pré-candidaturas para as primárias que vão começar em fevereiro do ano que vem foram anunciadas e assim mesmo como uma espécie de balão de ensaio.

Nenhum dos chamados "pesos pesados" do partido, como o governador de Nova York, Mário Cuomo e o sempre lembrado, mas permanentemente envolvido em escândalos desde o caso Chappadiquit, senador Edward Kennedy --- agora às voltas com a questão de estupro de um seu sobrinho --- ainda se manifestou.

Bush sabe que os democratas não vão lhe entregar a reeleição de bandeja, por isso talvez esteja se precavendo. Até porque, seu grande trunfo tem sido a política externa, já que internamente qualquer adversário não precisaria fazer muita força para encontrar enormes falhas.

Não se pode, todavia, descartar a possibilidade dos fiscais da ONU terem descoberto alguma evidência decisiva de que Saddam tenha uma bomba atômica, ou esteja em vias de conseguir uma. Neste caso, um bombardeio preventivo seria uma questão até de prudência, estaria caracterizada a "legítima defesa".

Não se admite que um governante que dos 12 anos em que se manteve no poder, fez com que seu país permanecesse nove anos em guerra, detenha a posse de uma arma tão terrível e arrasadora. De qualquer forma, uma coisa não se pode negar: a permanência de Saddam Hussein à frente do governo do Iraque é algo que incomoda bastante o presidente Bush.

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 20 de setembro de 1991).


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E se viéssemos a perder todas nossas memórias?

Pedro J. Bondaczuk

A amnésia é um drama terrível na vida de qualquer pessoa. É pior ainda se o afetado por ela for intelectual, que dependa da memória para sua atividade e que, subitamente, se veja privado dela. Aliás, é uma tragédia para qualquer um. Você já pensou como seria se, subitamente, viesse a esquecer tudo o que é, viveu e fez? Se não se lembrasse de quem amou, dos lugares que conheceu, dos livros que leu, das músicas que ouviu e vai por aí afora, como seria? E não só isso, o que já é sumamente trágico. Como se sentiria se esquecesse, até mesmo, quem você é, qual o seu nome, sua profissão, seu estado civil, seus parentes e amigos e assim por diante? Essa, porém, é uma situação a que todos estamos sujeitos, embora (felizmente) seja um tanto rara. Não conheço ninguém que fosse vítima de amnésia, ou que ainda ostente essa condição. Você conhece, caro leitor? Provavelmente não.

Por que trago esse assunto à baila? Porque a amnésia é o tema central do romance de Patrick Modiano, intitulado “Uma rua em Roma”, publicado pela Editora Rocco nos anos 80, no Brasil (sem nenhuma repercussão) e republicado agora, depois que o autor conquistou o Prêmio Nobel de Literatura de 2014 e que, acredito, vá repercutir. Deveria! Trata-se de um livro que, pelo menos aparentemente, difere do padrão do restante da obra desse escritor. Por exemplo, é mais extenso do que suas publicações anteriores e posteriores. A edição brasileira tem 224 páginas, quando os demais livros de Modiano mal chegam a 150. Todavia, seu fulcro temático, ou seja, o tempo e a memória, é mantido. No caso, com a perda dela e com a ingente busca do personagem central na tentativa da sua recuperação.

Aparentemente, o ganhador do Nobel de Literatura de 2014 abandonou outro dos seus temas recorrentes: a ocupação da França, pelos nazistas, no período de 1940 a 1944, na Segunda Guerra Mundial. Mas... abandonou? Não! Deixou, apenas, implícito. Embora em momento algum cite explicitamente essa incômoda realidade para os franceses, o leitor atento percebe que o período em que o enredo se desenrola é exatamente esse. Só não entendi, até agora, o título dado ao livro, em português.

Não lembro de nenhuma passagem em que as ruas de Roma sejam palco da narrativa. Aliás, o título original, “Rue des boutiques obscures”, sequer sugere algo que lembre a capital italiana. Talvez a tradução mais exata (e adequada) devesse ser “Na rua das lojas escuras” ou algo que o valha. Mas o título, que para mim é inadequado, não diminui a importância desse romance. Tanto ele é importante, que valeu a Modiano um dos prêmios de maior expressão e prestígio da França, o “Goncourt de 1978”. Ou seja, os franceses praticamente anteciparam, em 36 anos, o reconhecimento (agora mundial) do talento desse escritor, que viria com a conquista do Nobel de Literatura de 2014.

Em “Uma rua de Roma”, o autor nos convida a acompanhar o empenho do narrador-protagonista, Guy Roland, há oito anos sofrendo de amnésia, na busca por sua verdadeira identidade. Como detetive, que de fato era, o personagem procura descobrir seu passado, a história que havia construído até a perda da memória, os rastros que deixou por onde passou etc. etc. etc. Vale-se, para isso, de breves relatórios e de conversas fortuitas que teve. Guy – que parte de uma patética constatação, ao concluir: “não sou nada” (e não era mesmo por não saber nem quem era – segue sua intuição para ir atrás de pessoas que poderiam ajudá-lo a refazer seus próprios passos. Modiano aproveita para trazer à baila questões filosóficas, que atormentam as pessoas desde quando o homem tomou consciência de que podia pensar, como “quem sou?”, “de onde vim?”, “para onde vou?”.

Modiano não se limita a descrever a saga de Guy Roland, em busca de saber quem é. Penetra em sua mente, vasculha seus pensamentos e, sutilmente, nos induz a refletir sobre nossa própria realidade, nossas memórias, nossas lembranças a que nem sempre damos o devido valor. Faz o mesmo com tantos outros personagens que alguma vez mantiveram contato com o desmemoriado. Escreve, a certa altura, reproduzindo o pensamento de determinado protagonista: “Acho que se pode ouvir ainda, nas entradas dos prédios, o eco dos passos daqueles que habitualmente as atravessavam e que desapareceram. Alguma coisa continua a vibrar após sua passagem, ondas cada vez mais fracas, mas que se podem captar, se estamos atentos. No fundo, eu talvez nunca tivesse sido esse Pedro McEvoy, eu não era nada, mas ondas me atravessavam, ora longínquas, ora mais fortes, e todos esses ecos espalhados que flutuam no ar se cristalizavam e era eu”. De todos os livros de Modiano que li, este é o que me causou maior impressão e que me fez refletir muito mais. É uma soberba obra-prima!!!!


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Monday, December 28, 2015

A “VARINHA MÁGICA” DA IMAGINAÇÃO

A criação seja lá do que for (concreto ou abstrato, não importa) tem alguma fonte, algum ponto de origem, algo que nos impulsione a concretizá-la? Entendo que sim. E qual seria essa origem, essa varinha mágica que nos dê essa possibilidade? Respondo: a imaginação. Claro que apenas ela não basta. Trata-se de mero “start”, de largada, de tiro de partida para uma corrida que pode ser curta ou longa, dependendo do que imaginarmos. Além do que, há uma série de condições para que se crie o que foi imaginado. A primeira é que seja factível. Podemos imaginar algo que extrapole, em muito, nossas forças e nossa capacidade e se isso ocorrer, tudo se limitará, somente, à mera imaginação e nada mais. Se agirmos dessa maneira, ou seja, se imaginarmos o irrealizável, você pode ser até o sujeito mais criativo da face da Terra que não conseguirá a façanha de tornar o imaginado concreto. Essa imaginação ultrapassará a sua real capacidade.

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O IMAGINADO DEVE SER FACTÍVEL E DESEJADO

Uma das condições para você poder concretizar o que imaginou, é contar com os meios necessários para tal. Se não contarmos com eles, nada feito. Afinal, nada surge do nada, num piscar de olhos, à simples enunciação, por exemplo, de palavras mágicas, como “abra cadabra” ou outras quaisquer Não é assim que as coisas funcionam na vida real. Há, ainda, outra condição para criar o imaginado: é desejar esse objeto. Não me refiro, porém, àquele desejo difuso, abstrato, na base do “tanto faz se conseguir ou não”. Temos que querer obsessivamente e, além disso, lutar com todas nossas forças e capacidade pelo que queremos. Para tanto, são necessárias diversas virtudes, como competência, preparo, informação, disciplina, empenho e vai por aí afora. Só então, o que nós imaginamos tem condições de ser concretizado. Parece óbvio (e é), mas raramente nos damos conta disso.


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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
“Um dia como outro qualquer” – Fernando Yanmar Narciso.  

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Escândalo apimenta a campanha


Pedro J. Bondaczuk


A campanha presidencial nos Estados Unidos tem muitos dos ingredientes que existem nos demais países considerados muitos furos mais atrasados em relação à superpotência ocidental. Um deles, que raramente falta, é o escândalo, em geral versando sobre adultério.

O cidadão norte-americano costuma ser muito rigoroso nesse aspecto, em relação aos seus homens públicos. Ele pode, eventualmente, dar as suas escapadinhas extraconjugais (e como dá!), mas não admite esse mesmo tipo de comportamento, por exemplo, num presidente da República.

Para que esta campanha tenha um pouco de emoção, e até para equilibrar com a questão da venda secreta de armas para o Irã e da transferência ilegal de fundos daí oriundos para os rebeldes da Nicarágua, o principal postulante à candidatura democrata à sucessão do presidente Ronald Reagan, o ex-senador pelo Colorado, Gary Hart, foi envolvido, mediante uma matéria publicada anteontem no jornal “The Miami Herald”, numa questão no mínimo apimentada, que promete ainda muitos lances interessantes, do dramático ao cômico. Arranjaram um Chapadiquitt para o jovem político, a exemplo do que já havia sido feito em relação a Edward Kennedy, em 1976.

Naquela oportunidade, o caso ganhou contornos mais sérios, por envolver morte da secretária do senador pelo Estado de Massachusetts, Mary Jô Kopechne, depois que o carro em que ambos estariam viajando se desgovernou e caiu no rio (que acabou servindo como identificador do escândalo e onde as esperanças de muita gente de ver um terceiro membro desse clã, marcado pela tragédia, lutar pela presidência dos EUA, também findarem por se afogar).

Ted, a partir de então, foi tão assediado pela imprensa, sua vida foi vasculhada de tal forma, que não teve outro remédio senão desistir da postulação à Casa Branca, deixando o caminho livre para Jimmy Carter, que acabou vencendo, não somente as primárias, mas as próprias eleições presidenciais naquele ano.

Agora, posto que com contornos mais suaves, a história se repete com o favorito dos democratas. Aliás, antes mesmo do ex-senador Gary Hart anunciar que estava na corrida presidencial, corria a fama, pelos Estados Unidos, de que ele, no vigor dos seus 50 anos, era um mulherengo inveterado. E foi por aí que o escândalo desembocou.

Ele foi acusado, pelo jornal da Flórida, de ter aproveitado a ausência de sua mulher (que se encontrava no Colorado) para passar a noite de sexta-feira passada e parte do dia de sábado com a jovem e bonita modelo e atriz Donna Rice, de 29 anos, em sua própria casa, em Washington.

Ambos, evidentemente, vieram a público para o clássico desmentido. E o próprio órgão de imprensa que levantou a questão admitiu que o autor da matéria pode ter tirado conclusões infundadas daquilo que os dois protagonistas alegam ter sido um mero encontro de caráter social, e não sexual como foi apregoado.

De qualquer forma, o estigma da suspeita vai marcar, doravante, esse político democrata, mesmo que ele não deva nada. Como marcou o senador Kennedy. Como atingiu a tantos outros postulantes à Casa Branca, que tiveram que abrir mão desse sonho, ao longo de dois séculos, muitas vezes por causa de um simples boato.

Dizem que a reputação é como uma virgem: uma vez deflorada, é impossível de ser restaurada a seu estado original de virgindade. O leitor mais acostumado às idas e vindas da política internacional deve estar lembrado que essa componente de escândalo não faltou, também, nas eleições presidenciais passadas.

Naquela oportunidade, a atingida foi a candidata democrata à vice-presidência, a primeira mulher a galgar essa posição na história norte-americana, Geraldine Ferraro. Só que a mancha que a acompanhou até o dia da votação foi um eventual erro (para menos) na declaração de imposto de renda do seu marido.

É contestável, no entanto, que isso tenha causado a derrota do seu companheiro de chapa, Walter Mondale. Como também o é se essa questão que envolve Gary Hart vai barrar esse jovem e promissor político na sua caminhada. O eleitor dos Estados Unidos, certamente, saberá escolher qual será o melhor programa de governo. O resto...Bem, o resto, entrará, certamente, para o folclore eleitoral e nada mais do que isso.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 6 de maio de 1987).


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