Saturday, December 12, 2015

Teste para a serenidade de Reagan


Pedro J. Bondaczuk


O presidente norte-americano Ronald Reagan, apesar de apoiado por mais da metade da população de seu país (segundo revelou uma pesquisa divulgada ontem) no incidente dos reféns no Líbano, vem recebendo, nas últimas horas, muitas críticas, de diversos setores, pela forma com que está reagindo ao incidente.

Os mais tresloucados, que nunca medem as conseqüências de um ato de força, gostariam que fosse feita uma operação de resgate contra os seqüestradores xiitas, mesmo sabendo que isso redundaria na morte certa das cerca de 40 vítimas desse ato de banditismo internacional.

Outros, mais conciliadores, defendem a teses de que a Casa Branca deveria fazer pressão sobre Israel para que liberte os prisioneiros exigidos pelos autores do seqüestro. Isto é, deveria ceder aos terroristas.

Nós, que criticamos em várias oportunidades alguns atos radicais do presidente norte-americano, estamos bastante à vontade  para elogiar a sua conduta no correr de toda esta questão. Mui sabiamente, no momento certo, Reagan percebeu a inutilidade de uma ação semelhante à realizada pelos israelenses anos atrás, no aeroporto ugandense de Enttebe. E frustrou a muitos de seus detratores, que só vêem nele o homem truculento e não o grande estadista que realmente é.

Outro ponto a favor do presidente é a sua determinação de não negociar, em hipótese alguma, como os terroristas. Já imaginaram se a maior superpotência mundial viesse a se curvar ante um grupelho extremista inexpressivo? A primeira conseqüência, imediata, seria o estabelecimento da baderna internacional.

Qualquer organização terrorista que tivesse algum dos seus asseclas colocado atrás das grades, por cometer toda a sorte de atrocidades, envolvendo muitas pessoas inocentes, saberia qual o caminho mais curto para conseguir a liberdade deles. Bastaria, somente, seqüestrar um avião norte-americano e levar diversos reféns para locais ermos, fora do aparelho seqüestrado, como fizeram, no presente caso, os xiitas.

Ninguém mais iria se sentir seguro para ir ao Exterior. As conseqüências disso, para o intercâmbio comercial, cultural, esportivo e de tantas outras espécies, indispensável para uma razoável convivência entre os povos, seriam desastrosas.

E um bandozinho qualquer de celerados, inexpressivo e esfarrapado, assumiria o virtual controle mundial, o que, no mínimo, seria surrealista, para não dizer estúpido. Pobre do governo que ceder a qualquer espécie de chantagem de seqüestradores! Nem mesmo com pessoas isso funciona.

Certamente o leitor já deve ter lido, em romances, ou visto, em filmes, ou até conhecido pessoalmente, certos infelizes que, para manterem incólumes certos segredos comprometedores, caem nas garras de chantagistas. E passam a vida toda sustentando os caprichos desses criminosos, que os mantêm sob perpétua tortura psicológica. Imaginem isso transposto para o plano de nações!

Pela sua conduta, até aqui, durante este lamentável incidente no Oriente Médio, portanto, o presidente Reagan demonstrou, sobejamente, estar mais do que preparado para enfrentar, com sangue frio e com sabedoria, qualquer espécie de crise. Isso, certamente, traz até um certo alívio, em determinadas áreas, que subestimavam a capacidade política desse líder inflexível, determinado em seus objetivos, mas, sobretudo, cauteloso o suficiente para tomar a atitude certa no momento oportuno.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 20 de junho de 1985).

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