Terrorismo nos estádios
Pedro J. Bondaczuk
O futebol, como dizem
muitos psicólogos e estudiosos do comportamento, é, para os que torcem, uma
espécie de válvula de escape para as frustrações e tensões do dia a dia. O
cidadão vai aos estádios, vibra com seu time, grita com os jogados, xinga o
juiz, mas manifesta-se apenas por palavras.
Mantém
a compostura e aceita a eventual derrota do seu time com espírito esportivo.
Volta para casa aliviado, pronto para enfrentar nova carga de problemas e de
quebra tem assunto para toda uma semana. Certo? Errado! Foi assim há algum
tempo. Hoje não é mais.
Nos
dias atuais, esse esporte de massas, que projetou o Brasil no cenário mundial e
produziu o “atleta do século”, o nosso Pelé, mudou e para pior. Não que os
jogadores sejam de qualidade inferior. Afinal, a Seleção Brasileira acaba de se
tornar tetracampeã.
Ocorre
que o futebol deixou de ser diversão ou válvula de escape de tensões e
frustrações para o indivíduo equilibrado e racional. Transformou-se em guerra,
onde a integridade alheia, e o direito do próximo de torcer, não são
respeitados.
Os
estádios tornaram-se arenas, campos de batalha em que, os que conseguem voltar
para casa ilesos, têm muita sorte. Exemplo disso foi o que ocorreu anteontem,
no Brinco de Ouro, no jogo entre Guarani e Corínthians, pelo Campeonato
Brasileiro, que se transformou num festival de pancadaria entre as torcidas,
com um saldo de 21 feridos, dos quais dois com gravidade. Frise-se que não se
tratou de um caso excepcional, mas da seqüência de um comportamento que já
virou rotina.
Houve
morte em estádio até em jogo envolvendo juniores, em tempos recentes. Tal
violência deve ser atribuída a essa idiotice, que são as malfadadas torcidas
organizadas. O fato de um sujeito vestir a camisa do seu clube preferido e
juntar-se a um bando, igualmente uniformizado, para torcer, não lhe dá o
direito especial, o salvo-conduto (e nem a seus colegas), de agredir os outros.
Nem de depredar patrimônio alheio. E muito menos de colocar em risco a vida de
quem quer que seja.
Estes
desequilibrados levam para os estádios paus, pedras, bombas, revólveres e armas
dignas de figurar no arsenal de qualquer terrorista. E é isto o que esses
imbecis são. E como tal deveriam ser tratados. Têm que ser presos, indiciados,
processados e encarcerados por prática de terrorismo. São terroristas, sem
tirar e nem pôr!
Tais
idiotas estão conseguindo matar o futebol como espetáculo. No mesmo dia em que
ocorreram os fatos lamentáveis em Campinas, pudemos ver, pela televisão, o
estádio do Independiente de Buenos Aires lotado (no jogo contra o Grêmio
Portoalegrense pela Taça dos Campeões da Libertadores da América) de mulheres e
de crianças torcendo com segurança. Lá não há essas máfias, que são as torcidas
organizadas. Claro que não se deve generalizar. Mas poucas escapam.
Compete
às autoridades policiais e à justiça agir com mais rigor contra esses marginais
travestidos de torcedores. Agressão é agressão, não importa o motivo ou o
local. Tentativas de homicídio têm que dar cadeia, sejam elas cometidas em
casa, na rua, no trabalho ou em locais públicos, como os estádios.
O
Código Penal assim o determina. Se a moda de agredir, quando contrariado por um
espetáculo, pegar, logo teremos gente depredando teatros e batendo nos
freqüentadores por não gostar do desfecho da peça. Quando esses idiotas vão se
conscientizar que futebol não é guerra, mas simples lazer?!
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 14 de outubro de 1994).
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