Esgrimindo como espadachim
Pedro J.
Bondaczuk
O líder soviético, Mikhail Gorbachev, na recém concluída
visita de 40 horas que fez à
Grã-Bretanha, mostrou, mais uma vez, para aqueles que ainda duvidavam, o seu
extraordinário talento diplomático. Mais do que isso, como um hábil jogador de
xadrez, deu um autêntico “xeque mate” no presidente norte-americano, George
Bush, acusado internamente de imobilismo político e que já vem gerando também
desconforto a seus aliados europeus por não ter assumido, até aqui, uma posição
enérgica, ou pelo menos clara, face ao novo cenário estratégico que se desenha
no mundo.
Alguns analistas entendem que o
mandatário dos estados Unidos esteja reservando a munição para a reunião de
cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte, que está marcada para o
fim do próximo mês, em Bruxelas.
Gorbachev, todavia, com uma
grande capacidade de previsão e explorando habilmente algumas divisões que se
manifestam no seio da Otan, já começou a “jogar areia” nas engrenagens da
aliança ocidental, principalmente no que se refere à modernização do seu
arsenal nuclear de curto alcance.
Esgrimindo argumentos com uma
habilidade de espadachim, primeiro ele anunciou uma outra concessão unilateral
– inócua, por sinal – ou seja, a suspensão da produção de urânio para a
fabricação de bombas. Ele só não disse que possui estoque desse elemento para
muitos anos.
A seguir, desferiu o golpe
contundente contra a unidade da organização européia, ao assegurar que qualquer
ação do continente no sentido de modernizar seus mísseis, encontrará a
recíproca soviética.
A mensagem, certamente, foi
dirigida à Alemanha Ocidental e à França, que em momento algum esconderam a sua
oposição à proposta de Bush. Em todos os seus pronunciamentos na Grã-Bretanha,
por outro lado, Gorbachev procurou insinuar, posto que sutilmente, os vacilos e
indecisões do presidente norte-americano.
Com isso, está buscando isolar os
Estados Unidos dos seus aliados europeus, aproveitando um momento de incerteza
em que a política externa de “Tio Sam” ainda está para ser definida. Mesmo a
acalorada discussão que manteve com a primeira-ministra britânica, Margaret
Thatcher, teve um significado positivo para o líder do Cremlin.
Deu a entender que ele está
disposto a encarar as divergências que tem com ela, com franqueza, sem meios
tons, ao contrário do que era costume dos seus antecessores. Com isso, parece
ter ampliado a confiança dos ingleses – desconfiados por natureza – na sua
sinceridade de propósitos.
Conseguiu, até mesmo, que a
rainha Elizabeth II aceitasse um convite para visitar seu país, embora isso não
possa ocorrer antes de dois anos. Portanto, embora do ponto de vista
publicitário esta viagem não tenha sido das mais brilhantes, diplomaticamente
pode ter significado um êxito retumbante para os propósitos do presidente
soviético.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 8
de abril de 1989).
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