Teste para a serenidade de Reagan
Pedro J.
Bondaczuk
O presidente norte-americano Ronald Reagan, apesar de
apoiado por mais da metade da população de seu país (segundo revelou uma
pesquisa divulgada ontem) no incidente dos reféns no Líbano, vem recebendo, nas
últimas horas, muitas críticas, de diversos setores, pela forma com que está
reagindo ao incidente.
Os mais tresloucados, que nunca
medem as conseqüências de um ato de força, gostariam que fosse feita uma
operação de resgate contra os seqüestradores xiitas, mesmo sabendo que isso
redundaria na morte certa das cerca de 40 vítimas desse ato de banditismo
internacional.
Outros, mais conciliadores,
defendem a teses de que a Casa Branca deveria fazer pressão sobre Israel para
que liberte os prisioneiros exigidos pelos autores do seqüestro. Isto é,
deveria ceder aos terroristas.
Nós, que criticamos em várias
oportunidades alguns atos radicais do presidente norte-americano, estamos
bastante à vontade para elogiar a sua
conduta no correr de toda esta questão. Mui sabiamente, no momento certo,
Reagan percebeu a inutilidade de uma ação semelhante à realizada pelos
israelenses anos atrás, no aeroporto ugandense de Enttebe. E frustrou a muitos
de seus detratores, que só vêem nele o homem truculento e não o grande
estadista que realmente é.
Outro ponto a favor do presidente
é a sua determinação de não negociar, em hipótese alguma, como os terroristas.
Já imaginaram se a maior superpotência mundial viesse a se curvar ante um
grupelho extremista inexpressivo? A primeira conseqüência, imediata, seria o
estabelecimento da baderna internacional.
Qualquer organização terrorista
que tivesse algum dos seus asseclas colocado atrás das grades, por cometer toda
a sorte de atrocidades, envolvendo muitas pessoas inocentes, saberia qual o
caminho mais curto para conseguir a liberdade deles. Bastaria, somente,
seqüestrar um avião norte-americano e levar diversos reféns para locais ermos,
fora do aparelho seqüestrado, como fizeram, no presente caso, os xiitas.
Ninguém mais iria se sentir
seguro para ir ao Exterior. As conseqüências disso, para o intercâmbio
comercial, cultural, esportivo e de tantas outras espécies, indispensável para
uma razoável convivência entre os povos, seriam desastrosas.
E um bandozinho qualquer de
celerados, inexpressivo e esfarrapado, assumiria o virtual controle mundial, o
que, no mínimo, seria surrealista, para não dizer estúpido. Pobre do governo
que ceder a qualquer espécie de chantagem de seqüestradores! Nem mesmo com
pessoas isso funciona.
Certamente o leitor já deve ter
lido, em romances, ou visto, em filmes, ou até conhecido pessoalmente, certos
infelizes que, para manterem incólumes certos segredos comprometedores, caem
nas garras de chantagistas. E passam a vida toda sustentando os caprichos desses
criminosos, que os mantêm sob perpétua tortura psicológica. Imaginem isso
transposto para o plano de nações!
Pela sua conduta, até aqui,
durante este lamentável incidente no Oriente Médio, portanto, o presidente
Reagan demonstrou, sobejamente, estar mais do que preparado para enfrentar, com
sangue frio e com sabedoria, qualquer espécie de crise. Isso, certamente, traz
até um certo alívio, em determinadas áreas, que subestimavam a capacidade
política desse líder inflexível, determinado em seus objetivos, mas, sobretudo,
cauteloso o suficiente para tomar a atitude certa no momento oportuno.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 20
de junho de 1985).
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