Relações
ficam cordiais
Pedro J. Bondaczuk
As relações entre as duas superpotências, que haviam
sofrido um esfriamento no início do ano, em virtude da aparente aliança entre o
presidente soviético, Mikhail Gorbachev, e os conservadores do Partido Comunista,
voltaram a melhorar e, a despeito de naturais desconfianças mútuas, se pode
afirmar que atravessam um de seus melhores momentos.
As coisa caminham no sentido de uma substituição
definitiva da confrontação, que caracterizou, por mais de quatro década, o
relacionamento entre a URSS e os EUA, para um período de cooperação.
Quem ganha com isso, evidentemente, é a humanidade.
Problemas que vinham se arrastando por anos, como seqüelas da guerra fria,
começam a ser solucionados. Depois da “revolução de veludo”, no Leste europeu,
propiciada pela Perestroika, cerca de 20 países africanos que possuíam partidos
únicos reformaram suas Constituições ou estão a caminho disso, instituindo o
multipartidarismo.
Guerras civis prolongadas, como as de Angola,
Moçambique e Etiópia, estão chegando ao fim. Outras, como a do Camboja, embora
enfrentem sérios obstáculos, já mostram luz no fim do túnel. Há duas semanas, o
presidente norte-americano, George Bush, fez a manifestação mais concreta,
direta e incisiva, do seu apoio pessoal a Gorbachev.
Ressaltou que o mundo precisa fazer justiça às
conquistas obtidas por esse homem corajoso e de visão bastante clara. O mais
importante é que deu tais declarações no dia em que recebeu os presidentes das
três Repúblicas rebeldes bálticas, Lituânia, Letônia e Estônia, na Casa Branca.
Tais encontros mereceram tão só uma breve nota. A mensagem de apoio de Bush a
Gorbachev, por seu turno, ganhou manchetes.
O presidente soviético, mais uma vez, mostrou enorme
habilidade em reverter uma situação de nítida desvantagem em seu favor. No
início de abril, pouco antes de embarcar para a histórica visita ao Japão, tudo
indicava que sua atuação estava chegando ao fim.
Parecia que seus dias no Cremlin estavam
irremediavelmente contados. O Comitê Central do Partido Comunista havia marcado
importante reunião e se afirmava que o objetivo básico da plenária era o de
pedir a cabeça do mentor da Perestroika, que continua sendo o secretário-geral
do PC.
Numa única jogada de mestre, durante o encontro,
todavia, Gorbachev deu um autêntico xeque-mate em seus antagonistas. Antes,
havia conseguido o que muitos julgavam impossível: uma aliança política com o
seu arqui-rival, o populista russo Boris Yeltsin.
Em mera questão de horas, o presidente soviético
desfez uma tempestade que havia levado meses para se formar. Ao mostrar que
continua forte e disposto a levar a Perestroika a cabo, custe o que custar,
reconquistou a confiança ocidental.
O presidente francês, François Mitterrand, foi a
Moscou hipotecar-lhe solidariedade. Anteontem, Bush, e o chanceler alemão,
Helmut Kohl, reafirmaram seus apoios a Gorbachev e deixaram implícito que não
descartam o atendimento de seu pedido para participar, como convidado, da
reunião de cúpula econômica do chamado Grupo dos Sete, que congrega os países
mais ricos do mundo industrializado, a ser realizada em meados de julho, em
Londres.
Nesse mesmo mês, o líder do Cremlin espera poder
recepcionar, em Moscou, o presidente norte-americano, para novo encontro de
alto nível. Doravante, a menos que algum falcão, dos EUA ou da URSS, faça
alguma de suas desastradas interferências, as relações entre as superpotências
tendem a navegar de vento em popa.
(Artigo publicado na página 15, Internacional, do
Correio Popular, em 22 de maio de 1991)
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