Ambiente não favorece
intervenção no Golfo
Pedro J. Bondaczuk
A
determinação do governo do presidente George Bush de enviar unidades de reforço
da Força Aérea dos Estados Unidos rumo ao Golfo Pérsico para pressionar o
ditador iraquiano, Saddam Hussein, a dar plena liberdade às equipes de
fiscalização das Nações Unidas para que localizem e destruam seus arsenais de
armas de eliminação em massa, vem recebendo as mais variadas interpretações,
interna e externamente, dependendo do analista.
Alguns
políticos democratas norte-americanos afirmam que a decisão é puramente de
caráter eleiçoeiro. Os republicanos vêem na atitude um ato de prudência diante
da possibilidade dos bombardeios efetuados no Iraque durante os 42 dias de
guerra não terem sido tão "cirúrgicos" quanto o Pentágono fez questão
de apregoar. Há quem ache que a nova pressão faça parte de uma velha tática da
Casa Branca, de nunca deixar o inimigo sossegado.
Seja
qual for a razão, dificilmente irá ocorrer alguma intervenção militar, pelo
menos em escala considerável. O ambiente atual não é propício para esse tipo de
atitude. A opinião pública mundial demonstra ter se cansado do assunto
envolvendo um ditadorzinho qualquer do Terceiro Mundo e se volta para outros
temas, como a guerra civil da Iugoslávia, que vem apresentando uma assustadora
escalada nos últimos dias, o futuro da União Soviética, à medida em que se
assenta a poeira da maluca e surrealista tentativa de golpe de 19 de agosto
passado e que o furor nacionalista começa a ceder lugar à realidade e a sempre
lembrada, mas nunca resolvida, questão árabe-israelense.
É
possível que todas as interpretações da decisão de Bush estejam corretas, pois
elas fazem sentido, ou que nenhuma delas seja a verdadeira. Nesta época de
meias-verdades, é uma tarefa sobreumana tentar interpretar as ações de
políticos, especialmente num país em que a mídia eletrônica exerce uma espécie
de ditadura. Entre o que se diz perante as câmeras, para sustentar uma imagem
pública em geral forjada pelos assessores, e aquilo que os dirigentes realmente
estão pensando, vai uma distância enorme.
Faria
sentido que o presidente norte-americano reavivasse o conflito do Golfo
Pérsico, que lhe rendeu tantos pontos de popularidade e que o fizeram o
governante mais apoiado da história dos Estados Unidos, quando a campanha
sucessória de 1992 começa a ser colocada nas ruas.
Por
enquanto, inibidos pelas pesquisas de opinião, os democratas revelam extrema
timidez acerca das eleições presidenciais de 1992. Tanto é que até o momento
apenas duas pré-candidaturas para as primárias que vão começar em fevereiro do
ano que vem foram anunciadas e assim mesmo como uma espécie de balão de ensaio.
Nenhum
dos chamados "pesos pesados" do partido, como o governador de Nova
York, Mário Cuomo e o sempre lembrado, mas permanentemente envolvido em
escândalos desde o caso Chappadiquit, senador Edward Kennedy --- agora às
voltas com a questão de estupro de um seu sobrinho --- ainda se manifestou.
Bush
sabe que os democratas não vão lhe entregar a reeleição de bandeja, por isso
talvez esteja se precavendo. Até porque, seu grande trunfo tem sido a política
externa, já que internamente qualquer adversário não precisaria fazer muita
força para encontrar enormes falhas.
Não
se pode, todavia, descartar a possibilidade dos fiscais da ONU terem descoberto
alguma evidência decisiva de que Saddam tenha uma bomba atômica, ou esteja em
vias de conseguir uma. Neste caso, um bombardeio preventivo seria uma questão
até de prudência, estaria caracterizada a "legítima defesa".
Não
se admite que um governante que dos 12 anos em que se manteve no poder, fez com
que seu país permanecesse nove anos em guerra, detenha a posse de uma arma tão
terrível e arrasadora. De qualquer forma, uma coisa não se pode negar: a
permanência de Saddam Hussein à frente do governo do Iraque é algo que incomoda
bastante o presidente Bush.
(Artigo
publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 20 de setembro de
1991).
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