Planejar é preciso
Pedro
J. Bondaczuk
O décimo quinto ano do
terceiro milênio da era cristã está prestes a terminar, com seus dramas,
tragédias, comédias e coisas boas e ruins, de acordo com a realidade de cada
um. Como se vê, nada de novo, que não tenha ocorrido em 2014, 2013, 2012 e vai
por aí afora. Muitos dirão que tivemos de novidade a crise política e
econômica, ainda não resolvida, cujos próximos capítulos podem trazer, ou não,
surpresas agradáveis ou não. Onde a novidade, porém? Desde que me conheço por
gente, o País sempre conviveu com esse tipo de situação, ora mais grave, ora
menos, mas nunca ausente. Queiram ou não, o brasileiro é viciado em crises.
Engraçado é que, apesar
de se tratar de mera mudança de números em uma folhinha, as pessoas (e eu
também, claro) agem como se o começo do novo ano fosse o início de uma nova
era, que fantasiam como próspera e radiosa, ou pelo menos melhor do que a que
está no fim. Quase que mecanicamente, consideram que o período recém-findo lhes
trouxe só amarguras e dissabores, esquecidas das alegrias e bênçãos que
tiveram, geralmente não poucas e nem inexpressivas. Somos incorrigíveis
insatisfeitos, ora pois. As pessoas (e eu não sou exceção) passam a fazer
planos, geralmente muito vagos e inconsistentes, para o futuro próximo,
acompanhados de resoluções, que raros cumprem.
É errado planejar? Diz
o bom senso que não! O grande erro que se comete é o de ignorar os planos
feitos, logo na primeira semana do novo ano, e sequer tentar cumprir o
planejado. A menos que aquilo que se planejou não seja factível, se mostre
irrealizável, absurdo ou mesmo pernicioso. Neste caso, a falha está no
“planejador” desastrado, que confundiu plano com mero e fantasioso devaneio.
Apenas perdeu tempo e nada mais. O planejamento nada mais é do que uma
preparação para o que se pretende fazer. É ordenar as ações, para não ser
dispersivo. Em suma, é um exercício de autodisciplina. O norte-americano
Benjamim Franklin (um dos “pais” da pátria de Tio Sam), advertiu: “Falhar em
preparar-se é preparar-se para falhar”. E como é!!!
O ideal (e, sobretudo,
realista) é nunca fazer planos rígidos, que não comportem alterações, ditadas
pelas circunstâncias e pelos caprichos do acaso. O escritor romano, Publius
Syrius, já sabia disso e observava, lá por volta do ano 50 a.C. que “o plano
que não pode ser mudado não presta”. Não presta mesmo. Afinal, não sabemos
sequer o que vai acontecer no minuto seguinte, quanto mais em semanas,
quinzenas e meses. Um leitor, cujo nome foge-me no momento, perguntou-me se é
possível o escritor planejar um livro. Respondo que não somente é possível, mas
desejável. Põe ordem no empreendimento. Determina um cronograma e define
quando, como e onde pesquisar, as horas destinadas à leitura e à redação e
outras coisas assim. Claro, levando sempre em conta a possibilidade de mudanças
“quando” e “se” forem necessárias.
Não vou ao cúmulo de
afirmar que livros não planejados sejam inviáveis ou tenham qualidade melhor ou
pior. Esse aspecto depende do talento e da criatividade do autor e não como,
onde e quando ele escreve. Afirmo, porém por experiência própria, que o
planejamento (reitero, não muito rígido) ajuda. Sem nunca perder de vista a
observação feita pelo dramaturgo francês, Jean Moliére: “É longo o caminho que
vai do projeto à coisa projetada”. Longo e geralmente trabalhoso. Nesse caso, o
plano só tende a pôr ordem na tarefa, para que o escritor não desperdice
esforços, por falta de organização.
Esse mesmo leitor, que
me questionou a propósito de planejamento de um livro, pergunta onde entra a
“inspiração” nessa equação. Não entra. Quem acompanha com assiduidade meus
textos sabe o que penso a esse propósito. Nenhum livro vem prontinho do
firmamento direto ao nosso cérebro, bastando, apenas, que o transcrevamos. Não
é assim que a coisa funciona. Inspiração não passa de um lampejo, de um
fragmento de idéia, que exige muito trabalho e muito conhecimento para ser
viabilizada. Literatura é trabalho, é disciplina, é poder de observação. E,
claro, tudo isso movido pelo talento. Se o sujeito não foi feito para a coisa,
não adianta. Pode até escrever algo, mas seu texto não passará de um caricato
monstrengo, de um disforme Frankenstein literário (na verdade, nem isso, pois
não merecerá essa pomposa designação). Nesse aspecto, concordo com o escritor
espanhol, Camilo José Cela: “A inspiração é trabalhar uma boa quantidade de
horas”. Creia-me, leitor, é isso mesmo, sem tirar e nem por.
Por isso, caro
escritor, que tal planejar aquele livro que você sonha, há anos, em escrever,
mas que nunca ousou mover uma única palha para a sua redação? Esta é a hora
mais adequada para uma resolução deste tipo para 2016. Mas não aja como a
maioria das pessoas que, tão logo passe a ressaca do “réveillon”, esquecem tudo
o que prometeram fazer no novo ano. Cabe, aqui, a forma com que encerrei uma
crônica, escrita há uns vinte anos:
“As solenes resoluções
da véspera serão prontamente esquecidas. A vida seguirá o seu curso, até o
próximo final do ano. Estudos, trabalho, namoro, casamentos, separações,
planos, sucessos, fracassos, encontros e desencontros, nascimentos e mortes...
Tudo se sucederá, meio que aleatoriamente. E continuaremos, como sempre,
buscando a felicidade alhures, mesmo que ela esteja debaixo do nosso nariz. A
esperança ainda é o grande alimento das ilusões humanas. E estas constituem-se
na essência da vida...” Sobretudo, planeje e busque seguir ao máximo o que
planejou.
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