Originalidade em tema
nada original
Pedro
J. Bondaczuk
O amor é – e isso
qualquer pessoa sabe ou no mínimo intui – o tema mais abordado por poetas de
todos os tempos e lugares. Ouso dizer que não há, não houve e duvido que um dia
haja qualquer deles que nunca tenha composto algum poema, um único que seja, alusivo
a esse sentimento. Terá abordado (ou se não o fez, ainda irá abordar) ou o amor
concreto ou o amor platônico. O amor correspondido ou o amor frustrado. O
êxtase que o amor proporciona ou a dor que causa quando não dá certo
etc.etc.etc. É impossível, pois, o poeta ser original na exposição da essência
desse sentimento. Não consegue e não conseguirá explicá-lo, justificá-lo ou
racionalizá-lo, porque ele prescinde de explicações, justificativas e
racionalizações. Todavia, a originalidade é, não apenas possível, como
onipresente na “forma” de exposição da experiência amorosa. Esta, pode-se
dizer, tende a ser (talvez sejam) infinita. Ou quase. Ninguém a vive da mesma
forma, mesmo que assim pareça e haja inúmeras semelhanças.
O poeta catarinense
Harry Wiese não fugiu, pois, à regra. Destinou toda uma vertente temática, das
cinco em que dividiu seu livro “IbirAMARes” (Editora Nova Letra) a esse
soberano dos sentimentos. Tratou, especificamente, desse tema em oito
composições. É possível que algum leitor desatento, desses distraídos, os tais
“avoados” como o caracterizaria meu avô, sinta-se decepcionado com essa
quantidade tão pequena de abordagens de um tema tão a gosto dos poetas. Não
deveria! Se observar bem, notará que o livro todo é um vasto e original poema
de amor. Amor à cidade de Ibirama. Amor à sua generosa e bela natureza. Amor ao
seu povo, sua história, tradições etc.etc.etc. Tanto que o próprio título,
“IbirAMARes” traz em destaque o verbo AMAR de tal sorte que fica parecendo que,
ao citá-lo, e comentá-lo, cometi erro de digitação. Evidentemente, não cometi.
O nome do livro é, mesmo, este, sem tirar e nem por.
Harry Wiese abre essa
vertente temática com esse belíssimo poema (e chega a ser até redundante
destacar a beleza de alguma composição específica, pois todas, na minha
concepção são belas), que reproduzo para seu (e meu) deleite:
Alocução às rosas
vermelhas
“Para que existem as rosas vermelhas,
Senão
para provocar o amor-ternura,
No
agreste,
Tênue
na paixão infinita
E
distante dos prados
De
uma primavera em chamas.
Para
que existem as rosas vermelhas
Senão
para despertar a poesia
No
meu povo,
Sofrido
na luta,
Perto
do rigor
De
um inverno mendaz.
E
nada se faz,
Tudo
se aglutina.
Mais
fácil é comprar consciências
Com
favores mesquinhos.
Prometer
soluções
Consiste
em abrir crateras
É
incutir nos horrores
Que
olhar para o abismo
É
ver o céu repleto de estrelas.
E
o mundo gira
Por
que gira por si mesmo.
Ah,
se não girasse,
Pobre
mundo!
O
que seria das rosas vermelhas
Que
provocam o amor-ternura
E
despertam a poesia no meu povo?
A
resposta, com certeza, é a própria história do tempo”.
Essa vertente temática
é encerrada com outro poema, sumamente expressivo, em que o poeta, em vez de
explicitar o tema “amor”, habilidosamente o “sugere”, com sensibilidade e bom
gosto. Confira:
Amares 2
“Os
galos da madrugada
Acompanham
meu sono distante
Tentando
conceder consolo
À
dor exposta.
Riem-se
os transeuntes tardios
Nas
ruas e não me animo
A
cantarolar Louis Armstrong e Frank Sinatra,
Nem
canções dos tempos de euforia.
Ainda
há surpresas reservadas,
Ainda
há motivos de viver.
Sim,
o amor revigorará
Em
tempos de papoulas em flor,
E
o tempo dirá: o amor é uma ordem!
Sim,
o amor é uma ordem”.
Como se nota, Harry
Wiese não se propõe a explicar o amor que, ademais, não é para ser explicado,
mas sentido, usufruído, vivido em sua plenitude e “eternidade” (eterno enquanto
dura, como declarou Vinícius de Moraes). Não procura razões para se amar,
porquanto estas são incompreensíveis e inexplicáveis, É como Fernando Pessoa
observou em um de seus tantos (geniais) textos: “Amo como ama o amor. Não
conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além
de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?”. E não está certo?
Compete a cada um de nós nos render ao seu imperioso apelo, mais que isso, ás
sua ortdem, como Clarice Lispector preceituou e confessou ter feito: “Renda-se,
como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se
preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”. Porquanto (ainda
no terreno das citações) talvez você exclame (ou secretamente cogite) isto que
Mário Quintana verbalizou: “Tão bom morrer de amor! e continuar vivendo...”. E
não é?!!!
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